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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

E para isto fomos feitos

Em jeito de balanço, como todos os finais e/ou inícios de ano. Para mim, pessoalmente, 2016 foi um ano (muito) bom. Com muita saúde, alegrias, conquistas, descobrimentos e a maior das alegrias na minha vida que custou muitas lágrimas e muitas tristezas nos últimos 4 anos. Mas felizmente, a razão ganhou e a justiça fez-se. Ninguém vai conseguir tirar-me esta alegria, este sentimento de plenitude e sorriso na cara. Duas mortes de pessoas muito próximas tocaram-me muito. E embora a morte seja para mim (ainda) incompreensível, é a única inevitabilidade na vida. No entanto, a forma como viveram e a sua dignidade perante a morte e a forma como a família se lhes dedicou foram uma lição de vida para mim.

Quanto a mortes mediáticas foi o annus horribilis actores: Alan Rickman,  Carrie Fischer, David Bowie, Prince, Leonard Cohen, George Michael, Ivo Pitanguy, Umberto Eco, Ferreira Gullar, Muhammad Ali, Fidel Castro, só para citar alguns.

Costa conseguiu o que ninguém acreditou. Nem os mais optimistas ousaram acreditar. E por mim, tem o meu aplauso. Esta capacidade de diálogo e conseguir consensos entre partidos fora do arco da governação é um feito. Costa, se não conseguir mais nada, ficará na história por isto. Quanto a números, economias e finanças, não percebo nada. Mas tenho muitas dúvidas que o país se tivesse tornado, de repente, num caso de sucesso, dando tudo a todos.

No entanto, acho que o tempo de Passos Coelho terminou. Passos Coelho foi a pessoa errada na hora errada. Ganhou as eleições mas não foi Primeiro-Ministro por muito tempo. Esta nova táctica de jogar está a ser pela primeira vez testada na nossa democracia. Como ganhou mas o parlamento nomeou outro Primeiro-Ministro, mesmo sem culpa alguma, Passos deveria ter feito o que Portas fez: dar o lugar a outro. Teria uma saída pelo seu pé e (pelo menos) aplaudido pelos seus. Mas não, à boa maneira dos teimosos, preferiu acreditar que os ventos soprariam a seu favor e que a história não demoraria muito a dar-lhe razão. Puro engano. Os ventos não sopraram a seu favor, o Presidente Rebelo de Sousa tornou-se (se não) um aliado não se tornou um obstáculo para o governo, o défice parece ter-se cumprido, os feriados voltaram, as pensões aumentaram, os ordenados descongelaram. Tudo para todos. E a hora de Passos sair pela Porta pequena e empurrado não tardará a chegar. Esta é uma lição para quem acha que existe justiça na política. A política, tal como a vida, não é feita de justiça mas de jogadores mais aptos.

Frederico Lourenço ganhou o Prémio Pessoa. Admiro-o principalmente pela suas crónicas. Os homens em maioria , sempre. Mas esta premiação tem um valor especial. É um homem especial, bonito, professor (na mais Clássica e antiga das nossas Universidades, Coimbra), homossexual assumido e casado. Numa altura em que ainda existe gente a ser morta pela sua orientação sexual, exemplos destes contam. E fazem a diferença. O casamento entre todas as pessoas é legal. A co-adopção é legal. As crianças já podem ter dois pais, ou duas mães, ou um pai e uma mãe. A adopção é legal para toda a gente, independentemente do género e estado civil. Há, pois, que mostrá-los, falá-los, generalizá-los. Existe, é comum, é normal.

2017. Olhar em frente. De cabeça erguida. Sem arrependimentos. Sem olhar para trás. Sem palavras que ficam por dizer. Optimismo. Sempre um copo meio cheio. Tudo é um recomeço e não um fim. Sem mágoas e sem rancores. Alegria agora. Agora e amanhã. E depois e depois de amanhã. À espera do melhor que ainda está por vir! (Re)inventar(-me)! Paz no mundo!


“Para isso fomos feitos
Para lembrar e sermos lembrados
Para chorar e fazer chorar (...)”

Vinícius de Moraes

terça-feira, 17 de junho de 2014

Seguro vs Costa

A política, como espectadora, é uma das coisas que gosto. Debates, discussões políticas, programas políticos. Programas de governos. Tudo à distância de uma televisão, de um rádio, de um livro ou de um computador. Biografias políticas. Histórias políticas. Política activa nunca mais. A não ser que um grande amigo se meta nisso. Fora isso, a minha participação activa é um zero absoluto.

Não me lembro em 35 anos de tamanha revolução num partido político. Nem quando Santana Lopes esteve à frente do governo, quando foi nomeado e não eleito, quando a ala cavaquista aproveitou para quase o aniquilar politicamente. Ele disse que ia andar por aí e por aí continua. Nem quando a Joana Amaral Dias apoiou e foi mandatária de Mário Soares quando estava vinculada ao Bloco de Esquerda. Nem quando Paulo Pedroso foi preso e depois libertado e saiu como um herói na então liderança de Ferro Rodrigues. Catástrofe idêntica ao momento actual que se vive no PS, só a morte de Sá Carneiro, da qual não me lembro mas sobre a qual estou bem informada. Foi talvez sobre a pessoa que mais biografias li. Acho que li tudo o que existe sobre ele.

