Mostrar mensagens com a etiqueta Marcelo Rebelo de Sousa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Marcelo Rebelo de Sousa. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Festa do Livro no Palácio de Belém

23 de Setembro de 2017

A Festa do livro de Belém, organizada pela Presidência da República, regressou pela segunda vez aos jardins do Palácio de Belém. Programa diversificado que incluiu debates, muitas editoras representadas em pequenos stands, música, concertos, sessões de autógrafos e comidas.

No dia em que fui, a meio da tarde, estava indecisa entre os petiscos portugueses que iam do camarão da costa aos percebes, de tostas com sapateira aos pregos no pão. Havia opções vegan e piadinas, gelados e sumos naturais. De tudo um pouco. Fiquei-me pelo prego no pão, da espessura de uma fatia grossa de fiambre, acho que nem de vaca era e até sal faltava. Pouco depois, um burburinho à volta, e vejo o PR rodeado de marceletes a treinar selfies. Parece uma romaria. Abraça-se. Abraçam-no. Pega em bebés ao colo.  Baixa-se à altura dos carrinhos de bebés. Baixa-se à altura das crianças. Distribui beijos e sorrisos. Ouve-se: “É o presidente do povo”. Segue para ver as bancas dos livros, compra alguns.

Copyright: PR

Copyright: PR

Ás 5 da tarde começou a conversa sobre o futuro do jornalismo, na cascata. Moderado pelo Carlos Vaz Marques, a discussão teve a participação da Clara Ferreira Alves, Isabel Lucas e Paulo Moura.  A Clara Ferreira Alves (sempre) no seu tom irónico/sarcástico começou por dizer que a resposta a essa pergunta seria: “Não tem futuro e vamos todos embora para casa”. Falou dos tempos de redacção, de como era importante o contacto humano. Mas que as coisas mudaram e está tudo à mão de um e-mail ou de um smartphone. É do tempo do telelex e do satélite. Falou de como os actuais jornalistas das redacções são mal pagos e trabalhadores indiferenciados. Falou do mês que passou nas últimas férias na Birmânia para escrever o próximo livro que será sobre o sudoeste asiático. Falou da culpa da Fox News de termos um Presidente americano anedótico como Donald Trump. E falou que o futuro da literatura e dos livros não está em causa. Caso contrário, não teriam sobrevivido a esta era tecnológica, e já teriam acabado.

A Isabel Lucas falou especialmente da sua experiência pessoal na América da campanha eleitoral. Das terras no meio do nada. E da tecnologia que via nos seus colegas de grandes orgão de comunicação social americanos. E que dependia de wifi grátis do Starbucks para enviar os seus textos.

O Paulo Moura falou da sua experiência como repórter de guerra e freelance. Da quase impossibilidade de se ser reporter de guerra por conta própria sem suporte de uma grande cadeia. Dos custos diários que nunca saõ menos do que 500 euros.

Todos falaram, com um certo toque de nostalgia, do tempo que não regressará.

No meio de nós estava o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, tendo preferido o meio por oposição à primeira fila.

Ainda tive tempo de ouvir os ensaios da Lisbon Poetry Orchestra – Poetas Portugueses de Agora – e Orquestra Académica da Universidade de Lisboa 


