quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Uma noite na lua

Conhecia o Gregorio Duvivier do “Porta dos fundos” e do evento “Minha língua, minha pátria”, organizado pelo jornal Público em São Paulo, numa conversa com a Matilde Campilho. Ontem, quando fui ver “Uma noite na lua”, sabia apenas que era um monólogo. Nada mais. Chegámos em cima da hora e os nossos lugares eram na primeira fila. Começou pontualmente às 9:30. Tudo escuro e apenas fumo. Depois, a luz ilumina-o. Só isto. Ele vestido de fato, gravata, um sobretudo e um chapéu. E a luz. O cenário é só isto. Minimalista. E durante minutos a frase que ele mais repete é: “Sou um homem em cima do palco pensando”. Nestes minutos ouço muita gente a rir-se. E eu, entre a surpresa de ouvir risos e não perceber porque é que eu não tinha vontade de rir, comecei a achar que o defeito era meu. O resto, é uma interpretação incrível. Fenomenal. Magnífica. A iluminação e a interpretação são quase tudo nesta peça. O tema é tão simples como a luta para reconquistar uma mulher, a Berenice. E mais do que a vontade com que ficamos de nos apaixonar é a vontade de ser uma Berenice por quem este personagem é tão devoto. Que loucura é estar apaixonado e ser deixado. Que doença é essa que não nos larga, que só vemos o objecto de adoração. Tudo pára. Ou tudo parece parar. Nada importa. Só captar a atenção dela, a Berenice. Dudivier canta, dança, grita, deita-se no chão, imita o som do telefone e do aspirador e da música. E quando termina parece ter saído de um mergulho, embora não existisse água em palco. O cepticismo inicial e a surpresa dão lugar a um grande sorriso. Não acredito que alguém tenha saído defraudado. Mais que não seja que o amor é o grande veículo do mundo. Toda a gente sai de coração cheio.

Copyright: Gregorio Dudivier



sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O que correu mal?

Há um ano atrás ninguém, nem a pessoa mais ferrenha apoiante da coligação, do PSD ou do CDS acreditaria sequer numa vitória, nem tão pouco coagitaria uma maioria clara, absoluta, simpática, segura, certa, governável (ou qualquer outro adjectivo, a mesma palavra para dizer o mesmo).

Quando o António José Seguro ganhou (por pouco) as autárquicas e as europeias, toda a gente se levantou para dizer que não chegava. Num ambiente hostil, debaixo de um protectorado, sob as ordens da troika, mergulhados na mais alta taxa de desemprego que havia memória, dos muitos cortes de salários pensões e feriados, depois da irrevogável demissão de Portas, não ter uma vitória clara (por muito) era pouco. Este foi o motivo que levou António Costa a concorrer a secretário-geral do PS, a quebrar a sua promessa de ficar até ao fim na Câmara Municipal de Lisboa  e a afastar o António José Seguro que não conseguia descolar nas tendências de votos e mostrar uma unanimidade clara.

No mês de Agosto, estava eu em frente para ao Tejo, na Ribeira das Naus, e comentava com os meus pais que se o país conhecesse a governação de António Costa em Lisboa, o resultado das eleições seria diferente. Nesse dia eu diria que o mal do país era não conhecer Lisboa. E hoje digo que o mal de António Costa foi achar que o país era Lisboa. Não consigo encontrar “o” erro de António Costa ou do PS. Este problema, como mostram as intenções de voto no tempo de António José Seguro e agora com António Costa não tem a ver com “a pessoa” mas com o partido que não conseguiu convencer ou mobilizar as pessoas. O grande erro começa pelo fraquíssimo líder da bancada Ferro Rodrigues. Depois, apesar de o programa económico ter sido liderado pelo Professor Mário Centeno, mostrou-se com qualidades oratórias piores do que o outro académico Professor Vitor Gaspar. Depois, as diferenças abissais entre o pacífico Mário Centeno em confronto com o radical João Galamba. Depois, a história dos cartazes. Mais o erro colossal de dizer que chumbaria o orçamento de estado da coligação mesmo sem o conhecer. E hoje vem culminar com a aceitação da privatização da TAP autorizada pela Autoridade da concorrência, tendo António Costa dito que revogaria a privatização se chegasse ao governo.


E eu, que nunca votei no PS, com António Costa, e por ele ter escolhido para deputados pessoas que eu conheço pessoalmente e que muito estimo, tive a esperança um dia de mudar o meu sentido de voto. Mas como todas as utopias, não passam disso. E hoje, voltando à realidade, o meu voto está decidido. Hoje o meu apelo é: votem! Não fiquem em casa! Dignifiquem a democracia e exerçam esse poder soberano dos povos. Dizem que vai chover no domingo. A desculpa desta vez é a chuva. Às vezes é o sol. Quando se quer há sempre uma desculpa. Mostremos que somos uma maioria que escolhe e que a maioria não é a abstenção.

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