segunda-feira, 22 de maio de 2017

A Lisboa que entardece

Lisboa, 20 de maio de 2017

Passa das 5 da tarde. Calor de verão. Surdo, como dizia a minha avó. Esplanada em frente ao Tejo. Esse rio que parece mar. Esse Tejo que parece ter a dimensão do oceano. Cheira a maresia (embora, me garantam, que cheira a rio). Almoço tardio. Habituei-me a observar o rio com a ponte à direita. Desta vez, a ponte está ao longe, à esquerda. No meio da vista, o Padrão dos Descobrimento, de perfil. Na mesa ao lado, um casal de franceses. Atrás italianos. Quem nos atende, brasileiros. O passeio junto ao rio parece o calçadão do Rio de Janeiro, tal o congestionamento de pessoas. Uma amálgama de cores, géneros, nacionalidades, línguas. Estudantes finalistas trajados que tiram fotos. A família dos subúrbios que se veste no seu melhor traje para vir à cidade. Turistas de chinelos. Turistas de sandálias e meias.Turistas muito brancos que estão queimados pela falta de hábito de fotossíntese. Casais de mão dada. Casais que tiram fotos a beijarem-se. Muita gente de chapéu. E de calções. Pais sozinhos a passear os filhos. Homens giros e bem vestidos. Um marido que passeia com a mulher que tem o lado direito paralisado. A mulher que sai da esplanada a ajudar o marido com mobilidade reduzida. Mulheres que tapam a cabeça com um lenço (provavelmente por causa da quimioterapia). Turistas bêbedos. Turistas muito ressacados. Mas o turista preferido é: " trajado a rigor, e pronto para enfrentar os 30º da selva lisboeta, o turista-attenborough, ostenta um chapéu de abas, calças e botas de caminhada e uma camisa que lhe cobre todo o torso superior deixando apenas expostos os ruborizados rosto e pescoço. Quando visto sem camelback ou mochila, é dado a algum cambalear e passível de desfalecimento”.

A bebida mais comum nas mesas é vinho branco gelado. Não dá vontade nem tempo para ler. O livro fica pousado na mesa à espera de horas melhores. Ou de cenários menos apelativos. Este filme em movimento é imperdível. O instante irrepetível que passa. 

Mas esta vista tem um preço. Um café, por exemplo, custa 2 euros e a garrafa de vinho mais barata tem o preço de um qualquer Chardonnay (rasca) em NY?

A Madonna esteve a visitar o Liceu Francês. Foi o acontecimento para os alunos. Os vídeos abundam e partilham-se nas redes sociais. A qualquer lado que se vá, fala-se dela. Alguém a viu, ou conhece alguém que viu, ou diz que viu, ou mente e jura que viu.

Como perguntava a Anabela Mota Ribeiro há dias a duas convidadas do programa: "o que é a felicidade?". Uma delas respondeu, citando Guimarães Rosa, que é (in)felicidade sem prefixo. A importância do prefixo é (quase) tudo nas palavras.A outra, que é a libertação química de serotonina.

Pela primeira vez em 3 dias não tenho dor de cabeça. A felicidade acontece quando menos se espera. A felicidade é isto.

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