terça-feira, 11 de novembro de 2014

A liberdade tem género?

4.10.14. “A Liberdade tem género?”, o debate entre Paulo Côrte-Real, Sofia Aboim e o Pe José Manuel Pereira de Almeida, moderados por Maria Flor Pedroso. Não foi uma conversa polémica. Os três intervenientes concordaram entre eles. Faltou a parte do contra. Este Padre, como se sabe, é muito moderno e simpático. A Sofia Aboim, que eu não conhecia, parecia saber do que estava a falar. E o Paulo Côrte- Real não acrescentou nada de novo ao habitual. Continua a ter uma das vozes mais bonitas que conheço. O que me deixou chocada foi a pergunta de uma adolescente, supostamente do séc. XXI, mas com mentalidade medieval. A questão dela foi colocada directamente ao Paulo Côrte-Real e foi assim(sobre a liberdade dos casais homossexuais poderem adoptar):  “Eles têm a liberdade de poder adoptar mas uma criança precisa de uma versão masculina e de uma versão feminina. Mesmo que seja a morte de um pai precisa sempre de um exemplo masculino. Não estamos a sobrepor um bocado a liberdade do casal de poder adoptar com a liberdade da criança poder escolher poder ter uma visão masculina e feminina?”. O que mais me chocou foi ouvir palmas na sala, numa cidade com fama de cosmopolita, sendo uma cidade do mundo, e supostamente aberta ao novo.




terça-feira, 4 de novembro de 2014

Correr atrás do amor

Uma grande amiga disse-me estes dias que vai correr atrás do amor dela. Não o desperdiçou nem lhe virou as costas! Às vezes tenho orgulho das opiniões que dou e de como elas influenciam positivamente a vida dos meus amigos! Parabéns, A! Vai correr tudo muito bem! E lá vou eu conhecer mais duas cidades deste mundo!

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Quem perdeu foi o Brasil

Nunca morri de amores pelo PT, pelo fenómeno "Lula", nem pela "presidenta" Dilma. Contudo, concordo que nos últimos 3 mandatos PT, muita gente saiu do limiar da pobreza extrema e a classe média cresceu no Brasil. Falta saber a que preço. E quanto tempo irá durar. Acho que 3 mandatos do mesmo partido no poder só criam maus vícios. O que deixou o Brasil a optar pelo "mal menor" foi o Aécio. Faço minhas as palavras do Benjamin Moser (autor da biografia de Clarice Lispector e talvez o americano que melhor fala do Brasil): "o Aécio com sua cocaína, sua atitude de filho-de-coronel, suas falas, nos Estados Unidos, que a mulher brasileira só vai à praia e faz compras, sabe o que eu vejo? George W. Bush, edição tropical".

Os pobres no Brasil

Grande texto. As desigualdades gritantes do Brasil aos olhos do mundo: «No Brasil, pobre não tem direito a artigo nem plural. Só "pobre (...) Os privilegiados e os "fudidos", como por vezes se escreve no Brasil, uma vez que há aqueles que nem merecem a vogal certa. (..) mesmo a vida dos que deixaram de ser oficialmente pobres continua impedida pelo descaso das autoridades e pela estrutura de castas. Horas de martírio para ir de casa para o emprego, medíocre prestação do Estado na saúde e educação, corrupção, favoritismo, discriminação, desamparo e muito pouca mobilidade social». Felizmente, Portugal apesar da crise e apesar do crescimento da pobreza infantil não tem este tipo de diferença social e de estigma. Espero que este tipo de (in)diferença nunca chegue cá. O texto completo escrito pelo Hugo Gonçalves no DN: 

"No Brasil ser pobre é ter o destino traçado na palma da mão, um estigma quase sempre vitalício. No Brasil, pobre não tem direito a artigo nem plural. Só "pobre". Um dia disseram-me: "Não vou na praia, está cheia de pobre." Pobre é desdentado. Mesmo o astro literário Nelson Rodrigues - que vestia o mesmo casaco puído dias a fio e que tinha mil trabalhos para pagar as contas - não conservava um dente na boca antes dos 40. Mas os pobres - mesmo pobres - que não mudaram a dramaturgia do Brasil como Rodrigues, sempre foram desdentados perpétuos sem esperanças de glória ou justiça, párias cujo desmerecimento e a exclusão vão muito além da falta de dentes.
"Pereba, você não tem dentes, é vesgo, preto e pobre, você acha que as madames vão dar pra você? Ô Pereba, o máximo que você pode fazer é tocar uma", diz uma personagem em Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca.
Pobre é preto - mesmo quando é branco. Pobre vale menos. Às vezes vale nada. A escritora americana Julia Michaels, com 30 anos de Brasil, escreveu que uma mulher fofocava com as amigas sobre o namoro da sua empregada e, quando perguntaram se a empregada era bonita, a patroa respondeu: "Para eles é." Nós e eles. Quem manda e quem obedece. Os privilegiados e os "fudidos", como por vezes se escreve no Brasil, uma vez que há aqueles que nem merecem a vogal certa.

Questionei uma amiga sobre o motivo de alguns anúncios de TV terem o som bastante mais alto do que os restantes. "Porque é anúncio para pobre." Pobre viaja esmagado em ônibus sem ar condicionado. Pobre morre porque o médico não apareceu no hospital. Pobre não vale um tostão furado para a polícia. Pobre causa mais repulsa do que compaixão. Pobre diz, sobre o vereador, o prefeito, o pastor: "Ele rouba, mas faz", uma subversão a condescender porque, por norma, nunca ninguém faz nada pelo pobre.
Os norte-americanos têm nigger, kike, spick, chink, guinea, tudo epítetos raciais. Em Espanha chamam sudacas aos sul-americanos (certo dia vi uma porrada no metro de Madrid e alguém gritava "Soy argentino, no soy sudaca"). Já ouvi chamar "o preto", "o gordo", "o cigano", "o anão", "o mongoloide", mas nunca, como no Brasil, ouvira "pobre" como uma designação tão depreciativa e amplamente usada - um chega para lá social, a arrogância de quem se acha escolhido em oposição à subserviência de quem, desde sempre, baixa a cabeça e se cala.
Caco Antibes, personagem da sitcom brasileira Sai de Baixo, ficou famoso por ter "horror a pobre" e pelos aforismos: "Pobre precisa entender que só passeia no shopping de Havaiana quem é rico." Presumível caricatura de ficção, Caco Antibes tem muitos sucedâneos na vida real.

