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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Web Summit

A coisa que mais sinto falta, no momento em que vivo numa cidade pequena e cuja característica não é ser propriamente ser académica/universitária, é ouvir pessoas com algo (realmente importante) para dizer. Discutir o mundo, a metafísica, os grandes problemas da humanidade, pensar. De preferência  que não seja na minha área. Lazer, dizem. (Definição de lazer: tempo de folga, de passatempo, de ócio, de descanso, distracção ou entretenimento, de uma pessoa). Em qualquer conversa com pessoas que pensam e falam bem aprendo qualquer coisa. E tenho gostado, particularmente, de ouvir falar sobre coisas que não domino.

Web Summit (re)lembra-me isto. De facto, o pior a apontar é o folclore e  a nova profissão de gente que não encaixa em lado nenhum mas que luta pela sua sobrevivência. Empreendedores, chamam-lhes. Pequenas empresa que abrem e fecham à velocidade do som ou da luz. Que não geram nada a não ser uma ideia cheia de ar. Eu sei que o conceito é bom a querer imitar o suposto sucesso das start up de Sillicon Valley em que um geek atrás de um computador é capaz de muita coisa. Ou a ideia revolucionária de alguém sem horário, nem lugar,  sentado num café em São Francisco ou em NY, como tantas vezes vi, gerir milhares de coisas, pessoas e ainda gerar muito dinheiro. Mas isso não é para todos e, muito menos, ao alcance de todos. Empreendedor, palavra que detesto, é uma palavra simpática para “vendedor da banha da cobra”. Eu ouço a palavra e apetece-me logo fugir. Não duvido nem quero comentar o encaixe financeiro para Lisboa de um evento como a Web Summit . A histeria dos preços proibitivos de/para Lisboa falam por si. Ou o êxtase colectivo da abertura que mais parece o festival da canção ou um mundial de futebol. O primeiro-ministro (PM) e o Presidente da Câmara de Lisboa, a abrir o evento e cada um a ler o seu discurso inglês foi de chorar. Se fosse de improviso, eu até admitiria o “bad english” (para citar o outro no discurso em Columbia University) mas a ler...  E o nosso PM até tem uma (boa) voz. O outro lado, pior, é lembrar-me as TED talks que só a palavra dá-me náuseas. Ainda se lembram daquele personagem que o Relvas foi buscar  porque o viu no YouTube? Este é o lado negro do empreendedorismo. As pessoas que se aproveitam da desgraça dos outros. Que se fazem pagar por um discurso vazio, carregado de soundbytes, de falso optimismo, de promessas de milagres mas que produz um efeito imediato que não se traduzirá em nada no futuro. A falsa sensação de felicidade momentânea.

Mas a Web Summit tem o outro lado que invejo muito. E só não estou lá porque i) não tenho (mais) férias para tirar, ii) os preços são tão absurdos que dava para ir uma semana para o Rio de Janeiro ou NY. Concordo com a definição do João Miguel Tavares no Público A Web Summit é a Igreja Universal do Reino da Tecnologia, e Cosgrave o seu pastor”. Só invejo o número (bom) de oradores de qualidade que ele consegue reunir num evento (a quem provavelmente paga ao preço do ouro). Mas, infelizmente, para mim, a província é isto. É não ter lançamentos semanais de grandes livros, nem lectures/talks de pessoas que têm algo de importante a dizer e ensinar, não nos cruzarmos com os melhores, não ter que optar porque não se pode estar em todo o lado ao mesmo tempo, a tal impossibilidade da ubiquidade e omnipresença. É isto que me faz falta. Quando estava em NY, o meu laboratório não era no Campus principal , onde vivia. Eu trabalhava no Columbia Medical Center onde estavam os hospitais e não (necessariamente) os intelectuais. Mas depois ia muitas vezes para a Low Library, ainda mais bonita para mim do que a New York Public Library em Bryant Park e sentava-me de braços cruzados só a olhar. Aquela ideia absurda mas romântica de que aqueles livros, que também são a história literária dos EUA, nos penetravam por osmose ou telepatia. Acontece-me muito isso, ir aos sítios onde pessoas que me interessam andaram, viveram, escreveram e morreram. Estar apenas e perceber o que poderiam ter sentido. E acontece-me isso, ainda, com pessoas que admiro. Partilharmos os mesmos metros quadrados e respirarmos o mesmo ar. Não precisamos falar. Precisamos apenas de estar juntos ali, e guardar isso na memória, não um filme ou uma foto no iphone. Um dia, numa conferência, ouvi o Siddhartha Mukherjee dizer que tinha ido à casa da Emily Dickinson em New England para perceber como é que aquela pessoa, apenas através daquela janela e naquele mundo tão recôndito, foi capaz de escrever aquela poesia. É assim que a minha vida é. De um nome vou para outro, conheço outro, um lugar, uma cidade, um hotel, uma memória, um pensamento, uma ideia, como um novelo que se desenrola num mar imenso, sem fim.


