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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Déjà Lu

Já lido é o significado do nome. Esta é a melhor livraria que conheci nos últimos tempos. Soube da sua existência através de uma das madrinhas, Anabela Mota Ribeiro. Já na livraria descobri alguns dos outros padrinhos e as suas sugestões literárias: Leonor Silveira, Beatriz Batarda, Pedro Rolo Duarte, José António Tenente. Está situada num local muito privilegiado: Fortaleza da Cidadela de Cascais, no andar superior do restaurante Taberna da Praça. É uma livraria solidária cujos lucros revertem para portadores de Trissomia 21. Os livros podem ser novos ou usados (em muito bom estado) e a óptimos preços. Vale muito a visita. O conselho é que se vá com muito tempo. Dediquei-me apenas a ver, com muita atenção, os autores brasileiros e as sugestões dos padrinhos. E acabei por trazer 8 livros por aproximadamente 64 euros. E tentei fechar os olhos a tudo o resto. Tudo é apetecível. Difícil não encontrar qualquer coisa interessante. A secção de biografias também é de perder a cabeça.  Depois de a conhecer, a visita é obrigatória. Quem dera que as livrarias portuguesas fossem todas assim. Bem organizada, acolhedora, com marcadores repletos de humor, com pessoas responsáveis que conhecem os livros e que (ainda) aconselham só pelas preferências do que temos em mãos. De um bom gosto incrível. Tem sofás, bancos, cadeiras. Tudo o que é preciso para quem gosta de livros. Nem tenho palavras para descrever como fui recebida. Depois de uma pequena pesquisa, descobri que a senhora que tão bem me recebeu  se chama Francisca Prieto. A frase “Sinta-se como se estivesse em casa” é arrebatadora. É-nos dado espaço mas com toda a gentileza. Tudo nos é oferecido para que estejamos confortáveis. A qualidade do acervo é incrível. E no final, já com livros que não me cabiam nos braços ainda me foram sugeridos mais 2 livros que acabei por trazer. Não é habitual visitar livrarias que para além de bonitas sejam geridas por pessoas que gostam de livros e os conhecem. Muitas vezes é (mais) um negócio. Aqui respira-se literatura, o cheiro dos livros, conhecem-se (bem) os autores e através das nossas escolhas conseguem identificar-nos as preferências. Quantas livrarias há assim em Portugal. Tenho pena que não existam mais assim. Eu seria com toda a certeza (ainda) mais pobre. Falaram-me que o António Cicero tinha visitado a livraria e tinha levado muitos livros.Vi a versão brasileira da autobiografia do Caetano “Verdade Tropical” em cima de uma das mesas. Conciliar uma geografia privilegiada, bons livros, excelente organização, simpatia, competência e pessoas que amem livros numa livraria só é obra! Adorei, prometo voltar e doar alguns dos meus livros. Um verdadeiro tesouro escondido.






Copyright: Déjà Lu
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Copyright: Déjà Lu
Copyright: Déjà Lu
Copyright: Déjà Lu
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sexta-feira, 3 de julho de 2015

Segundo dia em São Paulo

O dia começa outra vez antes de o alarme tocar. Ainda não são 6:30. O dia nasce. Começa a clarear. A tv está ligada. O assunto principal é a morte de um cantor sertanejo que morreu de acidente de viação. A importância que todos os canais brasileiros dão a um cantor cujos versos de uma música são “Bara bara bara bere bere bere”, que eu nunca ouvi falar, deixa-me boquiaberta.
A manhã segue com palestras. Se ainda não tinha percebido, comprovo que a língua que se fala no Brasil é realmente diferente. Aprendo novas palavras a cada hora: experimento, peritóneo, acumúlo, escalonamento, coletar, liberado... Custa-me tanto constatar, também, que a ciência que se faz no Brasil está a anos luz daquela que eu conheço. Senti-me quase sempre numa aula do secundário em vez de estar num congresso internacional. E perceber que os investigadores, médicos e cientistas brasileiros não falam inglês deixou-me envergonhada e triste, para não dizer pior. Perceber que o estereótipo que se tem generalizado é de facto verdade, custa. Queria não ter razão.

