quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Centésima página

Falo pouco da cidade onde nasci e vivo. Talvez por nostalgia de um tempo que já não existe, por ter sido uma cidade que tinha tudo para ser e perdeu-se com os anos... Quem não se lembra de Braga nos anos 90? Dos projectos musicais, das artes, da vida nocturna? Era a vanguarda a contrastar com o extremo conservadorismo da cidade dos padres, arcebispos e afins. Esta vanguarda cultural perdeu-se com os anos, a cidade foi crescendo sem projecto e sem organização para as freguesias periféricas como cogumelos. Não vou nomear cidades suburbanas parecidas para não ferir susceptibilidades. A verdade, é que com esse crescimento exponencial dos ditos jovens, não significou nem mais cultura nem mais nada. Quem não se lembra do Club 84, Sardinha Biba (o verdadeiro), Trigonometria, Pacha, Deslize, Insólito...? Eu sei que pareço aquelas velhas que dizem que o mundo está perdido e que no tempo delas é que era. Ou talvez uma "velha do Restelo"...

Tudo isto para dizer que há pouco regressada de mundos maiores, tenho redescoberto a cidade. A “Centésima Página” que está a comemorar 13 anos, como me disseram este fim de semana, é do melhor que já vi. Quanto mais vou lá mais gosto de voltar. A C. e o R. adoravam ir para lá escrever. Passavam tardes lá com os computadores no jardim. Agora no inverno, outros pormenores se descobrem. Mesas e cadeiras espalhadas pelo espaço a convidar as pessoas a ficarem. Visualmente é incrível, com aqueles livros todos a subir pelas paredes altíssimas. Sentar ali, sem fazer nada, nem que seja só olhar e perceber os livros a impregnar-nos. Essa sensação é indescritível. E lá encontra-se quase de tudo e o que não se encontra encomenda-se. Ali ninguém pergunta por um livro de Caio Fernando Abreu, Ferreira Gullar, Al Berto e ninguém nos responde com um “Como se escreve?”. Para quem gosta de chás e infusões é uma perdição, há também contos para crianças aos fins de semana, as apresentações de livros com os nossos melhores escritores é mais do que frequente. Era isto que queria dizer, uma livraria onde nos sentimos em casa e onde as nossas dúvidas são sempre simpaticamente respondidas. O que é bom e nos orgulha também é para se publicitar. E numa altura de crise em que só ouvimos discursos pessimistas e maus exemplos, e pessoas mal dispostas, tempos tristes, há que divulgar este espaço que é um orgulho! Posso dizer que não há muitas pessoas que conheçam tantas livrarias como eu. E comentava com a minha mãe na “Centésima Página” que esta livraria é incrível e que não há muitas no mundo assim.






 P.S. Acabei, também no fim de semana, o “Diários” do Al Berto com mais de 500 páginas.

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