terça-feira, 31 de janeiro de 2012

WIT


Na sexta-feira fui ver  a peça “Wit” no Samuel J. Friedman Theatre. Eu não conhecia a peça mas a C. disse-me que os alunos de Medicina viam o filme nas aulas de Bioética e disse-me também que no filme entrava a Emma Thompson e que os médicos eram representados como “os maus”. Decidi comprar os bilhetes porque a actriz principal era a Cynthia Nixon, que ganhara o Tony Award pelo “Rabbit Hole” (que foi posteriormente adaptado para cinema e com o qual a Nicole Kidman foi nomeada para o Óscar de melhor actriz). 

Ainda antes de ver a peça, comprei o livro da Margaret Edson pelo qual ganhou o prémio Pulitzer. Bem, a peça é sobre Vivian Bearing, Ph.D., uma excelente professora de inglês, a melhor na sua área, que passou anos a estudar e a ensinar os brilhantes e difíceis sonetos de John Donne. A peça começa com o diagnóstico de cancro terminal. Vivian uma mulher de 50 anos, determinada, sem medo e forte que sempre se dedicou ao estudo e à profissão. “After twenty years, I can say with confidence, no one is quite good as I”. Há algumas partes hilariantes quando vai fazer um Raio-X e lhe perguntam o nome e a seguir: "Doctor” e ela responde: “Yes, I have a Ph.D.” e o técnico diz-lhe: “Your Doctor!”. Mais à frente percebemos que um dos médicos foi aluno dela: “Professor Bearing was very highly regarded on campus. It looked very good on my transcript that I had taker her course. They even asked me about it in my interview for med school. I survived Bearing’s course. Yeah, John Donne, those metaphysical poets, that metaphysical wit. Hardest poetry in the English department. A pergunta mais repetida é: “Professor Bearing, how are you feeling today?”. No decorrer dos 8 meses de tratamento experimental Vivian diz aprender a sofrer. Fala do quanto é difícil a proctosigmoidoscopia mas que ver-se sem cabelo e descalça é o pior. Sim, e acha também degradante os exames pélvicos efectuados pelo antigo aluno. A forma como são representadas as “Grand Rounds” é notável. As descrições exaustivas dos tratamentos e da manifestação da doença: “Grand Rounds is not Grand Opera. But compared to lying here, it is positively dramatic. Full of subservience, hierarchy, gratuitous displays, sublimated rivalries - I feel right at home. It is just like a graduate seminar. In Grand Rounds, they read me like a book. Once I did the teaching; now I am taught”. Vivian sobrevive a 8 sessões de tratamento experimental com dose máxima, superou o record. Como os médicos dizem durante a peça: “She´s tough. She can take it”. Depois, vê-se  o confronto entre humanidade vs profissionalismo, humanidade vs investigação. O que é mais importante? O que lhes é ensinado na Universidade? E ela própria percebe como foi insensível numa das cenas com um dos alunos dela em que este lhe pede um adiamento para a entrega de um paper, numa analepse: “Don´t tell me. Your grondmother died.”, ao que o aluno responde: “You knew” (coitadinho, que crente..). E ela responde: “It was a guess. Do what you will, but the paper is due when it is due”. 

Com o evoluir da doença e do sofrimento, Vivian consegue perceber a humanidade que tanto lhe faltou durante a vida e que ela agora, sozinha, tanto ambiciona: “The young doctor, like the senior scholar, prefers research to humanity. At the same time the senior scholar, in her pathetic state as simpering victim, wishes the young doctor would take more interest in personal contact…the senior scholar ruthlessly denied her simpering students the touch of human kindness she now seeks”. O momento catártico da peça é quando ela está em sofrimento agoniante. A cena está tão bem interpretada que ela até chora: "I want to explain it, to use my words…I’m like a student and this is the final exam and I don´t know what to put down because I don´t understand the question and I´m running out of time. I am in terrible pain… Oh God, it is so painful. So painful. So much pain. So much pain.”. Sabem que mesmo as pessoas que não são crentes na hora do desespero chamam sempre por Deus?. Mas sabem o mais irónico, o médico chega ao quarto e vê esta agonia e sabem o que pergunta: “Dr. Bearing are you in pain?”. Ao que Vivian responde: “Am I in pain? I don´t believe this. Yes, I´m in goddamn pain. I have fever of 101 spiking to 104. And I have bone metastases in my pelvis and both femurs. (Screaming). There is cancer eating away at my goddamn bones, and I did not know there could be such pain in this earth”. Numa das últimas cenas, Vivian já não responde devido à morfina, quando o médico lhe pergunta:”How are you feeling today?”. Na parte final, enquanto o médico (antigo aluno de Vivian) muda o cateter com a enfermeira fala: “She was a great scholar. Wrote tons of books, articles, was the head of everything...I had a lot of respect for her. She gave a hell of a lecture. No notes, not a word out of place. It was pretty impressive. A lot of students hated her, though. She wasn’t exactly a cupcake. It felt more like boot camp than English class...”. E a peça acaba de forma surpreendente, pensavamos nós que teria sido uma diferença em relação ao livro, afinal não. O final é exactamente o mesmo.

Depois da peça vi o filme e acho que algumas das partes dramáticas estão melhor representadas na peça (Cynthia Nixon) relativamente ao filme (Emma Thompson). Concordo, contudo, com a C. que a ironia é muito mais bem interpretada pela Emma Thompson. Comparações à parte, não posso deixar de me queixar do público. Ó pá, nunca vi gente tão mal comportada no teatro. Esta gente vai a uma peça dramática, sim, repleta de cenas de ironia, mas não é para rir feitos tolinhos... Eu até estava a sentir-me incomodada. Apetecia-me pregar dois murros ao gajo sentado ao meu lado. As pessoas, não distinguem uma comédia hilariante de um drama com alguma ironia. Claro que há partes que dá para rir muito... mas não é sempre. Aqui está outro dos exemplos do excesso de barulho desta cidade. Mas depois proíbem as pipocas nas salas de cinema....

Photo By Boneau/Bryan-Brown

Photo By Boneau/Bryan-Brown






Sem comentários:

Enviar um comentário

facebook