Copyright: PR

Copyright: PR

quarta-feira, 9 de março de 2016

Marcelo Rebelo de Sousa

Faz 21 anos para o Outono que Cavaco Silva deixou de ser Primeiro-Ministro (PM). Eu tinha 16 anos e lembro-me como se fosse hoje desse acontecimento. Nesse Outono, exactamente em plena campanha legislativa, eu filiei-me numa Jota. Nessa altura não percebia nada de política. Filiei-me porque alguns dos meus melhores amigos me convenceram. E eu, fácil como sou, não resisti. Não estou com isto a dizer que me arrependo. Quase nunca me arrependi na vida. Embora a palavra “nunca” faça poucas vezes parte do meu vocabulário. Continuando, foram as legislativas Fernando Nogueira vs António Guterres. A vitória foi De António Guterres. O tempo, que nos ensina tudo e que é sempre sábio mostrou-nos muita coisa. O inadequado, desajeitado, pouco empático Fernando Nogueira veio a mostrar que o PSD fizera uma má escolha a escolhe-lo para substituir Cavaco Silva que governara com uma minoria e duas maiorias absolutas. António Guterres chefiou dois governos minoritários, durante os quais, teve como sua principal paixão, a educação. Deu muito aos professores. Naquela altura, apesar de o popular e bom orador, achei-o sempre um PM com pouca autoridade e até um pouco frouxo (anos depois, o tempo ensinou-me que tudo muda). Quando Cavaco Silva se candidatou pela primeira vez a Presidente da República participei na campanha. Participei fervorosamente, debaixo de chuva, insultos e afins. Já nessa altura lhe vislumbrei um ar distante, pouco afável, nada empático, carrancudo, até. Mas nem isso me fez mudar. Estava ali inteira, e sou como as árvores: morrem de pé. Nunca abandono.

Conheci o Marcelo Rebelo de Sousa numa noite fria de Inverno na Universidade do Minho, não me lembro em que iniciativa. Lembro-me que ele era líder do PSD e que pouco tempo depois se demitiria por causa de Paulo Portas. Era o mesmo de hoje, simpático, sorridente, bem-disposto, excelente orador, comunicativo, popular. Vi-o anos mais tarde numa conferência no meu antigo colégio. A minha opinião sobre ele manteve-se.

Anos mais tarde, votaria na primeira maioria de Cavaco Silva para Presidente da República. Como hoje escrevia o Herman, Cavaco Silva teve duas maiorias absolutas e foi eleito para PR duas vezes. E eu não renego que votei nele no primeiro mandato. No segundo, apesar de já discordar muito, as alternativas eram piores. Mas não votei porque estava em NY. As críticas e ficarão para outro texto. Apenas digo que um político que admirei, e que li as duas biografias, me desiludiu profundamente. Foi com Cavaco Silva que comecei a achar que (afinal) os políticos são todos iguais.

Não vou sequer referir José Sócrates, pois faço parte das pessoas que discordam em absoluto dele, a quem ele nunca enganou nem iludiu. Ele revelou-se o que sempre foi para mim:  e que o maior mentiroso de todos os tempo. A montanha que pariu um rato. O tempo mostrará que a sua vida assentava em muitos telhados de vidro. Mas isso não me cabe a mim, mas à justiça.

Também não vou falar de Passos Coelho porque hoje não é dia de críticas mas de celebração e isso ficará para outro texto.

Marcelo Rebelo de Sousa não precisa de elogios nem de descrições. Um brilhante aluno e professor de Direito. Muitas pessoas que conheço e amigos de família foram alunos dele. O que mais admirava nele nos últimos anos era a divulgação dos livros e os elogios aos prémios e feitos dos portugueses. De resto, como a maioria que o elegeu, acho que é a pessoa mais preparada para ser PR. Deixando de lado o político e o professor, o que mais admiro nele são os afectos. Tem como defeito (para mim) ser demasiado conservador. De aplaudir a forma como não renega as origens e as mantém. Colocou Celorico de Basto no mapa e doou a sua biblioteca pessoal à biblioteca da terra, tal como Adriano Moreira fez com Bragança. O homem publicamente afectuoso, que não esconde a relação próxima que tem com os filhos e netos e por quem o rodeia. Um homem que não tem vergonha do que sente nem de o demonstrar. Um chefe de Estado humano, como qualquer um de nós. Terrestre, físico, próximo. Um homem culto que sabe citar políticos poetas e escritores. Finalmente, acho que Portugal tem o PM que merece. O que mais podemos querer?

facebook