Pobre faz parte do imaginário do Brasil como o boteco, o arroz com feijão ou Carinhoso, de Pixinguinha. A designação "pobre", para definir um grupo de milhões - mesmo os que não são pobres -, diz muito sobre o teimoso legado da escravidão e as conservadoras e pouco lubrificadas estruturas sociais neste país.
O Brasil já não é, de facto, desdentado. Antes pelo contrário, a democratização dos aparelhos odontológicos faz que hoje a maioria - até "pobre" - tenha a brancura dental das estrelas de Hollywood. Há mais gente na universidade, menos a passar fome, muitas famílias podem agora ter algum conforto, manter os filhos na escola, aspirar a mais do que subsistir da mão para a boca.

Mas mesmo a vida dos que deixaram de ser oficialmente pobres continua impedida pelo descaso das autoridades e pela estrutura de castas. Horas de martírio para ir de casa para o emprego, medíocre prestação do Estado na saúde e educação, corrupção, favoritismo, discriminação, desamparo e muito pouca mobilidade social. Ser pobre não é apenas uma designação do governo federal - aqueles com menos de 25 euros de rendimento mensal. É também uma sina e uma opressão.

Encontrei o porteiro do meu prédio, que deveria estar de férias, a lavar um carro no parque de estacionamento às sete da manhã. Perguntei--lhe o que fazia ali. "O coroa vai viajar e pediu para eu lavar o carro dele." O porteiro tinha vindo de propósito de São Gonçalo (longe para burro), de madrugada, interrompendo as férias, para obedecer ao pedido (à ordem) de um inquilino. Quando me indignei, ele não pareceu especialmente vingado. "Faz parte", disse-me - a ordem natural das coisas como ele sempre as conheceu e que se perpetua ainda, apesar do aumento dos rendimentos dos pobres.

Milhões podem ter saído oficialmente da pobreza. Mas no Brasil, que por vezes parece o país dos coronéis, ser pobre ainda continua a ser uma má sina para a vida inteira - mesmo que se tenham os dentes todos".

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Saga lisboeta: tuk tuks e taxistas

Chego a Lisboa à tarde. Santa Apolónia. Há muito não frequento esta zona, desde que me cansei de noites muito longas no Lux. A última vez que vim para estes lados fui ao Bica no Sapato. Ficou a memória do único vinho do Douro que bebo: Graínha. De resto, nada de especial. Sol, como sempre. Fila enorme para os táxis. Os passageiros acomodam-se exemplarmente em fila indiana. Os táxis, a desordem do costume, filas de duas faixas. Avisto dois cruzeiros enormes. Sigo para Alcântara. Reparo que de um lado e outro, mais atrás e mais à frente, a nova moda dos tuk tuk. Assusto-me com a velocidade que atingem. Arrepio-me com a velocidade que fazem as curvas. Imagino a falta de segurança que aquilo deve ter. Comento com o taxista. Questiono-me sobre o que faz os turistas trocarem um táxi por uma pena. O meu cérebro não pára de processar um possível toque de um carro. Tento pensar noutra coisa. Chego a tempo de ir à apresentação do livro do Saramago, que dele tem apenas dezenas de páginas, mas os bilhetes estão esgotados. Sigo para o hotel. Chego ao quarto e tenho uma vista fantástica para o rio, que para mim, é o mais bonito do mundo. Não parece um rio, parece um mar. O Mississipi, visto de Memphis, foi para mim uma desilusão. Este Tejo, continua até hoje, a lembrar-me a descoberta de novos mundos. O hotel manda-me como boas vindas maçãs e uma garrafa de água. Eu que não gosto de maçãs. Ando há dias com uma crise de vesícula que teima em não passar. Mas o destino parece conspirar a meu favor. As maçãs revelar-se-ão a minha salvação, já que pouco mais consigo comer.

A noite chega. Escrevo. Tenho o ar condicionado (AC) ligado, embora deteste. Por isso, espero o mínimo tempo possível para arrefecer. Desligo-o. Não sei que truque de magia fiz mas consegui fazer desaparecer o comando do AC. Como estou reduzida a poucos metros quadrados, não saí e o chão não é furado...Tenho poderes? Revisto tudo. Não o encontro. Agora, para além do esforço físico da procura, acrescento o calor tropical do quarto. Tento dormir. Não consigo. Levanto-me, uma vez mais, para fazer outra busca. Nada. Passei a noite nisto. Mal dormi. Obviamente quando deveria ter acordado, e já era bem dia, adormeci. Isto é o espelho da minha vida.

Depois do almoço sigo de táxi para Belém. Chegada aos Jerónimos comovo-me, como sempre. Não sei o que é. Os olhos ficam marejados. Felizmente, tenho óculos de sol. O que haveria o taxista pensar de mim? Reparo numa das invenções turísticas mais estúpidas que conheço, e que inundam as grandes cidades do mundo: cavalos e carroças. Neste caso, é apenas um cavalo e uma carroça. O cavalo tem a cara tapada. Viro costas porque não posso fazer nada. E penso que não posso mudar o mundo.

