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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Castelo Grinzane Cavour

21 de Outubro de 2018

Este castelo fica aproximadamente a uns 16 Km de Alba. Faz lembrar o Douro, sem rio. Embora a imagem que eu tenha do Douro não seja a da minha memória, porque esqueci as vezes que lá estive, tão tenra era a minha idade. Desde que tenho idade para não esquecer, ou deveria, nunca mais lá fui. Mas digamos que a imagem romântica que eu tenho do Douro Vinhateiro é das imagens e fotografias dos amigos estrangeiros aos quais aconselho. São montes e vales repletos de vinhas muito bem organizados com graus proporcionados de inclinação, com o rio no fundo. Pois bem, a vista que se tem do Castelo Grinzane Cavour  é parecida, talvez com menor inclinação e sem o rio (que só acrescenta beleza). Não visitei o museu do castelo. Vi apenas a cafetaria e a enoteca. Tem um restaurante, cujo chefe já trabalhou no  Louis XV do Alain Ducasse, em Monte Carlo. Muitos adolescentes a ler deitados na relva. Muitos turistas estrangeiros. 

É meio da tarde e eu entro num bar cujos snacks incluem queijos, salames e presunto. E vinhos vendidos a copo de Barbera, Barberesco e Barolo. Está um dia quente. Temperaturas de verão. Mas esta luz triste, amarelada, turva, lembra-me que estamos no outono. Para mim, a pior estação do ano. Acabo a comer um prato de queijos diferentes dos de ontem. Igualmente bons. E com isto lembro-me da Milly Lacombe que diz constantemente que a mãe (italiana) poderia só viver com queijos e vinho. Infelizmente, nunca tive um fígado e uma vesícula biliar irrepreensíveis e sei que vou padecer muito brevemente destes abusos de vinho tinto e queijos.








Ontem à noite, seguindo o conselho de pessoas de Alba, e sendo o Festival da trufa branca, fui a um restaurante chamado Museum, localizado numas ruínas romanas. Queria provar as trufas brancas em Alba. Já havia provado, acho que duas vezes, e não gostei. Mas como não provar esta iguaria na terra natal? E um copo de vinho tinto Barbera, o que me ensinaram ser frutado, ao meu gosto. Barbedesco e Barolo, tenho aprendido neste dias, são demasiado fortes e secos. Trouxeram-me pão caseiro e uma entrada (mimo do chef). E água com gás (que foi o que me salvou). Quando veio a pasta com as trufas era um acumulado do que parecia ser taggliatelli do tamanho da palma de uma mão (pequena) de ovo e manteiga e raspas finas de trufas brancas, muitas. Eu sei que não tinha muita fome, e tavez estes pratos sejam para ser comidos a morrer de fome. O cheiro arrumou-me logo. Para além do mais, o meu grande amigo R. havia-me dito que "não era a cena dele". O meu pai quando não gosta muito de uma comida diz que não aprecia. Eu poderia dizer o mesmo, fosse o caso. Mas detestei mesmo. Não volto a comer nada com trufas brancas. O que salvou a noite foi uma sobremesa. 





Alba, muito concorrida nesta altura do ano, tinha todos os hoteis esgotados há mais de duas semanas. No Booking vi a classificação de um seminário como excelente e decidi arriscar. Muito barato para Itália, e mais barato ainda para esta região de Itália. Cada noite ficou por 50 euros, sem pequeno almoço. Foi uma agradável surpresa, a combinaçao entre o silêncio, a arrumação, a simplicidade de um seminário com a modernidade, as grandes dimensões, a comodidade e a limpeza de um quarto de hotel. Para além do mais, as duas semhoras responsáveis eram de uma simpatia enorme e até me foram buscar à estação de comboio. Melhor não podia ter sido. Neste fim de semana, para além de ser o Festival da Trufa Branca de Alba, juntou-se a feira Medieval. Um mar de gente. Ruas entopidas. Muitos jogos, muitas barracas a vender avelãs torradas, vinhos e doces regionais. Barracas de comida de rua com todo o tipo de churrasco, peixe frito, polenta e hamburguers.






