segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O rescaldo das autárquicas

Sem surpresas, o partido do governo foi o maior derrotado da noite. Apesar de não ser o governo que estava em avaliação, os votos de protesto e desagrado vão sempre contra o partido que governa. Foi assim desde sempre. Quem não se lembra da célebre demissão de António Guterres com a afirmação: “o país cairia num pântano se eu não me demitisse”.
A vitória  de Rui Moreira foi a vitória de uma forma de fazer política. Não vender sonhos, despesismo e prometer o que não se pode. Muitos notáveis do PSD apoiaram-no (Miguel Veiga, Valente de Oliveira e Rui Rio). Luís Filipe Menezes foi uma péssima escolha como candidato do PSD pelo Porto. As dívidas que deixou em Gaia vão falar por ele nos próximos tempos. Acho que agora era tempo de regressar ao anonimato e à  profissão que não exerce há muito tempo. Talvez aí seja útil ao país.

A maioria absolutíssima de António Costa também não foi surpresa para mim. O Fernando Seara era um candidato fraco para Lisboa. E volto aqui a referir que esta história da lei da limitação dos mandatos tinha que ser completamente esclarecedora. Se a lei os permitiu candidatar, a soberania do povo, encarregou-se de os penalizar!

Ricardo Rio, apesar de não ter tido tempo de antenas nos canais que vi, teve uma vitória histórica em Braga. Só espero que a partir de agora Mesquita Machado seja bem investigado e se consiga apurar como é que ele e a sua família conseguem justificar a posse de bens muito superiores aos ordenados que auferem...

Escandaloso foi o resultado em Oeiras. Como é possível, o concelho com mais licenciados do país, logo seria esperado que fosse mais instruído, reagir à vitória do “seguidor” de Isaltino Morais (que está preso por corrupção) com gritos “Isaltino, Isaltino”. Li inclusive que dezenas de viaturas estiveram junto ao Estabelecimento Prisional da Carregueira, em Sintra, a celebrar a vitória de Paulo Vistas à Câmara de Oeiras. Está tudo doido?

O PSD na Madeira perdeu estrondosamente, também. Sinal mais do que óbvio para a renovação de outro dos “dinossauros”. Finalmente o povo da Madeira disse basta a um monopólio do Alberto João Jardim. Seria tão mais bonito ter saído pelo próprio pé e na hora certa... do que a partir de agora, empurrado.


Excelentes notícias ontem foram as vitórias de Rui Costa (campeão do mundo de ciclimo na estrada) e João Sousa (1º português a vencer um torneio ATP). Um orgulhos para todos os portugueses!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Eleições autárquicas

Se eu votasse em Lisboa, o meu voto iria para António Costa. Nas eleições municipais há mais claramente a percepção do que foi feito. E não podemos dizer que Lisboa está pior. Lisboa, está de facto melhor. Para além disso, a equipa deste candidato parece-me muito boa, na sua maioria. Só não simpatizo com o José Sá Fernandes. Quanto a Fernando Seara, não vou alongar-me em críticas nem explicá-las. Só refiro que este candidato, tais como tantos outros, beneficiaram de uma lei propositadamente ambígua para que suscitasse a dúvida na sua interpretação. Esta lei poderia ter sido clarificada pelos deputados. Eles assim não quiseram e deixaram para os juízes  o poder da dúbia interpretação. Desconheço na totalidade a  obra de Fernando Seara na Câmara de Sintra e o seu desempenho como presidente. Mas as declarações dos parafusos e o “tu, pour moi, viens de charrette”... sem comentários...

O Luís Filipe Menezes é outro dos que não teria o meu voto, pela mesma razão, e não só. Como presidente da Câmara de Gaia foi um despesista. Quem ganhar as eleições que assuma as dívidas. Como Presidente do PSD foi uma nulidade. Já para não falar do lamentável discurso que teve há uns anos num célebre congresso do PSD que queria apelar ao pequenismo e bairrismo do norte acusando os companheiros de partido de “sulistas, elitistas e liberais”... Saiu do palco debaixo de apupos e assobios. Espero muito sinceramente que o Rui Moreira seja o vencedor. Para mim tem o melhor programa, tem uma carreira que fala por ele, tem apoiantes de peso e um Vereador da cultura que de certeza absoluta vai deixar marcas no Porto, como o fez, na Capital Europeia da Cultura em 2001.

