quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Democracia directa?

Eis como vão ser eleitos os próximos governantes da Ucrânia: “Quem quiser pode lançar nomes, de pessoas que conheça, personalidades prestigiadas e sem ligações à política, como reitores de universidades. A cada nome, o povo vai votar de braço no ar, ou aplaudir e gritar. Os nomes que obtiverem mais gritos serão os eleitos”.

Praxe

Este é um dos assuntos do dia há algumas semanas. Toda a gente em Portugal, mesmo que não tenha frequentado uma universidade sabe o que elas são. Todos os anos, por altura da entrada de caloiros em todas as universidades é vê-los em manada atrás dos ditos “doutores” trajados. Reconhecem-se facilmente porque estão sempre todos pintados, com indumentária ridícula, atados ou com mais alguma coisa como chupetas. Dizem que agora as praxes são melhores, ou seja, mais brandas. Quando entrei na universidade há 15 anos fui uma caloira rebelde. Lembro-me de as inscrições terem sido em final de setembro e as praxes diárias duraram até ao baptismo. Os primeiros dias ainda fui, muito a custo. Depois decidi dar o grito de ipiranga e dizer que bastava. Lembro-me que a praxe foi tudo aquilo que dizem que não é praxe: muito exercício físico, insultos aos calóiros, canções insultuosas, andar de quatro, comer sem talheres... Mas de uma coisa lembro-me perfeitamente, quando quis sair saí e ninguém me ameaçou. E lembro-me que tinham cuidado comigo por causa da minha asma e que perguntavam sempre se tínhamos algum problema de saúde. Ao longo dos anos fui sempre assistindo às praxes dentro da universidade, os gritos grotescos, as corridas, os insultos... Há alguns anos a minha universidade proibiu as praxes dentro dos edifícios. As aulas teóricas começaram a ser obrigatórias. Os alunos passaram a ter que assinar, desconfio eu, também para evitar as faltas em massa.

Corro o risco de ser injusta, mas a maioria das pessoas que praxa, os ditos “doutores” (que muitos deles nunca virão a sê-lo de facto), são os piores alunos, os mais faltosos, os que mais reprovam. E isto porquê? Quando muita gente se queixa do ensino público em Portugal deveriam pesquisar em quantas universidades do mundo: i) a propina anual para uma licenciatura não ultrapassa os 1000 euros anuais, independentemente do número de anos que se reprova; ii) onde as universidades públicas são as melhores comparativamente com as privadas!


Sou contra proibirem-se as praxes. Normalmente este tipo de proibições fazem-se em regimes totalitários e ditatoriais. Mas claro que sou a favor da condenação social do que conhecemos por praxe. As figuras ridículas e atitudes subalternas não são dignas de pessoas adultas que frequentam o ensino universitário. Resta a quem é praxado dar-se ao respeito. E daqui a uns anos falaremos... estas práticas menores passarão de moda e à história!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Os altos e baixos da ciência

Nas últimas semanas que se lê em todos os jornais e se vê em todas as televisões e se ouve todos os comentadores falar nos cortes de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, no decréscimo abrupto do investimento em ciência, na pouca transparência dos concursos da FCT, eu desta vez não fui afectada. Mas no tempo das “vacas-gordas”, no tempo em que todos tinham bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, eu fui talvez das pessoas que mais concorreu a bolsa de doutoramento da FCT e não conseguiu. Fiz o meu doutoramento paga por um projecto europeu. Agora, assisto a milhares que se sentem injustiçados, como eu várias vezes, durante muitos anos, me senti. Confesso que neste momento não tenho dados suficientes para ter uma opinião a favor ou contra sobre a questão. Sei que as bolsas de doutoramento e pós-doutoramento foram reduzidas em  valores superiores a 40% e que as taxas de aprovação foram em média de 10%. Sei também que a FCT criou os programas doutorais e sei também que no concurso para investigadores aumentaram os contratos de 80 para 220. Paremos para pensar. Reflectir sobre os dados. Um país sem educação e sem cultura é um país menos competitivo e mais pobre. É no investimento em educação e cultura que se formam gerações mais preparadas.

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