quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Onze de outubro de dois mil e dezasseis

Passaram-se quatro anos. O meu afilhado tinha 3 anos, usava chupeta e uma fralda na mão para dormir. O meu sobrinho mais velho tinha 4 anos, ainda não tinha mudado os dentes. Já usavam óculos. Não quero voltar a esse dia. Não consigo voltar a esse dia. É demasiado mau. Nestes 4 anos, a minha avó morreu. Passaram-se Natais, e novos anos e dias de anos e dias do pai. Muito medo, muitas lágrimas, muitas tristezas, muitas saudades, muita dor. Muitas lágrimas secaram e muitas lágrimas deixaram de brotar por não haver mais para chorar. Expectativas defraudadas. Muitas provas, muitas folhas, muita tinta, muitas palavras. Tempo, muito tempo, demasiado tempo. Tempo, que se pensava, irrecuperável. Depois de tantas desilusões chegava-se ao dia da decisão final. À estrada percorrida, comprida, sem saída. Uma única e justa solução. Não seria possível outra decisão que não fosse a justa. Que a justiça fosse justa, o verdadeiro pleonasmo. A decisão que defendesse o superior interesse das crianças. Uma justiça que fosse cega, como é a imagem que a representa, sem pender para nenhum lado das balanças. Ninguém entende, ninguém consegue perceber-nos, ninguém consegue colocar-se no nosso lugar. A tão bela frase que fica ainda melhor em inglês: "put yourself in my shoes". 

E chega o grande dia. Um entusiasmo calado, um optimismo que sentia estar certo. Mas conhecia as frases: "Quem disse que a vida é justa?", "A justiça não funciona", "Mãe é mãe", "Ninguém tira os filhos a uma mãe". Depois de tanto tempo, tantos factos, tantas provas, tantas evidências, só poderíamos estar confiantes. Mas o tempo perdido, decisões erradas e falta de coragem de muitos dos envolvidos, levam-me a ter (sobretudo) medo. Foi isto que mais aprendi nestes últimos 4 anos: a ter medo. E eu que só tinha medo que os meus morressem...

Acordei optimista, depois de não ter conseguido adormecer antes das 4 da manhã. Adormeci com dor de cabeça, como quase sempre nos últimos dias, e acordei como se não tivesse dormido. Mas acordei sem medo e sem angústia. Confiante, no fundo. Pela primeira vez, não conseguia não ser optimista. Quando no aeroporto, vi que iria viajar numa avioneta que mais parecia um avião de papel, pensei no quão injusto seria morrer antes de ver a alegria estampada no rosto dos meus sobrinhos. Aterrei sem problemas de maior. Fui trabalhar, como de costume. Não disse a ninguém o quão mal estava, por dentro. Acreditava, com a fé que tenho, que seria um grande dia e que tudo ia acabar em bem!

E assim foi. O grande sonho cumpriu-se. O dia da liberdade chegou! A justiça foi feita! Muita gente nunca desanimou. Muito obrigada a todas as pessoas que sempre acreditaram. Uma vida nova começa. Os meus sobrinhos ganharam! Palmas, principalmente, para a advogada do meu irmão que nunca perdeu a esperança e sabia, desde o inicío de que lado estava a razão!

Não quero mais olhar para trás. Só para a frente e pensar que os meus sobrinhos vão agora poder viver a vida na sua plenitude. Vão poder falar sem terem medo do que vão dizer, sem medo que lhes digam mal das pessoas que gostam, que vão ter aquilo que há quatro anos lhes tiraram: a liberdade de serem o que são.


“It was a long, long, long road”!

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