A viagem de comboio para Alba é muito bonita e incluiu a mudança de comboio em Torino. Mesmo quem como eu não morre de amores por naturezas bucólicas, aconselho esta viagem porque combina paisagens diferentes, arquitectura diferente do habitual em Itália com a gastronomia e o vinho, que também são cultura.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Lakkana, restaurante tailandês

4 de Julho. Dia da independência dos Estados Unidos. O dia estava lindo. Daqueles dias de sol não excessivamente quentes. Antes do jantar bebemos um martini no Convento do Carmo. Dia de clubbing. Há muito tempo tínhamos este jantar marcado. Muitas vezes adiado. Destino: Lakkana. O primeiro e único restaurante tailandês de Braga. Tentamos várias vezes jantar lá. Nunca conseguimos uma reserva ao fim de semana porque à boa moda portuguesa tentávamos marcar em cima da hora. Desta vez éramos duas. Arriscamos a nossa sorte. O restaurante fica numa rua estreita que vai dar à Sé. Mesmo ao lado do Pedro Remy. As indicações e as opiniões dos que tinham lá ido antes eram muito boas. Quando entramos foi-nos perguntado se tínhamos reserva. Não. Mesmo assim indicaram-nos as escadas.Um balcão com um bar à entrada do lado direito. A cozinha em frente. As escadas a seguir. Ficamos no primeiro andar. Quem nos atende parece um velho conhecido. Entrega-nos o menu. É-nos dado algum tempo. Volta e pergunta-nos se conhecemos a comida tailandesa. Explica-nos os pratos. Aconselha-nos. Questiona-nos sobre a nossa tolerância ao picante. Aconselha-nos o vinho que vai bem com a comida que escolhemos. Eis as nossas escolhas: crepes vegetarianos de entrada, um prato de camarão com leite de coco e que ´´e picante, e o incontornável pad thai. O vinho sugerido foi um rosé, até aí desconhecido para nós, Beyra. Uma escolha acertada. Os crepes de entrada com um molho doce estavam excelentes na textura, frescura e combinação com o molho doce que os acompanhava. O prato picante de camarão com leite de coco e acompanhado por arroz basmati foi o que me ficou na memória e que até hoje me faz querer sempre repetir a experiência. O que posso dizer? Era picante, sim. Tinha malaguetas cortadas em fatias finas. Os camarões abundantes e grandes mergulhados naquele laranja. A experiência é intensa. Dá vontade de repetir mas o picante obriga-nos a fazer uma pausa para um cigarro. E voltar novamente. O pad thai é melhor do que o que eu já havia provado. A comida é abundante. Duas pessoas não conseguem acabar os pratos. Não conseguimos aventurar-nos pelas sobremesas. Apesar de amigos nos terem aconselhado o arroz doce com manga. Neste dia, não deu para mais. Demasiado cheias. Dois cafés, para finalizar.

Nota final: Restaurante altamente recomendado. Uma excelente experiência cosmopolita  numa cidade tradicional como Braga.

O melhor: A simpatia dos donos do restaurante. A qualidade da comida, verdadeiramente tailandesa, e cozinhada por uma nativa. Melhor seria impossível. O preço absolutamente justo. A repetir, muitas vezes.





Copyright: Braga Cool

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Segundo dia em São Paulo

O dia começa outra vez antes de o alarme tocar. Ainda não são 6:30. O dia nasce. Começa a clarear. A tv está ligada. O assunto principal é a morte de um cantor sertanejo que morreu de acidente de viação. A importância que todos os canais brasileiros dão a um cantor cujos versos de uma música são “Bara bara bara bere bere bere”, que eu nunca ouvi falar, deixa-me boquiaberta.
A manhã segue com palestras. Se ainda não tinha percebido, comprovo que a língua que se fala no Brasil é realmente diferente. Aprendo novas palavras a cada hora: experimento, peritóneo, acumúlo, escalonamento, coletar, liberado... Custa-me tanto constatar, também, que a ciência que se faz no Brasil está a anos luz daquela que eu conheço. Senti-me quase sempre numa aula do secundário em vez de estar num congresso internacional. E perceber que os investigadores, médicos e cientistas brasileiros não falam inglês deixou-me envergonhada e triste, para não dizer pior. Perceber que o estereótipo que se tem generalizado é de facto verdade, custa. Queria não ter razão.