Por último, a cidade onde vou votar, Braga. Há décadas governada em regime feudal por Mesquita Machado e companhia. A cidade rainha dos elefantes brancos, dos parques de estacionamento subterrâneos, e agora quase toda a superfície paga. Dizem que é a cidade dos arcebispos mas para mim é a cidade dos empreiteiros. Agora, coitados, por conta da crise declararam todos insolvência e foram procurar ares melhores, como os africanos. Uma cidade em que o crescimento habitacional cresceu em sentido contrário ao da qualidade arquitectónica. Há uma zona de Braga que parece o Cacém. Serviu para enriquecer empreiteiros, agentes imobiliários, empresários... Uma cidade em que as relações promiscuas entre política,  futebol e religião nunca se distinguiram. Conheço mal o Ricardo Rio. Mas acho impossível alguém fazer pior do que o seu antecessor. Cultura em Braga é zero. Com uma das mais belas e equipadas salas do país (Theatro Circo) é uma vergonha ser ultrapassada por cidades vizinhas populacionalmente menores como Guimarães e V.N. Famalicão. Braga tem uma das maiores e mais bem classificadas universidades portuguesas mas há um fosso gigantesco entre o campus e a cidade. Para não falar da recolha de lixo que parece da época mediaval. Não existem contentores nas ruas para lixo orgânico. Os sacos de lixo são colocados nas calçadas das ruas, à espera que os recolham, e que os animais (que também são uns dos mais afectados pela crise)  não os desfaçam à procura de comida.


Quanto à possível gigantesca abstenção só digo uma coisa: imitemos o Brasil. Já que as pessoas não sabem valorizar o quanto é importante votar e ter esse direito que pode mudar o seu mundo, as pessoas deviam ser punidas se não o fizessem. Provavelmente muito pouca gente se lembra que as mulheres antes do 25 de Abril não tinham direito de voto. Hoje, democraticamente, podem decidir não votar. Se não se identificam com nenhuma candidatura, existe sempre o voto de protesto, branco ou nulo.Agora, não votar, é um atentado à democracia. Se fosse eu que mandasse era como no Brasil: multa e passaporte suspenso enquanto não a pagarem. E aí veríamos quem não votaria. A desculpa esfarrapada do bom tempo e da praia serem o maior amigo da abstenção cai por terra este ano... o mau tempo impera!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O olhar vazio

[Este texto foi escrito no dia 15 de Setembro]


Estou sentada numa das mesas do café do Centro de Arte Moderna (CAM) na Gulbenkian. São 4 da tarde. Tenho à minha frente uma salada com quatro escolhas, uma mousse de chocolate, e para piorar, uma coca-cola. O café do CAM está a abarrotar. Almoços tardios em família, casais de turistas, nenhuma mesa individual, excluíndo a minha.Ao meu lado tenho uma mesa grande, com uma família, com o que parecem ser os pais, duas filhas com os respectivos maridos e os netos. Um dos homens (que só poderá ser genro ou filho) está numa das pontas da mesa e é o único que não participa na conversa. Não sei do que falam, nem acho isso importante. Mantém-se à parte do mundo. O olhar dele é para o vazio. Não está ali. Está distraído no seu mundo. Ele continua à margem. Impecavelmente vestido, cabelo cortado, grisalho, barba de 3 dias, parece-me estar depressivo. Não fala, não partilha, não ri, não demonstra emoção. Só o olhar o distingue dos outros. Imperturbável. O que sente? O que o incomoda? Os mais pequenos foram pegar-lhe na chávena de café e ele não se manifesta. Tem umas mãos lindas, uns dedos compridos, unhas impecavelmente cuidadas. Mexe nas mãos, olha para elas. Provavelmente para se manter à parte, suponho que escolheu estrategicamente, o lugar na mesa. Reparo que não usa aliança. Mas isso não significa nada. Será ele também um dos filhos? Será solteiro? Ou casado com alguém da mesa? Ou divorciado? Levanta-se, caminha cabisbaixo e os pés parecem arrastar-se. Despede-se de algumas das outras pessoas sem entusiasmo. Sai sem eu conseguir perceber a história dele. Sai e eu fico com estas dúvidas que nunca vou desfazer.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O Poeta

