sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Nicholas Peppas

Na semana passada esteve na Universidade do Minho um dos melhores cientistas área, Nicholas Peppas. Foi o orientador de doutoramento de um dos meus orientadores de doutoramento. Começou por dizer que não faz ciência para publicar artigos. No entanto, tem 1300 artigos publicados e tem 63 anos.

Fez uma palestra que começou a falar de pessoas e acabou a falar de pessoas. Este é o objectivo da ciência e da investigação: descobrir qualquer coisa que melhore a vida das pessoas. Falou de coisas tão banais como gostar há anos atrás de passar fins de tarde na biblioteca, no tempo em que não havia acesso digital aos jornais científicos. Como devemos falar de negócios com investidores. Como um cientista pode fazer figura de parvo quando explica a sua descoberta a um investidor.

Nicholas Peppas é um grego com nacionalidade americana, tem o dom da palavra como só os americanos têm. E ele, grego de nascimento, aprendeu o melhor dos americanos: o dom da palavra.Saiu da Grécia para se doutorar. O objectivo era voltar à Grécia e ser o melhor professor na sua área. Nunca mais voltou definitivamente. Conta histórias, mesmo que muitas vezes pareçam ser tiradas do argumento de um filme. E ainda por cima é culto. Conhece muito bem opera e até já escreveu livros com essa temática. Tive um professor no secundário que dizia que ser bom escritor na área das letras era muito fácil, excelente era ser bom escritor quando a formação era em ciências. Exemplos dessa grandeza são os nossos Miguel Torga, António Gedeão (Rómulo de Carvalho), António Lobo Antunes.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Toward fixing damaged hearts through tissue engineering

É sempre muito bom quando vemos o nosso trabalho reconhecido. Este é o resultado de um ano de investigação em NY, Columbia University. Muitas horas de discussão, muita reformulação de ideias, algumas hipóteses, muito trabalho, muitas horas, muitas leituras. Este trabalho foi também muito inspirado pelos doentes que por mim passavam no Presbyterian Hospital. Pensar diariamente nos milhares de doentes que sofrem de doença cardíaca e em todos os que poderemos ajudar, isso é o que me faz não desistir e lutar diariamente conta as adversidades. Como me dizia um colega hoje "Afinal o dinheiro que foi investido na tua investigação parece que não foi mal gasto". Não há nada melhor do que termos o reconhecimento dos melhores. Para ler mais, aqui fica o press release da American Chemical Society:

Biomacromolecules
In the U.S., someone suffers a heart attack every 34 seconds — their heart is starved of oxygen and suffers irreparable damage. Engineering new heart tissue in the laboratory that could eventually be implanted into patients could help, and scientists are reporting a promising approach tested with rat cells. They published their results on growing cardiac muscle using a scaffold containing carbon nanofibers in the ACS journal Biomacromolecules.
Gordana Vunjak-Novakovic, Rui L. Reis, Ana Martins and colleagues point out that when damaged, adult heart tissue can’t heal itself very well. The only way to fix an injured heart is with a transplant. But within the past decade, interest in regenerating just the lost tissue has surged. The trick is to find materials that, among other things, are nontoxic, won’t get attacked by the body’s immune system and allow for muscle cells to pass the electrical signals necessary for the heart to beat. Previous research has found that chitosan, which is obtained from shrimp and other crustacean shells, nearly fits the bill. In lab tests, scientists have used it as a scaffold for growing heart cells. But it doesn’t transmit electrical signals well. Vunjak-Novakovic’s team decided to build on the chitosan development and coax it to function more like a real heart.
To the chitosan, they added carbon nanofibers, which can conduct electricity, and grew neonatal rat heart cells on the resulting scaffold. After two weeks, cells had filled all the pores and showed far better metabolic and electrical activity than with a chitosan scaffold alone. The cells on the chitosan/carbon scaffold also expressed cardiac genes at higher levels.
The authors acknowledge funding from Fundação para a Ciência e TecnologiaPOPH-QREN—Advanced Formation, the European Social Fund, the National Fund and theNational Institutes of Health. The work was a collaboration between Columbia University and 3B´s - University of Minho, Portugal.