À tarde ainda tivemos tempo de ir ao Morumbi Shopping. Mais duas livrarias e mais alguns livros: Saraiva e FNAC. Depois escolhemos ir à Avenida Paulista. O ambiente e a realidade das cidades conhecem-se nas ruas. Se não tínhamos quase tempo nenhum, a minha condição, para além das livrarias, era ver pessoalmente alguma obra da Lina Bo Bardi. Nada melhor que o MASP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). Esse era o destino. Táxi até lá. O taxista já era melhor que os primeiros. Passamos pelo shopping JK Iguatemi, sumptuoso, gigante, soberbo, brilhante. Trânsito. Ruas desertas de pessoas. Trânsito caótico. As pessoas parecem não caminhar nelas. Não se avistam bicicletas. Os carros param no sinal vermelho. Vidros escuros em todos os carros. Todos os edifícios, casas, prédios estão rodeados de grades, por vezes duplas. Arame farpado e electrizado. Que choque. Que contraste. Achava que isto era mito. Não. É mesmo assim. Só passamos por bairros nobres. Prédios e mais prédios. Porteiros. Motos. Motorboys. As árvores são tropicais. Tudo é gigante. A sensação eminente de perigo ou de insegurança é nula. Mas não se vê polícia. Hospital Sírio-Libanês.  Parque Trianon. MASP. Chegamos. Edifício vermelho-sangue e cinzento. É bonito. Este edifício da arquitecta italiana Lina Bo Bardi era uma das poucas coisas que sempre quis ver em São Paulo juntamente com o SESC Pompeia. Como não deu para ver os dois, um já não foi mau!




Andamos pela avenida. Aqui há pessoas. Mas não se atropelam. Não parecem moscas. O dia começa a chegar ao fim. A temperatura está amena. O L. está de manga curta mas a maioria veste-se como se fosse inverno. Prédios bonitos. Arquitectura bonita. A ciclovia vai ser inaugurada. E eu pergunto-me: “Se uma cidade onde as pessoas têm medo de andar a pé, que os carros não param no sinal vermelho, que quem usa autocarro ou metro são os desfavorecidos, quem nesta cidade anda de bicicleta?”. Mas louvo a iniciativa. A educação das pessoas faz-se assim, pelo início. Criando condições, impregnando o micróbio das boas práticas. E um dia, depois de muito tempo, isso não será questionável. Passamos por várias livrarias. Na volta, não resisto a entrar numa dela. Livraria Martins Fontes é o seu nome. Não parece uma livraria parece uma biblioteca. Não tenho muito tempo para explorar mas consigo finalmente encontrar “O Anjo Pornográfico” de Nelson Rodrigues. Encontro também correspondências da grande Clarice. Não resisto e junto mais este. Encontro um livro de entrevistas do Lobo Antunes que procuro há anos em Portugal e nunca o encontrei. Só desisto dele pelo peso e pelo preço que me daria para comprar o dobro dos livros que comprei em São Paulo. Na caixa, quando estou a pagar os livros, olho para o nome da Livraria Martins Fontes não resisto a perguntar: “Esta é uma livraria portuguesa?”. Resposta: “Oi?”. Reformulo: “O nome desta livraria Martins Fontes é português por acaso o dono é português?”. Resposta: “Ah... não sei. Boa pergunta. Nunca tinha pensado nisso, mas vou tentar saber”. 



Saímos e andamos até encontrar um sítio onde se bebia. Não sei se foi o indicado mas tinha bebida e comida. Chamava-se Cafe Creme em plena Paulista. Antes do jantar lançamos-nos nos pães de queijo e no chope da Brahma. Levezinho, quase sem álcool, geladinho. Gostei. 



Apanhámos um táxi. Já tinha escurecido. Próxima paragem: Mercearia. Uma mistura de bar e restaurante. Aqui o encontro era com a I. Que já não via há muito tempo (o tema será abordado noutro post). Pedimos imediatamente caipirinhas. Portugueses, já tinha ouvido falar mas comprovei. A caipirinha de Portugal não é a caipirinha do Brasil. A original é do melhor que há. Começa na qualidade da cachaça que é mineira! O gelo não é picado mas aos cubos, o que faz que a diluição alcoólica seja muito mais lenta. Tem muita mais lima (no Brasil chama-se limão) alguma dela às rodelas e outra desfeita. Tem muito menos açucar e não é do amarelo. Provamos a picanha. O sabor nada a ver com a picanha que se come em Portugal. Tudo estava perfeito, desde o ponto de sal, ao ponto da carne e ao sabor característico da picanha. Do melhor que já comi. Provamos também os tão famosos pasteis que não são parecidos com nada que já tivesse comido. Provamos as coxinhas e mais coisas que não lembro mais. Fica difícil quando a bebida é caipirinha. Daqui seguimos para o bar Wall St.  Aqui bebi mais caipirinhas e uma garrafa de 600 ml de SKOL. Depois disto sem condições para ir para a balada mas com a promessa que acordaria daí a umas horas para irmos à Catedral de São Paulo e ao centro....