São momentos, instantes, interesses novos e diferentes que fazem a vida ter sentido. Se a Web Summit é o interesse alvo para muitos qual o problema? Há quem preferira Álvaro de Campos a Alberto Caeiro. Que bom, não?

sábado, 4 de outubro de 2014

Liberdade e digital: a perspectiva empresarial

3 de Outubro. O 3º Encontro Presente no Futuro da Fundação Francisco Manuel dos Santos começou, para mim, com o debate "Liberdade e digital: a perspectiva empresarial". Muito bem moderado pelo Luís Pedro Duarte (que eu não conhecia) que é o director financeiro da Accenture. O painel era constituído pela Graça Fonseca, licenciada em Direito, Mestrado e Doutoramento em Sociologia, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa com os pelouros de Economia, Inovação, Educação e Reforma Administrativa.

Gonçalo Morais Leitão entertainer, que já fez de tudo um pouco: animador, homem-sanduíche, porteiro, publicitário, até que encontrou a profissão com que sempre sonhou depois de um curso de apresentador e começar na  Sic Radical o programa Filho da Pub.

Eugénio Apolo formado em programação, já foi professor, programador e já participou em vários projectos relacionados com internet até que chegou o momento de criar o cryptoescudo (a moeda portuguesa electrónica). Actualmente dedica a totalidade do seu tempo na gestão desta moeda virtual. Diz que a moeda electrónica pode ajudar a pagar a dívida do país. “Há quem pense que o cryptoescudo podia ser a nova moeda oficial portuguesa”. “Um cryptoescudo está a quase nada, o que é a parte interessante da coisa, só pode melhorar”. Recuso-me a fazer comentários sobre estas afirmações porque ainda vou ser acusada de difamação.

Tinha que escolher esta sessão e “A liberdade constrói-se?”. Como faço sempre más escolhas, decidi-me por esta. Só conhecia a Graça Fonseca e como foi a única que falou alguma coisa de jeito (para além do moderador), o entusiasmo e o optimismo que carrega nas palavras, já valeu a pena. Falou-se do caso de sucesso da STARTUP LISBOA (que criou 900 postos de trabalho), da qual é presidente, e que resultou de uma proposta do orçamento participativo. Foi uma das propostas mais votadas de 2009 (pelos vistos, nem sempre o povo escolhe mal). Falou que o objectivo da CML não é ser empreendedor porque esse não é o papel das entidades públicas, mas criar as condições para que as pessoas possam empreender: encontrar parceiros, espaços e sobretudo, confiança. Referiu, também, que as crises têm sempre um lado bom: “Estas são alturas em que as entidades públicas e privadas têm que reconfigurar para as ideias que estão a surgir e para pessoas que querem ousar”.  Falou-se também dos estrangeiros que a STARTUP LISBOA atrai. “os portugueses são óptimos a não gostar do que temos e os estrangeiros são óptimos a gostarem imenso do que temos”. As decisões que as pessoas tomam no que respeita a mobilidade tem a ver com a qualidade da cidade, segurança, equipamentos para os filhos, acessos fáceis e qualidade das infraestruturas. Terminou a sugerir duas coisas: 1) introduzir nas escolas a obrigatoriedade das crianças para programar nas escolas (Graças a Deus que já acabei a escolaridade obrigatória!!!); 2) jovens desempregados licenciados por ex em História e aprenderem a programar. Graça Fonseca mostrou que tem humor e soube falar claro e inteligentemente no meio de pessoas que não estavam ao nível dela.



A única coisa que o Gonçalo Morais Leitão disse de jeito foi que em época de crise é uma boa altura para se questionar tudo. Mas depois veio com a pergunta retórica de quem é que naquela sala continuava a fazer o que fazia se lhe saísse o euromilhões. No caso dele, que foi simples diga-se, descobriu o curso que tinha que fazer na net (?), contactou o Pedro Boucherie Mendes (director da Sic Radical) por email...é o que se pode chamar de “gajo com sorte”. Vamos lá todos questionar o que fazemos, não ligar para o dinheiro, tirar um curso na net e fazer uns contactos por email. Acabaríamos todos indigentes! Neste caso particular (que deve ser menor do que a prevalência de doenças raras no mundo), o digital foi a “única” forma de alcançar o sucesso. “O dinheiro é importante mas mais importante é fazer aquilo que se gosta”. 


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