Estaciono o carro em frente ao meu prédio. Passam das 7 da tarde e já não preciso de colocar moedas. Saio do carro e vejo o “Poeta”(arrumador, mendigo, vive na rua, boa pessoa, toxicodependente) correr em minha direcção. Lembro-me que a única moeda que tenho é de 2 euros. Nem hesito, lanço a mão ao bolso e estendo-lhe a moeda, ao mesmo tempo que chega ao pé de mim e cumprimenta-me:
- Então? Está boazinha? Esta semana ainda não teve nenhuma multa! [Obrigada poeta por me relembrares das dezenas de multas de 10 euros que apanhei nos últimos tempos!].
Ao mesmo tempo que diz isso, olha para a moeda que lhe dei e atira:
- Olhe, vou ser sincero, de todas as pessoas da sua família você é a mais generosa! Olhe que eu também sou generoso, eu também dou esmolas. Quando fiz anos dei 5 euros aquele magrinho que está em frente ao Pingo Doce. E ainda dei mais dinheiro ao Adriano, aquele borrachão, que tinha saído nessa semana do hospital”.
O “Poeta” lá me agradeceu mais uma vez e saiu a correr em direcção a uma senhora para a ajudar com as compras.

Na semana passada ia ao Pingo Doce e encontrei o meu pai. Seguimos juntos e aparece o “Poeta”, que adora o meu pai desde que o viu na bomba de gasolina a enganar-se e trocar o gasóleo pela gasolina. Desde esse dia o “Poeta” nunca mais esqueceu o meu pai e sempre q o vê fala nisso
- Olá! Olha quem está aqui! O seu paizinho e a troca da gasolina.... – e dá-nos um aperto de mão a cada um com as mãos que pareciam da cor do chão.
- Sabem que eu hoje faço anos?
Eu, como sempre, dei-lhe uma moedas. Neste dia, especialmente, fui mais generosa. O meu pai pergunta-lhe quantos anos faz. Eu dou-lhe uns 50 anos, talvez mais, mas imagino que não ande nem lá perto. Fazia 41! E vira-se para mim e diz-me que devo ter uns 26. Eu não falo mas penso: «Ó “Poeta”, se eu já simpatizava contigo, a partir de hoje, estás cá dentro! Dás-me quase menos 10 anos! Obrigadinha, pá!». Vou começar a ficar insuportável! Estou cheia de cabelos brancos, e mesmo assim, não me dão nunca a idade que tenho! E lá seguimos, felizes, cada um pelo seu motivo.


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Domingo de afectos e arte

Acordei relativamente cedo para um domingo. Desci para o pequeno-almoço. Por mais coisas, apetitosas ou não, o meu pequeno-almoço é sempre o mesmo: leite com café e pão com manteiga. Nunca escolho, é sempre mecânico.Felizmente, este hotel, não aderiu à revoltante “moda” daquelas máquina de café e leite instantâneo que fazem tudo e em que tudo sabe ao mesmo. Enquanto as pessoas nos sites dos hotéis preocupam-se em avaliar o número de coisas por metro quadrado que encontram para comer, a minha avaliação incide unicamente na qualidade do leite, se é instantâneo ou não, e na qualidade do pão. Tudo o resto para mim são artefactos.


 Pequeno-almoço tomado e foi só atravessar a Av. da República para ir ao Centro Comercial do Campo Pequeno comprar um presente para o mais novo bebé que conheço. Tenho péssimo jeito para estas coisas. Fui cheia de entusiasmo e boa-vontade à loja, que tinha previamente pesquisado, na internet. Levava inclusive no tablet o que queria comprar. O que eu havia gostado não tinham. Requisitos: qualquer coisa que se comparasse a um boneco e que tivesse música. Depois de ver alguns, apaixonei-me pelo rato (tinha bigode e tudo!!!). [“Rato” era como os meus pais me chamavam até à minha adolescência. Provavelmente o nome deve-se ao tamanho e peso insignificantes, semelhante a um rato, com as minhas 1600 g quando nasci. Mas como a adolescência é acompanhada sempre por dose máxima de estupidez, dei o meu grito de Ipiranga, e proibi os meus pais de me chamarem “Rato”. Passadas a estupidez e a adolescência, quis voltar o tempo atrás e que voltassem a chamar-me “Rato”... não mais consegui... acho que só o consigo quando estou doente...]. Adiante, posso também dizer que os ratos são a imagem de marca da minha investigação durante o meu doutoramento. Daí estas duas ligações afectivas profundas que me fizeram cair de amores por aquele rato da loja. Não estive mais do que 10 minutos na loja mas a senhora que me estava a atender parecia estão num dia mau ou não gostar do que estava a fazer. Sempre que eu pedia opinião ou questionava se o dito animal tinha música, se era indicado para menino ou menina, de que animal se tratava...Tudo questões simples, era o que fazia. Fiquei muito decepcionada porque a senhora era brasileira e geralmente os(as) brasileiros(as) são sempre simpáticos(as). Como a minha paciência estava a esgotar-se pela falta de paciência dela, e o rato não tinha música, decidi-me, à pressa, por uma abelha (que não parecia uma abelha mas que tinha música). E afinal, uma das mães adora abelhas, pelo menos nisso, não estava a errar!

