A sentinela é o último livro de Richard Zimler. Como eu
disse ao autor, este e o anterior, “A ilha Teresa”, são diferentes de todos os
outros. A actualidade é que os distingue. O livro centra-se no personagem
principal, Henrique Monroe, inspector-chefe da PJ que é chamado para investigar
o homicídio de um importante construtor civil. Podemos classificar este livro
de policial porque há um crime e o autor é desconhecido, a dúvida e as pistas
persistem quase até ao final do livro. No entanto, este livro é muito mais que
um policial. Aborda várias questões como a violência e os problemas
psiquiátricos que daí advêm.
Henrique Monroe é um americano que sofreu de maus-tratos por
parte do pai, juntamente com a mãe e o irmão. Viviam os três aterrorizados. Passavam
o dia a esconder-se do pai para evitar as suas agressões. A mãe sofria de
depressão profunda e passava os dias sem se vestir. Monroe sofre de um
distúrbio psiquiátrico, transtorno dissociativo de personalidade, que toda a
gente desconhece, com a excepção do irmão, e que se manifesta no seu alter-ego,
Gabriel. Henrique e o irmão vivem com o medo permanente de o pai os descobrir
noutro país, após tantos anos. O que o medo faz. E aborda outra questão
importante, como o trauma na infância influencia os agredidos, mas estes
abominam a violência e a agressão. Há uma frase do personagem principal que
manifesta isso mesmo: “Não há dia em que não me preocupe com a possibilidade de
os meus filhos terem herdado de mim algum problema genético”.
Depois há a história da filha do homem assassinado, Sandi,
uma adolescente com problemas e que esconde um grande segredo. Juntamente com o
autor do homicídio, este é outro dos segredos para desvendar no decorrer do
livro. Quase até ao final do livro a dúvida e os segredos persistem. E o desenrolar do enredo é catártico.
A acção passa-se entre o Colorado e as ruas de Lisboa,
sempre magnificamente bem descritas.
Um livro duro de se ler e que nos faz revoltar muita vezes.
Mas tem de tudo, desde a descrição de como uma família rodeada de amor e unida
ultrapassa tudo. E mostra-nos como, apesar de infâncias terríveis que nos
podiam transformar em delinquentes ou até fazer com que não chegássemos à idade
adulta, podemos ser seres humanos que não querem replicar o mal que nos foi
feito. Uma luz no fundo do túnel é o que parece termos todos em comum quando
nascemos.
eu li "a sétima porta" e adorei :)
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