terça-feira, 25 de outubro de 2016

Sócrates (José), o esperto

Sócrates, esse grande Mestre e intelectual de Sciences Po. Por acaso foi em Paris, mas podia ter sido em NY. Há quem assegure que ele pensou em fazer o Mestrado em Columbia. Compra da licenciatura numa privada, cadeiras feitas ao Domingo, outras avaliações por fax, e finalmente, um grau que lhe foi atribuído mas que não merece. Pagou a um ghost writer. O caso de Sócrates é o exemplo de que a realidade pode superar a ficção. Nem nos meus maiores devaneios achava possível Sócrates dominar, comprar, controlar tanta gente.  Pagou para lhe escreverem a tese, para escreverem posts favoráveis ao seu governo, comprou silêncios, opiniões, pagou a várias mulheres despesas correntes (ainda não consegui perceber o motivo), pagou para lhe escreverem a tese de Mestrado, para que lhe comprassem o livro, pagou ao Lula para escrever o prefácio (como se Lula fosse um grande escritor ou académico na área) e parece que pagou para lhe escreverem o segundo livro.  O tal do Domingos Farinho, disse ter (apenas) revisto o livro . Consta-se que para isso recebeu qualquer coisa como 40 mil euros. A ser verdade, fez  pagar-se bem por esse (pequeno) trabalho.  E a ser verdade, que mal tem isso? Que crime é esse de pagar a alguém, 40 mil euros, para rever uma tese? Que tipo de crime existe nesse facto? É com este tipo de perguntas (idiotas) que Sócrates e a sua defesa costumam justificar os seus actos. Aqui percebe-se a falta de tacto da imprensa portuguesa. Não é ofício do orientador rever/corrigir uma tese de Mestrado? Quem foi o orientador da tese de Sócrates. Ninguém coloca essa questão?

O Domingos Farinho vem dar razão aquilo que eu defendo e escrevi várias vezes. Ser doutorado não diz nada sobre uma pessoa. Apenas que essa pessoa se especializou num tema em particular. Muitos (as) deles (as) não sabem nada (mais) para além disso. Não vou dizer a maioria, para não ferir susceptibilidades, mas muitos dos Doutorados que conheço são as pessoas mais incultas do mundo e que me fazem ter vergonha de dizer que sou doutorada (como se isso fosse uma vantagem). Este Dominhos Farinho falta-lhe uma coisa: tempo, vida, sabedoria. Doutorou-se em 2013. Ou seja, um Doutor à la Bologna. É um menino. Tem 39 anos, 2 anos mais velho do que eu. Licenciou-se antes de mim mas doutorou-se 4 anos depois. Ao contrário de mim, deve ser um bem sucedido Professor Universitário, e com isso ter uma vida profissional estável. E deve achar, como todas as crianças, insensatas que são, que quarenta mil euros vale para que outro receba os louros por si. Ora bem, quarenta mil euros, dava para pagar o empréstimo da minha casa. Ao contrário de mim, que continuo com o mesmo estado de bolseira desde o dia que me licenciei. Só as bolsas, o financiador e o valor mudaram ao longo dos anos. A situação mega, giga tera precária, permanece. E vocês obviamente, como bons portugueses que são, devem estar a achar-me uma invejosa. E como tal, só devo estar a criticar o meu colega porque queria ser como ele. E isso faz-me lembrar há uns anos, quando me ofereceram dinheiro para eu escrever teses de Mestrado, muito bem pagas, por sinal, ao que eu respondi: “por dinheiro nenhum do mundo porque a escrita é a única propriedade intelectual que me representa e que é minha”.

Há uns tempos, Sócrates deu uma entrevista em frente ao rio Tejo, no Altis Belém a Clara Ferreira Alves, num tom confessional, verdadeiro, que vivia da ajuda da mãe e do empréstimo que fizera para ir estudar para Paris. Querem imaginar a Clara Ferreira Alves que acreditou e transcreveu o que ele disse e que agora se sente e vê enganada como todos nós? Poder-se-á nunca se provar nada do ponto de vista jurídico mas conseguem perceber a grandiosidade do esquema do Sócrates. Um gajo que tem um amigo que lhe dá dinheiro para tudo. Um amigo que é o multibanco. Paga-lhe as viagens, as roupas, os restaurantes, os carros dele e da família, as casas, as contas dos filhos e da ex-mulher, as cópias, os livros, os envelopes, as malas, os vôos, os dentistas, o funeral do irmão, as férias... Não sou licenciada em Direito, não percebo nada de leis, mas existe uma expressão que se chama “livre convicção”. [Desculpem-me, é como o Paulo Pedroso que foi ilibado e não foi condenado. Mas a história do sinal que retirou, ninguém consegue apagar. Esse pode até estar livre, andar de cabeça levantada, receber uma indeminização do Estado português mas se a justiça terrena não funcionou, aguardá-lo-à justiça divida, e dessa, não poderá fugir].

Sócrates poderá nunca ser condenado por corrupção mas nunca se livrará da verdade, que nunca deixará de ser verdade, mesmo que não seja provada pela justiça portuguesa. Factos são factos e ele nunca poderá negar as transcrições dos telefonemas que existem. Podem ser ilegais. Podem não ser uma prova válida. Mas é um facto, aconteceu. Sócrates é o exemplo do trapaceiro, do fingidor, do que leva a melhor sobre os outros, do que se fica a rir. Sócrates é o exemplo do que a política portuguesa fabricou de pior. Mas a justiça portuguesa, não sei apontar a principal razão, peca por tardia. Ao contrário do Brasil, ainda não conseguimos julgar efectivamente grandes figuras de poder. Os únicos exemplos são os de Vale e Azevedo e Isaltino Morais. Mas esses não são exemplos do topo da pirâmide. Esperemos que a justiça portuguesa consiga formular uma acusação exemplar, sem erros, ou seremos para sempre conhecidos como a “república das bananas”. Só um Sócrates se lembraria de um Lula para escrever o prefácio do seu livro.


O lançamento do segundo livro já tem data marcada. Daqui a pouco temos um Doutor por extenso sem o merecer. E ele a rir-se de todos nós. 

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