À tarde ainda tivemos tempo de ir ao Morumbi Shopping. Mais duas livrarias e mais alguns livros: Saraiva e FNAC. Depois escolhemos ir à Avenida Paulista. O ambiente e a realidade das cidades conhecem-se nas ruas. Se não tínhamos quase tempo nenhum, a minha condição, para além das livrarias, era ver pessoalmente alguma obra da Lina Bo Bardi. Nada melhor que o MASP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). Esse era o destino. Táxi até lá. O taxista já era melhor que os primeiros. Passamos pelo shopping JK Iguatemi, sumptuoso, gigante, soberbo, brilhante. Trânsito. Ruas desertas de pessoas. Trânsito caótico. As pessoas parecem não caminhar nelas. Não se avistam bicicletas. Os carros param no sinal vermelho. Vidros escuros em todos os carros. Todos os edifícios, casas, prédios estão rodeados de grades, por vezes duplas. Arame farpado e electrizado. Que choque. Que contraste. Achava que isto era mito. Não. É mesmo assim. Só passamos por bairros nobres. Prédios e mais prédios. Porteiros. Motos. Motorboys. As árvores são tropicais. Tudo é gigante. A sensação eminente de perigo ou de insegurança é nula. Mas não se vê polícia. Hospital Sírio-Libanês.  Parque Trianon. MASP. Chegamos. Edifício vermelho-sangue e cinzento. É bonito. Este edifício da arquitecta italiana Lina Bo Bardi era uma das poucas coisas que sempre quis ver em São Paulo juntamente com o SESC Pompeia. Como não deu para ver os dois, um já não foi mau!




Andamos pela avenida. Aqui há pessoas. Mas não se atropelam. Não parecem moscas. O dia começa a chegar ao fim. A temperatura está amena. O L. está de manga curta mas a maioria veste-se como se fosse inverno. Prédios bonitos. Arquitectura bonita. A ciclovia vai ser inaugurada. E eu pergunto-me: “Se uma cidade onde as pessoas têm medo de andar a pé, que os carros não param no sinal vermelho, que quem usa autocarro ou metro são os desfavorecidos, quem nesta cidade anda de bicicleta?”. Mas louvo a iniciativa. A educação das pessoas faz-se assim, pelo início. Criando condições, impregnando o micróbio das boas práticas. E um dia, depois de muito tempo, isso não será questionável. Passamos por várias livrarias. Na volta, não resisto a entrar numa dela. Livraria Martins Fontes é o seu nome. Não parece uma livraria parece uma biblioteca. Não tenho muito tempo para explorar mas consigo finalmente encontrar “O Anjo Pornográfico” de Nelson Rodrigues. Encontro também correspondências da grande Clarice. Não resisto e junto mais este. Encontro um livro de entrevistas do Lobo Antunes que procuro há anos em Portugal e nunca o encontrei. Só desisto dele pelo peso e pelo preço que me daria para comprar o dobro dos livros que comprei em São Paulo. Na caixa, quando estou a pagar os livros, olho para o nome da Livraria Martins Fontes não resisto a perguntar: “Esta é uma livraria portuguesa?”. Resposta: “Oi?”. Reformulo: “O nome desta livraria Martins Fontes é português por acaso o dono é português?”. Resposta: “Ah... não sei. Boa pergunta. Nunca tinha pensado nisso, mas vou tentar saber”. 



Saímos e andamos até encontrar um sítio onde se bebia. Não sei se foi o indicado mas tinha bebida e comida. Chamava-se Cafe Creme em plena Paulista. Antes do jantar lançamos-nos nos pães de queijo e no chope da Brahma. Levezinho, quase sem álcool, geladinho. Gostei. 



Apanhámos um táxi. Já tinha escurecido. Próxima paragem: Mercearia. Uma mistura de bar e restaurante. Aqui o encontro era com a I. Que já não via há muito tempo (o tema será abordado noutro post). Pedimos imediatamente caipirinhas. Portugueses, já tinha ouvido falar mas comprovei. A caipirinha de Portugal não é a caipirinha do Brasil. A original é do melhor que há. Começa na qualidade da cachaça que é mineira! O gelo não é picado mas aos cubos, o que faz que a diluição alcoólica seja muito mais lenta. Tem muita mais lima (no Brasil chama-se limão) alguma dela às rodelas e outra desfeita. Tem muito menos açucar e não é do amarelo. Provamos a picanha. O sabor nada a ver com a picanha que se come em Portugal. Tudo estava perfeito, desde o ponto de sal, ao ponto da carne e ao sabor característico da picanha. Do melhor que já comi. Provamos também os tão famosos pasteis que não são parecidos com nada que já tivesse comido. Provamos as coxinhas e mais coisas que não lembro mais. Fica difícil quando a bebida é caipirinha. Daqui seguimos para o bar Wall St.  Aqui bebi mais caipirinhas e uma garrafa de 600 ml de SKOL. Depois disto sem condições para ir para a balada mas com a promessa que acordaria daí a umas horas para irmos à Catedral de São Paulo e ao centro....



domingo, 6 de julho de 2014

Fim de semana de 4 de Julho

7 de julho. Starbucks da Broadway com a 103. Coração do Upper West Side. Starbucks cheio. Sentei-me numa cadeira, ainda sem mesa, a ler. Quando vagou uma meda, apoderei-me. Dezenas do que parecem ser estudantes intelectuais com o seu Mac. Acabou de chegar um senhor. Barba por fazer. Óculos retro, na moda. Calções todos sujos. Unhas grandes. MacAir todo sujo. Parece-me escritor. É muito míope. Sentou-se na minha mesa, nem me pediu.  

