Mostrar mensagens com a etiqueta eleições. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta eleições. Mostrar todas as mensagens

domingo, 4 de novembro de 2018

O que aí vem

Passou-se uma semana e ainda não estou refeita da escolha feita pelos brasileiros. Aprendi muito nesse mês de campanha eleitoral no Brasil. Mais até no segundo turno. Li muito, vi muito, ouvi muito, discuti muito, zanguei-me muito. E apaguei muitas pessoas. Não quero ter pessoas que frequentam os meus dias que sejam racistas, ignorantes, violentas, xenófobas, misóginas, classistas, que tenham "ódio no coração", que não respeitem e que não sejam democratas. Repetiram-me muito, apoiantes de Bolsonaro, que eu não sei nada, que não sei do que falo, que sou uma privilegiada portuguesa de um país seguro e pacífico que sempre viveu protegida pela academia. E a minha resposta, hoje, já que não consegui mudar um voto, é: "vão-se foder porque quem não entende nada são vocês que vivem num país que fez o 25 de Abril, e quer eu goste ou não, mas respeito a decisão democrática permitida pela constituição, é governado por partidos de esquerda.

Como é que alguém no seu perfeito juízo acredita nesta solução simplista de "matar os maus" e dessa forma acabar com a violência? Ou armar melhor "os bons" em vez dos "maus". Esta gente já parou para pensar que para mudar alguma coisa só educação. Estas pessoas já pensaram em que mundo nascem os pobres no Brasil? Que numa mesma casa vive uma mãe jovem com muitos filhos e muitos netos e ainda não chegou aos 50 anos? Acham que laqueação forçada é a solução? Não entenderam nada. Vejam o filme "A que horas ela chega?" E perceberão alguma coisa. 

Infelizmente, fenómenos como Bolsonaro estão a surgir em todo o mundo. A extrema-direita ou neo-fascista está a aparecer ou a sair da toca em todo o lado. Quando eu achava que nada podia ser pior do que Trump, ou que não se podia descer mais, eis que surge Bolsonaro. As suas ideias tão básicas e tanta ignorância fazem parecer o seu discurso uma piada. É mau e mal preparado demais para ser verdade. Junta a ignorância, com o exagero, com a palhaçada. Nunca achei possível que fosse eleito. Tive esperança até à última hora. Um homem com um discurso de ódio e que resolve tudo com a maior das simplicidades. Elimina-se, executa-se, mata-se, faz-se desaparecer, nega a ditadura militar é problema resolvido. Infelizmente, nada disto é novo. Já todos vimos e foi-nos explicado, nas aulas de História, como Hitler subiu ao poder. Nunca nos esqueçámos que Hitler foi eleito democraticamente quando a Alemanha atravessava uma grande crise pós-guerra. Hitler, bem menos ignorante e mais bem falante do que Bolsonaro, com os seus discursos nacionalistas e populistas conseguiu que votassem nele. Não neguemos que os alemães não tiveram culpa é não sabiam ao que iam. Bolsonaro nem português sabe falar. E eu que não oiça nunca que os brasileiros foram enganados ou que não apoiavam o discurso dele. Se há coisa que Bolsonaro nunca escondeu foi ao que vinha.

Tive muita pena que Haddad não tenha sido eleito Presidente. Confesso que me conquistou. Acho-o um homem bom. Mas ele e o PT cometeram o erro de não aceitar a prisão de Lula e para além de uma ideia quiseram transformá-lo num mártir. Nunca gostei do Lula mas acho, depois de tudo o que tenho visto, que ele não foi o pior que o Brasil produziu. Tenho muita pena que, como os apóstolos, o PT e Haddad tenham largado tudo e seguido o mestre (neste caso, Lula). A história encarregar-se-á dos julgamentos mas o grande erro do PT, ou de Haddad, ou de ambos, ou de todos feijão terem abdicado de Lula. Haddad seria muito melhor Presidente do que Lula seria hoje. Lula, que como os grandes egos, em vez de se deixar descrever pelos erros, descreve-se a si próprio, já não é um homem é uma ideia. Pode até ser. Mas já era tempo de ter deixado a luta para os outros. O tempo de Lula acabou e ele devia ter percebido. Haddad foi a segunda escolha. Sempre colado à péssima imagem que a maioria dos brasileiros tinha de Lula. Tarde e mal assumiu e desculpou-se pelos erros do PT. Haddad, um homem bem formado, democrata, ponderado, com ideias. Acima de tudo um professor. Que oportunidade desperdiçada, Brasil.

Depois, ciro Gomes, que se eu fosse brasileira e votasse, teria sido a minha opção no primeiro turno.que desilusão. Que decepção é o engano. Ciro Gomes mostrou que o ego é uma merda. Como as pessoas normais, e não como os grandes estadistas devem ser, Ciro Gomes não soube aceitar os resultados que lhe deram o terceiro lugar e amuou. Abdicando da sua privilegiada posição e de milhões que acreditaram e votaram nele, viajou para a velha Europa, o exterior, como gostam de dizer. Ciro Gomes assinou a sua morte política com esta decisão. Nunca se vira as costas aos eleitores e ao país quando tanto está em causa. Embora ele ache que tenha jogado certo e apostado na futura candidatura em 2022. Só que Ciro Gomes jogou mal é errado. Se houver eleições democráticas em 2022, que desconfio que possa acontecer, os seus eleitores se tiverem memória, não voltarão a confiar num candidato que só quer é aceita ganhar. Para mim, Ciro Gomes morreu politicamente. Como escreveu Drummond: "Nunca me esquecerei desse acontecimento/ na vida das minhas retinas fatigadas". Ciro Gomes perdeu a oportunidade de ficar do lado bom é certo da história. Que triste que foi.

O acesso à educação dos mais pobres e a ascensão social que a educação permite, intimida os privilegiados. Salazar, esse "pai" dos pobres e pregador das vantagens de se ser pobrezinho mas limpinho dizia: "um lugar para cada pessoa é cada pessoa no seu lugar". Não foi por acaso que Portugal em 74 tinha uma taxa de analfabetismo gigantesca e as pessoas não concorriam às universidades, inscreviam-se. Quem é que lá chegava? Os ricos, privilegiados, educados ou um pobre que com um rasgo de muita sorte é uma série de coisas que correram bem conseguia chegar ao topo. A verdade, por mais que digamos mal de Portugal é que conseguimos de 74 até hoje democratizar o ensino. Só não houve necessidade de cotas porque somos uma maioria branca. Ainda estes dias discutia isso com um amigo aqui em Itália. Somos uns privilegiados porque somos brancos. De boca fechada ninguém sabe que não somos italianos. Sim, é assim que está Itália, a transformar-se rapidamente num ninho de apoiantes da extrema-direita. E Salvini ainda há pouco chegou à Ministro. esperem para ver.

