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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Para a minha querida amiga Luisinha (em forma de carta)

A primeira vez que vi a chef Luisinha foi na inauguração do City Sandwich e no Portugal Day no Central Park (em que estava com a Catarina Portas e o Tiago Mexia). O sorriso da Luisinha é a marca da sua personalidade. Quando a vemos, tão pequenina, não imaginamos o mundo que tem lá dentro. Semanas depois fomos ao Robert beber um cocktail. De conhece-la apenas de vista, a conhecê-la mesmo, foi nesse dia que começou a nossa amizade. Senti-me em casa, em família, aquilo que mais falta nos faz em NY: o conforto de uma família. Nunca mais me esqueço que nesse dia nos presenteou com uma panna cotta e bambolinis. Depois desse dia, muitos jantares se seguiram. Ofereceu-nos tanta coisa sem preço. Tratou-nos tão bem. Levei lá toda a gente que conhecia, recomendei muita gente e inclusive o Ruben Alves ainda hoje me fala do jantar memorável que lá teve.

A chef Luisinha é o exemplo que nenhum sonho é impossível. Quando nos faltarem as forças, lembremo-nos dela. Foi enfermeira chefe muitos anos, perdeu um grande amor, e há mais de 10 anos reformou-se e veio para NY lutar pela sua outra paixão: a cozinha. Começar uma vida de novo, depois do meio século de vida, longe de casa, do outro lado do Atlântico, não é fácil, nem é para todos! [Ainda hoje me lembro da história da “morte do Bono!!!]. Não são só sorrisos nem alegrias. Mas a força da Luisinha venceu tudo e tornou-se uma chef reconhecidíssima.

Não me esqueço de todas as histórias fenomenais que a Luisinha contava do hospital, de muitas aventuras de NY, do jantar que tivemos no LOURO (em que a Luisinha pagou a maior parte porque nós, coitadinhos, éramos investigadores - nas palavras dela), dos jantares memoráveis no Robert em que a Luisinha se sentava à nossa mesa e bebia apenas uma água com gás, de como éramos tratados com verdadeiras honras.

A Luisinha, apesar de ter viajado muito, antes de ter mudado para NY nunca aqui tinha estado. Sempre disse que quando viesse a primeira vez ficaria aqui para sempre. É de perder a conta quantas pessoas ajudou. E este exemplo da Luisinha é fundamental, também, para percebermos como a cozinha é uma forma de arte. Para além disso, adora flores como ninguém. E tem a neta uma das suas maiores admiradoras.Tal como a avó, ama NY intensamente.[ Queria há uns anos ter uma banca na Quinta Avenida].

PAPS, Portuguese Circle, principalmente em cidades difíceis como NY, continuem com este excelente trabalho de aproximar os portugueses. Usem sempre o exemplo da Luisinha e nunca estarão sós.
Luisinha, até muito breve, pessoalmente. A vida sorri sempre a pessoas tão boas e com o coração tão grande. Muito obrigada por nos fazer sentir tão perto de casa e por nos ter mimado tanto.
Com um beijo meu,

A. (M)








segunda-feira, 27 de abril de 2015

O dia mais esperado chegou

Antes de conhecer o L. pessoalmente já ouvia falar dele. Quando o conheci pessoalmente em NY estava um dia de inverno fortíssimo, nevava e a neve acumulava-se  na ruas. Emocionalmente eu estava um caco, tal como esse dia de inverno. Nessa noite fomos jantar a um restaurante chique em Upper East Side, Le Perigord. O restaurante foi uma péssima escolha, bem ao jeito de quem o escolheu. Quem lá trabalhava falava em francês. Eu acabara de chegar a NY, estava numa casa que detestava, com uma roommate cujo santo não se cruzava com o meu, sem amigos, sozinha para dizer o mínimo. A C. eu já tinha conhecido há dias, a N. acho que também, o F. ainda não. Nesse jantar eram só portugueses com a excepção da minha roommate. Todos na sua melhor roupa já que o restaurante assim o exigia. Eu e o L. mal nos falamos nessa noite. Ele achou-me, mais do que calada, antipática. Mas essa noite foi o princípio de tudo. Depois dessa noite nunca mais jantei sozinha, a não ser por opção. Com o L. jantei em quase todos os restaurantes perto do main campus de Columbia University, bem como todos os asseados de Washington Heights. O L. tem um problema com limpezas. Então, no critério dele não entram os "carros de comida" em frente ao Presbyterian (com os deliciosos chicken over rice e os gyros), nem o Las Palmas ( que mais parecia um supermercado e atrás tinha uma espécie de tasco mexicano), nem o El Presidente. Estes tipos de comida, na sua opinião, faziam-lhe mal. Com ele era mais os peça-lhe Strokos, Jou Jou, Tamaya, Coogan's em Washinton Heights e o nosso preferido do patinho (Ollie's) e o Symposium. Foi com ele que depois de termos assistido a uma conferência da NYSCF no edifício emblemático do the New York Times, onde conheci o cientista mais sexy do mundo (Kevin Eggan), fomos ao Ipanema em Midtown.

