terça-feira, 30 de abril de 2013

As actividades dos mais novos


As crianças entre os 3 e os 4 passam a vida a querer calçar os sapatos dos adultos. Está a tentar aprender a apertar os atacadores mas não se tem revelado tarefa fácil. As outras actividades do meu sobrinho mais novo são as cartas e o dominó. Para além disso anda agora com a mania das moedas e pede sempre para atirá-las ao ar como os árbitros fazem. Depois esconde as moedas numa das mãos e está sempre a perguntar qual delas está vazia. Esta semana desequilibrou-se e o evento vai ficar-lhe registado para sempre na testa! Já diz que o "dodoi" é grande mas que mudou para um penso pequenino.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ainda a licenciatura de Sócrates


No Público de hoje:
“O antigo vice-reitor da Universidade Independente (UnI) Rui Verde encontra semelhanças entre os casos das licenciaturas de Miguel Relvas e José Sócrates e pediu a declaração de nulidade do curso do antigo primeiro-ministro, em nome do princípio da igualdade (...) Verde lembra também a avaliação na disciplina de Inglês Técnico, que foi feita por um professor que não era o da disciplina e da qual não existe enunciado. Além disso, a pauta de Sócrates “é totalmente diferente das outras”. O terceiro motivo apontado prende-se com a inexistência do projecto final de curso, obrigatório para a conclusão de licenciatura”.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mário Soares, o visionário

Este senhor foi o mesmo que há uns anos, sem qualquer noção do ridículo se auto-proclamou candidato presidencial do seu partido contra o outro camarada, Manuel Alegre. Nesse ano teve uma derrota que o devia ter enchido de vergonha.... Mas pelos vistos não... 
E há ainda quem lhe dê tempo de antena. Nunca simpatizei com este homem. Ainda me lembro nitidamente, apesar da minha memória ser semelhante à de um peixe, da campanha presidencial Soares vs Freitas do Amaral. Andava na primária e ouvia “Soares é fixe”. O que me irrita nele é que viveu a vida toda à custa da política, foi o Presidente português que mais viagens fez. Depois, segundo as biografias mais ou menos autorizadas, descrevem-no como um bon vivant e um homem de várias mulheres. Para além de lhe ficar muito bem, como homem de família, dá uma credibilidade desgraçada ao seu conceituado casamento com a Maria Barroso. Depois o tão badalado acidente do filho, que fez a sua mulher reconverter-se ao catolicismo, nunca se soube muito. Nunca se explorou essas ambíguas relações com Angola e se isso tinha alguma relação directa com o seu enriquecimento pessoal. Não percebo também, como a sua própria Fundação, que só serve para os seus proveitos pessoais e para o da família próxima, continua com o apoio do governo português. Foram tão céleres a extinguir a Fundação Paula Rego mas continuam a patrocinar a Fundação Mário Soares...

Este senhor, de fraca memória, deve ter-se esquecido que foi o governo dele nos anos 80 que pediu ajuda externa para Portugal não cair na banca rota. E foi 20 anos depois, o mesmo partido a que ele pertence, que voltou a pedir ajuda financeira. O que me deixa boquiaberta não é a entrevista, mas onde esta foi publicada, num dos mais importantes jornais brasileiros. Este senhor mostra que vergonha na cara é coisa que ele não tem. Uma das coisas que ele afirma é que “Nunca houve tanto desemprego, tanta pobreza, tanta miséria ..”. Este senhor sabe por acaso o que é pobreza e miséria? Ou reparte a sua fortuna pessoal com alguém? Ou a sua fundação é mecenas de alguém??

Mais à frente tem a brilhante afirmação “Eu sou partidário da tese da Argentina e também do Brasil que quando estavam nessa situação disseram: 'nós não pagamos'....”. Este senhor está bom da cabeça? Não pagamos??? Isso é solução? O partido do qual ele faz parte assinou um memorando e agora quer recusar a pagar??

Mais pérolas: “O Serviço Nacional de Saúde quase desapareceu, há gente que não vai aos hospitais porque não tem dinheiro para pagar [as contrapartidas cobradas conforme procedimento]. As universidades, como as de Lisboa, do Porto, de Coimbra, Aveiro e do Minho, que eram reconhecidas pelo nível internacional, hoje não têm dinheiro. Os professores são obrigados a sair e a emigrar”. Este senhor esquece-se de dizer que independentemente de se ser um milionário ou um indigente, caso se necessite em Portugal de assistência médica, paga-se 20 euros por uma consulta e necessários exames complementares de diagnóstico. Também se esqueceu de dizer que o atendimento num Centro de Saúde não ultrapassa os 5 euros. Este senhor já experimentou o sistema de saúde brasileiro ou americano, que quem é pobre morre mesmo?! Deduzo pelas palavras deste senhor, que as universidades públicas que ele cita que são instituições credíveis e de reputação internacional, deixaram de o ser por causa da crise...?

