sexta-feira, 27 de julho de 2012

Esquadros

"Eu ando pelo mundo
prestando atenção em cores que eu não sei o nome
cores de Almodovar
cores de Frida Khalo
cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que o meu irmão ouve
e como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora..."

Adriana Calcanhotto

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sarah Sze




The letting go by Siddhartha Mukherjee

"It had rained heavily the night before. The steep stone steps of the ghat are slick and slippery, and when my father pulls me onto the boat, the water feels more stable than the ground. The boatman rows out toward the open river, and the city of Varanasi swings into full view.
On the bank, wrestlers are performing calisthenics; a vendor is selling marigolds; a man is throwing birdseed at pigeons. The river moves sluggishly at first — but then a current forces the boat around the bend, and we are floating silently by the Manikarnika ghat, where the dead are burned.
I am 8 or 9 years old. Save a distant uncle who has died of renal failure, I have had no personal experience of death. I imagine it as little more than a corporeal exit from the world.It is an unforgettable sight: row upon row of burning bodies on wooden pyres by the river’s edge. There are dozens of pyres lighted at the ghat, like lanterns along the river.Around them, a circus of death unfolds(...)
Decades later, having trained as an oncologist in Boston, I attend the funeral service of a woman who has died after a long battle with cancer. I remember approaching the coffin, and then registering something odd: the woman has been coiffed and dressed up, and there is the faintest blush of lipstick — lipstick? — on her mouth(…)
At medical rounds a few days later, I ask some residents and interns about death: how many have carried the body of a parent? What does the weight feel like? And what about the ritual of bathing and cleansing?"(...)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nova Iorque como escolha

Ao contrário do Lobo Antunes, que escreveu um dia sobre a sua ida para NY foi convidado pelo seu mestre Melvin D. Yahr que lhe disse: “Come with me to New York” e João Lobo Antunes, “tal como os apóstolos, quando ouviram o chamamento, deixou tudo e segui-o”. Eu não fui para NY com um convite. Eu sempre quis viver em NY, ter essa experiência de viver noutro mundo. Na cidade em que tudo é possível. Ao contrário da maioria das pessoas, que escolhem a cidade para onde vão trabalhar baseado na qualidade do laboratório/orientador, eu escolhi a cidade. Obviamente, que conhecia a tão afamada Columbia University mas não foi isso que me moveu. Esse foi apenas o caminho mais fácil para viver em NY. Sempre quis provar para mim mesma a tal da lenda da música: “ If I can make it there, I'll make it anywhere”.

Eu sabia que queria viver em NY. Não sabia como isso aconteceria. Queria, não sabia se um dia isso iria concretizar-se. Era como uma imagem distante e nublada, quase inatíngível que  povoava o meu consciente. Achava que não passaria de um sonho ou desejo irrealizável. Aquele tipo de pensamento que só acontece nos filmes. Tal como desde sempre achei que não me formaria, quanto mais acabar um doutoramento... Ainda hoje, quase toda a gente sabe, acordo a pensar que ainda não consegui acabar o curso.

A minha primeira impressão da cidade não foi aquela coisa turística de desmaiar porque a cidade era linda. É isso para mim, agora, e muito mais. Quando fui pela primeira vez a NY, como turista, quando pisei pela primeira vez Times Square foi qualquer coisa transcendente. E só não foi mais porque já havia estado em Shanghai e o impacto desvanesceu-se.

Joan Didion escreveu que NY é uma cidade “for only the very rich and the very poor”. Concordo. E NY é uma cidade para quando se é jovem, livre e sem falta de dinheiro. Se não houver a conjugação destas 3 permissas, NY perderá a graça, com toda a certeza.

NY antes de Giuliani era uma cidade com uma elevada taxa de homicídios, o que obrigava a saber gerir o risco e o medo, sobretudo quando se viajava no metro. Bem diferente dos dias de hoje. Nunca me senti insegura em NY, nem mesmo quando saía do lab de madrugada. O barulho que nunca pára, é agravado muitas vezes, demasiadas vezes,  pelo alarme estridente de ambulâncias e carros de polícia da cidade que nunca dorme.