O L., quando o conheci, parecia um adulto. Não parecia um jovem aluno de doutoramento. Parecia ter muitas mais certezas do que dúvidas. Foi com ele que aprendi quase tudo o que precisava sobre Columbia University. Conheci os Nobel Eric Kandel e Richard Axel. Conheci o eterno candidato a Nobel, Thomas Jessel, que parece o Hannibal Lecter. Foi ele que me deu a conhecer outro sex symbol de Columbia, meio pop star, meio cientista, meio médico, Sid Mukherjee (autor do livro vencedor do Pulitzer Prize "The Emperor of all Maladies"). E depois dele conheci a mulher dele, Sarah Sze. Com o L. só se falava de ciência. E ele conhecia tudo, todos e todas. Sabia ao detalhe todos os papers da área publicados nas melhores revistas. Como eu não o podia acompanhar e considerava-me uma ignorante, já que a minha temática preferida fora do lab nunca fora o trabalho, resolvemos falar de outros assuntos. Assim, eu tornei-me uma especialista em Benfica, clube que somos adeptos. A outra temática era a política. Ele um fervoroso apoiante do PS e do governo Sócrates e eu (quase) sempre do contra. Para além de tudo isto, o L. sempre teve uma característica que me arrebatou desde que o conhecei: um coração grande. Nunca me faltou. Sempre esteve presente nos bons e nos maus momentos. Sempre telefonou. Nem que fosse para se queixar ou para fazer os seus longos monólogos. Mas ausente foi uma coisa que nunca esteve. No funeral da minha avó, numa tarde quente de férias, em Agosto, ele estava lá. Foi ele que passou a noite comigo no Presbyterian Hospital quando a C. esteve doente. Entrou connosco às 4 da tarde e esteve lá o resto do dia e noite com idas e vindas ao lab. Às 4 da manha estávamos no Jou Jou a fazer tempo para um diagnóstico mais definitivo. Às 7 mandaram-nos para casa. E sei que eu ainda dormia e ele já estava no Hospital com a C. Antes da C. ter alta ainda bebemos uns sumos de maçã do hospital, experimentamos a cama que registava  o peso e ainda experimentamos a casa de banho fio quarto todo xpto do mesmo hospital em que a Hillary Clinton esteve internada. Para além de tudo isto, o L. ainda foi a minha companhia das terças-feiras no Cubby Hole. Das míticas margaridas a $2. E da mítica irmã Lúcia.
Isto foi o bom.

Mas o percurso do L. foi penoso. Escolheu o lab errado quando foi para Columbia. Trocou de lab e de orientadores contra tudo e contra todos. E sofreu pesadamente por isso. O L. Sempre foi ambicioso. Sempre trabalhou muito. Mais. Para que nada falhasse. Tinha objectivos. Metas. Planos. Tudo muito bem planeado. Não vou contar pormenores. Só vou dizer que passou por tudo com muita perseverança e coragem. Nunca desistiu. Nunca desanimou. Nunca baixou os braços.
Acho, hoje, que o que poderia provocar na maioria dos humanos revolta e amargura, no L.  ajudou-o a amadurecer e a encontrar o norte. A dar o devido valor às coisas e definir prioridades. O L. tornou-se (ainda) uma melhor pessoa. Aprendeu a ouvir. E aprendeu que a opinião dos outros nem sempre é a mais importante.

