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terça-feira, 18 de junho de 2013

Os professores

Fiz todos os meus estudos até à universidade num colégio privado. Hoje não vou debruçar-me sobre as vantagens e desvantagens. Tive sempre a mesma professora na primária, desde a 1ª até à 4ª classe. Os métodos dela, para a época (anos 80) e para a idade que ela tinha (entre os 20 e muitos e os 30 e poucos), eram muito severos. Usava o castigo físico em demasia, ora as orelhas, ora as reguadas com uma régua de madeira, até à moderna (lançamento inovador na altura)  régua de plástico flexível que nunca partia. A violência física era transversal, nem os bons alunos escapavam. Ninguém estava a salvo. Gostava de encontrá-la para lhe perguntar se ainda continua com estes métodos pouco ortodoxos. Tirando este pormenor (o adjectivo fica ao critério de cada um) era uma excelente professora no que respeita ao método de ensino. Nessa altura decoramos o poema, que sei de cor até hoje:

“Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.

Será chuva? Será gente?

Gente não é, certamente

e a chuva não bate assim”(...)


Adiante, depois no ciclo tive outros professores que me marcaram positivamente. Uma professora de Português que nos incentivava a ler fora das aulas e a anotar as palavras num caderno. Os significados eram adicionados com recurso a um dicionário. Até hoje uso um dicionário. Desde a primária que nunca dei muitos erros, mas sem dúvida, este método ajudou imenso. Foi também com esta professora que eu descobri o gosto da leitura. Tivemos outra, que os meus amigos que andaram no colégio se recordam, que nos obrigava a fazer cópias em cadernos de duas linhas para termos a letra bonita!
A Matemática, acho que no 8º ano, tivemos um professor que era Capitão do Exército. Era super engraçado. Corria toda a gente com negativas mas era muito boa pessoa. E tinha por hábito destruir os livros de ponto e sujar a roupa toda com giz. Quando fazíamos barulho pegava no livro de ponto, batia com ele em cima da secretária e gritava: “Calou, porra!”.
Mais tarde, tivemos um professor, também de português que era padre e Professor na Católica. Adorava latim e Gil Vicente. Até hoje detesto essa língua morta e Gil Vicente. Contudo, adorava o “Principezinho” que analisamos até à exaustão. Nessa altura achei o livro muito desinteressante. Anos depois, reli-o várias vezes e sei trechos de cor. Este professor proibia-nos de ler os cantos dos Lusíadas referentes à Ilha dos Amores. Contudo, digo até hoje o primeiro canto: “As armas e os barões assinados/ que da ocidental praia lusitana/ por mares nunca dantes navegados...”. E o “Mar Português” de Fernado Pessoa é outro dos exemplos que decorei nessas aulas e que sei até hoje.

O Padre Fernandes foi quem mais nos incentivou à leitura em voz alta nas aulas. Quase que só fazíamos isso. Lembro-me do dia que morreu Miguel Torga, foi como se lhe tivesse morrido uma uma pessoa da família. Adora Eugénio de Andrade. E tinha a maior biblioteca que alguma vez conheci. Andava sempre com livros e todos eles dobrados e com pequenos papelinhos a fazer marcações.

Ontem, no dia em que os professores fizeram greve, que é um direito que lhes assiste, lembrei-me destes meus mestres. Eu lembro-me nitidamente que os meus amigos que andavam nas escolas públicas, os professores faltavam muitas vezes. Naquele tempo invejávamos estas baldas...nós nunca as tínhamos. A verdade é que nos colégios privados não há greves. O que eu tenho a dizer é que os professores das escolas públicas foram sempre uns privilegiados ao longo dos anos, e agora, como estão a deixar de ser intocáveis usam da pior arma, não a greve, mas os alunos. Quantas horas trabalhava um professor? Como é que era avaliado? Os salários sempre subiram, não por mérito, mas por anos de serviço. Quanto tempo de férias tinham? Era férias no Natal, na Páscoa, 2 a 3 meses no verão... Claro que estão descontente s porque quem não se sente não é filho de boa gente. Mas o que queriam? Se toda a sociedade portuguesa está a ser afectada transversalmente, achavam que se mantinham intocáveis? Esse Mário Nogueira, que só fala e não diz nada, se eu fosse professora tinha vergonha de o ter como porta-voz. Que experiência de docência tem este senhor? Viveu a vida toda a receber um ordenado de professor sem sê-lo. E eu termino com o meu agradecimento profundo aos meus mestres que tanto me marcaram, tendo a certeza que a profissão de professor é tão nobre.


segunda-feira, 5 de março de 2012

Os significados


Tenho há muitos anos o hábito de usar dicionários. Há muitos anos, andava eu no 5º ano (nem sei se se diz assim), tive uma professora de português que me marcou para sempre. Nessa altura ela criou o "Clube de leitura" que era uma espécie de biblioteca. Cada pessoa levava alguns livros e depois eram trocados. O objectivo era ler, sumarizar a história e apontar as palavras que não sabíamos os significados. Para isso, tínhamos um caderninho especial (nem sei onde anda nem onde se comprava) mas consigo imaginá-lo claramente. Havia um prémio para quem apontasse mais palavras e o respectivo significado. Nesse "Clube de leitura" fomos incentivados também a criar a nossa própria história em grupo. 

Hoje, com a devida distância, consigo perceber o quão revolucionárias foram estas horas extra-curriculares. Na pré-adolescência já tinha lido quase todos os livros do Eça de Queiroz e um livrinho de significados acompanhou-me sempre.  Desde essa altura que leio sempre com um lápis na mão e sublinho os livros (li que a Susan Sontag fazia o mesmo). E nunca este “Clube de leitura” esteve tão actual para mim agora que vivo em NYC. As diferentes livrarias, universidades, associações estão repletas de “Book clubs”. Pessoas que gostam de ler, que querem ler, e que gostam de perder tempo a discutir o que leram. 

Aqui em NYC fico sempre muito comovida com a quantidade de pessoas que  lê no metro.  Ok, há dois tipos de pessoas: os que passam o tempo a ler e os adeptos da electrónica (inclui BBs, Iphones, ipods, leitores de música em geral). Nunca reparei se em Lisboa as pessoas têm este hábito de leitura. E outra coisa que reparo é que as pessoas lêem boa literatura. E como agora quase só leio em inglês para além de ter os livros todos rabiscados, contorno as palavras que não sei o significado. Eu, ao contrário de muita gente, tenho uma ligação sentimental com os meus livros, conheço-os pelas capas, sei as anotações que faço, quando os li, o lugar onde estão, colecciono marcadores de livros dentro deles...é por esta razão que ler os meus livros pode não ser agradável à vista. 

Que me desculpem os defensores das novas tecnologias mas o toque e o cheiro dos livros ninguém os substitui. Com tantas discordâncias culturais e a vários níveis com os nativos, é uma felicidade viver no país que viu nascer os melhores escritores do mundo (para mim): Ernest Hemingway, F. Scott Fitgerald, Irving Wallace, Dylan Thomas, Don Delillo, Tennessee Williams,  Gertrude Stein, Elizabeth Bishop, Susan Sontag, Michael Cunningham.

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