António José Seguro teve a pior votação do PS nas Europeias desde que me lembro de ser gente (31.5%). Sobre isto podemos fazer uma tese. Mas como tenho poucas linhas, vou abreviar. Um líder do maior partido da oposição, numa situação de pós-crise e incrível austeridade, consegue somente mais 3% do que a coligação de governo. Seguro argumentou dizendo que não. A coligação é constituída por dois partidos. É verdade. Mas também é verdade que este é o governo mais odiado que há memória em Portugal. E mesmo assim, o PS conseguiu apenas, mais 3%. E na minha opinião o PS tinha obrigação de ter conseguido mais. Claro que sim. Se não uma maioria absoluta, qualquer coisa próximo disso. Os portugueses mostraram com isso duas coisas: que nem toda a gente odeia o governo e que existe muita gente que não acredita no actual PS, ou pelo menos neste líder, para liderar uma mudança em Portugal. Eu, no lugar do governo e do PSD estaria radiante: 27,7% depois de tudo....

Nunca acreditei politicamente no António José Seguro. Não sei dizer qual a razão. Nunca foi um político carismático. Vem das jotinhas. Não se lhe conhece outra profissão que não tenha sido a política. Foi um boy do Guterres.  Foi e é um líder de oposição péssimo. Tirando isto, não tenho muito a criticar. É-me indiferente. Como propostas políticas para o futuro do país, afirma que não vai aumentar impostos e que vai repor os salários. Vai revogar a decisão de alterar o mapa judiciário. Reduzir o número de deputados.  Exclusividade dos deputados. Concordo com todas as propostas. Mas são estas propostas de governo? “Apenas” isto vai mudar alguma coisa?

No entanto, não acho Seguro arrogante como Sócrates. Acho que é melhor pessoa. E tenho-o como uma pessoa séria. Mas carisma, não é de facto, o seu forte. Está rodeado de algumas pessoas que parecem muito bem preparadas, como por exemplo o Eurico Brilhante Dias, que não tenho dúvidas que dará cartas no futuro.

Concordo com Seguro quando ao timing de António Costa se candidatar à liderança do PS. Façamos o exercício de concordarmos. António Costa teve duas oportunidades para ter assumido a liderança e das duas vezes solidarizou-se com o líder. Seguro fez o caminho das trevas, assegurou a liderança do maior partido de oposição pós-Sócrates. Desgastou-se. Fez o trabalho mau. E agora vem o António Costa, qual D. Sebastião, apontar para lá do nevoeiro. Concordo que Seguro possa estar magoado, triste e inseguro.

Seguro, na minha opinião, perdeu toda a credibilidade quando se recusou a convocar um congresso. [Eu adoro congressos. Discursos noite dentro. As televisões generalistas começam as televendas mais tarde, o que é óptimo para insones como eu. E depois da tempestade regressa a bonança. E ficam todos amigos, novamente]. Agora, tenho muitas dúvidas sem resposta. Primárias? Com militantes e simpatizantes do PS? Que critério define um simpatizante do PS? Não realizar-se um Congresso? A possibilidade de ter um Secretário Geral diferente do candidato a Primeiro-Ministro? Seguro acredita mesmo que conseguirá ser Primeiro-Ministro?

António Costa. Ministro dos Assuntos Parlamentares e da Justiça dos governos de Guterres. Ministro de Estado e da Administração Interna do governo de Sócrates. No CV diz que a sua actividade profissional é advogado. É presidente da Câmara de Lisboa desde 2007. Juntou Helena Roseta e Sá Fernandes na sua lista. Conseguiu acordos até com o PSD na Câmara. Acho que fez um trabalho muito visível na Câmara de Lisboa e isso vê-se pelos 51% conseguidos.  É muito simpático. Tem carisma. Participa no “Quadratura do Círculo”, programa que adoro. Dizem que é um homem de consensos. Diz que quer mobilizar Portugal. Não se envolve em ataques pessoais. É politicamente correcto.  O que posso eu dizer? Li as 4 páginas de apresentação da candidatura. Diz que o país precisa de uma mudança. Concordo. Diz que se tem de reverter a situação económica e social do país. Concordo. Não diz como o vai fazer. Atribui a situação do país ao alargamento a leste, da entrada da China no mercado Europeu e da falta de resposta da Europa em relação à crise. Concordo. Orgulha-se da visão do Governo liderado por Guterres e do impulso reformista de Sócrates. Não poderia renegar o seu passado. Fala em voltar a investir na Ciência e na Cultura. Não podia concordar mais. Um país sem ciência e sem cultura é um país pior. Refere a necessidade da modernização do Estado e do Tecido Empresarial. Não explica como fará estas mudanças. Faz política sem atacar. Não faz críticas ferozes, nem ao Governo nem à actual liderança do PS. Gostei do que li, mas não chega. Espero um programa mais completo para poder pronunciar-me. Está rodeado de pessoas muito capazes e isso é visível por algumas das pessoas da sua equipa na Câmara de Lisboa. Não sou do PS. Nunca votei no PS. Gosto do António Costa. Fico à espera que me convença.

Como é que todos os apoiantes da candidatura de António Costa, que também são membros da direcção da actual liderança, não se demitem? Tenho para mim que não podemos ser do Benfica e do Porto ao mesmo tempo!

António Costa está a fazer o melhor dos favores a Seguro. Mais vale perder com um camarada do partido do que perder as eleições legislativas com Passos Coelho. Pelo menos, a saída não é degradante. A minha questão é se António Costa passa no escrutínio do PS, das bases, dos militantes e dos simpatizantes (seja isso o que for). E o país assiste ao longe a este circo. Até Setembro neste limbo. Quem lucrará com isso?

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