segunda-feira, 27 de abril de 2015

O dia mais esperado chegou

Antes de conhecer o L. pessoalmente já ouvia falar dele. Quando o conheci pessoalmente em NY estava um dia de inverno fortíssimo, nevava e a neve acumulava-se  na ruas. Emocionalmente eu estava um caco, tal como esse dia de inverno. Nessa noite fomos jantar a um restaurante chique em Upper East Side, Le Perigord. O restaurante foi uma péssima escolha, bem ao jeito de quem o escolheu. Quem lá trabalhava falava em francês. Eu acabara de chegar a NY, estava numa casa que detestava, com uma roommate cujo santo não se cruzava com o meu, sem amigos, sozinha para dizer o mínimo. A C. eu já tinha conhecido há dias, a N. acho que também, o F. ainda não. Nesse jantar eram só portugueses com a excepção da minha roommate. Todos na sua melhor roupa já que o restaurante assim o exigia. Eu e o L. mal nos falamos nessa noite. Ele achou-me, mais do que calada, antipática. Mas essa noite foi o princípio de tudo. Depois dessa noite nunca mais jantei sozinha, a não ser por opção. Com o L. jantei em quase todos os restaurantes perto do main campus de Columbia University, bem como todos os asseados de Washington Heights. O L. tem um problema com limpezas. Então, no critério dele não entram os "carros de comida" em frente ao Presbyterian (com os deliciosos chicken over rice e os gyros), nem o Las Palmas ( que mais parecia um supermercado e atrás tinha uma espécie de tasco mexicano), nem o El Presidente. Estes tipos de comida, na sua opinião, faziam-lhe mal. Com ele era mais os peça-lhe Strokos, Jou Jou, Tamaya, Coogan's em Washinton Heights e o nosso preferido do patinho (Ollie's) e o Symposium. Foi com ele que depois de termos assistido a uma conferência da NYSCF no edifício emblemático do the New York Times, onde conheci o cientista mais sexy do mundo (Kevin Eggan), fomos ao Ipanema em Midtown.

O L., quando o conheci, parecia um adulto. Não parecia um jovem aluno de doutoramento. Parecia ter muitas mais certezas do que dúvidas. Foi com ele que aprendi quase tudo o que precisava sobre Columbia University. Conheci os Nobel Eric Kandel e Richard Axel. Conheci o eterno candidato a Nobel, Thomas Jessel, que parece o Hannibal Lecter. Foi ele que me deu a conhecer outro sex symbol de Columbia, meio pop star, meio cientista, meio médico, Sid Mukherjee (autor do livro vencedor do Pulitzer Prize "The Emperor of all Maladies"). E depois dele conheci a mulher dele, Sarah Sze. Com o L. só se falava de ciência. E ele conhecia tudo, todos e todas. Sabia ao detalhe todos os papers da área publicados nas melhores revistas. Como eu não o podia acompanhar e considerava-me uma ignorante, já que a minha temática preferida fora do lab nunca fora o trabalho, resolvemos falar de outros assuntos. Assim, eu tornei-me uma especialista em Benfica, clube que somos adeptos. A outra temática era a política. Ele um fervoroso apoiante do PS e do governo Sócrates e eu (quase) sempre do contra. Para além de tudo isto, o L. sempre teve uma característica que me arrebatou desde que o conhecei: um coração grande. Nunca me faltou. Sempre esteve presente nos bons e nos maus momentos. Sempre telefonou. Nem que fosse para se queixar ou para fazer os seus longos monólogos. Mas ausente foi uma coisa que nunca esteve. No funeral da minha avó, numa tarde quente de férias, em Agosto, ele estava lá. Foi ele que passou a noite comigo no Presbyterian Hospital quando a C. esteve doente. Entrou connosco às 4 da tarde e esteve lá o resto do dia e noite com idas e vindas ao lab. Às 4 da manha estávamos no Jou Jou a fazer tempo para um diagnóstico mais definitivo. Às 7 mandaram-nos para casa. E sei que eu ainda dormia e ele já estava no Hospital com a C. Antes da C. ter alta ainda bebemos uns sumos de maçã do hospital, experimentamos a cama que registava  o peso e ainda experimentamos a casa de banho fio quarto todo xpto do mesmo hospital em que a Hillary Clinton esteve internada. Para além de tudo isto, o L. ainda foi a minha companhia das terças-feiras no Cubby Hole. Das míticas margaridas a $2. E da mítica irmã Lúcia.
Isto foi o bom.

