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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Portátil by Porta dos Fundos

Há mais de um mês que tinha comprado os bilhetes. Na altura já ouvira falar que escolhiam uma pessoa da plateia para interagir com os actores. Com o pânico de poder ser a escolhida (já que achava que seriam os actores a escolher), os lugares que comprei não tinham acesso directo nem ao palco nem à plateia. Como seria de esperar, pelo sucesso da Porta dos Fundos, os bilhetes esgotaram rapidamente.

No dia antes do espectáculo vi uma entrevista com o Gregorio Duvivier na Sic Notícias e percebi, que ao contrário do que pensava, a pessoa do público não seria escolhida pelos actores mas seria voluntária.

Como (quase) sempre, não sabia para o que ia. Nem sabia o que me esperava. Pois bem, Portátil é um espectáculo de improvisação com os actores Gregório Duvivier, João Vicente de Castro, Luís Lobianco e Gustavo Miranda e que conta com a ajuda de um pianista. O cenário é simplesmente um tapete branco, uma tela gigante e quatro cadeiras e os actores estão magnificamente vestidos de Gilda Midani. Nos primeiros minutos os actores dizem o que estão a fazer e apresentam-se, arrancando do público muitas gargalhadas:
- Quando era pequeno eu queria ser grande (Gregorio Duvivier)
- Quando eu era criança eu não queria estar na plateia, queria estar no palco (Luís Lobianco).

A partir daí, começam a fazer perguntas à plateia: “quem é português?”, “quem nasceu em Braga?”, “quem tem filhos?, “quem não tem filhos mas gostaria de ter?”... Depois pedem voluntários.

No Theatro Circo, foi escolhida uma senhora de meia idade a quem foi feita uma breve entrevista na qual falou sobre como os seus pais se conheceram, onde vivia, família, trabalho e o seu maior sonho. Este é o ponto de partida para a peça de improvisação que os actores farão ao longo de 60 minutos. Basicamente, a peça será a história daquela pessoa, resumindo a sua vida. A pessoa escolhida em Braga era chamava-se Luísa brasileira, os pais conheceram-se na Ponta do Caju no Rio de Janeiro, o pai era motorista de ministério e a mãe tecelã, o pai era “brabo” feito “siri na lata”, adorava brincar no milharal, em criança tinha um amigo imaginário, era apaixonada pelos personagens de Monteiro Lobato, era aposentada mas trabalhou como funcionária pública, o maior defeito era dormir muito e acordar tarde e a maior virtude era o senso de localização (como um pombo), era turista em Braga e estava acompanhada pelo genro, o seu maior sonho era voar.

Eu estou a escrever este texto e estou a rir à gargalhada. Eu não me lembro da última vez que me ri tanto como nesta peça. A minha opinião: quem tiver oportunidade, assista. O dinheiro mais bem dado dos últimos tempos.


Sobre o Theatro Circo, Gregorio Duvivier disse ser o “teatro mais bonito do planeta”. 




quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Uma noite na lua

Conhecia o Gregorio Duvivier do “Porta dos fundos” e do evento “Minha língua, minha pátria”, organizado pelo jornal Público em São Paulo, numa conversa com a Matilde Campilho. Ontem, quando fui ver “Uma noite na lua”, sabia apenas que era um monólogo. Nada mais. Chegámos em cima da hora e os nossos lugares eram na primeira fila. Começou pontualmente às 9:30. Tudo escuro e apenas fumo. Depois, a luz ilumina-o. Só isto. Ele vestido de fato, gravata, um sobretudo e um chapéu. E a luz. O cenário é só isto. Minimalista. E durante minutos a frase que ele mais repete é: “Sou um homem em cima do palco pensando”. Nestes minutos ouço muita gente a rir-se. E eu, entre a surpresa de ouvir risos e não perceber porque é que eu não tinha vontade de rir, comecei a achar que o defeito era meu. O resto, é uma interpretação incrível. Fenomenal. Magnífica. A iluminação e a interpretação são quase tudo nesta peça. O tema é tão simples como a luta para reconquistar uma mulher, a Berenice. E mais do que a vontade com que ficamos de nos apaixonar é a vontade de ser uma Berenice por quem este personagem é tão devoto. Que loucura é estar apaixonado e ser deixado. Que doença é essa que não nos larga, que só vemos o objecto de adoração. Tudo pára. Ou tudo parece parar. Nada importa. Só captar a atenção dela, a Berenice. Dudivier canta, dança, grita, deita-se no chão, imita o som do telefone e do aspirador e da música. E quando termina parece ter saído de um mergulho, embora não existisse água em palco. O cepticismo inicial e a surpresa dão lugar a um grande sorriso. Não acredito que alguém tenha saído defraudado. Mais que não seja que o amor é o grande veículo do mundo. Toda a gente sai de coração cheio.

Copyright: Gregorio Dudivier



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