Ontem almoço num restaurante japonês, Sushi Yasaka, na 72. Andamos a pé até ao Lincoln Center. Enfiei-me na confusão dos saldos do 4 de julho na Macy’s. Já não podia ouvir crianças a chorar nem ver filas para pagar. Ao fim da tarde fui para o lab. Estive lá umas duas horas e meia. Tínhamos combinado ir jantar a um indiano em Bryant Park. Não consegui acabar a horas. Resolvemos outra coisa. Jantamos no que eu adoro, no Jin. Ramen. Fomos depois ao Empire Hotel no Lincoln Center. Diziam que era ver as vistas. Fosse isso que valesse a pena. Uma fila enorme para entrar que pelo tipo de pessoas que tinha já era um pronúncio do que nos esperava. A entrada foi $20 para cada homem, sem direito a bebidas. No rooftop, nada de especial. Pessoa desinteressantes. Música péssima. Vista fraca. Bebidas caras. DJ inqualificável. Bebi uma margarita que custou $16 fora a gorjeta. As do Cubby Hole a $2 são muito melhores. Como estava cheia de sede, bebi uma Stella. A música era um pavor. A passagem de umas músicas para as outras nunca ouvi pior. Se algum dia vos falarem no Empire Hotel, por favor, risquem do mapa.  Nada vale a pena, mesmo. E eu até nem sou muito exigente.







Hoje, brunch em casa. A C. fez waffles maravilhosos. Ovos mexidos. Presunto de Parma fatiado como fiambre. Fiambre. Salmão fumado. Queijo da ilha. Morangos. Melancia. Smoothies. Sumo de laranja. Café. Leite. Cerejas. Focaccia. Bagels. Cheese cream. Maravilhoso! Sexta a meio da tarde. Queria ter ido à Strand, acabei a andar a pé da 116 à 103. Passagem rápida na Book Culture para investir em mais 3 livros. Desta vez, não do Philip Roth, mas em cartas da Elizabeth Bishop para The New Yorker, um do Paul Auster e outro sobre NYC.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Uma conversa com Richard Zimler

Richard Zimler chegou ligeiramente atrasado. Revelou que já tinha estado em Braga mas nunca na Centésima Página. Sala cheia para o ouvir. Prefere uma pequena introdução e pede perguntas. Eu comecei. Este último livro “A sentinela”, tal como o anterior “Ilha Teresa” são bastante diferentes dos outros porque são actuais. “A sentinela” mantém traços marcantes do autor: tem um personagem que é americano e judeu e tem um personagem homossexual. Pergunto-lhe pelo pai violento de Henry, que apesar de ser violento, extremamente violento, não é um abusador sexual, tema tão actual. Eu não sabia que o Richard Zimler teve um pai violento e que também maltratava a mãe verbalmente. Falou longamente sobre isso. Como o pai queria que os filhos o respeitassem e que não sabia a diferença entre respeito e medo. Falou de como a mãe foi depressiva e se manteve em casa longe do mundo e que não se vestia. Questionei-o também sobre o facto do cenário do livro ser em Lisboa. Porque não no Porto que ele conhece tão bem? Como é que le descreve tão bem Lisboa, o Chiado e afins não vivendo em Lisboa? Lisboa foi usado por ser uma cidade apelativa. Começou por me dizerque não gosta dessa “guerra” entre Porto e Lisboa. Mas que isso acontece entre San Francisco e L.A., por exemplo. Conhece muito bem Lisboa e gosta muito da cidade. Passou algum tempo em casa de um amigo na Rua do Vale, “daquelas ruas que têm roupa a secar e gatos” e que também foi a cidade para onde o sogro se mudou. Lembra-se dos almoços e da casa em Campo de Ourique.

A crise moral foi também longamente discutida. Deu o exemplo do caso Madoff que foi julgado e condenado em 6 meses. Que em Portugal tudo prescreve e que as pessoas não acreditam na justiça. Deu um exemplo de quando acompanha “a minha cara-metade” a jantares de cientistas, onde a maioria não o conhece e se limitam a ignorá-lo. E que já aconteceu pessoas posteriormente reconhecê-lo como Richard Zimler, o escritor e lhe pedirem muitas desculpas por não o terem tratado como tal.