Hoje, passados 4 anos do que deveria ter sido a defesa do seu doutoramento, finalmente esse grande dia chegou. E foi um dia feliz. Esperado e emocionante. Estou a escrever este texto e as lágrimas correm-me pela cara. Nunca conheci ninguém que esperasse com tanta expectativa este dia. E foi brilhante, como só poderia ter sido. E pela primeira vez na vida, em todos os doutoramentos que assisti, vi na cara do mais recente Doutor lágrimas nos olhos.

O orientador dele fez das intervenções mais sensíveis e inteligentes que vi na vida. Falou sobretudo de tempo. Começou por lhe perguntar se sabia, sem olhar para o relógio, que horas eram. E falou numa coisa importantíssima que é: não importa o tempo que as coisas demoram a acontecer mas que provavelmente existe um tempo certo para que elas aconteçam. Muitos parabéns, meu grande amigo! Let's party!

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O mítico DJ do Wesbter Hall

O Webster Hall era um mítico clube de NY. Agora já não é. Transformou-se noutra coisa. Poderia dizer mais “Meatpacking District”. Mas nem sei se é isso. Transformou-se naqueles banais clubes de gente toda igual, de preferência vestidos colados ao corpo, com mais destapados do que tapados. Aquele tipo de roupa, que na minha humilde opinião, não fica bem a ninguém.

Antes de ter ido ao Webster Hall já o conhecia. O edifício do Webster Hall já foi o estúdio do Marcel Duchamp em NY. A L. e a C. quando foram a NY, antes de eu viver lá, desbravaram e fizeram a descoberta da noite de NY. Tornaram-se amigas de um dos porteiros do Webster Hall e conseguiam estar sempre que queriam na guest list. Nessa altura, o Webster Hall tinha uma festa às sextas que se chamava Trash Party. A L. e a C. conseguiram o feito de entrarmos sempre por uma porta alternativa, pela qual fugiamos à gigantesca fila, e pagavamos apenas $10. Não sei bem definir como era a Trash Party. Era na cave. Escura. Cheia daqueles fumos dos concertos. Gente nua. Gente mascarada. Gente vestida das mais variadas formas. Onde se podia tudo. A música era espectacular. E havia o DJ, Jess, excêntrico, rodeado de figuras excêntricas. Era mítico. O Jess proporcionou-nos das mais inacreditáveis noites da nossa vida. Ontem, a L., disse-me que ele tinha morrido. Soubemos hoje que se suicidou. O Webster Hall, tal como o conhecemos morreu há algum tempo. As trash parties acabaram definitivamente no ano passado. E o mítico DJ nunca mais.











quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ser anónimo em NYC

Acabo de ler o último texto da Milly Lacombe aqui. Hoje não vou falar no quanto admiro a escrita dela e a forma como escreve. Também não vou discutir o quanto discordo de muitas coisas que escreve. Nem das outras que eu subscrevo na íntegra. Hoje não vou falar do quanto o nosso amor pela cidade em que vivemos é tão diferente como o tamanho imenso do oceano que nos separa. 

No tempo que vivi em NY quase nunca fiz as refeições em casa. Nos primeiros 6 meses por intolerância à casa, ou antes, por intolerância total à pessoa com quem partilhei casa. Nesses 6 meses conheci NY como nunca mais. Fazia de tudo para nunca chegar a casa antes da meia-noite. Tudo para não me cruzar com aquela pessoa. Reconheço que provavelmente o defeito é meu. Mas o facto é que o meu santo não se cruza com o da maioria das pessoas. Como o defeito é meu, eu é que tinha que evitar os encontros. Por causa disso, conheci todos os restaurantes/ bares/ cafés da Broadway desde a 116 à 95. E quase todos na Amsterdam da 116 à 110. Mas dois deles fui mesmo habitual. O Metro Diner ia porque me parecia familiar. A comida não era grande coisa, como quase todos os diners, mas o que eu escolhia para comer seria exactamente igual em qualquer lado. Ficava sempre ao balcão. De toda a gente que trabalhava lá, de todas as caras conhecidas, que eu consigo reconhecer até hoje, apenas um me reconhecia. Nunca lhe perguntei o nome, mas aquela falsa familiaridade, dava-me conforto. O facto de ele saber, antes de eu pedir, o que queria e o sorriso dele, faziam-me sempre querer voltar. 