E depois, quando todas as previsões e sondagens insistiam em dar a vitória a Bolsonaro, eu insistia em não acreditar. Eu tive esperança até ao fim tal era o clima de mudança é manifestações tão bonitas. A esperança é teimosa. Achei possível uma viragem. A democracia vencer contra o ódio e contra a violência.

Flores e livros. Que melhores símbolos podiam representar um candidato? Apesar de nunca ter gostado do Lula, num ter sido sua apoiante, e nunca ter votado num partido com a ideologia é tão à esquerda como o PT, teria votado em Haddad de olhos e coração bem abertos.

E na hora da derrota, o discurso de conforto e sem confronto.um discurso de abraço e de comunhão. Um discurso tão bonito, de improviso, emocionante, sentido. "Não tenham medo". E como li há pouco, no livro do João Guimarães Rosa "Grande sertão veredas", que tanto queria e me foi dado sem eu esperar e pelo qual me tinha apaixonado por causa de Diadorim na voz de Maria Bethânia: "o correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".

Hoje, sábado, já depois de saber que Sergio Moro aceitou ser Ministro da Justiça e da Segurança Pública torna tudo mais triste. Afinal, Sergio Moro acaba de desmentir tudo o que disse de nunca aceitar nenhum cargo político. De facto, o ego é uma merda. E Sergio Moro acaba de transformar Lula num mártir e de legitimar a tese do PT de perseguição política. Mais, se houvesse algum resto de respeito por Moro acabaria quando aceita o convite de uma pessoa tão anti-estado de direito. O eleito governador do Rio de Janeiro, um magistrado associado com seitas religiosas defende a "matança d bandidos" com tiros certeiros na cabeça por snipers. É nesta guerra que o Brasil se transformou. 

Mas depois oiço a música de Caetano Veloso, que considero adequada para este momento, e que ganhou a melhor versão que ouvi até hoje acompanhada apenas pelo piano e cantada pela Adriana Calcanhotto (que infelizmente retirou do repertório de "a mulher do pau Brasil" mas que eu tenho a esperança infinita que seja reposta), talvez de resistência em democracia, sem violência e sem ódio: "Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar/ Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar/ onde a gente é a natureza feliz vivam sempre em comunhão/ E a tigresa possa mais do que o leão".

sábado, 27 de outubro de 2018

O dia da virada

Ontem, discutia que achava impossível haver um fenómeno Bolsonaro em Portugal. Pelo simples facto que um neo-fascista palhaço e ignorante não encontraria muitos apoiantes em Portugal. É que Bolsonaro é ainda pior que Trump. Posso estar muito enganada mas Bolsonaro comparado com Trump é muito pior. Antes de ser eleito, Bolsonaro não engana ninguém e diz ao que vem. A última é tirar o Brasil da ONU. Não perdeu tempo a ameaçar os seus opositores “cadeia ou exílio”, coisa que nem a ditadura militar se atreveu. Defensor, sem qualquer vergonha, da tortura.  E teve a desfaçatez de dizer que o erro da ditadura militar foi não ter eliminado umas 30 mil pessoas. Depois defende coisas absurdas como o conceito de família normal mas tem uma família constituída por marmanjos que vivem e enriqueceram da política. O nepotismo no seu melhor. E foi “batizado” em adulto por uma das seitas que mais poder tem no Brasil. Fala e expressa-se mal em língua portuguesa, imaginem nas outras. É um ignorante em todas as matérias técnicas. Não é por acaso que deve ter sido um dos únicos candidatos em todo o mundo a recusar debates com o seu adversário.  Dizem que é contra a corrupção mas há muitos anos que vive da política e vê o seu património, e o da família, aumentar exponencialmente. É um homem grotesco. O absurdo em pessoa.
 Depois de Trump achei que não se podia descer mais baixo. O problema é que o buraco parece não ter fundo. E quando se instiga à violência e ao ódio e se provoca medo, não há como não votar em Haddad. mesmo que não se seja de esquerda, mesmo que não se concorde, mesmo que não se goste, nem que seja o mal menor, ou de olhos fechados. E eu que nunca votei em Portugal num partido da ideologia do PT digo com toda a convicção e com os olhos e o coração nem aberto, eu apoio Haddad. Que pena ter sido a segunda escolha do PT. Quem sabe, com mais tempo, não houvesse segundo turno e o inominável não estivesse cheio de esperança.

E Ciro Gomes foi a desilusão. Amuado, pegou nos votos das pessoas que confiaram e acreditaram nele e veio descansar para Paris. Tão fácil? Independentemente do que se passará amanhã não haverá Ciro em 2022. 

Mas erros todos cometemos e Ciro Gomes ainda está a tempo de ficar ligado ao lado bom da história. Todos contamos com o apoio e as palavras de Ciro Gomes. O Brasil fará história amanhã, dando uma grande lição ao mundo de como a ditadura não passará? Eu quero acreditar que sim. Pela língua portuguesa, pelos meus amigos que não quero ver exilados, pelos artistas que quero continua a ver terem voz sem medo, pelos esquecidos , pelos que não têm voz, pela esperança num Brasil melhor, eu serei sempre pelos candidatos democratas. Eu sou Haddad. Contra o ódio e a favor da democracia no Brasil!

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

"Eu vejo o futuro repetir o passado"


Ressacada do resultado das eleições democráticas no Brasil com Bolsonaro quase a não precisar de uma segunda volta, sinto-me como os versos de Caetano: "Estou triste, tão triste/ Por que será que existe o que quer que seja... sinto o meu prato vazio e ainda assim farto". E para piorar, Bolsonaro teve 59% dos votos dos brasileiros em Portugal. Apetece dizer, no calor da coisa, mudem-se para esse país que vocês idealizam porque vocês devem merecer. Depois recupero alguma lucidez e penso que o Brasil perdeu uma tão boa oportunidade de eleger um homem bem preparado tecnicamente, com ideias, com um programa bem explicado, que fez uma campanha informada e que já foi ministro e governador do Ceará, Ciro Gomes. Mas pelos visto, desta vez, parece que o que os brasileiros queriam era uma guerra ou um combate à dois. Avaliação de forças.  Como se justifica esta dicotomia Bolsonaro vs Haddad? 