Discutiu-se e foram muito elogiados os romances “A sétima porta” e “Meia noite e o princípio do mundo”. Muitas pessoas muito familiarizadas com a extensa obra do Richard. Foi muito emocionante ouvi-las falar demoradamente de pequenos pormenores e de personagens que as tocaram. Pessoas a citar frases, e mais do que isso, a considerarem que aquele livro é um grande apoio. Não me lembro da última vez que ouvi coisas tão bonitas em tão reduzido tempo.

Uma leitora que tinha lido todos os seus livros comentou que quando leu “O último cabalista de Lisboa” se interrogou “O que faz um americano judeu em Portugal?”.

Richard falou também que gosta muito de ser judeu e que até brinca com isso mas que discorda totalmente de os judeus se considerarem o “povo eleito” ou o “povo escolhido”. Falou também de grandes escritores judeus como Primo Levi e Philip Roth. Mas também não deixou de criticar a política externa norte-americana  e a sua ignorância que levou à morte de 2 milhões de vietnamitas e a repetição do mesmo erro na invasão do Iraque. Elogiou o seu amigo Barack Obama e que não achava possível um negro ser eleito como presidente dos Estados Unidos e como isso foi um sonho concretizado.

Muitas mais coisas foram faladas, muitas palavras bem ditas, muita sinceridade nos elogios, muita sensibilidade dos leitores, muitas opiniões de fundo da alma, muitos sorrisos, muita partilha. Afinal para que servem os livros?

Muito obrigada, Richard!








domingo, 15 de dezembro de 2013

O fim de semana ideal

Fui buscar os meus sobrinhos a casa da mãe na sexta. Estava com a S. Os meus sobrinhos adoram o meu carro. E toda a conversa a caminho de Braga foi à volta disso. A S. conheceu-os nesse dia. Fartou-se de rir com eles principalmente quando o meu afilhado lhe disse:
-Gosto de tudo de carros, de chaves de carros e de lavar carros!

Quando chegamos a casa dos meus pais, o meu irmão já tinha ido buscar a Bu. Os meus sobrinhos deliram com a Bu. E o mundo para a Bu pára quando vê os meus sobrinhos. Pediram para ficar com ela. E eu não tive como não deixar porque ela é uma vendida e troca-me, sem nenhuma dificuldade, por eles.

Ontem, os meus sobrinhos foram passear com o meu irmão pelo centro e encontraram muitos amigos. Quando chegou a vez de andarem no comboio de Natal, o motorista não queria deixar a Bu entrar. Ao que o meu irmão lhe disse:
-Ou entramos todos ou não entra ninguém.
Perante este cenário, o motorista não teve outro remédio a não ser autorizar a Bu entrar...
Quando chegou a hora do conto na Centésima Página, o meu irmão teve que levar-me a Bu a casa porque, aí sim, não tinha hipótese de entrar. O meu afilhado, perante este cenário, já não queria ir à hora do conto. Queria ficar em casa comigo e com a Bu. Lá tive que entrar no carro e ir com eles. O meu irmão ficou com a Bu a passear nos jardins da Avenida Central e eu fui com os meus sobrinhos à livraria. Chegamos atrasados, como quase sempre, e o conto tinha terminado. Mas ainda chegamos a tempo de uma actividade. As crianças todas sentadas num tapete a construir uma colagem de um anjo de Natal.

O K. é uma simpatia. Mal chegou, entrou no meio da roda de meninos, sem qualquer receio. Sem ninguém lhe perguntar nada disse, em voz alta, o nome dele, que tinha uma cadela que se chamava Bu, e ainda apontou para trás para mostrar a titi e o irmão. O meu afilhado é o oposto. Não se quis sentar junto aos meninos se eu não estivesse com ele. É um anti-social como a madrinha. Para ele uma dezena de meninos é uma multidão. Passamos o resto do tempo a colar o anjo de Natal e o meu afilhado ainda desenhou a cara. Quando os meninos todos sairam fiquei eu, o K., o afilhado e ainda um pai com um filho com uns 9 meses. Os meus sobrinhos adoram bebés. E o introvertido do meu afilhado perdeu a vergonha com o pai do menino que se chamava Vasco.
- o meu avô chama-se Vasco - disse o afilhado
- E tenho uma cadela que se chama Bu e que faz muitas asneiras. Fez cocó no sofá da avó e roeu o tlm da titi, até comeu a tampa!
O pai do Vasco só se ria e o Vasco saltava enquanto o pai o segurava debaixo dos braços. O meu afilhado ainda teve coragem para mais uma coisa:
- Posso pegar no Vasquinho?
E o Vasquinho lá andou, com a ajuda do pai, entre os colos o K. e afilhado.