"A maioria das minhas colegas de escola cumpriu o seu destino profissional, com êxito ou normal; sobretudo cumpriu o seu destino de esposa burguesa, bem instalada, com filhos loiros. Desde cedo soube que isso não me interessava. Porque me parecia que o mundo era muitíssimo maior."

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A vergonha

Eu, tal como muita gente, mas principalmente tal como o João Miguel Tavares (com quem partilho muitas das opiniões), na passada sexta-feira, tive vergonha da democracia portuguesa. Não tenho vergonha de ter contribuído com o meu voto para eleger os deputados do PSD (mas podia ter tido, caso tivesse tido oportunidade de votar). Mas, principalmente, vergonha de quem “inventou” um referendo  à última da hora por puro oportunismo político, já depois do projecto de lei ter sido aprovado na Assembleia da República.  Hugo Soares “lançou-se” como o arauto do referendo mas desconfio que não passa de um fantoche que só cumpre ordens e abana com a cabeça. É que a pouca preparação que demonstra ter, mesmo com formação em Direito, envergonha qualquer pessoa. Nem a defender o “seu” referendo mostra-se à vontade. Vazio de ideias é o que me parece. O debate em que participou na TVI24 com a Isabel Moreira foi um KO sucessivo do princípio ao fim. Como se diz na minha terra de nascença (ou nossa, para minha vergonha) o Hugo Soares levou uma coça da Isabel Moreira.

Hugo Soares é mais um jotinha que foi subindo na hierarquia do seu partido, muito provavelmente, por lamber botas. Acresce que não é um grande orador ou um grande argumentador. Não se lhe conhecessem desempenhos profissionais, fora da política, relevantes. A minha grande questão, que continua sem resposta, é: qual é o objectivo de propor um referendo “em cima do joelho” a mando do boss ao boy Hugo Soares?
Tenho vergonha de quem aceitou a disciplina de voto numa matéria de consciência individual. O projecto de lei tinha sido aprovado com os votos a favor de mais de uma dúzia de deputados do PSD. Onde estão eles? O que lhes aconteceu para mudarem de opinião? Não me lembro em matérias tão delicadas de não haver liberdade individual. Estamos numa ditadura? O pastor ordena e o rebanho vai atrás? Palmas para a Teresa Leal Coelho que esteve à altura da sua consciência e dos eleitores. E palmas para os militantes do PSD que não tiveram receios de criticar o referendo, entre eles, Marques Mendes, Pacheco Pereira e José Eduardo Martins. Se ouvir mais alguma vez algum deputado ou governante do PSD invocar a crise para poupar em qualquer coisa, a minha arma de arremesso será sempre o referendo.

As famílias de duas mães e dois pais existem. Ninguém as poderá apagar ou fazer desaparecer. A única injustiça é que não estão protegidas pela lei. E é nisto que os deputados que votaram a favor do referendo deveriam envergonhar-se: esta situação existe, não vai mudar. O que esta lei da co-adopção pretende mudar é o direito de uma criança ter no papel o que existe na realidade.Agora, para quem ainda não percebeu o que está em causa: Um casal criou junto um filho e apenas um dos cônjuges é mãe/pai biologico (a). Separam-se. Todos sabemos como muitas pessoas se transformam nas separações/divórcios. Que direito tem o conjuge que apesar de ter sido pai/mãe, que passou noites a fio em claro quando o filho estava doente, que acompanhou ao médico, que o protegeu? Neste momento, o direito sobre a criança que criou é zero. Agora imaginem outra situação: imaginemos a morte de um dos membros do casal que é pai/mãe biológico da criança. Que direito tem o membro que sobrevive?