Mas o percurso do L. foi penoso. Escolheu o lab errado quando foi para Columbia. Trocou de lab e de orientadores contra tudo e contra todos. E sofreu pesadamente por isso. O L. Sempre foi ambicioso. Sempre trabalhou muito. Mais. Para que nada falhasse. Tinha objectivos. Metas. Planos. Tudo muito bem planeado. Não vou contar pormenores. Só vou dizer que passou por tudo com muita perseverança e coragem. Nunca desistiu. Nunca desanimou. Nunca baixou os braços.
Acho, hoje, que o que poderia provocar na maioria dos humanos revolta e amargura, no L.  ajudou-o a amadurecer e a encontrar o norte. A dar o devido valor às coisas e definir prioridades. O L. tornou-se (ainda) uma melhor pessoa. Aprendeu a ouvir. E aprendeu que a opinião dos outros nem sempre é a mais importante.

Hoje, passados 4 anos do que deveria ter sido a defesa do seu doutoramento, finalmente esse grande dia chegou. E foi um dia feliz. Esperado e emocionante. Estou a escrever este texto e as lágrimas correm-me pela cara. Nunca conheci ninguém que esperasse com tanta expectativa este dia. E foi brilhante, como só poderia ter sido. E pela primeira vez na vida, em todos os doutoramentos que assisti, vi na cara do mais recente Doutor lágrimas nos olhos.

O orientador dele fez das intervenções mais sensíveis e inteligentes que vi na vida. Falou sobretudo de tempo. Começou por lhe perguntar se sabia, sem olhar para o relógio, que horas eram. E falou numa coisa importantíssima que é: não importa o tempo que as coisas demoram a acontecer mas que provavelmente existe um tempo certo para que elas aconteçam. Muitos parabéns, meu grande amigo! Let's party!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sexta-feira

Sexta-feira. Acordo à hora do costume mas deixo-me estar na cama. Tenho por companhia, em cima das minhas pernas, um gato preto que mais parece um leão. Enorme e pesado. Ronrona. A luz de Lisboa entra pela janela. Mesmo com nuvens, Lisboa é sempre clara. Acho que não há luz como esta. Pequeno almoço tardio. Desço a pé a Estados Unidos da América até Entrecampos. Pouso a mala. Almoço tardio no Entre Copos. Escolhemos ovas de peixe grelhadas. Não me lembro da última vez que as comi. Como são 3 da tarde dizem-nos que as brasas estão fracas e que é melhor escolher outra coisa. Dourada escalada. Não me lembro de comer um peixe tão bem grelhado na brasa. No ponto. Nem no Algarve. Para acompanhar dispenso as batatas cozidas. Só brócolos cozidos e tomate com sal. Nada de álcool nem sobremesas. Os excessos restringiram-se ao dia anterior. Vamos buscar o ZM à creche. Pequenina. Familiar. Desenhos nas paredes. Alegria. Simpatia. Beijos e abraços. Despedidas. Vamos até ao parque. Crianças de um colégio são fotografadas. Reparo no número de crianças com óculos. Temperatura amena em Lisboa. Sol radiante. O ZM já consegue pronunciar o meu nome com um tom anasalado no final. Hora do lanche. O meu, o de sempre. Galão claro morno e pão com manteiga. O ZM reparte-se entre o pau com manteiga e uma língua de gato. Quer dar de comer aos piu-pius. Sobe para casa. Descubro que o Frozen não é só paranóia das meninas. Toda a gente está viciada. Brincamos com uma bola e com umas peças de madeira. O tempo não pára. Seguimos de carro para o aeroporto onde a S. me deixa no Terminal 2. Continuo sempre a aprender. Afinal podemos ir directamente para o terminal 2 sem passar pelo 1. O check in parece uma feira e as salas de embarque também. Mais gente que bancos. Como ainda falta algum tempo decido-me pelo único bar que lá tem. Guiness parece-me uma boa escolha. Leio. Os estrangeiros são os principais clientes. Sandes de tudo e mais alguma coisa e litros de imperiais Sagres. Chamada para o avião. O dia acaba. Fim de dia ameno. Chegada o Porto 45 minutos de pois. Noite escura. Chuva torrencial. Dilúvio. Arca de Noé.Como é possível um mudança tão drástica de cenário com tão poucos kms que separam estas duas cidades. Toda a gente corre. Malas arrastam-se. Outras voam, tal é a velocidade. Fatos molhados. Ninguém preparado para esta chuva. Ninguém é elegante a correr debaixo deste temporal. Eu deixo-me ir, lentamente. Parece que saí do chuveiro mas isso não me faz acelerar o passo. Quando apanho a mala, tiro o casaco de malha, desaperto a camisa, fico em t-shirt, seco o cabelo com a camisa, visto uma camisa divinamente embrulhada na mala, visto outro casaco. Como é hora de jantar, espero uns 30 minutos pelo meu irmão naquele café que é uma imitação barata do Starbucks mas com preços igualmente pornográficos para um país pobre como o nosso. O meu irmão chega sozinho sem os meus sobrinhos. Aguardam-me em casa dos avós porque não quiseram enfrentar a chuva. Chegada a casa dos pais é a festa da miudagem, como se não me vissem há muitos. Colos, beijos e abraços e elogios aos penteados novos.  