Depois de jantarmos na casa dos avós fomos para casa. Queriam ver o aviões mas por problemas técnicos acabaram a ver montagem de legos no tablet. Eu no meio, e os dois homens da minha vida, um de cada lado. Eu, que costumo ser uma friorenta, parecia estar nos trópicos, tal era o calor! Quando o afilhado adormeceu, o pai veio buscá-lo para a cama dele. A Bu, ignorando quem é a dona e quem a salvou de um futuro que não parecia muito risonho, trocou-me facilmente para ir dormir no quarto do afilhado. Ainda fui chamar por ela mas ignorou-me completamente. Acabei a dormir com o K. que é um verdadeiro aquecedor mas que, felizmente, não ressona. Adormeci tarde, como sempre, depois de muito ler.

Sei que o toque de alvorada foi pouco depois das 7 porque tenho uma vaga memória de ter ouvido, ao longe, o meu afilhado e o meu irmão a tomarem o pequeno-almoço. Eu continuei a dormir acompanhada pelo mais velho que dormia ocupando quase a cama toda.... e eu sem reclamar. Por volta das 11 acordamos com a Bu a saltar para cima de nós.

Fomos almoçar com os avós e à tarde os meus sobrinhos foram ao cinema com o pai ver "Frozen". Nem preciso descrever a cena da Bu de cada vez que os meninos se vão embora. Dá dó! Chora, soluça, uiva, raspa as patas na porta... nunca vi devoção maior.

copyright: Centésima Página

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

valter hugo mãe no 14º aniversário da Centésima Página

A apresentação do livro “Desumanização”, o mais recente de valter hugo mãe, começou pela classificação de estranho. Para quem conhece os livros de valter, este é muito diferente e é isso que causa a tal estranheza. A principal diferença centra-se na deslocalização no espaço. O hino  à portugalidade e Portugal que são sempre tão caros a valter, desaparecem neste livro. A escrita fluída dos seus livros também não existe neste. Os personagens são islandeses. Daí a impossibilidade de qualquer comparação. Nada pode separar tanto um povo. Depois, a imagem visual é quase um inédito. As palavras neste livro parecem mais escolhidas. Este livro parece um grande poema . Quase uma oração ou evocação.

Quando o valter começou a falar referiu a intensa relação que tem com a Centésima Página. Uma relação pessoal, segundo ele, muito antiga que “antes de ser conhecido já as pessoas desta livraria acreditavam em mim”. E disse também  que acha que esta livraria é uma das mais bonitas do mundo.

Valter começou por dizer sobre este novo livro que procura escrever livros que não sejam redundantes, que não sejam um livro “parte 2”. Procura escrever livros onde “não haja receitas”. Segundo o próprio, andava há muito tempo a ganhar coragem para escrever um livro que não parecesse um português a escrever sobre a Islândia, mas um islandês. Acrescentou que os livros não vivem do relato puro e simples. A trama deste livro não é a grande questão. O que lhe interessa é a intensidade e que os personagens sejam reais.

Cresceu a pensar que a Islândia era um país de fantasias, crendices estranhas, mitologia e do universo fantástico. Realçou que os islandeses foram capazes de derrubar um governo e fazer os banqueiros pagar a crise. A Islândia tem um inverno agreste e um verão que é uma tristeza. É um país interior, enclausurado. Tem 300000 habitantes, menos que a população do Porto, mas é o país que tem o maior número de orquestras do mundo.Toda a gente fala inglês fluente “com o sotaque da Bjork”. São uma comunidade absolutamente letrada. Foi o único país do mundo que fez um referendo no Facebook. É um país totalmente desburocratizado, com uma “anarquia prática” a “piscar o olho aos EUA”. Os islandeses viajam para a Dinamarca, para o sul de Espanha e para NY. Os islandeses não são nada simpáticos mas são extremamente eficientes no seu local de trabalho. No horário de trabalho, um pedido é sempre atendido. Os códigos de intimidade dos islandeses não são iguais aos nossos. São muito pouco receptivos.

A morte está muito presente neste livro. Muito mais do que em qualquer outro livro anteriormente escrito pelo valter. Quando lhe perguntam sobre a morte: “Tudo na vida tem que ver com a morte”. Literariamente tenta que a morte seja boa. A morte pode ser a nossa grande oportunidade”.