Estas famílias já existem. Só temos que lhe dar um direito que lhes pertence. Não custa nada. Não prejudica ninguém. Não faz mal a ninguém. Quem for a favor continuará a ser e quem for contra poderá continuar a sê-lo, democraticamente.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A vida de Adele

A história deste filme que conquistou a Palma de Ouro em Cannes é desconcertantemente simples. “A vida de Adele” antes de estrear já era polémico Fizeram um grande alarido à volta de uma interminável cena de sexo. Muitos acharam-na exagerada, ou longa demais, ou explícita demais. Mas não é só esta. Não as contei nem me lembro exactamente, mas há pelo menos, mais três. Mas o que tem de demais é o fato delas nos perturbar  Mas se me perguntarem do que mais me lembro do filme, não é de certeza, das cenas de sexo. Para aprumar ainda mais a polémica, as protagonistas do filme acusam o realizador de as maltratar, juntamente com a equipa,  durante a produção. Polémicas à parte, este filme é excepcional. E na minha opinião “a star was born”, Adele.

O filme retrata um amor à primeia vista, com o êxtase das paixões, a catarse, a exploração, a descoberta, até ao tédio da estagnação.  Este filme não relata o preconceito  mas a relação entre as duas personagens. Quase nunca abordando o preconceito social da homossexualidade, aborda vincadamente  a  dinâmica da relação, o que resulta e não resulta, as compatibilidades e as diferenças, os mundos e as visões das personagens. Chorei como uma Maria Madalena neste filme. Não sabia como era o fim mas a actriz que interpreta Adele (e que também se chama Adele na vida real) tem um papel tão marcante que a sua expressão é um pronúncio do fim do filme.

Adele tem horizontes limitados e apesar de viver com uma visionária, contenta-se com o que tem. Para ela um amor e uma cabana bastam-lhe. E quando o amor dela deixa de lhe dar a atenção que precisa, ela vai encontrar o que lhe falta noutro colo. Só que isso precipita o fdim de tudo. A personagem de Adele é quase desde o princípio do filme, aquela que se pretende abraçar. Está sempre em desvantagem, parece correr atrás da vida, a uma velocidade menor do que a acção.


Depois de três horas, continuei a chorar baba e ranho. E o final não é à Hollywood, é cru como toda a realidade.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Mara Gabrilli – Depois daquele dia

Milly Lacombe é uma contadora de boas histórias. Sobretudo conhecida pelas suas crónicas mensais na Revista TPM, pelas críticas literárias na Folha de S. Paulo e pelas reportagens/ opiniões como free lancer para os mais diversos jornais brasileiros.  Milly, descreve-se assim, brevemente: “Eu vivo de escrever porque não sei fazer mais nada na vida. Se soubesse, pararia de escrever e ia ganhar algum dinheiro”. Precisa de mais palavras? Viveu 7 anos em LA, voltou para o Brasil, onde se solidificou como escritora e voltou a sair, desta vez, rumo a NY, onde vive. A sua escrita está recheada de detalhes e pormenores, de emoções, de quotidiano, de ironia, de muitas figuras de estilo e muito humor.

Não me lembro exactamente como conheci a escrita da Milly Lacombe mas acho que me fizeram chegar uma das suas (muito bem escritas) crónicas da revista Trip. Quem me conhece bem sabe que eu sou apaixonada por biografias e crónicas!

A biografia de “Mara Gabrilli – Depois daquele dia” foi escrita entre encontros e jantares com a escritora e biografada: “Durante quase cinco anos, que foi o tempo que demorei para escrever o livro, eu fui para casa agradecendo ao universo pela chance de poder contar a história dela, e pedindo força e inspiração para fazer isso da melhor forma possível. É uma história sublime, edificante, espetacular e linda. Eu não podia errar (...) Foi uma tremenda responsabilidade (...) eu quero que a história dela seja conhecida por multidões. É uma história que precisa ser contada, uma história que pode mudar vidas, que pode inspirar e fazer a gente entender o mundo, e aprender a aceitar o ritmo das coisas. A Mara, e a chance de contar sua vida num livro, foi um presente que me deram e pelo qual eu agradeço todos os dias”.

Mas o que tem esta biografia de tão especial: “a história é a de um resgate espetacular, a verdadeira jornada do herói (...) acho que pode interessar a portugueses, irlandeses, americanos, chineses: trata-se de experiência humana universal (...) Uma menina rica e mimada que quebra o pescoço voltando da praia aos 26 anos e imediatamente aceita a nova condição. Depois de anos de reabilitação ela decide se candidatar para tentar ajudar outros que tenham a mesma deficiência mas não o mesmo saldo bancário. Se fosse ficção seria inverossímil, mas o bom é que a realidade não precisa fazer sentido”.