Panquecas no Metro Diner

O outro chamava-se SIP, entre a Broadway e Amsterdam (109&110) acabo de saber que fechou. Aí a comida já era bem melhor e o preço proporcional. Aí já havia vinho a copo. Tinha uma compota de apricot (que fiquei a saber na altura que era alperce) que nunca comi igual. E um pão que era muito semelhante ao europeu. Esse pão que é a primeira coisa que muitos de nós tem saudades. Mas apesar das minhas visitas sem fim, acho que ninguém me reconhecia. Se há cidade anónima é esta. A frieza do anonimato e do desprezo. 

Lembro-me também do Coogan's em Washington Heights, mesmo ao lado de Columbia Medical Center, poiso habitual com o L. Acho que a ele o reconheciam mas por motivos diferentes. Sempre me queixei disso. Porque ele era homem. Já na cafetaria do hospital, à qual eu ia pelo menos 3 vezes ao dia, as meninas que eram quase sempre as mesmas, insistiram em não me passar cartão até às últimas semanas do meu regresso. Mas com o L. desfaziam-se em simpatias. Podem chamar-me preconceituosa. 

Brunch no Coogan's ao Domingo antes de ir trabalhar para o lab
As quatro únicas excepções vão para emigrantes, como nós. O primeiro da lista: Tamaya que já não existe. Um restaurante japonês bom, bonito e barato, Incendiou -se na semana que os meus pais foram a NY. No Tamaya, a Sandy reconhecia-nos. Era uma chinesinha que falava mal inglês e que até se atrevia às mirabolantes hipóteses de eu e a C. sermos, respectivamente, amante e mulher do L. Quem diria, ah?
Bento Box no Tamaya
O segundo da lista era o Marcos do Meal Plan (cantina dos MD/PhD) que eu frequentava à socapa. Bastou-me dizer no registo que era estudante. As mentiras piedosas, com os americanos, funcionam sempre. E o pior é que acreditam sempre nelas. Esta, foi por um bom motivo. O Marcos, cuja história pode ser conhecida em pormenor aqui, era um brasileiro que nos tratava por "doutora dos olhos" e "pê agá dê inteligentchii" (com sotaque carioca). Naquele minutos rápidos tinha sempre uma palavra de simpatia que nos confortava.

O terceiro era quase a minha segunda casa: Zigolinis em Hells Kitchen. Tinha as melhores pizzas de massa fina que conhecia. Tinha vinho português Vinha do Monte a preços que não eram proibitivos para restaurantes. O dono e quase todo o staff eram portugueses. Passado uns tempos o "pizzeiro" mudou e com ele a qualidade inicial foi-se. Passados uns tempos fechou.

Zigolinis
O Chavalinho no Zigolinis
@Zigolinis
@Zigolinis
O último era (já não é assim) o 11th Street Cafe em West Village. Um cubículo, com meia dúzia de lugares sentados.Tinha uma omelete de espinafres espectacular. Passava lá horas. Foi lá que vi a irreconhecível Nicole Kidman de Birkenstock e meias brancas. E era passagem habitual da Julianne Moore e do Hugh Jackman. Tudo mudou, pelo menos as pessoas que estavam por trás do balcão. Quando passado um ano regressei, estava irreconhecível. A simpatia e a proximidade tinham desaparecido.

NY, essa cidade tão impessoal e anónima, que quem sobreviver, sobrevive a tudo e está preparado para tudo, caracteriza-se pela inexistência de relações pessoais. A minha experiência e estatísticas dizem-me que estas existem entre iguais. Deslocados, compatriotas e emigrantes são as únicas amizades que se conseguem fazer. O resto são falsas simpatias, aparências, brevidade, conveniências, efémero, a prazo. Realmente NY não é para sentimentais nem para pessoas que não sejam autosuficientes. Este é o principal lado negro de NY. E obviamente NY não é a representação da América. No mais, NY é uma cidade para aprender, aproveitar, descobrir e viver temporariamente. NY marca-nos para sempre.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Israel vs Palestina