Sobre o amor, diz que ficou de tal maneira sufocado por este que o próximo livro que escrever não terá amor nenhum.Será muito pragmático e seco. (Apesar de eu achar que era a brincar). Disse que se sentia “um triste”. Que inventa todos estes “amores assolapados” e depois vai para casa “chuchar no dedo”.





terça-feira, 2 de julho de 2013

Paulo de Morais: o arauto

Este post devia ter sido escrito há dois dias. Não o foi porque coincidiu com a recta final da escrita de um projecto da FCT, cujo prazo de submissão, termina hoje. Passei o fim de semana a terminá-lo e submeti-o ontem, 24 horas antes do fim do prazo.

Adiante, no sábado fui à apresentação do livro de Paulo de Morais na Centésima Página. Já li o livro “Da corrupção à crise – Que fazer?” no sábado.  Não vou resumir o livro mas aconselho-o entusiasticamente a toda a gente para perceberem coisas, que como eu não imaginava, e para compreender melhor o estado a que chegamos. Temos vários problemas: 1) dívida pública deve-se principalmente ao desperdício, economia desestruturada, predomínio da banca sobre a política e corrupção; 2) dívida privada que se deve principalmente ao imobiliário. Paulo de Morais referiu que o urbanismo é uma máfia semelhante ao tráfico de droga, com a diferença que no tráfico de droga apreende-se a droga, mas no urbanismo não há nenhuma apreensão de prédios. Alguns, segundo Paulo de Morais, até recebem medalhas no 10 de Junho. O imobiliário é a verdadeira bola de neve que não tem fim. A venda de apartamentos foi sobrevalorizada. Hoje as casas valem menos 40%. Existem 2 milhões de casas vazias em Portugal: 500000 de ocupação sazonal (Algarve) e as restantes pertencem a fundos de investimento, imobiliário fechado, têm isenção de IMI e IMT e não são colocadas no mercado porque se assim fosse as rendas no mercado baixariam. 

Agora prestem atenção a este escândalo para perceberem como chegamos até aqui. Durante anos, o que se passou com o imobiliário e as relações promiscuas entre banqueiros, câmaras e promotores imobiliários foi o seguinte: um promotor imobiliário comprava um terreno agrícola por 100, ia a uma câmara e transformava esse terreno agrícola em terreno com grande capacidade de construção. Depois ia a um gabinete de engenheiros e arquitectos e mandava fazer um projecto. Saía de lá com um power point, ia ao BPN e um terreno que tinha custado 100, por via da valorização da câmara, passava a valer 1000. O projecto passa a valer 4000 e pedem um empréstimo sobre o projecto. E o que deixavam lá de garantia? O terreno que valia 100!!!! É destas vigarices que o BPN está cheio. Projectos financiados que nunca passaram do power point!

Um dos exemplos que Paulo de Morais deu, recuando aos tempos dos Descobrimento, foi o de D. João II. Como conseguimos fazer os Descobrimentos?  D. João II, o Príncipe Perfeito, que introduziu o primeiro livro em Portugal e fez o Tratado de Tordesilhas, derruba a conspiração de Viseu e mata o Duque de Viseu, Duque de Bragança e Duque de Beja. Esta “guerra” contra os fidalgos, com o confisco de bens, permitiu resolver o problema da fazenda pública (vejam como vem de longe e parece crónico ou genético) e lançar os Descobrimentos.

Portugal parece estar como o Brasil, em que há meia dúzia de pessoas, a aproveitar-se do Estado e a perpetuar a riqueza à custa dos portugueses. E estes parecem ser intocáveis. 70% da nossa dívida privada deve-se a estes senhores, 15% crédito ao consumo e apenas 15% para toda a actividade do país. Estes números fazem sentido? Temos de acabar de uma vez por todas com estes promiscuidade entre a política e a banca! Este meu texto parece muito desanimador mas não é. A verdade é que as coisas podem ser mudadas e existem soluções. Fica aqui a minha sugestão para comprarem e lerem o livro de Paulo de Morais.

A outra analogia pode ser também ser feita, com o Sermão de Santo António aos Peixes (tema do post anterior): «...Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande..».

Para terminar, soubemos ontem que o Prof. Vitor Gaspar se demitiu do governo. Toda a gente bate palmas. O tempo, que ensina tudo e que é sábio, dirá se foi bom ou mau ministro. Apesar de há algum tempo o nome deste ministro estar nos remodeláveis, esta demissão surpresa, faz-me perguntar o que se passou para um homem que parecia aguentar tudo ter atirado a toalha ao chão. Para os entusiastas, que tanto acreditavam que a saída de Gaspar seria a solução de todos os nossos problemas, fica a questão se não estaremos a caminho de uma nova Grécia...