Segui para a Gulbenkian com o objectivo de conhecer o La. Uma perfeição! Em duas horas não o ouvi mas consegui ver-lhe os olhos! Lindo de morrer! Dizem que os bebés são todos iguais. Não acho, acho é que há uns que nos arrebatam mais do que outros. Percorremos os lindos jardins da Gulbenkian  e aquilo que parece uma vegetação tropical cheia de sombras, recantos, riachos, jardins, arbustos, esconderijos, anfiteatros, caminhos...




De tarde fui ao Museu da Cidade. Voltei, depois, à Gulbenkian, ao Centro de Arte Moderna (CAM) para a exposição do Amadeo de Souza Cardoso. Uma colectânea de imensos quadros deste pintor, nas suas mais diversas fases. Alguns deles já os tinha visto na exposição conjunta Amadeo + Mondrian. Para quem ainda não foi, aqui fica o desafio, a não perder!









segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa (1924-2013)

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só

com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só


Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço


Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida num quarto só


António Ramos Rosa, O Grito Claro, 1958

Segundo dia do encontro “Portugal europeu. E agora?

Cheguei atrasada para a conversa com o Prof. Adriano Moreira. Como a sala era muito pequena já não pude entrar...Contentei-me no fim de trocar umas breves palavras com tão ilustre pessoa, que apesar de atrasado para outro evento, ainda aceitou simpaticamente assinar o livro autobiográfico. Directamente para o coffee break ainda me cruzei com o Prof. João Lobo Antunes, bastante mais magro e com o look da moda entre os homens, de barba.

Fiquei-me pelos sofás a ler o DN até à hora de almoço.  Entrei no imenso pavilhão e encontrei o Ruben Alves a falar com a Fernanda Freitas. Sentei-me ao lado dele. E almoçamos com conversas de Braga a NY, de Paris à Costa da Caparica, da noite lisboeta, do inverno húmido de Portugal... A sintonia decorreu “regada” do tão americanizado hábito de coca-cola com gelo, partilhado por ambos!

Seguimos para a conversa entre o maestro Rui Massena e José Alberto de Carvalho. Este encontro foi para mim o mais imprevisível e o mais adorado! Uma conversa com muita música, onde se falar de arte, de compositores, de silêncio, de vozes. Ver o Rui Massena tocar piano como se de uma guitarra portuguesa se tratasse foi emocionante.  Assistir José Alberto de Carvalho tocar “Let it be” foi surpreendente. E depois vê-los tocar juntos um compositor francês, do qual não me lembro do nome, foi para mim que sou de lágrima fácil, a cereja no topo do bolo. Os momentos imprevistos são sempre os melhores!








A última palestra que assisti foi “Café das artes” com Ruben Alves, Bárbara Coutinho, Rui Massena e moderado por Fernanda Freitas. Quando se lhes pediu para definirem o “seu café” Rui Massena disse que era o café de casa, onde gostava de receber e estar com os amigos. Fartei-me de rir quando disse que como é que as crianças podem gostar de música quando lhes espetam com a flauta no ciclo? “A flauta tira logo a vontade para a música”.
Bárbara Coutinho disse que o “seu” café era o oposto ao turismo cultural por onde passaram grandes nomes. Gostava de um café da Caparica – Costa Nova e do Luso no Porto. Gosta do Martinho d’Arcada e de cafés onde é conhecida.
Ruben Alves destacou o café de bairro de Lisboa, onde diariamente, quando está cá toma o pequeno-almoço.  Não o faz em Paris. Em Lisboa ainda há a conversa e a partilha, coisa que não acontece nos cafés de Paris.
Discutiu-se a cultura. Se quando as massas aderem à cultura diminui a qualidade.  Que não nascemos apenas para sobreviver. E que isso passa muito pela cultura, pela arte e pela educação. Estamos apenas a dar pão e circo? É preferível ler má literatura a não ler de todo? Ou ouvir má música do que não ouvir nenhuma?