Nunca simpatizei com Lula da Silva. Já escrevi muito sobre isso. Mas não há como negar que o primeiro governo de Lula tirou muita gente da miséria. E muitos, pela primeira vez na vida, puderam sonhar. No entanto, quando em 2015 estive em São Paulo, pude constatar que era uma cidade de extremos. Uma cidade com a maior favela da América Latina com restaurantes com preços mais altos que NY. Hotéis 5 estrelas que tinham tantos empregados como hóspedes, pessoas cujo trabalho era abrir a porta e dizer: "cuidado com o degrau". Apartamentos em pleno século XXI ainda construídos com separação entre patrões e funcionários. Mulheres mestiças e negras a quererem parecer brancas e alisar os cabelos e a pintá-los de loiro. Médicos  e cientistas que não dominavam a língua inglesa. Brasileiros de classe média a invadir as lojas em Miami e NY.



O maior erro do PT foi manter-se refém de Lula da Silva. E não ter querido ouvir os protestos de um país. Concordo que Haddad é um bom candidato. Bem preparado. Foi um grande Prefeito da cidade Pde São Paulo com ideias progressistas como diminuição da velocidade e fecho de ruas ao trânsito e implementação de outros meios de transporte como a bicicleta. É unânime que foi também um bom Ministro da Educação. Tinha tudo para ter um bom resultado. No entanto, o PT preferiu não fazer o mea culpa e achar que tudo no Lava Jato foi uma "armação". E como todos os mártires, Lula decidiu ir até ao fim e medir forças com a justiça. Acabaram a perder todos. Haddad que foi a segunda escolha e quase não fez campanha como principal candidato. Perdeu o PT porque quando se assume culpas ganha-se o respeito dos seus eleitores e perdeu o Brasil que poderia não estar agora a um passo do abismo. Poderemos sim, para sempre, culpar o PT por este erro estratégico.



Obviamente que Bolsonaro,um péssimo candidato, péssimo político que viveu os últimos 27 anos na e da política e tão pouco contribuiu para ela, sendo ignorante, racista, sem ideias, sem planos, sem projecto de governo, homofónico, xenófobo, misógino, defensor da violência, primário na resolução dos problemas, só podemos concluir que o resultado obtido é um voto de protesto. Os brasileiros estão fartos.
Pobreza, desemprego, desigualdade, violência, falta de oportunidades. É disto que os brasileiros mais se queixam.



Foi assim que Hitler chegou ao poder. E é assim que chegam ao poder (quase) todos os ditadores. Como alguém disse os democratas deviam ter-se unido na primeira volta para derrotar o fascista Bolsonaro. Infelizmente, o meu optimismo não abunda, e acredito que milagres só Deus e os santos. 



Mas o mais revoltante é ver que 59% do emigrantes brasileiros que vivem em Portugal (e não, não são só ricos e milionários) votaram em Bolsonaro! Como é possível os alvos de Bolsonaro votarem a favor dele?! Perceber que São Paulo, a maior cidade do Brasil e mais cosmopolita elegeu novamente o palhaço Tiririca e Alexandre Frota, um ex-actor pornográfico, a quem um dia Bolsonaro disse ser a sua escolha para Ministro da Cultura. Como Cazuza cantou há 30 anos e é tão actual: "eu vejo o presente repetir o passado".Agora, com 20% de vantagem sobre Haddad, Bolsonaro só precisa de continuar igual a si mesmo. E a mim resta-me tentar convencer os meus amigos brasileiros que votaram em Bolsonaro ou Ciro a mudar o voto. Porque apesar dos muitos tiros nos pés de Haddad, como continuar sob a batuta de Lula (o que foi aquela visita a Lula no dia seguinte às eleições? Precisa da autorização do mestre?). Mas mesmo assim, confirmo convictamente que nunca votaria num candidato de extrema-direita, apoiante da ditadura, defensor da tortura e da violência, tecnicamente ignorante, misógino, racista, xenófobo, homofónico. Por isso, a solução é o mal menor. Esqueçam os pecados do PT, votem de olhos fechados, votem no mal menor como um dia Paulo Portas se referiu ao apoio de Cavaco Silva na primeira candidatura à Presidência da República. Não consigo imaginar um Brasil regredir em pleno século XXI.Que país é esse?

