sexta-feira, 18 de março de 2016

O que tem de errado na fotografia?

Esta fotografia é a imagem do Brasil, ou a imagem errada que o Brasil passa para o exterior (através das telenovelas). O estereótipo capitalista da elite dos cariocas da zona sul. Ou a alta burguesia dos paulistas das zonas nobres. Há muito que não vejo uma novela brasileira. Não me lembro da última que vi. Mas eu lembro-me de quando era pequena achar que toda a gente era rica no Brasil: pequenos-almoços sumptuosos,  boas roupas, bons carros, mansões, piscinas...). Aquele era, evidentemente, um Brasil caricatural.

Anos mais tarde, comecei a ver o ridículo da elite possidónia brasileira passear por NY com carrinhos de bebés e as suas babás vestidas de branco atrás, tal e qual como nesta foto. O dinheiro compra tudo no Brasil mas não deve, evidentemente, comprar a educação e o respeito pelas pessoas. A imagem actual (provavelmente errada) que eu tenho no Brasil é de uma elite endinheirada, loira, cabelos penteados de cabeleireiro, mas que não fala inglês (e por isso grita na expectativa absurda que alguém perceberá, como se o problema fosse a surdez...) que tem dinheiro para viajar para NY e achar que o dinheiro compra tudo. No aeroporto e nas ruas de NY reconheço as brasileiras ao longe.

O que tem de errado na fotografia é a estratificação social gritante que existe no Brasil. A elite branca, rica, em forma (e só olhar para os gémeos do casal) que vai à “passeata” contra a corrupção e usa a t-shirt brasileira da CFB ( talvez uma das mais corruptas instituições brasileiras). Como se não bastasse, a babá vai vestida de branco (como sempre) para se saber que não é da família. A babá poderá até ganhar muito dinheiro e até ganhar horas extraordinárias. Mas colocar-se no meio da manifestação, concordando ou não, não é no mínimo discutível? E o casal de patrões, o que fazia que ocupasse tanto, que não podia empurrar o carrinho de bebés que fosse necessária a presença de uma babá?

Eu só coloco esta questão: quais os países democráticos no mundo constroem (ainda) apartamentos que contemplam elevador de serviço, área de serviço dentro do apartamento e quarto da empregada?! Aliás, eu na minha ignorância, quando em SP me falaram em “área de serviço” num apartamento eu tive que pedir para me explicarem... E não venham com a história da escravidão e que os hábitos culturais demoram gerações e gerações a mudar. Tudo isto existia em Portugal antes da revolução de Abril. E hoje, felizmente, passados pouco mais de quarenta anos, os pobres e os ricos não se distinguem na rua. Quem nasceu numa determinada classe social tanto pode ascender como descer, de acordo com o talento e trabalho (talvez na política isto ainda não seja verdade).


Este é um texto caricatural e estereotipado. Meu Brasil que eu gosto tanto. O Brasil das letras e das canções. O Brasil das belezas naturais. O Brasil da língua portuguesa com “açucar”. Eu quero acreditar que o Brasil tem solução!


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