Nunca tive animais de estimação. O meu pai sempre teve peixes
e tartarugas. E tivemos um canário que se chamava Francisco. De resto, tirando
os cães dos meus avós na infância, a minha experiência era quase nula. Quanto a
gatos, durante anos detestei-os porque quando tinha 3 anos, para largar a
chupeta, que eu fazia questão de a perder por todos os cantos, os meus pais
decidiram culpar o gato da minha avó. Levaram-me a acreditar, tal era o vício
da chupeta, que o gato tinha feito cocó nela. E do que é eles se lembraram? De
colocar café em pó molhado em cima da chupeta... Durante dias o gato não pode
aproximar-se de mim. E durante anos tive essa injusta aversão a gatos. O pobre
do gato não teve culpa nenhuma...
Anos mais tarde conheci gatos adoráveis que até pareciam
cães. E ainda tinha a esperança de poder ter um. Mas com a desculpa de durante
o doutoramento não ter horas para nada, as viagens serem muitas e o meu poiso
mudar a cada 6 meses, desisti da ideia.
Racionalmente, eu sou a pior pessoa para ter animais domésticos.
Vivo num apartamento pequeno, passo pouco tempo em casa, gosto de liberdade,
gosto pouco de ter amarras, gosto de fazer o que me apetece e muitas das vezes
sem planos... Agora, vejo-me com a Bu, uma cadela bebé que não deve ter mais de
4 meses e não chega aos 5 kgs. Acho que ela deve passar o dia a dormir. Se não
passa, deve sofre de insónias, como eu. Passa as noites a abanar com o rabo
sentada à porta do meu quarto. Quando me apanha a dormir tenta subir para a
cama. Quando estou acordada, nem se atreve a entrar no quarto. Quando tomo o
pequeno-almoço partilho o pão com manteiga. No início comia tudo. Agora lambe a
manteiga e deixa ficar o pão. Um dia deste deixei cair leite com café no chão.
Nos segundos que demorei a limpar o chão descobri que também é uma grande
adepta! Quando não faço o que ela quer, gane. Quando quer ir à rua gane também.
Acabei por descobrir a diferença baseada nas horas.