O conflito entre Israel e a Palestina é talvez dos mais difíceis de perceber para mim. Por um lado temos um estado democrático criado depois da guerra, cujo território já tinha “dono” mas cuja “ocupação” foi apoiada pela comunidade internacional. Admiro há muito o povo judeu por tudo o que tem passado desde sempre. Da mesma forma que critico a história da perseguição dos judeus, critico quando defendem ser “o povo escolhido”. Apesar de detestar a redução do ser humano a uma raça e um credo, os judeus não pensam assim. Tenho a melhor das opiniões dos judeus no que respeita à cultura, ao trabalho e à inteligência. Três dos escritores que mais admiro são judeus: Primo Levi, Philip Roth e Richard Zimler, apesar de só dois estarem entre nós. O grande Einstein era judeu, apesar de agnóstico confesso.

As guerras e os conflitos são sempre injustos. Mesmo quando justos há sempre inocentes a lamentar. No domingo fui propositadamente a Times Square à Toys ur Us para comprar brinuqedos específicos para os meus sobrinhos. Chegada lá, fui apanhada no meio de uma manisfestação “Pro-Israel”.  Centenas de pessoas. Idosos, jovens, gente de meia-idade, crianças, bebés. Quase todos os homens tinham quipá. Havia também muitos judeus ortodoxos de caracolinho, chapéu, casaco preto comprido e barba enorme. Mas a maioria, se eu não os tivesse visto ali, não os reconheceria como uma raça específica. A maioria parecia gente informada e moderna. Por momentos pensei estar do lado Palestiniano: “Freedom to Israel”; “Stop de war”; “Israel wants peace Hamas wants terror”. Não foi Israel que decidiu invadir Gaza? Não foi Israel que matou centenas de civis no último ataque? Não é Israel que há anos tem enclausurado a Palestina. Depois falam dos atentados perpetuados pelos mais radicais do lado palestiniano. Claro que não concordo e sou absolutamente contra. Mas o que chamar aos ataques de Israel contra alvos civis? Só pelo simples facto de serem “aceites” pela comunidade internacional? Já agora, onde estão as Nações Unidas e a Nato? O que têm feito para além do enorme silêncio da vergonha?


Nunca haverá paz enquanto Israel não aceitar a Palestina como um país. Nunca haverá paz enquanto Israel continuar com o muro da vergonha que é tão mau ou pior do que o Muro de Berlim. Nunca haverá paz enquanto Israel continuar a ocupar território que supostamente era palestiniano. Não sei qual a solução. Mas, sinceramente, a abertura tem que partir do estado que se diz democrático. 















quarta-feira, 16 de julho de 2014

Brooklyn

Brooklyn para mim era apenas a ponte de Brooklyn que já fiz duas vezes a pé. Chegada ao lado de lá apanhava o metro e regressava a Manhattan. Para além de uma ida a Brooklyn para uma hipotética mega party com a C., já a madrugada ia muito avançada, num táxi, serviu para ver apenas uma cidade com menos luz do que Manhattan e a ponte de Brooklyn iluminada à noite. Estas eram apenas a minha abordagem mais próxima à cidade da moda. Paul Auster e muitos dos artistas é lá que moram. Desta vez convidaram-me para ir "brunchar" a Brooklyn. Disseram-me que demoraria uma hora. Comecei logo a torcer o nariz. Felizmente, não demorou nada parecido. Chegados ao outro lado saímos no que parecia algo semelhante a um bairro chique de Londres. Andamos uns metros e chegamos ao museu de Brooklyn a fazer lembrar algo entre o Metropolitan e a New York Public Library. De facto, as pessoas em Brooklyn parecem mais dadas às modas. Muitos hipsters, como não podia deixar de ser. Muitos bigodes. Muitas meias pelo joelho. Muitos laços, muitos cabelos com gel e risco ao lado. Muitas sacolas ao ombro. Muitos magros. Muitas magras. Muitos óculos retro. Muitas barbas. Muitos vestidos às bolinhas. Muitos jardins. Muitas crianças. Muitas casas baixinhas. Qualidade de vida. Fomos ao Tom’s Restaurant (não o do Seinfeld na Broadway com a 113). É um típico diner americano que não tem marcações. Muito kitch. Enquanto estamos na fila vão servindo várias amostras da ementa. Eu e a C. escolhemos panqueca com morangos e Eggs benedict. Muito barato é o que podemos dizer. À tarde, enquanto todos preferiram o jardim botânico de Brooklyn, eu preferi o museu. De todos os museus de NY deve ser o que tem o acervo pior mas tinha pelo menos um quadro do Hopper e da O’keeffe e um do Diego Rivera. Tinha também uma cervo de arte egípcia. Fico sempre intrigada como é que estas peças vêm parar ao outro lado do mundo. Roubadas. Só pode. É para isto que servem as guerras?