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Adeus Passito

A derrota do PSD era expectável. Pedro Passos Coelho tinha a seu favor as baixas expectativas.  Mas uma hecatombe desta dimensão deixou muita gente surpreendida. A começar por mim. Ficar abaixo da CDU é uma catástrofe. Só uma visão deturpada e uma cegueira intratável justificam o mundo paralelo em que Passos vive desde o dia 4 de Outubro de 2015. Toda a gente sabe que foi Passos que ganhou as eleições legislativas. Toda a gente sabe que a formação da “geringonça” foi o golpe que Passos até hoje ainda não aceitou. Toda a gente sabe que o fim do mundo não chegou e que não haverá eleições legislativas antecipadas como Passos desde o primeiro dia da tomada de posse de António Costa ambicionou. Toda a gente sabe que o diabo não chegará. E como diz João Miguel Tavares: “Já várias vezes escrevi que o país muito lhe deve, e que a História lhe fará justiça. Mas agora é hora de pendurar o retrato na Rua de São Caetano à Lapa e dizer adeus”. Acrescento o que disse Manuel Ferreira Leite “atónita e chocada com os resultados demasiadamente maus”. José Miguel Júdice, que entregou o cartão de militante do PSD, disse que este não é o partido de Sá Carneiro e nem consegue perceber qual a actual ideologia.
Os candidatos do PSD em Lisboa e no Porto eram fraquíssimos e nascem de erros de avaliação, de segundas e tardias escolhas e teimosia do seu líder. Começou com o erro de não ter apresentado um candidato vencedor antes de Cristas e, depois, não ter reconhecido isso e errar pela segunda vez não apoiando Cristas em Lisboa e não ter apoiado Rui Moreira no Porto. Tenho muita pena que o José Eduardo Martins, crítico interno de Passos, aceitasse ter escrito um programa eleitoral que estava derrotado à partida. Tenho pena, também, da Teresa Leal Coelho que aceitou a tarefa ingrata de não ser a primeira escolha e ter-se sujeitado a este papel. Até admiro a frontalidade dela como deputada e as opiniões anti-racismo que expressou, sozinha, durante as eleições. Mas, não conseguiria pensar em candidata tão fraca e com tão pouco entusiasmo durante a campanha. No entanto, acho que ela é a menor das culpadas.
Braga continua completamente irrelevante sob o ponto de vista político nacional. Braga, que  tantos dizem estar no mapa e que é a terceira cidade do país, nunca o é nem nas eleições nem  nas previsões meteorológicas. Com a maioria, pela segunda vez consecutiva, vamos ver se Ricardo Rio saberá usar melhor depois de ter sido, segundo disse, condicionado pelo estado das contas que encontrou no município. Este era um resultado esperado. Primeiro porque uma governação jurássica do Partido Socialista já não acrescentava nada a Braga e a oposição pouco mais fez do que críticas avulsas. Acrescenta-se um PS totalmente descaracterizado, com os arguidos apoiantes de Mesquita Machado de um lado e um Miguel Corais orgulhosamente só do outro. No entanto, existem muitas coisas que têm que melhorar nos próximos anos. É indiscutível como a cidade ganhou vida nos últimos 4 anos. A relação com a Universidade é notória e de salutar. As actividades culturais são muitas e diversificadas. A procura e oferta turística tiveram um aumento exponencial. A revogação de alguns péssimos negócios como o edifício das convertidas é um grande exemplo. A decisão sobre o S. Geraldo depois de muita pressão pública foi outra das grandes decisões a mostrar que esta coligação não está de costas voltadas para a população. As reabilitações do Parque Exposições de Braga (PEB) e do mercado Municipal foram dois dos grandes investimentos desta coligação. No entanto, há coisas que não se percebem: como não se cria mais verde naqueles espaços à volta do parque da Ponte, mais ciclovias e passeios?Como é que aquele parque pode ter tão pouca vida? O que se fez nas margens do Rio Este nestes últimos 4 anos? Uma das promessas da coligação “Juntos por Braga” era a revogação do  aumento de ruas com estacionamento pago. A minha rua fazia parte das ruas acrescentadas cujo estacionamento é totalmente pago. Há uns tempos critiquei publicamente a forma como o actual Presidente da Câmara prometera revogar a decisão da ESSE no que respeita ao aumento do número de ruas com estacionamento pago. Fui corrigida, posteriormente, pela sua Chefe de Gabinete (pessoa que prezo e tenho consideração) que a acção teve parecer positivo do Tribunal mas que a ESSE recorreu. É neste ponto que estamos. O pagamento continua a ser cobrado. Eu sou residente numa rua cujo estacionamento é pago mas eu não tenho garagem. Ou seja, qual a justiça de se cobrar o estacionamento a residentes que não têm lugar de garagem. O que me sugerem é que pague a avença mensal? Tenho centenas de euros por pagar. O que proponho: devia ser criado um dístico isento de pagamento para residentes sem estacionamento. É o mínimo que se pede num país civilizado e cujo cidadão comum paga por tudo o que usufrui. Será pedir muito? Uma das promessas desta coligação é mudar a recolha dos lixos domésticos. Pois bem, para quem conhece a recolha do lixo em Braga é qualquer coisa que considero indescritível para o século XXI. O lixo é colocado nas calçadas à porta dos prédios. Será  que vai mudar em 4 anos?
O resultado de Isaltino em Oeiras  é anedótico. O concelho com maior percentagem de licenciados e doutorados do país elegeu, com um resultado esmagador, um senhor julgado, condenado e preso por crimes praticados no tempo em que era presidente da câmara. O exemplo de Oeiras faz-me lembrar a piada que conto muitas vezes que os maiores burros que conheci na vida são doutorados. A democracia (também) é isto?
Inês de Medeiros derrotar o bastião do PCP em Almada foi outra surpresa, para mim. Uma candidata sem nenhum peso político, como Inês de Medeiros, é a prova de que tudo corre bem ao PS. O estado de graça chegou para ficar.
A frase tantas vezes repetida, a mesma frase tantas vezes lida “não me demito” não é sinónimo de coragem nem inteligência. É sinónimo apenas de teimosia e não saber sair de cabeça erguida. Tomasse como bom exemplo o de Paulo Portas, e quem sabe, pudesse voltar um dia. Desta forma, ficará como o pior exemplo da história de agarrado ao poder. Nunca devemos ser nós a acharmos que somos (sempre) indispensáveis. Os outros é que devem opinar por nós e deverão fazer esse julgamento. Como tudo na vida devemos sair quando estamos a mais e não esperar que nos empurrem.O grande problema do PSD é quem quer ir para o lugar mais indesejável do país? Rui Rio é um homem provinciano, bairrista, dizem que  equilibrou as contas no Porto mas nunca a cidade esteve tão apagada e tão invisível como no seu tempo. Um homem sem visão é tudo o que o PSD não precisa. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Infelizmente, não estivemos prontos para Hillary

Não nos esqueçamos nunca que Hillary Clinton teve a maioria dos votos populares. Richard Zimler, que eu muito aprecio e que é um cidadão americano e um profundo conhecedor da realidade americana, dizia-se com “uma sensação física de dor”.

Ao ouvir, ver e ler os dois discursos de Tim kaine e Hillary Clinton chorei ontem pela segunda vez. Talvez pela sensação profunda de uma grande oportunidade perdida. Há muito que sou uma ferverosa apoiante de Hillary. Li muito, talvez (quase) tudo sobre ela, o bom o mau, o feio e o bonito. As biografias autorizadas, as não autorizadas as autobiografias. E foi, talvez depois disso, que a minha convicção se consolidou. Hillary Clinton é uma pessoa inteligente, bem preparada, grande política, foi uma competente advogada, Primeira-Dama do Arkansas e dos EUA, Secretária de Estado, Senadora de NY e que podia ter sido a próxima Presidente dos Estados Unidos da América.

Uma das minhas amigas dizia-me que o discurso da “derrota” tinha sido tão bom e muito melhor do que todos os que tinha feito durante a campanha. Outro dos meus amigos dizia-me que eu escusava de a endeusar porque Hillary não era tudo isso. O que eu refiro em cima não são louvores, são factos! Ela foi e é isso tudo. Custa acreditar, eu sei.