Outra coisa que se aprende em NY é: “If you live in New York, even if you’re catholic you’re Jewish”.
Nunca vi cidade no mundo com gente tão bizarra que grita e fala alto para si própria e que muita gente nos adverte para evitar o contacto visual.

Sabem aquelas cidades, vilas, aldeias, com aquelas pracinhas? Eu sou o contrário disso. Aquilo que a maioria das pessoas bucólicas acha uma paz, uma calma, um sonho.  Eu até posso achar bonito, mas se tivesse nascido num lugar assim, teria ido embora no máximo com 3 anos de idade...

Joan Didion escreveu também que em NY “Nobody watches, everyone performs”. NY fica-nos para sempre. Como tantos outros, eu viverei para sempre em NY.











quinta-feira, 19 de julho de 2012

Ernest Hemingway in "A moveable Feast"

“As I ate the oysters with their strong taste of the sea and their faint metallic taste that the cold white wine washed away, leaving only the sea taste and the succulent texture, and as I drank their cold liquid from each shell and washed it down with the crisp taste of the wine, I lost the empty feeling and began to be happy and to make plans.” 


@Fish (Bleecker St.)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

As 3 fases da vida de um cientista segundo João Lobo Antunes

"Na primeira fase trabalha, na segunda fala do que fez, na terceira diz apenas: «Deixe que lhe mostre o meu laboratório»".


Dylan Thomas

Se em meu ofício, ou arte severa,
Vou labutando, na quietude
Da noite, enquanto, à luz cantante
De encapelada lua jazem
Tantos amantes que entre os braços
As próprias dores vão estreitando
Não é por pão, nem por ambição,
Nem para em palcos de marfim
Pavonear-me, trocando encantos,
Mas pelo simples salário pago
Pelo secreto coração deles.

Dylan Thomas
Tradução Mário Faustino




sexta-feira, 13 de julho de 2012

Saga da mudança


Há um conselho que dou sempre para quem se muda/viaja mas que nunca o aplico a mim: organizar as coisas com tempo. Depois de ter vivido em várias casas, depois de as colocar habitáveis, e depois de as desmontar... ninguém consegue imaginar o que se consegue acumular em 6 meses e que terão que se reduzir a 2 malas (em que obviamente entrará o pagamento do excesso de peso e uma mala extra) e uma mala de mão que não ultrapasse os 8Kgs. Agora expliquem-me como se consegue levar alguma coisa de jeito numa mala de mão que per se pesa 5 kgs? Truque número 1: uma mochila ajuda. A mochila (que nunca ninguém se preocupa em pesar) serve para levar os livros mais pesados e que servirá também  para ser estrategicamente colocada de lado para que ninguém repare no peso (que normalmente ultrapassa os 15kgs).

Quando me mudei da minha casa para a casa do F. deixei tudo para a última. E como não podia deixar nem um alfinete no apartamento acabamos por ter que fazer 2 carregamentos. A brincadeira ficou por $130. Sabem aquela cena do filme “Up in the air” em que o personagem do George Clooney diz que a vida dele cabe toda numa mochila/mala? Eu sou o oposto. Quero sempre tudo, nunca faço escolhas, adio. Ah, e aquela característica tão minha de ser apanhada de surpresa! Que nos últimos dias me tem dado umas valentes dores de cabeça. Mas isso ficará para um próximo post...

Não sei o que tanto tenho nas malas... porque mais de metade dos livros tiveram que ficar num caixote na casa do F. que ficam a aguardar o meu regresso ou vão depender da boa vontade e capacidade física dos próximos voluntários...A tv que queria trazer, dá para rir... onde pensava eu que ia trazer uma tv??? A almofada e os lençóis que eu tanto gostava ficaram para a C. O poster do MoMA teve que ficar e será enviado pelo correio... à quantidade de tralha que trazia à minha volta poderia ser interpretado como uma arma! E ainda deixei a minha “bíblia”, que me acompanhou no doutoramento e que tem a grossura de 5 moleskine A5, em casa do F. Sem falar na lista de tudo que o F. tem para vender... 

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