domingo, 6 de julho de 2014

Os meus dias no lab

Nunca estive tão motivada cientificamente como estou agora. Estou a aprender tudo de novo, como se fosse uma criança a aprender a ler. Vim um mês para NYC para aprender especificamente a diferenciar cardiomiócitos, um tipo específico de células do coração. Estas células são responsáveis pelo batimento cardíaco e pela contracção. Quando vistas ao microscópio, contraem. É das coisas mais fascinantes de se ver. O verdadeiro milagre da vida. O mistério persiste de como é possível células ex vivo, isto é, fora de um corpo serem capazes de se sincronizar e contraírem como uma orquestra. Tudo é sincronizado entre elas. Quem me está a ensinar tudo o que devo saber sobre estas células e como as diferenciar a partir um tipo de células específicas, induced pluripotent stem cells, capazes de se diferenciar em qualquer célula do corpo , é um italiano de Nápoles. Giro de fazer bem aos olhos. Domina diferenciação cardíaca e biologia celular e molecular. Um quase quarentão. Com os olhos muito azuis. Recentemente pai de uma menina. Músico nos tempos livres. Usa meias pelo meio da perna, às vezes uma de cada cor. Ténis All star. Ouvimos opera, Beatles e Zucchero no lab. É totalmente despistado. Vamos todos os dias para o lab, incluíndo aos fins de semana. Mas não trabalhamos muitas horas. A nossa função é preparar meios de cultura. Observar o comportamento de células ao microscópio. Mudar meios. Proliferar células. E diferenciá-las em cardiomiócitos. Temos uma câmara de fluxo para cada um. E duas incubadoras por nossa conta. Cada garrafa de 500 mL de meio de cultura custa 400 dólares. Para não falar nos suplementos. Ontem marcamos no lab às 6:30 da tarde. Como o metro que ele apanha é o C que está em obras, teve que ir a pé da 145 ao 168, o que o fez chegar quase às 7. Eu, que ia distraída a ler, e que tinha apanhado o A desde Penn Station, mal vi um 6 no número da paragem e achei que era 168. Não, era 163... Saí na Amsterdam. Chegamos os 2 atrasados. Saímos  do lab para ir buscar gelo e ele esqueceu-se do cartão para abrir a porta do lab. Fomos aos seguranças. Descobriu que tinha uma chave que dava para abrir a porta. Fui avisar os seguranças que tínhamos aberto a porta. Fiquei eu do lado de fora, apesar de quase a partir de tanto bater... Quando se apercebeu já eu tinha os nós negros de tanto bater à porta... São estes momentos fascinantes de trabalhar com ele. 








Fim de semana de 4 de Julho

7 de julho. Starbucks da Broadway com a 103. Coração do Upper West Side. Starbucks cheio. Sentei-me numa cadeira, ainda sem mesa, a ler. Quando vagou uma meda, apoderei-me. Dezenas do que parecem ser estudantes intelectuais com o seu Mac. Acabou de chegar um senhor. Barba por fazer. Óculos retro, na moda. Calções todos sujos. Unhas grandes. MacAir todo sujo. Parece-me escritor. É muito míope. Sentou-se na minha mesa, nem me pediu.  