Quem não  gosta ou não simpatiza (como diz o meu pai quando não gosta mas quer usar um eufemismo) não aprecia Hillary Clinton diz para desclassificar e terminar a discussão que ela é uma burocrata, betinha, nerd, sem um pingo de carisma, que aceitou as infidelidades do marido e que tem telhados de vidro (ou aparenta ter). Outras opiniões ainda piores consideram-na uma imperialista, criminosa, oportunista e cínica .Há também quem diga que Trump e Clinton representam os mesmos interesses políticos e económicos, estando ao serviço de uma elite gananciosa e acumuladora que quer a cada dia mais poder. Para esses, não demorará muito a perceberem o quão errados estavam. Oiçam e leiam o discurso de Hillary Clinton e imaginem o quão bom poderia ter sido tê-la como próxima Presidente.

Tim Kaine fez um discurso improvisado, sincero, emocional e lindo. terminou com uma frase do William Faulkner: “"They killed us, but they ain't whopped us yet." Quem cita um escritor num final de um discurso de derrota só pode ser um intelectual e alguém que tem muito para dar.

Hillary fez um discurso carregado de emoções, grato mas ao mesmo tempo triste. Que pena não ver esta mulher e esta equipa de gente na Presidência dos Estados Unidos. Começou por dizer, de forma honesta, que este não era o resultado que esperava e que tinha muita pena de não ter vencido principalmente por causa dos valores que partilhava com os seus eleitores e pela visão que tinha para o país.  Que sabia o quanto estávamos desapontados porque ela sentia o mesmo. E que 10 milhões de americanos investiram as suas esperanças e sonhos nestas eleições: “Isto é doloroso e se-lo-á por muito tempo”. Fez um apelo, dirigido especialmente aos jovens, ressaltando que durante a sua vida adulta tinha tido sucessos mas também contratempos, alguns deles muito dolorosos e que isso faz parte da vida, que estas perdas magoam muito. Terminou com palavras de esperança e de força para que os americanos não abandonassem aquilo em que acreditam.

Não sei se o violeta foi propositado. Hillary apareceu com um fato com apontamentos roxos e Bill com uma gravata da mesma cor. Era assim que eu me sentia, de luto.

Depois de uma directa a acompanhar minuto a minuto os resultados das eleições americanas passei um dia mau. Triste, inconformada, chocada, descrente. Como se fosse um sonho mau. Sem acreditar na realidade. Mas foi o que foi. Como disse Hillary: “vai doer por muito tempo”. Resta-nos conformar. E o que seria, nunca o saberemos.


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O dia em que o mundo mudou

Estava com medo.  Havia um infinitésimo receio. Mas nunca, nos meus piores pesadelos, imaginei que Trump ganhasse. Não achava essa hipótese possível. Arrogância. Excesso de confiança. Chamem-lhe o que quiserem. Mas o povo americano quis pagar para ver. Mantive quase toda a noite a esperança numa vitória de Hillary Clinton, ou quis acreditar. Tudo por puro medo do detestável, arrogante, malcriado, imprevisível e perigoso Donald Trump. Mas a realidade não quis nada comigo, e pouco passava das 4, já a desgraça se anunciava. Apenas os estados ditos “letrados” da costa leste e oeste, onde a América é uma excepção, ex. como Califórnia, NY, Washington D.C. ou Massachussets, foram ganhos. E perdeu inexplicavelmente na Florida, na Carolina do Norte, na Pensilvânia e em estados há muito democratas como Michigan ou Wisconsin.

O dia da queda do muro de Berlim. O dia escrito igual ao que os americanos usam para o 11 de Setembro (9/11, o mês seguido do dia) igual ao que usamos em Portugal (9/11, o dia seguido do mês).

Hoje, para quem não conhece a realidade americana, ficou a conhecer-se a verdadeira América. Os EUA não são NYC nem Boston. A América na sua maioria é conservadora, racista, que até à metade do século passado distinguia as pessoas com base na sua cor de pele. O país que não permitia a Rosa Parks sentar-se no autocarro. O país do Ku Klux Klan. O país que permitiu a imortalização das células HeLa retiradas, sem autorização, sem consentimento prévio, as células de uma neoplasia cervical de uma mulher negra chamada Henrietta Lacks.

Muitos dizem que a América se revoltou. Que foi um voto de protesto. Que não foi Trump que ganhou mas Hillary que perdeu. Mas eu acho que é muito pior do que isso. O resultado destas eleições são o fruto de gente desinteressada que acha que a política tem uma varinha mágica que lhes resolva a vida. Trump disse coisas tão absurdas como: “vamos acabar com a guerra na Síria”, “Vamos irradicar o ISIS”, “Vamos expulsar os imigrantes”,  “não vamos permitir a entrada de muçulmanos”, “vamos construir um muro na fronteira com o México”, “Vamos tornar a América grande outra vez”.... E estes eleitores acreditaram que ele é o salvador. E quem são estas pessoas que votaram Trump? Não me venham dizer que são apenas red necks, a classe média caucasiana, o comum trabalhador que se sente ameaçado pelos imigrantes ilegais que ganham menos e trabalham mais.  O voto branco pobre. O voto menos letrado. Não é só. São também os pobres de espírito. Os frutos do séc XXI que vivem nas redes sociais e só lêem frases feitas com 150 caracteres e ouvem (apenas) sound bytes. Os filhos de uma segunda geração de imigrantes que vive (bem) melhor que os pais, que se esqueceu e finge que não sabe como os pais viveram enquanto foram ilegais. Que dizem que são americanos e não imigrantes. Que são filhos de imigrantes, não imigrantes. E o que mais me envergonhou hoje foi ver na plateia do Trump muitas mulheres, negros e hispânicos a exibirem a sua alegria. Aqueles por quem Trump destila o seu ódio de estimação.

Foi a vitória do populismo, do racismo, da misoginia, da xenofobia, da homofobia, da estupidez, da ignorância, do deboche e da piada. A capacidade de se dizer aquilo que as pessoas querem ouvir. Nada motiva tanto as pessoas como o ódio, o medo e o desespero. Outra da lição que poderemos retirar é que a ignorância, a inconsequência e a falta de instrução têm efeitos devastadores para um país. O partido Republicano manteve a maioria no Senado e no Congresso.

E isto é o pronúncio do que (ainda) está para vir. Provavelmente daqui a uns tempos teremos a Marine Le Pen no poder em França e isto é só espalhar e começar a cair como um desmantelar de um baralho de castelo de cartas.

Até há pouco ria da Venezuela e da ascenção democrática de Chavez e do seu fato de treino à la Republica Boliveriana. Ficava perplexa pela hegemonia dos bispos da  IURD e seitas evangélicas no Brasil. E o poder de ditadores como Putin ou Erdogan. Não dá para rir mais. "It's not funny anymore".