A Milly, que para além de uma excelente escritora, é uma excelente pessoa, enviou-me este livro para ler. Aqui fica a minha opinião, muito aquém do verdadeiro entusiasmo de o ter lido. E esperemos que daqui a pouco alguma editora portuguesa se interesse pela publicação deste livro em Portugal.

O livro começa com a descrição do acidente e tudo se desenrola com a vida de Mara, antes e depois, porque era muito mais do que o acidente. Começa de forma  dramática e  a partir dali o livro vai recuando e adiantando, conjugando passado, presente e futuro, como só a Milly sabe fazer. Quem conhece a escrita de Milly Lacombe reconhece o seu estilo neste livro e principalmente as pitadas de humor.

Com essa história que tinha tudo para ser triste e trágica,  Milly Lacombe mostra-nos o intenso processo de superação e adaptação de Mara. O livro conta o acidente no qual Mara fica tetraplégica. Usa uma forma muito dinâmica repleto de analepses e prolepses. Mistura passado, presente e futuro. Muita verdade, muita coragem, muito exposto e muito despido de preconceitos é como pode ser descrito, de uma forma simplista. Com o decorrer da leitura, Mara parece ser uma super-mulher, que supera obstáculos como se não fosse tetraplégica, com uma vontade de lutar que não parece humana, com um optimismo que não parece real. Mas depois disto, aparecem os defeitos, as discussões, as manias, que chega até a dar raiva. Mas o livro é muito mais do que isto. Mostra que Mara continuou com a sua vida profissional agitada, que manteve os seus relacionamentos, vida sexual e passou a ajudar os outros que não têm as mesmas condições financeiras que ela.

No filme Mar Adentro (baseado em factos reais, realizado pelo espanhol Alejandro Amenábar, em 2004), o personagem de Ramón Sampedro, vivido por Javier Bardem, luta pelo direito à eutanásia depois de uma fractura semelhante à de Mara a ao mergulhar no mar. Mexer apenas a cabeça não é para ele viver. Dois casos semelhantes com atitudes perante a vida tão diferentes.  Mara, não só não desistiu de viver como acha que a vida vale a pena (mesmo só mexendo a cabeça). Desde o acidente não pára mais de se mexer: criou a ONG que ajuda pessoas com dificuldade de mobilidade, candidatou-se a vereadora, foi nomeada secretária municipal e depois deputada federal.


A nossa vida pode mudar de repente, sem aviso prévio, e  radicalmente para pior. Nem todos estamos preparados e nem todos sabemos lidar com isso. Sobretudo, quando esta mudança limita o desempenho físico e actividades quotidianas. Tudo o que aprendemos desde que nascemos deixa de existir. De uma forma minimalista, é disto que se trata esta biografia: reaprender a viver, aceitar e não se revoltar. Ler este livro, não fará mal a ninguém, muito pelo contrário. É um murro no estômago. Depois de lermos este livro não ficamos indiferentes. Fazendo minhas as palavras da Milly, muitos dos relatos deste livro parecem inverosímeis, mas a verdade  “é que a realidade não precisa fazer sentido”.


domingo, 12 de janeiro de 2014

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O meu pai

Uma semana antes do Natal fui ao batizado da M. A M. é filha da M. e neta da F. são a minha família de coração e não de sangue. A F. é uma quase irmã da minha mãe. O coro na igreja era constituído apenas por crianças e primos da M. O padre que batizou a M. é um grande amigo desta família S. que foi em tempos padre da freguesia de S. João do Souto em Braga. No fim do batizado o Padre V. disse que tinha batizado uma pessoa que estava naquela igreja e que tinha 60 anos, o JL. Já no restaurante, a minha mãe disse ao Padre V. que ele nos tinha batizado, a mim e ao meu irmão. E quando soube que eramos filhos do meu pai disse: "Conheço o V. desde rapaz. Sempre foi muito bom moço. É uma jóia de pessoa. Vocês tratem bem o vosso pai que é uma grande pessoa". Eu já sabia disso! Mas quem não fica feliz quando se ouve um elogio assim sobre o nosso pai?