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ser anónimo em NYC

Acabo de ler o último texto da Milly Lacombe aqui. Hoje não vou falar no quanto admiro a escrita dela e a forma como escreve. Também não vou discutir o quanto discordo de muitas coisas que escreve. Nem das outras que eu subscrevo na íntegra. Hoje não vou falar do quanto o nosso amor pela cidade em que vivemos é tão diferente como o tamanho imenso do oceano que nos separa. 

No tempo que vivi em NY quase nunca fiz as refeições em casa. Nos primeiros 6 meses por intolerância à casa, ou antes, por intolerância total à pessoa com quem partilhei casa. Nesses 6 meses conheci NY como nunca mais. Fazia de tudo para nunca chegar a casa antes da meia-noite. Tudo para não me cruzar com aquela pessoa. Reconheço que provavelmente o defeito é meu. Mas o facto é que o meu santo não se cruza com o da maioria das pessoas. Como o defeito é meu, eu é que tinha que evitar os encontros. Por causa disso, conheci todos os restaurantes/ bares/ cafés da Broadway desde a 116 à 95. E quase todos na Amsterdam da 116 à 110. Mas dois deles fui mesmo habitual. O Metro Diner ia porque me parecia familiar. A comida não era grande coisa, como quase todos os diners, mas o que eu escolhia para comer seria exactamente igual em qualquer lado. Ficava sempre ao balcão. De toda a gente que trabalhava lá, de todas as caras conhecidas, que eu consigo reconhecer até hoje, apenas um me reconhecia. Nunca lhe perguntei o nome, mas aquela falsa familiaridade, dava-me conforto. O facto de ele saber, antes de eu pedir, o que queria e o sorriso dele, faziam-me sempre querer voltar. 

Panquecas no Metro Diner

O outro chamava-se SIP, entre a Broadway e Amsterdam (109&110) acabo de saber que fechou. Aí a comida já era bem melhor e o preço proporcional. Aí já havia vinho a copo. Tinha uma compota de apricot (que fiquei a saber na altura que era alperce) que nunca comi igual. E um pão que era muito semelhante ao europeu. Esse pão que é a primeira coisa que muitos de nós tem saudades. Mas apesar das minhas visitas sem fim, acho que ninguém me reconhecia. Se há cidade anónima é esta. A frieza do anonimato e do desprezo. 

Lembro-me também do Coogan's em Washington Heights, mesmo ao lado de Columbia Medical Center, poiso habitual com o L. Acho que a ele o reconheciam mas por motivos diferentes. Sempre me queixei disso. Porque ele era homem. Já na cafetaria do hospital, à qual eu ia pelo menos 3 vezes ao dia, as meninas que eram quase sempre as mesmas, insistiram em não me passar cartão até às últimas semanas do meu regresso. Mas com o L. desfaziam-se em simpatias. Podem chamar-me preconceituosa. 

Brunch no Coogan's ao Domingo antes de ir trabalhar para o lab
As quatro únicas excepções vão para emigrantes, como nós. O primeiro da lista: Tamaya que já não existe. Um restaurante japonês bom, bonito e barato, Incendiou -se na semana que os meus pais foram a NY. No Tamaya, a Sandy reconhecia-nos. Era uma chinesinha que falava mal inglês e que até se atrevia às mirabolantes hipóteses de eu e a C. sermos, respectivamente, amante e mulher do L. Quem diria, ah?
Bento Box no Tamaya
O segundo da lista era o Marcos do Meal Plan (cantina dos MD/PhD) que eu frequentava à socapa. Bastou-me dizer no registo que era estudante. As mentiras piedosas, com os americanos, funcionam sempre. E o pior é que acreditam sempre nelas. Esta, foi por um bom motivo. O Marcos, cuja história pode ser conhecida em pormenor aqui, era um brasileiro que nos tratava por "doutora dos olhos" e "pê agá dê inteligentchii" (com sotaque carioca). Naquele minutos rápidos tinha sempre uma palavra de simpatia que nos confortava.