Outra coisa que me irrita profundamente é dizerem que a Hillary era fraca e que a derrota se deve a ela. Que o Bernie Sanders é que devia ter sido escolhido. O Bernie Sanders, o revolucionário lá do sítio? Um homem, cuja competência não duvido, mas cujas ideias são ultra revolucionárias para a América conservadora. E não, a Hillary não é fraca. É talvez das mulheres mais bem preparadas da sua geração para Presidente dos EUA. A América perdeu, perdemos todos, por consequência. Que pena a América desperdiçar Hillary assim. O tempo, com toda a certeza, vai mostrar tudo.

Os votos valem o mesmo. São todos iguais. Tal como no nascimento e na morte.“Democracy is a bitch”. Os grandes ditadores foram eleitos democraticamente. Olhemos para trás. O mundo, tal como o conhecemos, acabou hoje. Só espero que não termine como a canção “Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar...”.


Copyrignt: The New York Times



segunda-feira, 18 de abril de 2016

O dia que o Brasil disse sim ao golpe

Domingo histórico para o Brasil, no sentido negativo e muito pessimista. Constrangida, é o mínimo que posso dizer hoje, depois do que vi durante parte da noite e madrugada. Das noites e madrugadas mais chocantes da minha vida. Ri para não chorar. Quando a realidade ultrapassou a ficção. A ignorância no seu esplendor. “Ao pé daquela Presidente e daquele Governo, daquele antigo Presidente, daquele Congresso, daquela Comunicação Social, a nossa vida política é um poço de sabedoria e de civilidade”

Que circo era aquele? Aquilo era na Casa do Povo (Câmara dos Deputados) ou um estádio de futebol?!  Que berraria, que claque, que baixo nível. Tanta gente a saber conjugar mal os verbos e não distinguir entre o singular e o plural. Tanto usar o nome de Deus em vão. Tantas graças, tantas glórias. Tanto agradecimento aos pais, aos filhos, aos netos, aos sobrinhos, aos primos, aos avós, aos tios, aos amigos, aos colegas, aos simpatizantes, às cidades, aos estados, ao cão, ao gato, aos que ainda estavam por nascer, aos militares, aos bombeiros, aos ditadores, aos reaccionários, aos democratas, aos golpistas, aos torturadores, aos ditadores, aos canalhas, aos padres, aos pastores, à paz em Jerusalém, aos agricultores, aos índios, aos coronéis.

Votaram sim, não pelo crime de responsabilidade da Presidente da República mas: “pela minha mãe negra Lucimar”, pela “família quadrangular”, por “Campo Grande onde tem a morena mais linda do Brasil”, “pela minha neta que vai nascer”, “ pelo fim da vagabundização remunerada”, “pelos produtores rurais, que se o produtor não plantar, não tem almoço nem janta”, “pelo estatuto do desarmamento”, pelo comunismo que assombra o país”, “pela nação evangélica”, “pelo fim dos petroleiros”, “pelos militares  vitoriosos de 64”, “pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rouseff”. Como? Não houve quem lhe desse um murro que lhe partisse a cara e os dentes?! Parece que esta é a única linguagem que (alguns) percebem.

Não foi um espectáculo bonito de se ver. Os patriotas, os golpistas, os de direita, os reaccionários, os conservadores, os ultra, os evangélicos de verde e amarelo de um mau gosto sem nome. Cabelos de homens pintados, a grande moda. Com direito até a confetis: “quem vota sim bota a mão para cima”, como se de um espectáculo de axé se tratasse. Só faltou a Ivete para cantar e dançar no fim!

Falta de educação, de boas maneiras, histeria raivosa, com algumas (raras) excepções.  Gritos. Urros. Apupos. Assobios. Cuspidelas. Vozes roucas, quase afónicas. Buzinadelas. Palmas. Braços no ar. Choro. Gritos. Cânticos. Claque. Mas...“faixa não é admitida”.

Canalhas. Corruptos. Quem naquela câmara não tem um processo a pairar sobre si: uma pequena minoria. O propagar de gerações de netos, filhos e avós políticos, como se de dinastias reais se tratassem. Analfabetos políticos. Semi-analfabetos literais. Falta de vergonha na cara. Vendidos. Ladrões. Gentalha que se dirige à Presidente como “Tchau querida”?!. Gente que mandou beijos através da televisão. "Que país é esse?" já perguntaram os visionários nos finais dos anos 80.

Nunca fui a favor de Dilma. Mas acho que comparativamente com o que a rodeia, é o mal menor. Não pairam sobre ela acusações de corrupção mesmo depois de todas as investigações a pente fino. O grande erro dela foi ter achado que Lula seria a solução de (quase) todos os seus problemas. No dia em que ela convidou Lula para Ministro ninguém percebeu nada e confundiu-se tudo. Ela nunca o devia ter feito. Para tentar salvar o seu governo e tentar salvar a face de Lula assinou a sua “morte” política. Nesse dia, os que (ainda) acreditavam na sua inocência passaram a colocá-la no mesmo saco. Ser contra o golpe e contra a destituição não é ser do PT. Ser contra a destituição de Dilma é ser a favor da Democracia e achar que o único poder de eleição de um Presidente é o voto do povo e não a eleição indirecta. Se chegarmos a ver Michel Temer na Presidência do Brasil, apoiado pelo Eduardo Cunha, é legitimar a corrupção. É aceitar que vale tudo. Num país evoluído, democrático, de primeiro mundo, um político que é réu do Lava-Jato, que tem contas na Suiça por lavagem de dinheiro, teria tido a honradez de se demitir e sair pelo próprio pé. Não teria a falta de vergonha de ter a cara levantada e riso cínico de presidir à Câmara de Deputados.


