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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O que nos deveria envergonhar a todos, europeus

Já morriam às centenas, aos milhares, no anonimato do mar e da guerra. A Itália e a Grécia há muito que eram “invadidas” por pessoas que não esperavam muito mais do que escapar à morte. Até que um dia surge aquela imagem chocante de uma criança que saiu do anonimato e tem um nome: Aylan Kurdi. Quando vi, pela primeira vez, a imagem pensei que fosse uma montagem ou um boneco. A criança, apesar de morta, não tinha os braços pendentes. O que mostra que morrera há algum tempo, o que se chama em ciência rigor mortis. Durante noites seguidas sonhei com esta imagem. Essa imagem acordou o mundo. Se existe algo na vida que tente justificar uma morte em vão ou se existe algum sentido para a vida e para a morte, esta morte, serviu para acordar-nos. Não é que o mundo ou, especificamente a Europa, tenha mudado muito de atitude em termos políticos. Mas a sociedade civil mobilizou-se. E isso, faz-me ter um sopro de esperança na humanidade. Mas com os exemplos de humanidade, arrasta-se aquilo que só os humanos são capazes de ter:  fobia e ódio.  Quando leio e ouço argumentos que devíamos era tratar bem os nossos pobres, desempregados e sem-abrigo em vez de acolher estas pessoas que fogem da guerra... Tenho lido cada argumento absurdo: fazer referendos na Europa se sim ou não à aceitação de refugiados (esta gente nem deve perceber o mínimo de leis quanto ao estatuto de refugiado ou de asilado) que devíamos era trazer os sem-abrigo para dentro de casa (como se a situação fosse comparável); que os terroristas estão infiltrados no meio dos refugiados ( como se os terroristas se sujeitassem a andar dias e dias a pé, debaixo de sol e chuva, a atravessar o mar em “cascas de banana”, quando de facto podem apanhar um avião); os refugiados são todos terroristas (como se a maioria dos atentados ocorridos no mundo fossem efectuados por estrangeiros... a maioria dos atentados foram feitos por cidadãos do próprio país do atentado).

A Hungria construiu um muro à la Berlim em pleno séc XXI. Um país europeu dentro da União Europeia (UE). Como é possível terem permitido isto? Não percebo como é que a UE permite sem haver sanções. Não percebo a razão de fecharem uma fronteira que é apenas de passagem porque ninguém quer ficar num país xenófobo e racista. E ainda por cima ameaçam “castigar” quem dê abrigo a refugiados dentro das próprias casas e aprovaram leis que permitem disparar contra os refugiados caso a situação se proporcione. Relembro a migração dos húngaros no final dos anos 50 e em 89 quando a cortina de ferro estava prestes a cair. A memória da humanidade é tão curta...

Os países que votaram contra o plano de distribuição voluntária de refugiados são aqueles que já passaram pelo mesmo e que não aprenderam nada com isso: Eslováquia, Roménia, República Checa e Hungria... Pena que a UE não tenha coragem de sancionar estes países... A UE mostra não ter qualquer poder para fazer cumprir os acordos. As Nações Unidas fecham-se num manto de silêncio, não fora o Alto-Comissário para os Refugiados, que tem sido a voz mais activa a defender atitudes e soluções por parte da Europa.


E depois, para mostrar que o mundo se pode mudar devagarinho, surgem acções da sociedade civil que nos comovem: Aylan Kurdi Caravan. Muitos voluntários responderam ao apelo e juntaram-se para preparar toneladas de comida, medicamentos, roupa que foram organizados durante alguns dias e transportados até à Croácia por 3 camiões. Soube desta iniciativa da sociedade civil por intermédio da Graça Fonseca, Vereadora da Câmara Minicipal de Lisboa, que também apoiou a iniciativa. Num tempo de campanha eleitoral em que os candidatos falam em números e estatísticas, como tem de ser, o que distingue muitas vezes as candidaturas são as pessoas que delas fazem parte. Com pessoas assim na política activa, a sociedade, e consequentemente, o mundo, seria melhor.

Eu, que na minha inocência utópica achava não mais ser possível uma xenofobia ao nível da Segunda guerra Mundial ou da Guerra dos Balcãs, assisto impotente a esta fobia pelos refugiados. Aconselho a todos (as) a leitura da obra do Primo Levi para perceber que a qualquer altura poderemos ser o alvo a abater. Seja qual for a nossa cor, raça, formação ou nacionalidade. Só entenderemos isso quando aquela máxima “put yourself in our shoes” nos tocar. Até lá, não seremos “nós” mas apenas “os outros”.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Portugal europeu. E agora?

A primeira sessão a que assisti foi: "Que europeu sou eu?". O debate foi moderado pelo Carlos Vaz Marques e participaram D. Manuel Clemente, João Proença e Gonçalo M. Tavares.

O Gonçalo M. Tavares falou que na Europa há claramente uma separação, uma ordem, uma organização. Marca claramente europeia. Deu como exemplo que em Marraquexe não existe a diferença entre rua e passeio...Referiu que muitas vezes as cidades mais estimulantes do mundo estão ligadas à pobreza. 'Na Alemanha quando se vê duas pessoas a correr consegue-se distinguir quem é o polícia e quem é o ladrão. Mas não conseguimos distinguir isso no México". Falou também do "saque das macieiras" que é quando chega alguém com 5 maçãs e o pobre tem uma macieira com duas maçãs e o pobre vende...Leu, também, um texto ficcional que deu o nome de "Europa". Este texto envolveu sapatos, atacadores, nós e gravatas, descrevendo de forma metafórica e optimista, a Europa.

O João Proença sente-se sempre um beirão mas é um europeísta convicto. Admira muito outras culturas, e principalmente, os outros países de língua portuguesa. Diz que há uma clara distinção de tratamento e de opinião de europeus do norte e dos europeus do sul. A Europa é considerada como tendo uma população envelhecida. Mas por ex. a emigração dos cidadãos do norte de África para França, com os seus costumes e religiões, está a inverter essa tendência com o elevado número de filhos.

D. Manuel Clemente defendeu que os europeus são muito difíceis de se definir, principalmente, no que se refere à religião. "A Europa não é uma realidade estática, é uma realidade dinâmica. 20 a 25% dos europeus são muçulmanos. A Alemanha tem 5 milhões de turcos, metade da população portuguesa. Quem são, afinal, os alemães hoje?".

Carlos Vaz Marques tem, na minha opinião, a melhor voz da rádio portuguesa. E para além disso, considero-o um dos melhores entrevistadores portugueses, a par com a Anabela Mota Ribeiro. Publicou há anos um conjunto das melhores entrevistas do programa "Pessoal e intransmissível", o qual guardo religiosamente e ao qual volto muitas vezes.




Copyright: Álvaro Isidoro/Global imagens




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