A política, como espectadora, é uma das coisas que gosto.
Debates, discussões políticas, programas políticos. Programas de governos. Tudo
à distância de uma televisão, de um rádio, de um livro ou de um computador. Biografias
políticas. Histórias políticas. Política activa nunca mais. A não ser que um
grande amigo se meta nisso. Fora isso, a minha participação activa é um zero
absoluto.
Não me lembro em 35 anos de tamanha revolução num partido
político. Nem quando Santana Lopes esteve à frente do governo, quando foi
nomeado e não eleito, quando a ala cavaquista aproveitou para quase o aniquilar
politicamente. Ele disse que ia andar por aí e por aí continua. Nem quando a
Joana Amaral Dias apoiou e foi mandatária de Mário Soares quando estava
vinculada ao Bloco de Esquerda. Nem quando Paulo Pedroso foi preso e depois
libertado e saiu como um herói na então liderança de Ferro Rodrigues.
Catástrofe idêntica ao momento actual que se vive no PS, só a morte de Sá
Carneiro, da qual não me lembro mas sobre a qual estou bem informada. Foi
talvez sobre a pessoa que mais biografias li. Acho que li tudo o que existe
sobre ele.
António José Seguro teve a pior votação do PS nas Europeias
desde que me lembro de ser gente (31.5%). Sobre isto podemos fazer uma tese.
Mas como tenho poucas linhas, vou abreviar. Um líder do maior partido da
oposição, numa situação de pós-crise e incrível austeridade, consegue somente
mais 3% do que a coligação de governo. Seguro argumentou dizendo que não. A coligação
é constituída por dois partidos. É verdade. Mas também é verdade que este é o
governo mais odiado que há memória em Portugal. E mesmo assim, o PS conseguiu
apenas, mais 3%. E na minha opinião o PS tinha obrigação de ter conseguido
mais. Claro que sim. Se não uma maioria absoluta, qualquer coisa próximo disso.
Os portugueses mostraram com isso duas coisas: que nem toda a gente odeia o
governo e que existe muita gente que não acredita no actual PS, ou pelo menos
neste líder, para liderar uma mudança em Portugal. Eu, no lugar do governo e do
PSD estaria radiante: 27,7% depois de tudo....
Nunca acreditei politicamente no António José Seguro. Não
sei dizer qual a razão. Nunca foi um político carismático. Vem das jotinhas.
Não se lhe conhece outra profissão que não tenha sido a política. Foi um boy do Guterres. Foi e é um líder de oposição péssimo. Tirando
isto, não tenho muito a criticar. É-me indiferente. Como propostas políticas
para o futuro do país, afirma que não vai aumentar impostos e que vai repor os
salários. Vai revogar a decisão de alterar o mapa judiciário. Reduzir o número
de deputados. Exclusividade dos
deputados. Concordo com todas as propostas. Mas são estas propostas de governo?
“Apenas” isto vai mudar alguma coisa?
No entanto, não acho Seguro arrogante como Sócrates. Acho
que é melhor pessoa. E tenho-o como uma pessoa séria. Mas carisma, não é de
facto, o seu forte. Está rodeado de algumas pessoas que parecem muito bem
preparadas, como por exemplo o Eurico Brilhante Dias, que não tenho dúvidas que
dará cartas no futuro.
Concordo com Seguro quando ao timing de António Costa se candidatar à liderança do PS. Façamos o
exercício de concordarmos. António Costa teve duas oportunidades para ter
assumido a liderança e das duas vezes solidarizou-se com o líder. Seguro fez o
caminho das trevas, assegurou a liderança do maior partido de oposição
pós-Sócrates. Desgastou-se. Fez o trabalho mau. E agora vem o António Costa,
qual D. Sebastião, apontar para lá do nevoeiro. Concordo que Seguro possa estar
magoado, triste e inseguro.
Seguro, na minha opinião, perdeu toda a credibilidade quando
se recusou a convocar um congresso. [Eu adoro congressos. Discursos noite
dentro. As televisões generalistas começam as televendas mais tarde, o que é
óptimo para insones como eu. E depois da tempestade regressa a bonança. E ficam
todos amigos, novamente]. Agora, tenho muitas dúvidas sem resposta. Primárias?
Com militantes e simpatizantes do PS? Que critério define um simpatizante do
PS? Não realizar-se um Congresso? A possibilidade de ter um Secretário Geral
diferente do candidato a Primeiro-Ministro? Seguro acredita mesmo que
conseguirá ser Primeiro-Ministro?
António Costa. Ministro dos Assuntos Parlamentares e da
Justiça dos governos de Guterres. Ministro de Estado e da Administração Interna
do governo de Sócrates. No CV diz que a sua actividade profissional é advogado.
É presidente da Câmara de Lisboa desde 2007. Juntou Helena Roseta e Sá
Fernandes na sua lista. Conseguiu acordos até com o PSD na Câmara. Acho que fez
um trabalho muito visível na Câmara de Lisboa e isso vê-se pelos 51%
conseguidos. É muito simpático. Tem
carisma. Participa no “Quadratura do Círculo”, programa que adoro. Dizem que é
um homem de consensos. Diz que quer mobilizar Portugal. Não se envolve em
ataques pessoais. É politicamente correcto.
O que posso eu dizer? Li as 4 páginas de apresentação da candidatura.
Diz que o país precisa de uma mudança. Concordo. Diz que se tem de reverter a
situação económica e social do país. Concordo. Não diz como o vai fazer.
Atribui a situação do país ao alargamento a leste, da entrada da China no
mercado Europeu e da falta de resposta da Europa em relação à crise. Concordo. Orgulha-se
da visão do Governo liderado por Guterres e do impulso reformista de Sócrates.
Não poderia renegar o seu passado. Fala em voltar a investir na Ciência e na
Cultura. Não podia concordar mais. Um país sem ciência e sem cultura é um país
pior. Refere a necessidade da modernização do Estado e do Tecido Empresarial. Não
explica como fará estas mudanças. Faz política sem atacar. Não faz críticas
ferozes, nem ao Governo nem à actual liderança do PS. Gostei do que li, mas não
chega. Espero um programa mais completo para poder pronunciar-me. Está rodeado
de pessoas muito capazes e isso é visível por algumas das pessoas da sua equipa
na Câmara de Lisboa. Não sou do PS. Nunca votei no PS. Gosto do António Costa.
Fico à espera que me convença.
Como é que todos os apoiantes da candidatura de António
Costa, que também são membros da direcção da actual liderança, não se demitem? Tenho
para mim que não podemos ser do Benfica e do Porto ao mesmo tempo!
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