Não adianta estar indignado agora. Aqueles que defenderam  o fim da corrupção com o afastamento da Dilma verão, em pouco tempo, o mal que escolheram. Ninguém fora do Brasil percebe como é que Dilma Rouseff que não está indiciada nem acusada de nenhum crime é destituída pelo Presidente da Câmara e muitos dos deputados implicados no escândalo de corrupção que abala o Brasil. E toda a gente bate palmas?! Não acredito que o Brasil tenha solução. Com alternativas políticas tão pouco credíveis e tão fracas é difícil. Tenho muita pena pela grande geração que vejo crescer e que poderia ambicionar por um país melhor. Portugal ao pé do Brasil é um menino... Se o Brasil ambicionar mudar nos próximos tempos tem que começar por mudar este Congresso. É acabar para começar de novo. Zerar.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Marcelo Rebelo de Sousa

Faz 21 anos para o Outono que Cavaco Silva deixou de ser Primeiro-Ministro (PM). Eu tinha 16 anos e lembro-me como se fosse hoje desse acontecimento. Nesse Outono, exactamente em plena campanha legislativa, eu filiei-me numa Jota. Nessa altura não percebia nada de política. Filiei-me porque alguns dos meus melhores amigos me convenceram. E eu, fácil como sou, não resisti. Não estou com isto a dizer que me arrependo. Quase nunca me arrependi na vida. Embora a palavra “nunca” faça poucas vezes parte do meu vocabulário. Continuando, foram as legislativas Fernando Nogueira vs António Guterres. A vitória foi De António Guterres. O tempo, que nos ensina tudo e que é sempre sábio mostrou-nos muita coisa. O inadequado, desajeitado, pouco empático Fernando Nogueira veio a mostrar que o PSD fizera uma má escolha a escolhe-lo para substituir Cavaco Silva que governara com uma minoria e duas maiorias absolutas. António Guterres chefiou dois governos minoritários, durante os quais, teve como sua principal paixão, a educação. Deu muito aos professores. Naquela altura, apesar de o popular e bom orador, achei-o sempre um PM com pouca autoridade e até um pouco frouxo (anos depois, o tempo ensinou-me que tudo muda). Quando Cavaco Silva se candidatou pela primeira vez a Presidente da República participei na campanha. Participei fervorosamente, debaixo de chuva, insultos e afins. Já nessa altura lhe vislumbrei um ar distante, pouco afável, nada empático, carrancudo, até. Mas nem isso me fez mudar. Estava ali inteira, e sou como as árvores: morrem de pé. Nunca abandono.

Conheci o Marcelo Rebelo de Sousa numa noite fria de Inverno na Universidade do Minho, não me lembro em que iniciativa. Lembro-me que ele era líder do PSD e que pouco tempo depois se demitiria por causa de Paulo Portas. Era o mesmo de hoje, simpático, sorridente, bem-disposto, excelente orador, comunicativo, popular. Vi-o anos mais tarde numa conferência no meu antigo colégio. A minha opinião sobre ele manteve-se.

Anos mais tarde, votaria na primeira maioria de Cavaco Silva para Presidente da República. Como hoje escrevia o Herman, Cavaco Silva teve duas maiorias absolutas e foi eleito para PR duas vezes. E eu não renego que votei nele no primeiro mandato. No segundo, apesar de já discordar muito, as alternativas eram piores. Mas não votei porque estava em NY. As críticas e ficarão para outro texto. Apenas digo que um político que admirei, e que li as duas biografias, me desiludiu profundamente. Foi com Cavaco Silva que comecei a achar que (afinal) os políticos são todos iguais.

Não vou sequer referir José Sócrates, pois faço parte das pessoas que discordam em absoluto dele, a quem ele nunca enganou nem iludiu. Ele revelou-se o que sempre foi para mim:  e que o maior mentiroso de todos os tempo. A montanha que pariu um rato. O tempo mostrará que a sua vida assentava em muitos telhados de vidro. Mas isso não me cabe a mim, mas à justiça.

Também não vou falar de Passos Coelho porque hoje não é dia de críticas mas de celebração e isso ficará para outro texto.

Marcelo Rebelo de Sousa não precisa de elogios nem de descrições. Um brilhante aluno e professor de Direito. Muitas pessoas que conheço e amigos de família foram alunos dele. O que mais admirava nele nos últimos anos era a divulgação dos livros e os elogios aos prémios e feitos dos portugueses. De resto, como a maioria que o elegeu, acho que é a pessoa mais preparada para ser PR. Deixando de lado o político e o professor, o que mais admiro nele são os afectos. Tem como defeito (para mim) ser demasiado conservador. De aplaudir a forma como não renega as origens e as mantém. Colocou Celorico de Basto no mapa e doou a sua biblioteca pessoal à biblioteca da terra, tal como Adriano Moreira fez com Bragança. O homem publicamente afectuoso, que não esconde a relação próxima que tem com os filhos e netos e por quem o rodeia. Um homem que não tem vergonha do que sente nem de o demonstrar. Um chefe de Estado humano, como qualquer um de nós. Terrestre, físico, próximo. Um homem culto que sabe citar políticos poetas e escritores. Finalmente, acho que Portugal tem o PM que merece. O que mais podemos querer?

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O que correu mal?

Há um ano atrás ninguém, nem a pessoa mais ferrenha apoiante da coligação, do PSD ou do CDS acreditaria sequer numa vitória, nem tão pouco coagitaria uma maioria clara, absoluta, simpática, segura, certa, governável (ou qualquer outro adjectivo, a mesma palavra para dizer o mesmo).

Quando o António José Seguro ganhou (por pouco) as autárquicas e as europeias, toda a gente se levantou para dizer que não chegava. Num ambiente hostil, debaixo de um protectorado, sob as ordens da troika, mergulhados na mais alta taxa de desemprego que havia memória, dos muitos cortes de salários pensões e feriados, depois da irrevogável demissão de Portas, não ter uma vitória clara (por muito) era pouco. Este foi o motivo que levou António Costa a concorrer a secretário-geral do PS, a quebrar a sua promessa de ficar até ao fim na Câmara Municipal de Lisboa  e a afastar o António José Seguro que não conseguia descolar nas tendências de votos e mostrar uma unanimidade clara.

No mês de Agosto, estava eu em frente para ao Tejo, na Ribeira das Naus, e comentava com os meus pais que se o país conhecesse a governação de António Costa em Lisboa, o resultado das eleições seria diferente. Nesse dia eu diria que o mal do país era não conhecer Lisboa. E hoje digo que o mal de António Costa foi achar que o país era Lisboa. Não consigo encontrar “o” erro de António Costa ou do PS. Este problema, como mostram as intenções de voto no tempo de António José Seguro e agora com António Costa não tem a ver com “a pessoa” mas com o partido que não conseguiu convencer ou mobilizar as pessoas. O grande erro começa pelo fraquíssimo líder da bancada Ferro Rodrigues. Depois, apesar de o programa económico ter sido liderado pelo Professor Mário Centeno, mostrou-se com qualidades oratórias piores do que o outro académico Professor Vitor Gaspar. Depois, as diferenças abissais entre o pacífico Mário Centeno em confronto com o radical João Galamba. Depois, a história dos cartazes. Mais o erro colossal de dizer que chumbaria o orçamento de estado da coligação mesmo sem o conhecer. E hoje vem culminar com a aceitação da privatização da TAP autorizada pela Autoridade da concorrência, tendo António Costa dito que revogaria a privatização se chegasse ao governo.