O terceiro era quase a minha segunda casa: Zigolinis em Hells Kitchen. Tinha as melhores pizzas de massa fina que conhecia. Tinha vinho português Vinha do Monte a preços que não eram proibitivos para restaurantes. O dono e quase todo o staff eram portugueses. Passado uns tempos o "pizzeiro" mudou e com ele a qualidade inicial foi-se. Passados uns tempos fechou.

Zigolinis
O Chavalinho no Zigolinis
@Zigolinis
@Zigolinis
O último era (já não é assim) o 11th Street Cafe em West Village. Um cubículo, com meia dúzia de lugares sentados.Tinha uma omelete de espinafres espectacular. Passava lá horas. Foi lá que vi a irreconhecível Nicole Kidman de Birkenstock e meias brancas. E era passagem habitual da Julianne Moore e do Hugh Jackman. Tudo mudou, pelo menos as pessoas que estavam por trás do balcão. Quando passado um ano regressei, estava irreconhecível. A simpatia e a proximidade tinham desaparecido.

NY, essa cidade tão impessoal e anónima, que quem sobreviver, sobrevive a tudo e está preparado para tudo, caracteriza-se pela inexistência de relações pessoais. A minha experiência e estatísticas dizem-me que estas existem entre iguais. Deslocados, compatriotas e emigrantes são as únicas amizades que se conseguem fazer. O resto são falsas simpatias, aparências, brevidade, conveniências, efémero, a prazo. Realmente NY não é para sentimentais nem para pessoas que não sejam autosuficientes. Este é o principal lado negro de NY. E obviamente NY não é a representação da América. No mais, NY é uma cidade para aprender, aproveitar, descobrir e viver temporariamente. NY marca-nos para sempre.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Tarde e noite em Braga

Braga. Tarde de sábado. Tarde primaveril. Tarde amena. Subo a Avenida da Liberdade. Vejo os canteiros de flores em frente ao Theatro Circo. A arquitectura antiga e nova. Contrastes. Passo no Largo Carlos Amarante. Muitos turistas sentados nas escadarias da igreja de Santa Cruz. Uma feira no Largo de São João do Souto. Compro um colar de missangas. Não discuto o preço. Lembro-me da Bahia. Sigo pela Rua D. Afonso Henriques. Reparo no número de lojas e restaurantes novos abertos. Paro na Mercearia Dom Casmurro. Um género de Vida Portuguesa com preços mais acessíveis. Turistas entram e saem. Um pouco de tudo mas principalmente comidas e bebidas. Tudo biológico e de excelente qualidade. Vale a visita. Passamos a tarde entre cerveja Letra, vinho branco, azeitonas, tostas e conservas. Saio de lá com uma pandeireta artesanal, uma lousa pequenina para escrever recados e um patê de ovas de pescada.

Próxima paragem:  Retrokitchen, Rua do Anjo. Desta vez conseguimos mesa. Havia tentado há umas semanas atrás. Cedo. Também no sábado, antes do concerto da Adriana Calcanhotto. Tudo cheio. Lembro-me do cheiro bom. Massada de peixe. Gostei imediatamente do restaurante e da simpatia do dono. Aconselhou-nos a Casa de Pasto das Carvalheiras como alternativa e foi lá que fomos parar.
No Retrokitchen regressamos aos anos 70. Cadeiras e mesas de fórmica. Garrafas antigas de Sumol, 7UP e Pepsi a servir de jarras. Um quadro de escola. Um cão de louça. Copos diferentes. Tudo retro. Não achei kitch. Uma mesa para 8 pessoas às 8:30. Não chegamos a horas, como sempre. Mas aqui a velocidade não é tudo. Não nos dão o menu nem uma lista. Pedimos o vinho. Aconselham-nos um verde da casa. Recuso amavelmente o vinho verde. Mas dizem-me que este é mesmo bom, que devo experimentar e só depois, se não gostar pedir outro. Assim fiz. Provei e não é que era mesmo bom? Não me lembro do nome mas vou saber. Trazem-nos um rolos de massa filo com carne, uma tábuas com fatias de pão e ameijoas à Bulhão Pato. O melhor de tudo não são as ameijoas, mas o molho delas! Fumam-se uns cigarros no pátio e levam-se os copos de vinho. O ambiente é mais do que amigável. Nos entretantos o dono, de seu nome Rui, junta-se a nós. Parece que estamos num jantar em casa. Tudo muito informal. Trocamos muitas vezes entre o pátio e a mesa. Vê-se no pátio a Abelha Maia que esteve muitos anos à entrada de um café na Rua do Souto. Quem viveu em Braga reconhecerá. Começo a chatear a cabeça ao Rui para me dar uma garrafa de 7UP retro. Às 11:00 estamos a começar a jantar. Posta à Mirandesa com umas batatas fritas cortadas às rodelas com casca, acompanhadas de couve branca salteada em azeite. Outros comem salmão. E as vegetarianas comem uma frittata com bom aspecto. As garrafas de vinho multiplicaram-se durante estas horas. Sei que havia sobremesas. Mas não consegui ter estômago para mais. O café, que nunca tomo, foi-me dado no pátio. Que serviço tão bom. Ainda ouvi Tribulations dos LCD Sound System. Quase chorei! Palmas para o Rui e Cláudia que nos fazem sentir em casa e querer voltar. O Rui, no final, foi buscar a garrafa e ofereceu-ma. Está em minha casa numa secretária a servir de jarra e já começou a fazer sucesso.