segunda-feira, 24 de junho de 2013

125 anos de Fernando Pessoa

Sempre que posso tento conhecer lugares, casas, cafés que foram frequentados por génios. Fico ali quieta a olhar. Perco-me no tempo. Não dou por ele passar. Fico a imaginar que ali, há alguma coisa especial, uma luz, uma paisagem, uma inspiração divina para o resultado que nunca morre. Ser eterno é isto. É permanecer para além da morte. Influenciada pelo 125º aniversário de Fernando Pessoa, fui conhecer a casa dele em Campo de Ourique. Sábado, uma tarde maravilhosa, com aquela luz que só Lisboa tem, acreditam que a biblioteca estava fechada? Resposta de uma funcionária: “Hoje é sábado, está fechada”. Com um ar que queria ter dito: “com este tempo vem esta gente para aqui chatear quando deviam estar na praia!”. Não seria suposto uma casa destas ter a biblioteca aberta ao fim de semana, quando o comum dos mortais só a pode visitar nestes dias, porque nos restantes trabalha? A coisa começou imediatamente mal. Mas bastou-me subir ao primeiro andar e ver (mesmo só da porta de vidro fechada) o famoso quadro de Fernando Pessoa pintado pelo Almada Negreiros, que esqueci imediatamente tudo. Deixei-me impregnar pelo ambiente. Entrei no quarto completamente escuro do Pessoa. Ali estava a cama se solteiro, a cómoda e alguns manuscritos. Sentei-me na cama, não sei se era suposto. E fiquei ali a olhar, não sei quanto tempo, sozinha. Via apenas símbolos do Zodíaco e que dali, daquele pequeno quarto tinham saído alguns dos melhores poemas. Saio, vejo a máquina de escrever, vejo o diploma da escola onde nasceu e estudou, em Durban. Subo ao 3º andar, o Sonhatório. Quase tudo ali é interactivo. Podem ouvir-se poemas ditos por artistas portugueses e brasileiros. Pode ver-se pormenores da vida de Fernando Pessoa. Numa das salas estão expostos alguns dos objectos pessoais de Pessoa:  os tão famosos óculos, um caderno de apontamentos, um isqueiro de prata. Mas o barulho de uns espanhóis estridentes tiraram-me a concentração. Nem o meu olhar reprovador os fez desistir. Parecia que estávamos no circo. Detesto este tipo de pessoas que não tem qualquer tipo de sensibilidade e só visitam os sítios para poderem dizer aos amigos que estiveram lá.








 Continuei pelas ruas de Campo de Ourique, fui até aos Prazeres e sentei-me no regresso na esplanada da Canas.Vi passar várias vezes o eléctrico 28, do qual tenho um desenho original numa das paredes de casa e um no frigorífico. Muitas pessoas escaldadas do sol, provavelmente vindas da praia, duas senhoras velhotas a comer amendoins e a beber imperiais. Há melhor? Levanto-me em direcção à Estrela e não resisto a entrar no eléctrico. Não há melhor! O percurso é lindo.  O eléctrico vai até ao Martim Moniz mas eu fico pelo Chiado. Olho para o nosso poeta maior. Sigo para a Bertrand. Depois para a Fnac, onde comprei quatro livros do “Nandinho”, como lhe chama a Maria Bethânia.  Regresso ao largo Camões, onde num dos quiosques peço uma ginginha. Mas é tão bem servida que se continuo a bebê-la sem comer nada fico logo ali. Entro num café que faz esquina com a Rua da Misericórdia e peço um pastel de bacalhau. Todos me perguntam o que tenho no copo! E eu respondo, simpaticamente, provavelmente já tocada pela ginginha, a todos. O pastel de bacalhau é medonho mas serve o objectivo. Acabo a ginginha, agradeço amavelmente a todos os que me fizeram companhia no balcão e a quem me serviu. Saio e é tempo de meter-me num táxi que me levará a Entrecampos onde jantei tão bem no Sakura.





terça-feira, 23 de abril de 2013

Stories I only tell my friends

Na falta de inspiração e de tempo para escrever algo como deva ser, mas para manter a actividade deste blog, aqui vai uma coisa levezinha. O lançamento do livro do Rob Lowe em NYC há 2 anos, mais coisa menos coisa. 




