terça-feira, 18 de setembro de 2018

Resultados Investigador FCT

Ontem recebi um telefonema sobre os resultados do concurso FCT IF. Aqui já era noite e tinha deixado o meu carregador na minha mesa do instituto. Não pude saber do meu resultado até hoje de manhã. Quando soube os resultados do laboratório onde fiz o meu último Pós-Doc fiquei surpreendida com o elevado número de contratos atribuídos. Afinal, desta vez, aquele grande instituto com apenas 20 anos não precisa de ter um nome inglês para se destacar. Finalmente o reconhecimento começa a surgir em Portugal quando há muito já o era fora de portas.E já não se poderão queixar do esquecimento de uma terriola do norte recôndito, provinciano, escondido, com muito pasto, onde está a sua sede e que meia dúzia de kms entre duas das cidades mais próximas demoram mais de meia hora. Provavelmente, estes excelentes resultados do concurso IF FCT foram uma alegre excepção à regra da maioria dos institutos, unidades e grupos portugueses.

Muitos (500 investigadores) estarão mais felizes do que nunca. E dei comigo a pensar que, pelo menos estas dezenas de pessoas, não terão o coração nas mãos nos próximos anos. Muitos deles já com família constituída e vida estabelecida em determinado local. E fiquei, momentaneamente, feliz por eles. Mas depois pensei que em 4000 candidaturas somente 500 tiveram contratos. No meio da alegria de muitos há (sempre) os vencidos. Os não contemplados. Os tristes. Os esquecidos. Os injustiçados. Não vou analisar resultados, nem estatísticas, nem fazer críticas, nem dizer que este governo é melhor ou pior do que o anterior. Vou falar de mim. Porque foi de mim que me lembrei há quase dois anos atrás quando queria muito ter tido um contrato em Portugal e não consegui. Eu não queria mais do que isso. Queria o que via começar a acontecer à minha volta. Investigadores da minha geração que começavam a ver, e muito bem, as suas bolsas trocadas por um contrato pela primeira vez na vida. Era tudo o que eu queria. Um contrato a termo, com 14 meses/ano, descontos para a segurança social e (se possível) ADSE. Mas isto, que eu considerava muito, e muitos acham pouco, nunca tive no meu país. Aos 39 anos, depois de um doutoramento em que passei parte a fazê-lo em Houston, no Texas,  depois de 8 anos de Pós-Doc que incluíram vários períodos em Columbia University em NY, 10 papers como primeira autora, 1 projecto em colaboração, não foram suficientes para conseguir uma posição, digamos, mais estável. A verdade é que o que parece muito currículo era menos do que alguns dos meus colegas no grupo a que pertencia. Não vou dizer nunca que foi fácil não ter tido um contrato naquela altura. Nem mesmo o tempo fez com que me esquecesse. Com a distância de quase 2 anos consigo compreender que novos caminhos podem surgir. Mas não me apetece relembrar o quão difícil foi. Os critérios de escolha, mesmo conhecidos, não são nunca compreendidos pelos que não são contemplados. Somos humanos e não conseguimos na maioria das vezes separar a razão do coração. E eu, provavelmente, tão bem como muitos ou melhor do que muitos sei, porque senti na pele o que é não ser uma das escolhidas quando não existem muitas opções. E é isto que acontece à maioria dos meus colegas investigadores/ cientistas.  Hoje, mais do que nunca estou solidária com os 3500 que não conseguiram um contrato. E damos connosco, erradamente, a culpar alguém.  A culpar os estrangeiros que conseguem mais facilmente quando nem o trabalho, nem CV, nem qualidade são melhores do que os nossos; as pessoas que são apadrinhadas pelas padrinhos certos e que conseguem ter mais papers em colaboração;  os preferidos, não necessariamente os melhores, que conseguem (mais) alunos de doutoramento...

E depois, concluo que aos 39 anos consegui uma posição competitiva não só pelo meu CV, entrevista, plano de trabalhos, apresentação, mas também porque o meu orientador na época apoiou a minha candidatura. Porque esse apoio, mais do que tudo, mesmo que o nosso desempenho seja perfeito e irrepreensível, será a chave da decisão final. E expiro de alívio por não ter, hoje mais uma vez, o coração nas mãos. Mas para isso mudei de cidade, de país, de colegas, de trabalho. Deixei a minha casa, a minha família, a minha cadela, os meus amigos, o meu carro e comecei de novo. Do princípio, do inicio, do começo e com tudo o que ser desconhecida e começar de novo implica. E percebi, sim, à minha custa, que a crítica sem acções não nos levará nunca a lado nenhum. Porque aquela velha máxima que aprendemos desde crianças que tudo na vida resulta de acções justas, não passa disso mesmo, de apenas uma frase como outra qualquer. A verdade é que uns mais do que outros, dependendo de muitas variáveis ao longo do caminho, teremos mais ou menos sorte mais ou menos sucesso e que isso dependerá (sempre) mais dos outros do que nós próprios. E depois, o pensamento foge-me, mais uma vez, para o futuro. Que no fim deste contrato estarei mais uma vez de coração nas mãos e tudo começará de novo e de novo e de novo. Até não haver mais início.

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