Dia seguinte. Outro táxi. Digno de registo. Mal entrei no táxi, percebi. O taxista, sem eu lhe pedir, conduzia para além dos limites de velocidade. Tipo bala. Resmunga com todos à volta. Para mim é simpático. Diz mal de todos. Queixa-se de tudo. Para mim é amável. Quando chegamos ao pé dos Jerónimos para virar para o CCB, estou tão distraída com o comportamento do taxista, que não reparo no cavalo. Nem tenho tempo de me emocionar com os Jerónimos. Uma parte de mim é receio e a outra é riso (escondido). Azar dos azares, aparece um tuk tuk à frente. Não podia ser pior. O taxista espuma-se. Quando ultrapassa o tuk tuk, a coitada da senhora só diz um tímido “Obrigadinha”. Palavra que disse. O taxista insultou-a de todos os nomes que envolviam filhas e alhos. Eu só queria que não sobrasse para mim. Vasculho os bolsos e rezo para ter trocos mas só encontro notas. Daquelas que não dão para ficar com o troco. Mas eu já estava por tudo. O taxista só gritava que os tuk tuk eram ilegais. Ladrões. Não passam facturas. Não pagam impostos. São um perigo. Eu estendo-lhe a nota. E o homem continua distraído com os insultos a mexer nas moedas. Eu bem lhe digo para arredondar. O táxi está mal estacionado atrás de outros. De repente: “Pum”. E eu só penso: “o mundo vai acabar”. O motorista de um conhecido político, ao sair do estacionamento, bate exactamente na minha porta. Acabou tudo. Não tenho por onde sair. Digo ao taxista que pode ficar com o troco. E ele diz-me para esperar. Sai do carro aos berros. O motorista do conhecido político só pede desculpas. “Desculpa não, vai pagar e bem!”. E insulta o homem de tudo. Eu só quero sair do táxi. Tento manter-me calma. Mas ao mesmo tempo só me apetece rir. Tudo a olhar e ninguém faz nada. O taxista entra novamente. Volta às moedas mas parece não prestar atenção. Felizmente, chega o táxi à frente. Saio. “Espere minha senhora”. “Fique com o troco”, respondo eu. E despeja toda a ira no coitado do motorista que teve o azar de não reparar no táxi. Ninguém faz nada. Eu só digo: “Vá, calma”. O motorista: “Eu pago”. O taxista: “vai pagar muito bem. Querem entrar com os carros em todo o lado”. Queria ter tido a coragem de fazer muito e mais. Acho que consegui que o taxista não chegasse a vias de facto. Virei as costas sem o troco e sem factura.


No fim da tarde, quando regresso ao hotel, vejo o cavalo. Sem a cara tapada mas com os olhos. Apetece-me fazer alguma coisa. Mas o que posso eu? No dia seguinte: o cavalo outra vez de cara tapada. Penso que deve ser legal porque com tanta polícia e tantas pessoas, alguém já se deve ter apercebido. Que vida animal é esta? Para além de amarrado não pode sequer ver o mundo? Século XXI. Escravo e cego. 








Presente no Futuro

Seguiu-se a brilhante conversa entre um dos maiores pensadores contemrâneos, Eduardo Lourenço, e uma das vozes mais bonitas de Portugal e um grande condutor de conversas, Carlos Vaz Marques.



A penúltima sessão do dia foi “Música e liberdade”. Aline Frazão, Amélia Muge, Mitó e Lura moderadas por José Carlos Araújo. Não percebo muito de música e tão pouco estou actualizada com as novas tendências. De todas estas pessoas só reconheci a Amélia Muge mas nem sequer conheço o trabalho dela. De todas, foi a que melhor falou.
Aline Frazão veio de Angola para estudar jornalismo e acabou na música. Falou de outro tipo de realidade: ter comida na mesa”. Falou da falta de democracia em Angola (esta, real). Falou de míninos necessários numa sociedade, finalmente já ultrapassados em Portugal: “comida na mesa, escola e assistência médica”.

Lura disse que para ela “a liberdade é posta ao serviço de Cabo Verde e que serve para ultrapassar a timidez e a dizer aquilo que sente em palco”.

Mitó é vocalista da A naifa. Tem uma voz poderosa mesmo sem cantar. Um corpo tão franzino e uma voz tão forte. Não a conhecia. De todas foi, talvez, a que apresentou um discurso mais radical: “nunca deixem de de pensar pela vossa cabeça nem de lutar pelos vossos direitos”. Falou da música Tourada que foi reinterpretada por ela e que descreve o ambiente político e social de 1973 que é muito semelhante ao de 2014”. Exagerada, no mínimo. A Mitó em 2014 pode fazer estas afirmações sem que nada lhe aconteça e em 1973 nem nascida devia ser, e com mais certeza ainda, não poderia fazer estas afirmações, de facto. Mas tenho a certeza que deve ser muito melhor intérprete do que comentadora política.


A última sessão do dia foi do Governo Sombra. Começaram por falar da vitória de António Costa, o Gandhi de Lisboa, como o apelidou um jornal indiano. E da sua primeira atitude enquanto líder do PS: “abster-se violentamente de citar Seguro”. Imaginaram o futuro de António José Seguro como Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Criticaram a “maneira de ser muito plástica” de Seguro, “como se tivesse uma vassoura num sítio que os pombos são analisados na China”.

João Miguel Tavares foi indicado para Ministro do perímetro (orçamental), Pedro Mexia para Ministro da estupidez e Ricardo Araújo Pereira para Ministro das condições.
A parte que mais gostei foi quando falaram de um artista de Braga (na verdade, de Barcelos) que fez os bustos comemorativos do centenário da República. Pelo vistos, este artista, já tinha apresentado uma obra Padres, Prostitutas e Paneleiros (aka 3P’s) que mostrava “o padre a colocar as mãos nas nádegas das duas restantes entidades”.

Mesmo no final, o João Miguel Tavares, mostrou o livro com a obra completa de Machado de Assis editado pela Glaciar com a Academia Brasileira das Letras e que estará disponível em todas as bibliotecas públicas nacionais.




domingo, 5 de outubro de 2014

A liberdade constrói-se?

Ao mesmo tempo decorria "A liberdade constrói-se?". Como a "Liberdade e digital" terminou antes, sem direito a perguntas dos espectadores, corri para o Grande Auditório. Pelos 15 minutos que vi, já só apenas de perguntas, percebi o que verdadeiramente perdera. O painel era de luxo: Joana Vasconcelos, Carrilho da Graça, José Gil e Miguel Tamen. Moderados excelentemente pela sempre preparadíssima Anabela Mota Ribeiro.


sábado, 4 de outubro de 2014

Liberdade e digital: a perspectiva empresarial

3 de Outubro. O 3º Encontro Presente no Futuro da Fundação Francisco Manuel dos Santos começou, para mim, com o debate "Liberdade e digital: a perspectiva empresarial". Muito bem moderado pelo Luís Pedro Duarte (que eu não conhecia) que é o director financeiro da Accenture. O painel era constituído pela Graça Fonseca, licenciada em Direito, Mestrado e Doutoramento em Sociologia, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa com os pelouros de Economia, Inovação, Educação e Reforma Administrativa.

