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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

valter hugo mãe no 14º aniversário da Centésima Página

A apresentação do livro “Desumanização”, o mais recente de valter hugo mãe, começou pela classificação de estranho. Para quem conhece os livros de valter, este é muito diferente e é isso que causa a tal estranheza. A principal diferença centra-se na deslocalização no espaço. O hino  à portugalidade e Portugal que são sempre tão caros a valter, desaparecem neste livro. A escrita fluída dos seus livros também não existe neste. Os personagens são islandeses. Daí a impossibilidade de qualquer comparação. Nada pode separar tanto um povo. Depois, a imagem visual é quase um inédito. As palavras neste livro parecem mais escolhidas. Este livro parece um grande poema . Quase uma oração ou evocação.

Quando o valter começou a falar referiu a intensa relação que tem com a Centésima Página. Uma relação pessoal, segundo ele, muito antiga que “antes de ser conhecido já as pessoas desta livraria acreditavam em mim”. E disse também  que acha que esta livraria é uma das mais bonitas do mundo.

Valter começou por dizer sobre este novo livro que procura escrever livros que não sejam redundantes, que não sejam um livro “parte 2”. Procura escrever livros onde “não haja receitas”. Segundo o próprio, andava há muito tempo a ganhar coragem para escrever um livro que não parecesse um português a escrever sobre a Islândia, mas um islandês. Acrescentou que os livros não vivem do relato puro e simples. A trama deste livro não é a grande questão. O que lhe interessa é a intensidade e que os personagens sejam reais.

Cresceu a pensar que a Islândia era um país de fantasias, crendices estranhas, mitologia e do universo fantástico. Realçou que os islandeses foram capazes de derrubar um governo e fazer os banqueiros pagar a crise. A Islândia tem um inverno agreste e um verão que é uma tristeza. É um país interior, enclausurado. Tem 300000 habitantes, menos que a população do Porto, mas é o país que tem o maior número de orquestras do mundo.Toda a gente fala inglês fluente “com o sotaque da Bjork”. São uma comunidade absolutamente letrada. Foi o único país do mundo que fez um referendo no Facebook. É um país totalmente desburocratizado, com uma “anarquia prática” a “piscar o olho aos EUA”. Os islandeses viajam para a Dinamarca, para o sul de Espanha e para NY. Os islandeses não são nada simpáticos mas são extremamente eficientes no seu local de trabalho. No horário de trabalho, um pedido é sempre atendido. Os códigos de intimidade dos islandeses não são iguais aos nossos. São muito pouco receptivos.

A morte está muito presente neste livro. Muito mais do que em qualquer outro livro anteriormente escrito pelo valter. Quando lhe perguntam sobre a morte: “Tudo na vida tem que ver com a morte”. Literariamente tenta que a morte seja boa. A morte pode ser a nossa grande oportunidade”.


Sobre o amor, diz que ficou de tal maneira sufocado por este que o próximo livro que escrever não terá amor nenhum.Será muito pragmático e seco. (Apesar de eu achar que era a brincar). Disse que se sentia “um triste”. Que inventa todos estes “amores assolapados” e depois vai para casa “chuchar no dedo”.





quinta-feira, 2 de maio de 2013

valter hugo mãe


valter hugo mãe é o escritor que não usa maiúsculas. Conheci-o há muitos anos através da poesia, quando eu própria descobria esse novo encanto. O valter tinha alguns livros de poesia publicados e era nessa altura sócio e editor da saudosa Quasi. Era daquelas editoras que só publicava o que era bom, sobretudo poesia, mesmo que não se vendessem muitos exemplares. Nessa altura eu procurei por todo lado um livro dele que se chama E o resto da minha alegria, uma frase de uma música da Adriana Calcanhotto, Mentiras. Não encontrei o livro em lado nenhum e resolvi perder a vergonha e escrever ao valter a perguntar onde o poderia comprar. Não sei onde me meter quando estou com as pessoas à minha frente, mas por escrito, tenho toda a coragem do mundo. Passados uns dias, mais rápido do que o que poderia esperar, recebo um bilhete lindo do valter e o livro, que nas palavras dele tinha o prazer de me oferecer. Aquele livro tão tocante e as palavras do valter só para mim atingiram-me para sempre. Escrevemo-nos mais algumas vezes, estivemos juntos algumas vezes e ele continuou, sem motivo nenhum, a ser muito amável e simpático comigo. Mais tarde, foi ele que me deu convites (não só para mim como para os meus amigos) para os lançamentos dos livros Letra só do Caetano Veloso e Algumas Letras da Adriana Calcanhotto. E ainda foi tão gentil ao conseguir-me os livros autografados nas noites respectivas. Essas noites mágicas e irrepetíveis no Teatro do Campo Alegre, no Porto, ficaram para mim, inesquecíveis.

É de uma doçura incrível e acho que tem uma timidez quase tão profunda quanto a minha. Não fiquei surpreendida, quando anos depois, ele teve aquela recepção tão calorosa na Festa Literária de Paraty. Quando vi na internet o video da comoção geral, daquele texto belíssimo que leu, percebi a reacção daquelas pessoas. Quando há alguns dias a Adriana assinava a capa do livro dele, que é a colecção dos relógios dela, ficou surpreendida com aquele livro que é quase uma relíquia e dizia-me: “Ele agora é uma vedeta no Brasil. Adorado!”. Eu sabia. Eu sei.

Foi também através dele que descobri Antony Hegarty, a voz e a alma dos Antony and the Johnsons. Depois  de muitos anos, e de muitos livros, de muitas edições esgotadas e muitos prémios, depois de ser um famoso, consagrado e lido escritor e eu ser uma fiel leitora, para mim será sempre aquele rapaz doce com um sorriso lindo!








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