terça-feira, 12 de março de 2013

Dia 8 na Grande Maçã

Compras em Chelsea e depois segui para Union Square onde era o “Factory” do Andy Warhol. Uma mistura de estúdio com local onde tudo podia acontecer. Nas festas que aconteciam lá todos queriam entrar mas poucos eram os que conseguiam. Hoje, desses tempos, sobra apenas o parque e a estátua intemporal prateada do Warhol. Não sei se é porque tenho mais tempo e mais disponibilidade para prestar atenção mas acho que NY está com mais sem-abrigo. Já não reconheço os mendigos que habitam a paragem do 1 na 168... nem os da 116...No entanto, não pude deixar de reparar que os novos habitantes dos bancos, são muito jovens. Hoje duas das pessoas que esperavam pelo metro junto a mim eram dois viciados ou doentes mentais. Não consegui distinguir. Um imitava vozes de desenhos animados e inventava diálogos e diferentes vozes entre elas. O outro, era mais velho, e tinha apenas um dente no maxilar superior. Ria-se muito. Estava num monólogo mas que para ele deveria ser um diálogo. Numa altura em que discute tanto o estado social em Portugal, faz-nos bem sair da nossa realidade e perceber como o mundo é bastante mais injusto que o nosso país. Em NY as pessoas são invisíveis. Aqui nada é de graça! Um destes dias uma pessoa gritava no metro enquanto apelava à caridade das outras: “Do not lose your apartment”. Um desempregado aqui cai de repente na miséria. Não existe estado social que lhe valha. Não tem qualquer tipo de subsídio.  Estou sentada no Whole Foods de Union Square a olhar para azáfama de pessoas e carros que se confundem. Vou à Barnes &Noble, um edifício de vários andares, lindo. Procuro uma cadeira para me sentar mas nada. Há 6 meses atrás era possível sentar no chão. Agora por razões de segurança, já não. Passo em frente à New York Film Academy em direcção à Strand. Impossível não me perder... mas como nõ imagino como vou levar o que já acumulo... limito-me a 3 livros...





segunda-feira, 11 de março de 2013

Dia 6 e 7 na Grande Maçã


Um destes dias à noite, à ida para casa do F., depois da ópera, fomos a uma capela no Columbia Medical Center que está fechada para obras. É enorme, mais parece uma igreja, embora seja sem religião. Estava cheia de pó das obras e tinha um piano que o F. já experimentara. Fomos para lá. Parecia daqueles filmes de suspense, meia-luz, silêncio total, ecos, parecia que a qualquer momento alguém haveria de entrar...Cena mesmo de filme. O F. a tocar piano, uma capela fechada, no silêncio absoluto, que para lá da porta eram os corredores do hospital...Depois subimos ao coro, iluminados pela luz do tlm do F., onde estava um orgão estragado mas q o F. conseguiu tirar algum som. E depois... tocou duas vezes os sinos!!!! Quando os ouvi tocar lembrei-me imediatamente da paranóia do meu sobrinho mais velho pelos sinos (que depois contagiou o mais novo). Durante algum tempo achei que eles tinham um problema. Mal o mais novo andava e falava mas era vê-los a discutir sinos, principalmente de Braga, tons e cores. Coleccionavam todo o tipo de sinos. Inclusive os meus pais trouxeram de NY e Washington umas pequenas réplicas. Até têm sinos com galos de Barcelos! Existem uns vídeos do mais novo, que mal se equilibra das pernas, mas que já domina o tom dos sinos “tim-tão, tim-tão”!!! O mais velhos, outra vez, comeu todos os sinos de chocolate existentes na árvore de Natal e deixou lá os papéis. Agora o vício é outro: tudo o que tenha Cars 2! E parece que é uma moda mundial. Na FAO Schwartz e Toys’r’us era ver pais, avós e crianças, todos à procura do mesmo.
Estes dois dias foam também dedicados às compras. Sentada num Pret à Manger perto do WTC avisto o já mais alto edifício de NY. Não pára de crescer. Em frente tenho um “buraco” entre prédios revestido pelos nomes de muitas cidades do mundo.



No dia seguinte mais compras. Uma ida a West Village, outro mundo. Almoço no Fish. Seis ostras, um copo de Merlot e uma sopa de peixe. Vou arrefecer para a montra exterior da Book Book, onde se encontram verdadeiras pechinchas. Uma livraria pequena na Bleecker street que era conhecida como “Biography Bookshop”. Quando a cara e as mãos já não aguentam entra-se e encontra-se outras tantas perdições. Por cada livro que se compra colocam um marcador. Sigo pela Bleecker em direcção à W 11th street. Entro na Bookmarc onde se encontra sempre excelentes livros de arte, mesmo em frente tem uma Magnolia, que hoje pela hora ou por ser dia de semana não tem fila de turistas. Mesmo ao lado entro na Marc Jacobs e invisto na prenda da minha afilhada. Como não podia deixar de ser, vou ao 11thstreet Cafe. Tem excelentes omeletes de cebola e coentros e tem wireless. Passei muitas horas a escrever aqui e só boas memórias. Uma passagem rápida por Times Square, entra-se num Starbucks para aquecer... Segue-se para jantar ramen na Broadway com a 125, perto do Main Campus de Columbia, Jin Ramen Noodle Bar. Que bom! Sake é que não é comigo, nem quente nem frio!









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