Gonçalo Morais Leitão entertainer, que já fez de tudo um pouco: animador, homem-sanduíche, porteiro, publicitário, até que encontrou a profissão com que sempre sonhou depois de um curso de apresentador e começar na  Sic Radical o programa Filho da Pub.

Eugénio Apolo formado em programação, já foi professor, programador e já participou em vários projectos relacionados com internet até que chegou o momento de criar o cryptoescudo (a moeda portuguesa electrónica). Actualmente dedica a totalidade do seu tempo na gestão desta moeda virtual. Diz que a moeda electrónica pode ajudar a pagar a dívida do país. “Há quem pense que o cryptoescudo podia ser a nova moeda oficial portuguesa”. “Um cryptoescudo está a quase nada, o que é a parte interessante da coisa, só pode melhorar”. Recuso-me a fazer comentários sobre estas afirmações porque ainda vou ser acusada de difamação.

Tinha que escolher esta sessão e “A liberdade constrói-se?”. Como faço sempre más escolhas, decidi-me por esta. Só conhecia a Graça Fonseca e como foi a única que falou alguma coisa de jeito (para além do moderador), o entusiasmo e o optimismo que carrega nas palavras, já valeu a pena. Falou-se do caso de sucesso da STARTUP LISBOA (que criou 900 postos de trabalho), da qual é presidente, e que resultou de uma proposta do orçamento participativo. Foi uma das propostas mais votadas de 2009 (pelos vistos, nem sempre o povo escolhe mal). Falou que o objectivo da CML não é ser empreendedor porque esse não é o papel das entidades públicas, mas criar as condições para que as pessoas possam empreender: encontrar parceiros, espaços e sobretudo, confiança. Referiu, também, que as crises têm sempre um lado bom: “Estas são alturas em que as entidades públicas e privadas têm que reconfigurar para as ideias que estão a surgir e para pessoas que querem ousar”.  Falou-se também dos estrangeiros que a STARTUP LISBOA atrai. “os portugueses são óptimos a não gostar do que temos e os estrangeiros são óptimos a gostarem imenso do que temos”. As decisões que as pessoas tomam no que respeita a mobilidade tem a ver com a qualidade da cidade, segurança, equipamentos para os filhos, acessos fáceis e qualidade das infraestruturas. Terminou a sugerir duas coisas: 1) introduzir nas escolas a obrigatoriedade das crianças para programar nas escolas (Graças a Deus que já acabei a escolaridade obrigatória!!!); 2) jovens desempregados licenciados por ex em História e aprenderem a programar. Graça Fonseca mostrou que tem humor e soube falar claro e inteligentemente no meio de pessoas que não estavam ao nível dela.



A única coisa que o Gonçalo Morais Leitão disse de jeito foi que em época de crise é uma boa altura para se questionar tudo. Mas depois veio com a pergunta retórica de quem é que naquela sala continuava a fazer o que fazia se lhe saísse o euromilhões. No caso dele, que foi simples diga-se, descobriu o curso que tinha que fazer na net (?), contactou o Pedro Boucherie Mendes (director da Sic Radical) por email...é o que se pode chamar de “gajo com sorte”. Vamos lá todos questionar o que fazemos, não ligar para o dinheiro, tirar um curso na net e fazer uns contactos por email. Acabaríamos todos indigentes! Neste caso particular (que deve ser menor do que a prevalência de doenças raras no mundo), o digital foi a “única” forma de alcançar o sucesso. “O dinheiro é importante mas mais importante é fazer aquilo que se gosta”. 


Copyright: CML

Nota prévia

Ausente há muito. Sem tempo para quase nada. Os meus dias são passados apenas a escrever, comer e dormir (pouco). Tenho posts atrasados de NY e das férias e quero ter a esperança de publicá-los. Escrita de projectos europeus desde 15 de Agosto é a tudo o que se resume a minha pobre vida. Ah, claro, e crises de vesícula. Em pouco mais de um mês já lá vão duas. A partir de 14 de outrubro regresso em pleno. Desculpem, os que tiverem paciência, os que não...

domingo, 10 de agosto de 2014

Férias

Têm sido dias de amor. Colocar as saudades em dia. Sem horas. Sem fim. Muita felicidade. Muitas gargalhadas. Muitos pulos. Tem sido uma troca de camas nunca vista. Deito-me com um, acordo com outro. Deito-me numa cama, acordo noutra. Deito-me com um, acordo com dois. Tenho ouvido as maiores declarações de amor dos últimos tempo. Sinceras. Honestas. Definitivas. Sem pedir nada em troca. E depois termina: “Titi, era isto que eu queria para sempre”. O que podemos fazer, a não ser, lutar com as armas da justiça?

