quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O Poeta

Estaciono o carro em frente ao meu prédio. Passam das 7 da tarde e já não preciso de colocar moedas. Saio do carro e vejo o “Poeta”(arrumador, mendigo, vive na rua, boa pessoa, toxicodependente) correr em minha direcção. Lembro-me que a única moeda que tenho é de 2 euros. Nem hesito, lanço a mão ao bolso e estendo-lhe a moeda, ao mesmo tempo que chega ao pé de mim e cumprimenta-me:
- Então? Está boazinha? Esta semana ainda não teve nenhuma multa! [Obrigada poeta por me relembrares das dezenas de multas de 10 euros que apanhei nos últimos tempos!].
Ao mesmo tempo que diz isso, olha para a moeda que lhe dei e atira:
- Olhe, vou ser sincero, de todas as pessoas da sua família você é a mais generosa! Olhe que eu também sou generoso, eu também dou esmolas. Quando fiz anos dei 5 euros aquele magrinho que está em frente ao Pingo Doce. E ainda dei mais dinheiro ao Adriano, aquele borrachão, que tinha saído nessa semana do hospital”.
O “Poeta” lá me agradeceu mais uma vez e saiu a correr em direcção a uma senhora para a ajudar com as compras.

Na semana passada ia ao Pingo Doce e encontrei o meu pai. Seguimos juntos e aparece o “Poeta”, que adora o meu pai desde que o viu na bomba de gasolina a enganar-se e trocar o gasóleo pela gasolina. Desde esse dia o “Poeta” nunca mais esqueceu o meu pai e sempre q o vê fala nisso
- Olá! Olha quem está aqui! O seu paizinho e a troca da gasolina.... – e dá-nos um aperto de mão a cada um com as mãos que pareciam da cor do chão.
- Sabem que eu hoje faço anos?
Eu, como sempre, dei-lhe uma moedas. Neste dia, especialmente, fui mais generosa. O meu pai pergunta-lhe quantos anos faz. Eu dou-lhe uns 50 anos, talvez mais, mas imagino que não ande nem lá perto. Fazia 41! E vira-se para mim e diz-me que devo ter uns 26. Eu não falo mas penso: «Ó “Poeta”, se eu já simpatizava contigo, a partir de hoje, estás cá dentro! Dás-me quase menos 10 anos! Obrigadinha, pá!». Vou começar a ficar insuportável! Estou cheia de cabelos brancos, e mesmo assim, não me dão nunca a idade que tenho! E lá seguimos, felizes, cada um pelo seu motivo.


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