terça-feira, 7 de julho de 2015

Terceiro e último dia em São Paulo

Depois das caipirinhas e dos chopes resolvemos ir para o hotel sem ir para a verdadeira balada. Combinamos ir de manhã ao centro de São Paulo que incluiria a catedral e comer uma sandes de mortadela. Acordo, como sempre às 6:30, sem despertador. Acordo de ressaca. A cabeça doi-me e vejo que bebi todas as águas minerais que tinha no quarto. Volto para a cama mas percebo que não consigo voltar a dormir. Daí a pouco tenho o L. a bater-me à porta. Doi-lhe a cabeça mas pelo menos não está enjoado. Depois do banho descemos para o pequeno-almoço. Esqueço-me dos óculos de sol para ofuscar a claridade. E devo ter escrito na testa “ressaca” porque toda a gente me olha. Desta vez não consigo comer mais nada a não ser frutas e mesmo estas são comidas a custo. O suco é de ananás e o café é sem leite. Como só temos tranfer para o aeroporto às 12:30 resolvemos ir ao Parque Ibirapuera, o grande parque urbano de São Paulo idealizado por Oscar Niemeyer e Burle Marx. Subimos para o quarto e tenho cinco minutos para fazer a mala. Atiro tudo. Sem ordem e sem arrumação. As dezenas de livros que comprei, felizmente, cabem todos na mala (quase) vazia que levei.




Chamamos um táxi à entrada do hotel. O taxista tem uns óculos Ray Ban na cabeça e é o mais falador que encontramos nestes dias. No caminho vai servindo de guia turístico. Passamos por uma ponte, que pelos vistos é um viaduto, que deveria ter sido concluído para a Copa mas agora a sua conclusão será (na melhor das hipóteses) em 2018. Por conta disto, conta-nos a história do engenheiro desta obra que foi morto (juntamente com a mulher) pela filha à paulada para ficar com a herança. E a filha não tinha mais do que 18 anos.  Depois disto refere um outro crime, o de uma mulher que matou o marido de origem japonesa e que o desmembrou. Ela que era uma ex-prostituta e que após descobrir que o marido, mesmo depois de casado, continuava com o mesmo vício matou-o. E destas histórias falou-nos das presões brasileiras e de como se as pessoas que assumissem relações dentro das cadeias tinham outras regalias. E aí introduziu-nos na gíria brasileira de viados e sapatões. Fala-nos que ali havia uma favela que foi destruída mas ainda sobram alguns vestígios. Aquilo que se vê na tv e que é o estereótipo: mulheres com filhos no colo nos caminhos ou à entrada das portas e rapazes de chinelo no pé, calção e boné de basket e manga cavada. Fala-nos muito mal do Lula e de como ele mesmo com cancer não morre “Quando toda a gente quer que ele morra”. Eu que achava que o PT era o partido dos trabalhadores e dos desfavorecidos parece-me que tenho à frente um militante do PSDB mesmo sem nunca o ter referido abertamente. Passámos por uma das avenidas que atravessa São paulo, junto do aeroporto de Congonhas. O monumento das vítimas do avião que se despenhou vindo de Campinas e que teve mais de 200 vítimas fica do nosso lado esquerdo. Aqui, ele diz-nos que é bisneto de um português de Almeirim.  Numa manhã de sábado sem trânsito, chegamos ao Parque Ibirapuera, depois de acharmos que ele foi dar uma volta maior do que a que seria necessária. Mas pelo menos contou-nos histórias, foi simpático e conhecemos as estradas de São Paulo.
Chegados ao Parque Ibirapera percebemos o tamanho gigantesco. Tem a bienal, o Museu de Arte Moderna, imensa gente e um lago (o único que vimos). As pistas de bicicletas e de corrida estão inundadas de gente. Existem barracas que vendem cocos. Não perco a oportunidade. Nunca provei e lembro-me dos milagres e dos benefícios que a água de coco terá para a ressaca. Peço um coco e perguntam-me se quero na garrafa ou o coco. Claro que quero o coco, de preferência levá-lo comigo para Portugal. Dizem-me que não, que não posso sair dali com o coco e até me apontam para umas cadeirinhas. Tudo em nome de questões ambientais! O coco não o posso levar comigo mas as garrafas de plástico, que é o maior veneno da humanidade, estão ali à disposição de quem quiser poluir. Mas o coco não. O coco, para meu desgosto, terá que ficar. Agora lembro-me que vi escrito que um coco custava 4 reais mas para mim disseram-me que eram 5... Só me lembro disto agora. Teria dado 5 mesmo que me tivessem cobrado 4... e percebo a maravilha de se ser turista em qualquer parte do mundo. Muita gente corre, muita gente caminha. Bicicletas. Carrinhos de bebé. Skates. Muitos noivos tiram fotos. Vemos uma festa de Doentes de Pompe. Nem de propósito. Uma menina tem um cartaz escrito “free hugs”. Quando falamos com ela responde-nos em inglês apesar de falarmos com ela em português. Continuamos até ao lago gigante. De um lado avista-se os prédios enormes de São Paulo ao fundo e do outro a fauna e a flora brasileira. Os trópicos no seu melhor. O tempo não dá para mais e voltamos para encontrar um táxi.







Pela janela do táxi despedimo-nos de São Paulo. As últimas ruas. Cruzamos com ruas com o nome Portugal, California... O dia está lindo. O taxista parece um saxofonista ou um pastor americano. Está de fato e gravata e chapéu. Tem um perfume tão forte que misturado com a minha ressaca faz-me querer (ainda mais) vomitar. No regresso para Guarulhos percebemos que existem pessoas a morar por baixo dos viadutos. Vemos algumas favelas e vejo novamente o Rio Pinheiros que parece um esgoto a céu aberto. Tem cor de petróleo e não tem corrente. Parece um rio morto. Uma cidade que não cuida da sua natureza e do ambiente, não pode querer ser uma cidade evoluída.

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