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

The Man Who Loves Women

Copyright: Kansaki Mata
Benjamin Moser was staying in an anonymous apartment, with white walls bare of adornment save for picture windows that didn’t open. The room contained a couch, a coffee table, and the chair on which Moser was perched, his long legs folded beneath him. On the coffee table in the center of the white room lay Why This World, Moser’s 2009 biography of one of the 20th century’s most compelling, if mysterious, women: Clarice Lispector, the Jewish Brazilian author who died in 1977. Lispector’s face gazed out at us from the dust jacket, a wounding presence that claimed the room and everything in it as her own.
Before Moser, Lispector was little-known outside of Brazilian or academic circles. Now, in the wake of Moser’s biography, and Moser’s new translations of her work, to English from Lispector’s bizarre, immigrant-inflected Portuguese, she is an author with a significant, growing following. Which is as Moser wants it. He is more than a biographer: He is a devotee, bringing the gospel of his subject wherever he goes. “I think it will become clear, as the dust settles, that she’s the great figure of Jewish literature in the 20th century,” he said, when I visited him in May.
In the meantime, Moser has started work on another great figure of Jewish literature in the 20th century. In possibly the only second act that could match his first, Moser has begun work on a biography of Susan Sontag, after being approached to do so by Sontag’s son, the writer David Rieff, and the literary agent Andrew Wylie. He is three years into the work.
Writing a biography of Sontag poses new challenges. When Moser set out to write about Lispector, he was met with suspicion. “Everybody thought I was crazy,” he said. “Because they said, nobody’s ever heard of her. I said that’s the whole point, that you haven’t heard of her. That’s the fun of it. With Sontag it’s different. With Sontag, you think you’ve heard of her, but you haven’t. You’ve heard of her, you’ve seen her picture, she has the white streak in her hair. But when you go beyond that, there’s a completely different person.”
What Blake Bailey—biographer of Richard Yates, John Cheever, and Charles Jackson—has become for postwar American male fiction writers, Benjamin Moser is becoming for eccentric, international-minded, postwar Jewish woman writers. Moser adores his subjects. He loves their inscrutability, sees it as a challenge. And it’s his delight in the challenge, coupled with a sense of mission, that makes him such a worthy partner, despite death and the passage of time, for his august subjects.
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Moser is tall and slim, with big blue eyes and a thick lock of dark hair that falls across his forehead. When we met in his apartment, which he was granted as part of a fellowship at NYU, he was dressed in a black shirt and dark corduroy pants, both of which looked soft, and black socks. His conversation is soft and meandering, his voice deep; he gives the impression of being both youthful and wise beyond his 37 years.
When he is not traveling to interview his subjects’ acquaintances, Moser lives with his partner, the novelist Arthur Japin, in a historic house in Utrecht, Netherlands. Moser is originally from Houston. His father’s family, one of the older families of Houston Jews, has lived there since the 19th century. “My grandmother knew every single Jewish person in Houston,” Moser told me. “If she didn’t know them, they were very suspicious.” His mother, who is from Dallas and owned a children’s bookstore when Moser was young, converted to Judaism “to annoy her racist relatives in the ’70s.”
“Since I’m half WASPy and half Jewish, I always feel really Jewish around non-Jews, and I feel really not Jewish around real Jews,” Moser said. “Maybe that’s what I liked about her”—“her” being of course, Lispector. “She was always on the margins, even though she looked like she wasn’t because she was pretty and blonde and had Chanel suits. But she was very much a marginal person.” Some of the best moments in her work, Moser says, are when “[s]omeone walks into a room and doesn’t know anybody and is just like, ‘Who do I talk to at this party?’ That is an incredibly Jewish historical feeling, but it’s also just a human feeling.”
“Clarice was just the love of my life,” Moser said. He first encountered her work when he was 19, in a college class he took because it fit his schedule. He remembers opening the assigned book, The Hour of the Star, which Lispector had dedicated to Robert and Clara Schumann: “So I dedicate this thing here to old Schumann and his sweet Clara who today alas are bones.” “And, well, I was sold,” Moser wrote in an email. “I don’t know why. I could hardly read the language!” In the apartment, he explained further: “Some things you think are a great idea, like, lovers can look like a great idea in the dark, smoky bar, but then you get to know them and it’s not a great idea. But some loves are real, some last, and hers and me—I never got over it. I’m amazed by it.”
After college, Moser worked briefly in publishing, but, still obsessed with Lispector’s writing, he quit his job at 25 and spent the next five years paying his own way and pursuing the story of Clarice’s life through family, friends, and archives. “I thought, people go into debt to go to law school, or whatever,” he said. “I have an American Express card. I can go to Brazil. So I did, and I kind of bet my life on it.”
It took him five years until he had a completed manuscript of his biography. The book was rejected by 10 houses before it was accepted by Oxford University Press, which offered Moser $8,500 for five years of work. But the book was acclaimed in the New York Times and The Los Angeles Times, and it was a National Book Critics Circle Award finalist. It was translated into seven languages and was a best-seller in Brazil. Moser believes he broke even, eventually. “I think if I would have worked at Starbucks, I would have made more money,” he said. “But it gave me a job, being her spokesman, her ambassador. You know, people need ambassadors.”
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Moser reveres Lispector, both for her writing and for her struggles through a troubled life. Her family fled pogroms in Ukraine when she was 9 months old and moved to Brazil. In Moser’s rendering, Lispector never climbed out of the shadow cast by that early struggle, despite her brilliance and her relative success. One strength of Why This World is Moser’s commitment to portraying both Lispector’s glorious work and her shattered life; there is in the book a refusal to allow any one side to prevail. While Moser was interviewing someone for his Sontag biography, the person pointed to the Lispector biography on the coffee table—with Lispector’s image on the cover—and said, “You have to put that book out of the way, because I keep looking at it, and the pain in her face is too much for me.”
But for Moser, the photograph is about so much more than just pain. “I mean, I do see it when he says it, but I also see somebody posing for a picture,” he says. “I see somebody in a studio with make-up and hair.” It’s that combination that kept him coming back for more. “I just felt something, in an erotic sense I would say; I mean erotic in the sense of a longing, a desire to come closer.”
In Why This World, Moser paints Lispector as fascinating, beautiful, and tragedy-ridden. Lispector’s family originated in Chechelnik, in the western Ukrainian province of Podolia. There Clarice’s mother was raped during a pogrom and contracted syphilis. Due to the mistaken belief that pregnancy could cure genital chancres, Clarice was conceived to cure her mother, and the family emigrated to Brazil in 1921, when Clarice, then Chaya, was a baby. But Clarice was to fail in her impossible mission—her mother died before her 10th birthday, and Clarice lived in the shadow of this failure for the rest of her life.
“Her mother was brutally raped and died of a wound inflicted at the very locus of her sexuality,” Moser said. “I think that it’s clear that sexuality was never an easy thing for her”—“her” being Lispector. But for Moser, there is something sublime in this unrealized sexuality, for Lispector redirects her eroticism into her writing. “That’s the current you feel, and that’s what allows her to attach her readers to her so unforgettably,” Moser says.
In Why This World, Moser is especially moving on the subject of Clarice’s father, a brilliant but unrealized mathematician who became a failed peddler in Brazil. “I think that’s the reality of most people’s lives,” said Moser. “So much of American literature is about failure. ‘Here I am in the golden land, and I fucked it up. I’m not Rockefeller, I’m just struggling to get by, like most people.’ That’s the American Dream and the reality of American literature—it’s Melville, it’s Joan Didion, you know? Joan Didion’s books are all about people who come to California or Hollywood with a dream and they completely fail, they get murdered. That’s most American literature.