À noite tinha que optar pelo concerto do Rodrigo Leão no Jardim da Estrela exclusivo para 400 pessoas ou pela peça de teatro “Preço” de Artur Miller no Teatro Aberto...Difícil escolha. Nunca escolho, quero sempre tudo!







sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Lisboa que anoitece

(...)
«A noite é cega, as sombras de Lisboa 
São da cidade branca a escura face 
Lisboa é mãe solteira 
Amou como se fosse a mais indefesa 
Princesa 
Que as trevas algum dia coroaram


Não sei se dura sempre esse teu beijo 
Ou apenas o que resta desta noite 
O vento, enfim, parou 
Já mal o vejo 
Por sobre o Tejo 
E já tudo pode ser 
Tudo aquilo que parece 
Na Lisboa que “anoitece”»
(...)



 

Fotos tiradas do terraço do Bairro Alto Hotel


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Um café com... Carlos Fiolhais e Carlos Grosso (Escolas do futuro)

Depois de um almoço gigantesco, com todos os participantes sentados, e a ementa em que constava de um gaspacho, bacalhau fresco com puré de batatas e espinafres e um bolo de chocolate com framboesas e groselhas, regado a vinho branco, chegou a sessão da tarde. Estive uns minutos à conversa com o Ruben Alves (realizador d’A Gaiola dourada). Segui para o debate “A Europa precisa de Deus” moderado pela Maria Flor Pedroso e com João Pereira Coutinho, Manuel Braga da Cruz e Joana Amaral Dias.

A última conversa que assisti foi entre o Carlos Fiolhais, Professor Catedrático de Física  e Carlos Grosso, Professor de Matemática no Liceu Pedro Nunes. Começaram por evocar Rómulo de Carvalho poeta, historiador das ciências, pedagogo, físico... O seu pseudónimo como poeta foi António Gedeão, para os mais distraídos.
Ficamos a saber que os estudos indicam que metade da população portuguesa entre os 15 e os 64 anos não têm mais do que ensino básico.

Gostei muito de ouvir falar o Carlos Grosso que defendeu que a escola do futuro tem que ser mais autónoma, mais exigente e mais disciplinada. Disse também que os alunos devem estar em carteiras individuais para não se distraírem aos pares. Falou também da falta de pontualidade dos alunos, que as aulas começam às 8:20 e a essa hora muitos deles ainda estão à entrada da escola. Foram abordadas muitas questões, como por exemplo, o número de alunos por sala de aula vs o seu desempenho académico. A maioria defende que quantos mais alunos pior o desempenho escolar e piores notas. Eu discordo. Primeiro porque no meu tempo as disciplinas tinham sempre mais do que 30 alunos. Segundo, quando entramos para a universidade era ver as turmas de Análise Matemática, Física e afins com mais de 300 alunos... para não falar dos anfiteatros dos cursos de Direito e Medicina nas respectivas aulas teóricas.

Falou-se também do estigma e do preconceito que existe em assumir que é necessário haver diferentes caminhos para as diferentes vocações dentro da escola. Qual a razão de ser tão difícil de aceitar que há pessoas mais vocacionadas para a continuação do estudo académico e outros para o estudo mais  profissional. É indesmentível que o séc. XX pedia sobretudo bons trabalhadores e que o grande desafio do séc. XXI é sobretudo dos pensadores.

Ouvi histórias entusiasmadas de professores aposentados e outros no activo. A paixão com que falavam da sua experiência, de como ajudaram a mudar mentalidades e a incentivar pessoas. Ouvi sobretudo relatos comoventes de professores que ajudaram a formar gerações. Saí esperançada e convencida que o ensino em Portugal, enquanto tiver professores com vocação, terá um futuro promissor.

copyright: Pedro Rocha/Global imagens

copyright: Álvaro Isidoro/Global imagens

Portugal europeu. E agora?

A primeira sessão a que assisti foi: "Que europeu sou eu?". O debate foi moderado pelo Carlos Vaz Marques e participaram D. Manuel Clemente, João Proença e Gonçalo M. Tavares.