Ontem almoço num restaurante japonês, Sushi Yasaka, na 72. Andamos a pé até ao Lincoln Center. Enfiei-me na confusão dos saldos do 4 de julho na Macy’s. Já não podia ouvir crianças a chorar nem ver filas para pagar. Ao fim da tarde fui para o lab. Estive lá umas duas horas e meia. Tínhamos combinado ir jantar a um indiano em Bryant Park. Não consegui acabar a horas. Resolvemos outra coisa. Jantamos no que eu adoro, no Jin. Ramen. Fomos depois ao Empire Hotel no Lincoln Center. Diziam que era ver as vistas. Fosse isso que valesse a pena. Uma fila enorme para entrar que pelo tipo de pessoas que tinha já era um pronúncio do que nos esperava. A entrada foi $20 para cada homem, sem direito a bebidas. No rooftop, nada de especial. Pessoa desinteressantes. Música péssima. Vista fraca. Bebidas caras. DJ inqualificável. Bebi uma margarita que custou $16 fora a gorjeta. As do Cubby Hole a $2 são muito melhores. Como estava cheia de sede, bebi uma Stella. A música era um pavor. A passagem de umas músicas para as outras nunca ouvi pior. Se algum dia vos falarem no Empire Hotel, por favor, risquem do mapa.  Nada vale a pena, mesmo. E eu até nem sou muito exigente.







Hoje, brunch em casa. A C. fez waffles maravilhosos. Ovos mexidos. Presunto de Parma fatiado como fiambre. Fiambre. Salmão fumado. Queijo da ilha. Morangos. Melancia. Smoothies. Sumo de laranja. Café. Leite. Cerejas. Focaccia. Bagels. Cheese cream. Maravilhoso! Sexta a meio da tarde. Queria ter ido à Strand, acabei a andar a pé da 116 à 103. Passagem rápida na Book Culture para investir em mais 3 livros. Desta vez, não do Philip Roth, mas em cartas da Elizabeth Bishop para The New Yorker, um do Paul Auster e outro sobre NYC.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Tempestade em NYC

Dois de julho. Ontem não tive coragem de escrever tal o medo com que estava! Fiquei em casa porque no dia antes abusei nas margaritas no Cubby Hole. E já tinha bebido duas quando esperava por mesa no Fish. Levei a CJ e o D. A provarem pela primeira vez ostras. A aversão do D. às ostras era tanta que ele queria desafiar-me a trocar 2 ostras por uma snades de peanut butter e gelly... Isto sim, só de pensar, dá-se-me uma volta nas entranhas.  Como escrevia,  malezinha, fiquei em casa, e aproveitei para lavar roupa. A trovoada começara no início da tarde. Ainda não eram 5 da tarde e a cor já parecia semelhante a 9 da noite... Começou a festa. A luz dos trovões era sincronizada com o barulho. Ainda perguntei ao porteiro do prédio: “Is it safe to use the elevators?”. Ele olhou-me com uma cara de “Dah, this is NYC”. Como o respeitinho pelo que não dominamos e não conhecemos deve ser muito, lá estava eu, sentadinha no meu sofá à espera que a tempestade passasse. Só não passou, como piorou. Parecia um jogo de luzes laser. O som era aterrorizador. Já não me lembrava de uma trovoada assim desde os tempos de Houston. Como quando as coisas estão mal, ainda podem piorar mais, depois de ter colocado o cartão recarregável na máquina de lavar, quando passei para o secador, o cartão não funcionava. Que bom! Roupa lavada mas molhada...cartão a não funcionar. Como boa portuguesa que sou, lá usei a técnica do desenrasque! Encontro um senhor velhote e pergunto-lhe se não tem um cartão de lavandaria. Disse-me que não mas que ia subir ao apartamento. Até me meteu dó. O senhor era bastante velhote. Aliás, nem acho que fosse muito velhote. As pernas é que não acompanhavam a idade. A coisa demorou. Mas lá apareceu prestável senhor que não queria aceitar os meus 2 dólares. Insisti, claro. Grande favor já me tinha feito. E assim descobri que tinha sido da força-aérea americana e tinha sido destacado para Itália, onde também deu aulas de inglês. “You haven’t spanish accent”! “Portuguese, I’m portuguese! Não sei se foi lapso, porque quero acreditar que um piloto da força aérea americana saiba que Portugal é um país diferente de Espanha. E que em Portugal se fala português. Terminamos a noite a comer francesinhas feitas pela CJ. Aprovadíssimas. 






P.S- nenhuma das fotos é minha

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