“And it’s about the shame that causes. It’s not that bad if you fucked it up in Belarus, you know? But like, in California, in Texas, in Chicago, the narrative is, ‘We come from our shtetl and we make it better.’ But that’s very few people, and I think in America the presence of those people oppresses, you know, the awareness of what you should have been, versus what you actually are. There’s a huge gulf, and in cultures that idolize success like that, that’s more oppressive. You’re supposed to own the factory. Not everyone owns the factory. Not even all smart Jewish kids own the factory.”
Lispector’s work features heavily in Moser’s critical biography. Her heroines are trapped—they all possess an intense yearning for safety, usually represented by a man of great stability and middling intelligence, and yet they remain incapable of enjoying the coveted security. They are too keenly, even physically, aware of an existential abyss, which exists too close for comfort to their daily routine, which threatens to invade at every moment. As Adam Kirsch put it in a review of Lispector’s works, Lispector turns heroine after heroine “into a force of nature, a Nietzschean figure whose vitality puts her beyond ordinary judgments of good and evil.”
“You can be a really nice person and obey all the 613 commandments and whatever, and you’re still going to get raped and killed,” Moser said. “You’re a roach. You’re a roach. You’re an animal. You’re going to be crushed and destroyed inevitably. People in shtetls in the Ukraine kept kosher and they did everything and they obeyed all those rules, and look what happened to them. They were absolutely destroyed.”
For Moser, there’s all the proof you need of the world’s amorality. “It’s actually insulting to the memory of these people to think that the world is such that God is something you can appease,” he said.
Shtetls, pogroms, and mysticism are the proof for Moser of Lispector’s abiding Jewishness. She stems from a particularly Jewish suffering that, in Moser’s reading, she continued to engage her entire life.
“She is the writer,” he said, “who answers the question that Adorno poses that he later took back, that there can be no poetry after Auschwitz. She’s the one that answers that question, and she answers it in a positive way.”
Take, for instance, Lispector’s most well-known work, The Passion According to G.H. The book tells the story of a well-to-do Rio housewife who, after firing a maid, finds herself face to face with a cockroach in a cupboard the maid’s room. The woman—G.H.—slams the cupboard door on the roach and proceeds to have a mystical encounter, finding the pureness of being, stripped of its pretensions and personalities, in the white goo which oozes from the roach’s body. G.H. realizes that she, too, is a random eruption, like an animal, or a rock, and in recognition of this realization, brings the goo to her lips and tastes of it.
For Moser, this is what’s left when the world is lawless and God is unappeasable by ritual or prayer. “What’s left is this vocation for the divine and the state of grace and this desire to discover inside oneself the breath of life,” he said. “And that’s the roach. She approaches God with disgust and with fear and trembling, not philosophically but really in her guts.”
And for Moser, this is a post-Auschwitz theology. “She is staring Auschwitz in the face her whole life,” Moser said. “She remembers that mother, paralyzed and dying in that chair, staring out the window, exiled to the New World, but that was the reality of Jewish history until—last week. Really. My grandfather was a German refugee, so I know that story, I know what that does to people.”
Moser was very close to his grandmother—Bitsy, she was called—until she died his freshman year of college. “She had a lot of hangers on, sort of like Susan Sontag did, she liked younger gay men who thought she was hilarious and would take her to brunch and stuff.” She was that kind of woman, he explained. “She was attractive, she was funny, she was smart, and she was kind of bitchy, you know what I mean?”
Bitsy’s story actually coincided—somewhat mystically, one might think—with Lispector’s, Moser discovered. In 1928, Bitsy married her doctoral adviser, a man named Jacob Nachbin. Shortly thereafter, while doing research in the Mexican National Archives, Nachbin was caught attempting to purloin documents, and the couple was extradited back to the United States. As fate would have it, the episode was covered by the Yiddish papers in Buenos Aires, which was what Brazilian Jews read at the time. The story of Nachbin’s extradition was read by one Brazilian in particular, a woman who turned out to be Nachbin’s wife, whom he had abandoned with a son, Leopoldo, in Recife, Brazil, before moving to Chicago and reinventing himself. It turned out that Nachbin was a complete fraud, a brilliant, chameleonic self-creation, an orphan from a shtetl who had made himself into a professor, first in Brazil and then in Chicago.
Moser found all this out when he was in high school, when he and his mother had car trouble on the way back from a summer vacation in Colorado. They got stuck in Las Vegas, New Mexico, waiting for a car part. “I ended up spending three days with my mom in this horrible roachy motel in Las Vegas, New Mexico,” Moser recalled. When he got back, he said to his grandmother, “You’re not going to believe where we ended up spending three days. This horrible place. Have you ever heard of Las Vegas, New Mexico?” To which Bitsy replied,  “Of course I’ve heard of it, I used to live there! My husband was teaching at a university there! My husband Nachbin!” “And I had never heard of him,” Moser said. Turns out, Bitsy had three husbands more than Moser knew about. “So I said, ‘Oh! Do tell!’ And she said, ‘Oh he was a Latin American or a Pole or something.’ Which is exactly what he was!”
Nachbin’s story ends on a tragic note. After being expelled from the United States and going back to Europe, Nachbin was eventually killed in the Holocaust. But Bitsy’s ill-advised marriage to Nachbin ended up creating a family link between Moser and his muse. Nachbin’s son, Leopoldo, was Clarice Lispector’s best childhood friend in Recife.
Bitsy left her grandson with another legacy, too, a more political one. She was a staunch Democrat her entire life. “If there’s anything that the pogroms of Podolia can teach us,” Moser said, “it’s that Jews of all people should not be in the business of racial oppression, and discriminating against people because of their nationality. If Jews didn’t learn that, there’s no point to Jewish history. There’s no point to Jewish suffering. That’s why my grandmother hated Jewish Republicans.”
***
Moser is scathing on the subject of the indignities visited upon female writers. He recalled with disgust a literary critic, “a very respectable, illustrious, Harold Bloom type, in São Paulo,” who told him, “You know, people say she was really pretty, but they never point out that she actually had a really fat butt.” Moser shook his head. “Boy, when you write biographies of women, you realize,” he said, that “women are always second-class citizens. Always. So if you have the, like, big shlong, dude, that guy is always going to get—“ he cut himself off. “Who do people in America think are great Jewish writers? Philip Roth, Saul Bellow, or Bernard Malamud. You can keep adding to the list.” He shook his head. “I don’t think they hold a candle to her, for the range of what she did. It’s a huge range of work, a huge range. I think once people get that, they’re going to get a sense of the panorama of this mind. The mystical power of it. Has anybody in America written a book like The Passion According to G.H.? I can’t think of anything.”
Moser’s hope that Lispector will get the recognition she deserves is fortified by his new subject, Sontag. “Sontag really believed,” he said, “that the great works, the great artists would eventually be recognized and be celebrated and understood, even if they weren’t in their own times, and I think that will prove right with [Lispector]. That’s one of the great things about Sontag, she was absolutely dedicated to digging those people up, and using her fame and her prestige to shed light.”
Sontag’s legacy, Moser says, is both broader and narrower than Lispector’s: “This incredible belief in the importance of art and culture, and the belief in standards, the belief in seriousness, the belief that books matter and that paintings matter and the human spirit that makes those things matters.”
But above all, Lispector relates to Sontag as a great admirer. “She made it sort of sexy to be an intellectual, too,” Moser said. “She was good-looking, she was glamorous, she knew how to pose for the camera, so she used those post-modern trashy tools. Yeah, she was self-promoting, I mean, who isn’t? But she used that image of herself to bring all sorts of stuff to the attention of the world, and she managed to do it for 50 years, and it’s inspiring. It makes me want to do so much more in that. So, like what I’ve done with Clarice? She did with 50 people. It’s incredible.”
Batya Ungar-Sargon to Tablet Magazine 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Israel vs Palestina