O Gonçalo M. Tavares falou que na Europa há claramente uma separação, uma ordem, uma organização. Marca claramente europeia. Deu como exemplo que em Marraquexe não existe a diferença entre rua e passeio...Referiu que muitas vezes as cidades mais estimulantes do mundo estão ligadas à pobreza. 'Na Alemanha quando se vê duas pessoas a correr consegue-se distinguir quem é o polícia e quem é o ladrão. Mas não conseguimos distinguir isso no México". Falou também do "saque das macieiras" que é quando chega alguém com 5 maçãs e o pobre tem uma macieira com duas maçãs e o pobre vende...Leu, também, um texto ficcional que deu o nome de "Europa". Este texto envolveu sapatos, atacadores, nós e gravatas, descrevendo de forma metafórica e optimista, a Europa.

O João Proença sente-se sempre um beirão mas é um europeísta convicto. Admira muito outras culturas, e principalmente, os outros países de língua portuguesa. Diz que há uma clara distinção de tratamento e de opinião de europeus do norte e dos europeus do sul. A Europa é considerada como tendo uma população envelhecida. Mas por ex. a emigração dos cidadãos do norte de África para França, com os seus costumes e religiões, está a inverter essa tendência com o elevado número de filhos.

D. Manuel Clemente defendeu que os europeus são muito difíceis de se definir, principalmente, no que se refere à religião. "A Europa não é uma realidade estática, é uma realidade dinâmica. 20 a 25% dos europeus são muçulmanos. A Alemanha tem 5 milhões de turcos, metade da população portuguesa. Quem são, afinal, os alemães hoje?".

Carlos Vaz Marques tem, na minha opinião, a melhor voz da rádio portuguesa. E para além disso, considero-o um dos melhores entrevistadores portugueses, a par com a Anabela Mota Ribeiro. Publicou há anos um conjunto das melhores entrevistas do programa "Pessoal e intransmissível", o qual guardo religiosamente e ao qual volto muitas vezes.




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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

9/11

Há 12 anos quando o primeiro avião embateu numa das torres em NY, eu estava a entrar para um exame de recurso de Fisiologia Microbiana. Naquele instante ainda ninguém sabia dizer o que se passava. Quando saí do exame já se sabia que tinha sido um ataque terrorista. As duas torres já tinham caído, outro avião já se tinha despenhado sobre o Pentágono e outro algures na Pensilvânia. O mundo nunca mais foi o mesmo. Hoje, especialmente, podemos perceber que não estamos seguros em lado nenhum. E a guerra, tal como a conhecíamos, passou a ser outra. Que se honre hoje os milhares de inocentes que morreram em vão. 

Um exemplo a seguir

O que Laurinda Alves (divorciada de Miguel Sousa Tavares e com o qual tem um filho) diz dele – um exemplo a seguir entre pais divorciados:

"O Miguel é e sempre foi o melhor pai que os seus 3 filhos podiam ter, e naturalmente é também graças a ele que o Martim é quem é, e faz o que faz. Tenho a certeza absoluta que muita da segurança com que os nossos filhos caminham pela vida nasce da certeza de serem a nossa primeira e última prioridade.


... aproveito para sublinhar que após as descobertas dos neurocientistas, que provaram cientificamente que o envolvimento precoce dos pais-homens com os seus filhos potencia todo o seu desenvolvimento, seja neurológico, cognitivo, físico, artístico, intelectual ou emocional, todos os pais do mundo ficaram a saber que a sua presença activa nos primeiros anos de vida é radicalmente decisiva.

É extraordinário saber que os pais que mudam fraldas e dão colo, mimos, banhos, biberons e papas aos seus filhos desde que nascem, contribuem decisivamente para multiplicar todos os seus talentos e competências". 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Filantropia

Em Portugal os ricos não têm o hábito de doar dinheiro a uma instituição, hospital, biblioteca... Existe o exemplo de Calouste Gulbenkian e António Champalimaud que doaram parte da sua fortuna pessoal para criar as suas fundações post mortem. Existem tantos outros, que ainda em vida, criam as suas próprias fundações para proveito próprio. O que eu quero falar é de outra coisa. Dos exemplos de pessoas com muito dinheiro que podem realmente fazer a diferença, e ajudar instituições a favor de todos. Nos Estados Unidos, o exemplo que conheço melhor, todas as disciplinas, cátedras, salas de aulas, auditórios, edifícios, bancos, jardins... têm o nome de um(a) bem feitor(a). Há uns tempos, quando a Judite de Sousa entrevistou um muito jovem milionário, ele referiu que não tinha obrigação de ajudar ninguém. É uma verdade indesmentível. Mas aqui fica a sugestão. Não seria mais bonito e eterno doar o valor que gastou com a comemoração dos 21 anos a uma instituição?

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