Copyright: Retrokitchen
Copyright: Retrokitchen
Copyright: Retrokitchen

Próximas paragens: Juno, Latino e Convento do Carmo. Quando saio à noite,  que é cada vez mais raro, não fico num sítio só. Percorremos todas as capelinhas. No Juno, encontra-se sempre alguém conhecido. As caras que fui conhecendo em muitos anos de Insólito. No Latino acontece o mesmo. O espaço está ligeiramente diferente, sem o bilhar no centro da sala. O Convento do Carmo é um edifício lindíssimo mas falta ali qualquer coisa que não sei explicar. Talvez as pessoas. Tem dois espaços com músicas diferentes. Paga-se para entrar.


Braga está bem e recomenda-se. Acho que começamos a voltar aos saudosos finais dos anos 80 em que Braga foi o centro da movida. O que vi, surpreendeu-me pela positiva. Aproveitemos o momento!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Dia 9 na Grande Maçã

Sábado de chuva. Ainda não tinha comido patinho e porque chovia não fui ao Columbia Cottage mas ao Ollie’s. 
Roast duck @ Ollie's
Apanhei um táxi e fui para o Whitney. Foi a primeira vez que visitei este museu e vale muito a pena. Brevemente mudará as instalações para West Village bem perto do rio, as obras avançam velozmente.O museu não me decepcionou. Comecei pelo 5º andar e fui descendo. “American legends: from Calder to O’Keeffe” era uma das melhores exposições. Conheci coisas do Calder que não fazia ideias, como por exemplo, as suas obras com arame, para além dos tão afamados mobiles. É talvez o museu que vi com mais obras dele. Fiquei a conhecer a obra da Georgia O’Keeffe, que conhecia vagamente. Mas o que adorei foi a exposição do Edward Hopper, a maior de todas que vi deste artista. Vi um Roy Lichtenstein “Bathroom” e o projecto do novo Whitney que será em West Village, mais precisamente na West Village street , junto ao rio Hudson. Depois de mais de 30 minutos à chuva, consegui apanhar um táxi, depois de ter estado na Madison e depois na Park Avenue.


Whitney Museum of American Art
"Summer Days" - Georgia O'Keeffe (Copyright: Whitney Museum of American Artt
"Bathroom" - Roy Lichtenstein (Copyright: Whitney Museum of American Art)
"Electric chair"-Andy Warhol(Copyright: Whitney Museum of American Art)
"Early sunday morning" - Edward Hopper (Copyright Whitney Museum of American Art)
"A woman in the sun" - Edward Hopper (Copyright Whitney Museum of American Art)

Marquei às 7 no Johnny’s Bar em West Village com o A. e a C. antes de irmos jantar às 10 no LOURO. Bar cheio. Muitas histórias temos neste bar mítico. Perto das 10 lá seguimos para o LOURO. Restaurante novo com influência portuguesa. Com os cumprimentos do chef fomos presenteados com uma espécie de pastéis de bacalhau e camarões com piri-piri. De destacar que o pão quente com uma manteiga de banha era de chorar por mais. O dono e chef é um luso descendente com pais de perto de Leiria que já não visita Portugal há 10 anos. Escolhemos apenas os pratos principais e o vinho. Como estávamos com a chef Luisinha, tivemos a honra de falar com o Chef David Santos que nos disse que a pessoa que anotou os nossos pedidos estava curioso porque é que quase todos tínhamos escolhido tamboril!! O último miminho foi um porto da Quinta do Noval! Vale a pena a visita pelo espaço e pela qualidade da comida! Amena cavaqueira até às tantas da noite.




Piri piri shrimp
American red snapper
Monkfish
Spanish Mackrel






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