O conflito entre Israel e a Palestina é talvez dos mais difíceis de perceber para mim. Por um lado temos um estado democrático criado depois da guerra, cujo território já tinha “dono” mas cuja “ocupação” foi apoiada pela comunidade internacional. Admiro há muito o povo judeu por tudo o que tem passado desde sempre. Da mesma forma que critico a história da perseguição dos judeus, critico quando defendem ser “o povo escolhido”. Apesar de detestar a redução do ser humano a uma raça e um credo, os judeus não pensam assim. Tenho a melhor das opiniões dos judeus no que respeita à cultura, ao trabalho e à inteligência. Três dos escritores que mais admiro são judeus: Primo Levi, Philip Roth e Richard Zimler, apesar de só dois estarem entre nós. O grande Einstein era judeu, apesar de agnóstico confesso.

As guerras e os conflitos são sempre injustos. Mesmo quando justos há sempre inocentes a lamentar. No domingo fui propositadamente a Times Square à Toys ur Us para comprar brinuqedos específicos para os meus sobrinhos. Chegada lá, fui apanhada no meio de uma manisfestação “Pro-Israel”.  Centenas de pessoas. Idosos, jovens, gente de meia-idade, crianças, bebés. Quase todos os homens tinham quipá. Havia também muitos judeus ortodoxos de caracolinho, chapéu, casaco preto comprido e barba enorme. Mas a maioria, se eu não os tivesse visto ali, não os reconheceria como uma raça específica. A maioria parecia gente informada e moderna. Por momentos pensei estar do lado Palestiniano: “Freedom to Israel”; “Stop de war”; “Israel wants peace Hamas wants terror”. Não foi Israel que decidiu invadir Gaza? Não foi Israel que matou centenas de civis no último ataque? Não é Israel que há anos tem enclausurado a Palestina. Depois falam dos atentados perpetuados pelos mais radicais do lado palestiniano. Claro que não concordo e sou absolutamente contra. Mas o que chamar aos ataques de Israel contra alvos civis? Só pelo simples facto de serem “aceites” pela comunidade internacional? Já agora, onde estão as Nações Unidas e a Nato? O que têm feito para além do enorme silêncio da vergonha?


Nunca haverá paz enquanto Israel não aceitar a Palestina como um país. Nunca haverá paz enquanto Israel continuar com o muro da vergonha que é tão mau ou pior do que o Muro de Berlim. Nunca haverá paz enquanto Israel continuar a ocupar território que supostamente era palestiniano. Não sei qual a solução. Mas, sinceramente, a abertura tem que partir do estado que se diz democrático. 















quinta-feira, 17 de julho de 2014

Vange Leonel

Na segunda fui apanhada de surpresa pelo anúncio da morte da Vange Leonel. Desconhecidíssima em Portugal, era uma escritora e activista brasileira que seguia há muito. Não a conhecia para além do que escrevia. Sabia que tinha algo próximo dos 50 anos, embora não parecesse. Acompanhava-a também no twitter, apesar de há alguns dias não postar nada. Quando li que tinha morrido pensei em duas coisas: acidente ou suicídio. Simplesmente porque ainda há poucos dias a lera. Surpresa: morreu de cancro aos 51 anos. Há 20 dias descobrira um cancro nos ovários. Uma semana depois estava internada. Descobrira metastases. Segunda, apenas 20 dias depois de saber que estava muito doente, morreu. Há muitos anos que me pergunto qual a razão de quando as pessoas descobrem um cancro parece que encontram o rastilho de pólvora. Curta, como a vida. É o que dizem. A uma hora destas é nisto que penso: como a vida é fugaz. Como diz a música: “Sooner or later, they [we] all will be gone”.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Brooklyn

Brooklyn para mim era apenas a ponte de Brooklyn que já fiz duas vezes a pé. Chegada ao lado de lá apanhava o metro e regressava a Manhattan. Para além de uma ida a Brooklyn para uma hipotética mega party com a C., já a madrugada ia muito avançada, num táxi, serviu para ver apenas uma cidade com menos luz do que Manhattan e a ponte de Brooklyn iluminada à noite. Estas eram apenas a minha abordagem mais próxima à cidade da moda. Paul Auster e muitos dos artistas é lá que moram. Desta vez convidaram-me para ir "brunchar" a Brooklyn. Disseram-me que demoraria uma hora. Comecei logo a torcer o nariz. Felizmente, não demorou nada parecido. Chegados ao outro lado saímos no que parecia algo semelhante a um bairro chique de Londres. Andamos uns metros e chegamos ao museu de Brooklyn a fazer lembrar algo entre o Metropolitan e a New York Public Library. De facto, as pessoas em Brooklyn parecem mais dadas às modas. Muitos hipsters, como não podia deixar de ser. Muitos bigodes. Muitas meias pelo joelho. Muitos laços, muitos cabelos com gel e risco ao lado. Muitas sacolas ao ombro. Muitos magros. Muitas magras. Muitos óculos retro. Muitas barbas. Muitos vestidos às bolinhas. Muitos jardins. Muitas crianças. Muitas casas baixinhas. Qualidade de vida. Fomos ao Tom’s Restaurant (não o do Seinfeld na Broadway com a 113). É um típico diner americano que não tem marcações. Muito kitch. Enquanto estamos na fila vão servindo várias amostras da ementa. Eu e a C. escolhemos panqueca com morangos e Eggs benedict. Muito barato é o que podemos dizer. À tarde, enquanto todos preferiram o jardim botânico de Brooklyn, eu preferi o museu. De todos os museus de NY deve ser o que tem o acervo pior mas tinha pelo menos um quadro do Hopper e da O’keeffe e um do Diego Rivera. Tinha também uma cervo de arte egípcia. Fico sempre intrigada como é que estas peças vêm parar ao outro lado do mundo. Roubadas. Só pode. É para isto que servem as guerras?