E eu, que nunca votei no PS, com António Costa, e por ele ter escolhido para deputados pessoas que eu conheço pessoalmente e que muito estimo, tive a esperança um dia de mudar o meu sentido de voto. Mas como todas as utopias, não passam disso. E hoje, voltando à realidade, o meu voto está decidido. Hoje o meu apelo é: votem! Não fiquem em casa! Dignifiquem a democracia e exerçam esse poder soberano dos povos. Dizem que vai chover no domingo. A desculpa desta vez é a chuva. Às vezes é o sol. Quando se quer há sempre uma desculpa. Mostremos que somos uma maioria que escolhe e que a maioria não é a abstenção.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Quem perdeu foi o Brasil

Nunca morri de amores pelo PT, pelo fenómeno "Lula", nem pela "presidenta" Dilma. Contudo, concordo que nos últimos 3 mandatos PT, muita gente saiu do limiar da pobreza extrema e a classe média cresceu no Brasil. Falta saber a que preço. E quanto tempo irá durar. Acho que 3 mandatos do mesmo partido no poder só criam maus vícios. O que deixou o Brasil a optar pelo "mal menor" foi o Aécio. Faço minhas as palavras do Benjamin Moser (autor da biografia de Clarice Lispector e talvez o americano que melhor fala do Brasil): "o Aécio com sua cocaína, sua atitude de filho-de-coronel, suas falas, nos Estados Unidos, que a mulher brasileira só vai à praia e faz compras, sabe o que eu vejo? George W. Bush, edição tropical".

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Democracia directa?

Eis como vão ser eleitos os próximos governantes da Ucrânia: “Quem quiser pode lançar nomes, de pessoas que conheça, personalidades prestigiadas e sem ligações à política, como reitores de universidades. A cada nome, o povo vai votar de braço no ar, ou aplaudir e gritar. Os nomes que obtiverem mais gritos serão os eleitos”.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Eleições autárquicas

Se eu votasse em Lisboa, o meu voto iria para António Costa. Nas eleições municipais há mais claramente a percepção do que foi feito. E não podemos dizer que Lisboa está pior. Lisboa, está de facto melhor. Para além disso, a equipa deste candidato parece-me muito boa, na sua maioria. Só não simpatizo com o José Sá Fernandes. Quanto a Fernando Seara, não vou alongar-me em críticas nem explicá-las. Só refiro que este candidato, tais como tantos outros, beneficiaram de uma lei propositadamente ambígua para que suscitasse a dúvida na sua interpretação. Esta lei poderia ter sido clarificada pelos deputados. Eles assim não quiseram e deixaram para os juízes  o poder da dúbia interpretação. Desconheço na totalidade a  obra de Fernando Seara na Câmara de Sintra e o seu desempenho como presidente. Mas as declarações dos parafusos e o “tu, pour moi, viens de charrette”... sem comentários...

O Luís Filipe Menezes é outro dos que não teria o meu voto, pela mesma razão, e não só. Como presidente da Câmara de Gaia foi um despesista. Quem ganhar as eleições que assuma as dívidas. Como Presidente do PSD foi uma nulidade. Já para não falar do lamentável discurso que teve há uns anos num célebre congresso do PSD que queria apelar ao pequenismo e bairrismo do norte acusando os companheiros de partido de “sulistas, elitistas e liberais”... Saiu do palco debaixo de apupos e assobios. Espero muito sinceramente que o Rui Moreira seja o vencedor. Para mim tem o melhor programa, tem uma carreira que fala por ele, tem apoiantes de peso e um Vereador da cultura que de certeza absoluta vai deixar marcas no Porto, como o fez, na Capital Europeia da Cultura em 2001.

Por último, a cidade onde vou votar, Braga. Há décadas governada em regime feudal por Mesquita Machado e companhia. A cidade rainha dos elefantes brancos, dos parques de estacionamento subterrâneos, e agora quase toda a superfície paga. Dizem que é a cidade dos arcebispos mas para mim é a cidade dos empreiteiros. Agora, coitados, por conta da crise declararam todos insolvência e foram procurar ares melhores, como os africanos. Uma cidade em que o crescimento habitacional cresceu em sentido contrário ao da qualidade arquitectónica. Há uma zona de Braga que parece o Cacém. Serviu para enriquecer empreiteiros, agentes imobiliários, empresários... Uma cidade em que as relações promiscuas entre política,  futebol e religião nunca se distinguiram. Conheço mal o Ricardo Rio. Mas acho impossível alguém fazer pior do que o seu antecessor. Cultura em Braga é zero. Com uma das mais belas e equipadas salas do país (Theatro Circo) é uma vergonha ser ultrapassada por cidades vizinhas populacionalmente menores como Guimarães e V.N. Famalicão. Braga tem uma das maiores e mais bem classificadas universidades portuguesas mas há um fosso gigantesco entre o campus e a cidade. Para não falar da recolha de lixo que parece da época mediaval. Não existem contentores nas ruas para lixo orgânico. Os sacos de lixo são colocados nas calçadas das ruas, à espera que os recolham, e que os animais (que também são uns dos mais afectados pela crise)  não os desfaçam à procura de comida.


Quanto à possível gigantesca abstenção só digo uma coisa: imitemos o Brasil. Já que as pessoas não sabem valorizar o quanto é importante votar e ter esse direito que pode mudar o seu mundo, as pessoas deviam ser punidas se não o fizessem. Provavelmente muito pouca gente se lembra que as mulheres antes do 25 de Abril não tinham direito de voto. Hoje, democraticamente, podem decidir não votar. Se não se identificam com nenhuma candidatura, existe sempre o voto de protesto, branco ou nulo.Agora, não votar, é um atentado à democracia. Se fosse eu que mandasse era como no Brasil: multa e passaporte suspenso enquanto não a pagarem. E aí veríamos quem não votaria. A desculpa esfarrapada do bom tempo e da praia serem o maior amigo da abstenção cai por terra este ano... o mau tempo impera!

facebook