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A minha memória de Eusébio (1942-2014)

Ao contrário do Sócrates, que inventa memórias, eu conheci pessoalmente o Eusébio na campanha eleitoral de 1995 em Braga. Na altura, tinha eu 16 anos, acabava o cavaquismo e eu aderia à juventude de um partido. Nos tempos livres que nos sobravam fazíamos de tudo: arruadas, agitávamos bandeiras, oferecíamos de tudo, íamos a jantares... E numa das tardes, o Eusébio esteve em Braga a distribuir bolas e t-shirts autografadas. Nesse dia, fizemos um cordão humano para proteger o Eusébio da multidão. E nesse dia deu para perceber a simplicidade dele. Suava em bica mas queria agradar a todos. Que me lembre, não mais tornei a estar pessoalmente com ele.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A vida não pára

Passei o ano pela primeira vez na cama. Acho que nem em bebé o fiz porque, como nasci e Maio, já tinha 7 meses... Não perguntei aos meus pais, mas a passagem de ano de 1979/1980 devia ter sido feita no colo de alguém. Tosse e falta de ar atiraram-me para a cama como já não me lembrava. Asmelhoras têm sido lentas. A respiração melhorou mas a tosse piorou. A Bu vinga-se de ser ignorada fazendo várias vezes xixi no chão. Passou, por rebeldia, a ignorar o jornal. A Bu passou o ano comigo porque os meus tios têm um cão que é ciumento e é melhor não provocar confrontos. De qualquer das formas, os meus sobrinhos, passando pouco da meia-noite, passaram por aqui para levá-la. O espectáculo auditivo começa quando ela regressa e os meus sobrinhos vão para a casa da mãe. Nesses dias, a Bu, entra num pranto que dura horas.

No ano passado duas das minhas melhores amigas tiveram filhos. Na semana antes do Natal soube que um dos meus melhores amigos vai ser pai de gémeos!! Outro casal de amigos vão ter a C. em Abril. Estas notícias fazem-me sempre transbordar de alegria. A crianças são o símbolo da renovação, da esperança e do futuro. Há melhor alegria do que esta?

No dia 24 fui visitar uma amiga com cancro em estado terminal ao hospital. Antes de entrar no quarto disse à minha mãe que não chorasse em frente a ela e que estivesse preparada para o aspecto físico. Já não a via há mais de um ano. A pessoa que eu fisicamente conhecia, desaparecera. Apesar de uns 30 kgs mais magra, muito frágil, com problemas em respirar, a pessoa que eu conheci estava ali. A alegria de nos ver foi tão notória. Que alegria! Apesar da fragilidade e do estado, estava com um ânimo que me fez colocar em perspectiva a minha vida. Ainda tinha planos, ainda falava das consultas a que iria e ainda pensava voltar para casa. Elogiou tanto o serviço de Oncologia do Hospital de Braga, e todas as pessoas que a tratavam. Estava a ser tratada como uma raínha, nas palavras dela. Tinha sido encontrada pelo filho na cama desmaiada. Sobreviveu a essa crise. Eu, de mãos dadas com ela, contava-me que a hora dela ainda não tinha chegado. Ainda assisti à neta receber os quadros que mandou fazer com os desenhos de quando era criança. Obviamente que sabia que este seria o último Natal. Os meus pais ainda a visitaram no domingo e estava ainda mais animada. Falava até em voltar para casa e assar cabrito. Hoje de manhã a minha mãe ligou-me a dizer que a C. morreu. Apesar de todas as adversidades da vida, tinha sempre uma palavra de força e optimismo. Tinha uns olhos e um riso lindos. Depois de uma conversa com ela, tudo ficava melhor. As pedras no caminho eram sempre ultrapassáveis. Pessoas como a C. deixam muita saudade e fazem muita falta ao mundo.

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