domingo, 6 de julho de 2014

Os meus dias no lab

Nunca estive tão motivada cientificamente como estou agora. Estou a aprender tudo de novo, como se fosse uma criança a aprender a ler. Vim um mês para NYC para aprender especificamente a diferenciar cardiomiócitos, um tipo específico de células do coração. Estas células são responsáveis pelo batimento cardíaco e pela contracção. Quando vistas ao microscópio, contraem. É das coisas mais fascinantes de se ver. O verdadeiro milagre da vida. O mistério persiste de como é possível células ex vivo, isto é, fora de um corpo serem capazes de se sincronizar e contraírem como uma orquestra. Tudo é sincronizado entre elas. Quem me está a ensinar tudo o que devo saber sobre estas células e como as diferenciar a partir um tipo de células específicas, induced pluripotent stem cells, capazes de se diferenciar em qualquer célula do corpo , é um italiano de Nápoles. Giro de fazer bem aos olhos. Domina diferenciação cardíaca e biologia celular e molecular. Um quase quarentão. Com os olhos muito azuis. Recentemente pai de uma menina. Músico nos tempos livres. Usa meias pelo meio da perna, às vezes uma de cada cor. Ténis All star. Ouvimos opera, Beatles e Zucchero no lab. É totalmente despistado. Vamos todos os dias para o lab, incluíndo aos fins de semana. Mas não trabalhamos muitas horas. A nossa função é preparar meios de cultura. Observar o comportamento de células ao microscópio. Mudar meios. Proliferar células. E diferenciá-las em cardiomiócitos. Temos uma câmara de fluxo para cada um. E duas incubadoras por nossa conta. Cada garrafa de 500 mL de meio de cultura custa 400 dólares. Para não falar nos suplementos. Ontem marcamos no lab às 6:30 da tarde. Como o metro que ele apanha é o C que está em obras, teve que ir a pé da 145 ao 168, o que o fez chegar quase às 7. Eu, que ia distraída a ler, e que tinha apanhado o A desde Penn Station, mal vi um 6 no número da paragem e achei que era 168. Não, era 163... Saí na Amsterdam. Chegamos os 2 atrasados. Saímos  do lab para ir buscar gelo e ele esqueceu-se do cartão para abrir a porta do lab. Fomos aos seguranças. Descobriu que tinha uma chave que dava para abrir a porta. Fui avisar os seguranças que tínhamos aberto a porta. Fiquei eu do lado de fora, apesar de quase a partir de tanto bater... Quando se apercebeu já eu tinha os nós negros de tanto bater à porta... São estes momentos fascinantes de trabalhar com ele. 








Fim de semana de 4 de Julho

7 de julho. Starbucks da Broadway com a 103. Coração do Upper West Side. Starbucks cheio. Sentei-me numa cadeira, ainda sem mesa, a ler. Quando vagou uma meda, apoderei-me. Dezenas do que parecem ser estudantes intelectuais com o seu Mac. Acabou de chegar um senhor. Barba por fazer. Óculos retro, na moda. Calções todos sujos. Unhas grandes. MacAir todo sujo. Parece-me escritor. É muito míope. Sentou-se na minha mesa, nem me pediu.  

Ontem almoço num restaurante japonês, Sushi Yasaka, na 72. Andamos a pé até ao Lincoln Center. Enfiei-me na confusão dos saldos do 4 de julho na Macy’s. Já não podia ouvir crianças a chorar nem ver filas para pagar. Ao fim da tarde fui para o lab. Estive lá umas duas horas e meia. Tínhamos combinado ir jantar a um indiano em Bryant Park. Não consegui acabar a horas. Resolvemos outra coisa. Jantamos no que eu adoro, no Jin. Ramen. Fomos depois ao Empire Hotel no Lincoln Center. Diziam que era ver as vistas. Fosse isso que valesse a pena. Uma fila enorme para entrar que pelo tipo de pessoas que tinha já era um pronúncio do que nos esperava. A entrada foi $20 para cada homem, sem direito a bebidas. No rooftop, nada de especial. Pessoa desinteressantes. Música péssima. Vista fraca. Bebidas caras. DJ inqualificável. Bebi uma margarita que custou $16 fora a gorjeta. As do Cubby Hole a $2 são muito melhores. Como estava cheia de sede, bebi uma Stella. A música era um pavor. A passagem de umas músicas para as outras nunca ouvi pior. Se algum dia vos falarem no Empire Hotel, por favor, risquem do mapa.  Nada vale a pena, mesmo. E eu até nem sou muito exigente.







Hoje, brunch em casa. A C. fez waffles maravilhosos. Ovos mexidos. Presunto de Parma fatiado como fiambre. Fiambre. Salmão fumado. Queijo da ilha. Morangos. Melancia. Smoothies. Sumo de laranja. Café. Leite. Cerejas. Focaccia. Bagels. Cheese cream. Maravilhoso! Sexta a meio da tarde. Queria ter ido à Strand, acabei a andar a pé da 116 à 103. Passagem rápida na Book Culture para investir em mais 3 livros. Desta vez, não do Philip Roth, mas em cartas da Elizabeth Bishop para The New Yorker, um do Paul Auster e outro sobre NYC.


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