Mais à frente afirma: “Um dos grandes objectivos da Revolução de 25 de abril foi descolonizar...”. A história ainda vai mostrar como a descolonização foi tão bem feita...
Para quem tiver curiosidade, aqui fica o link da entrevista

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Os pais e os filhos


Hoje de manhã li um post da Laurinda Alves que fala tão bem e tão claramente de um assunto que tenho discutido com muita gente. Quem tem família, nomeadamente pais e avós, em algum momento da vida já se questionou sobre isto. Numa época que se lê tantas histórias nos jornais e ouvimos amigos a falar do que se passa nos hospitais, este texto da Laurinda Alves é tão reconfortante:
“O MAIOR PRESENTE DA VIDA? Poder ter os meus pais a morar comigo naquele que é seguramente o último ciclo da vida deles, e podermos todos fazer esta escolha com liberdade e sem aflições. Ou seja, sem ser em estado de emergência, estando eles ainda com saúde e muita autonomia. Não concebo maior dádiva do que esta, e sei que muitos filhos gostariam de poder fazer o mesmo com os seus pais, em vez de os visitarem à pressa na vertigem dos dias ou, pior, de os irem ver ao hospital ou a um lar de onde é impossível não sairmos sempre meio desolados. Confesso que o testemunho que os meus próprios pais deram, quando trouxeram os meus avós para nossa casa, me marcou para o resto da vida. A minha querida-adorada avó Laurinda morreu na sua cama, no seu quarto, em nossa casa, rodeada por toda a família alargada e numerosa. Não consigo imaginar uma morte mais tranquila. Deus queira que este nosso ciclo familiar ainda seja longo e feliz, mas há muitos anos que sonhava com isto. Comove-me a realização deste sonho e se há pais que merecem este suplemento de alegria e ternura, são pais como os meus. E há muitos como eles, felizmente. Amanhã, depois e depois estamos em mudanças. Muito cansativo, mas muito bom."

terça-feira, 23 de abril de 2013

Stories I only tell my friends

Na falta de inspiração e de tempo para escrever algo como deva ser, mas para manter a actividade deste blog, aqui vai uma coisa levezinha. O lançamento do livro do Rob Lowe em NYC há 2 anos, mais coisa menos coisa. 




sexta-feira, 19 de abril de 2013

Olhos de onda @ Casa da Música


Como a própria Adriana diz nunca nada é igual todas as noites. Apesar de ela cumprir um rigoroso alinhamento. Até as piadas obedecem a um roteiro pré-definido. Tudo obedece estritamente a um guião como se de uma peça teatral se tratasse. Adriana Calcanhotto é assim, tudo nela e nos seus espectáculos é pura arte.Basta reparar na pontualidade, no cuidado do figurino, nas luzes, e até na simplicidade do palco onde ela passa quase uma hora e meia.

No Porto, cidade que ela diz "estar no seu destino" (ela é quem sabe), cantou os já conhecidos poemas do Mário de Sá-Carneiro, O outro e Vislumbre. Seguiu-se Eu vivo a sorrir:pro caso de o destino me haver reservado a alegria/ e o meu fado estar fadado a ser a sua sina”. Não parece tão português?

A terceira foi Três, dos irmãos António Cicero e Marina Lima, “ uma das tais que ela gostaria de ter feito mas não fez”: “(...) Trêseu quero tudo o que há/ o mundo e seu amor/ não quero ter que optar/ quero poder partir/ quero poder ficar/ poder fantasiar/ sem nexo e em qualquer lugar/ com seu sexo junto ao mar”.

Inverno, escrita com António Cicero e que nunca falta nos concertos da Adriana, mais referências ao destino, a saudade e ao mar: “...Lá mesmo esqueciQue o destino/ Sempre me quis só/ no deserto sem saudade, sem remorso só/ Sem amarras, barco embriagado ao mar...”. 

O nome da cidade,lindíssima canção que Caetano Veloso  escreveu baseado num livro de Clarice Lispector, A hora da Estrela. Esta canção fala da chegada ao Rio de Janeiro da Macabé que é a personagem central do livro.

A partir daqui começam os habituais monólogos confessionais da Adriana: “Vocês podem perguntar o que é que a próxima música tem a ver com Portugal e eu vou explicar. A Marisa Monte faz de vez em quando um ‘amigo oculto’, um ‘amigo secreto’, isso tem um nome diferente em cada lugar, enfim, é um sorteio...Ela fez o convite onde os compositores faziam composições de um sorteio, do acaso. Ela me ligou dizendo:  “Traga uma melodia, uma letra,  um trecho, um refrão, uma ideia...”. Eu levei o que eu tinha, uma melodia e no sorteio tirei o Dadi que é um autor de melodias, não faz letras. Então eu fui embora e me esqueci do assunto. Um tempo depois, algum tempo depois, eu esqueci logo porque a minha memória é um poço sem fundo. Muito tempo depois, eu estava no camarim no Coliseu de Lisboa pronta para entrar para fazer o espectáculo e me aviaram que o Arnaldo Antunes estava na plateia: “ele quer falar com você porque trouxe  a letra da canção de vocês”. E eu “A letra da nossa canção?!”. Isso tudo para dizer que nós concebemos essa canção em Portugal, no camarim do Coliseu de Lisboa e o Dé Palmeira, meu director musical, é que deu o título à canção: Para lá”.

Cantou também a inédita Olhos de onda quebatiza o alinhamento, qualquer que ele seja, fiz enquanto ensaiava. Além de inaugurar nova safra, o que sempre é motivo de alegria, a canção ajudou a dar o norte do recital. Constatei quando essa canção nasceu que as outras já estavam também falando do que ela fala e da língua portuguesa e do mar da língua e por aí vai”.

Olhos de onda
Ela parece comigo
Nalgumas coisas, doidas
Naquilo que crê não deixar transparecer
Ela parece comigo
Numas pequenas coisas
Gosta da lua cheia sobre a Lagoa
Porque será que ela tem os olhos de onda?
Porque será que ela tem medo de amar
Ela parece comigo
Nalgumas coisas, doidas
Naquilo que crê não deixar transparecer
Ela parece comigo
Numa porção de coisas
Gosta da lua inteira sobre Lisboa
Porque será que ela tem os olhos de onda?
Porque será que ela tem medo de amar?

Seu pensamento foi a seguinte. Para quem ainda tivesse dúvidas que este concerto foi tão pensado para Portugal, como a própria assumiu: “A uma hora dessas/ por onde andará seu pensamento/ Dará voltas na Terra/ ou no estacionamento? Onde longe Londres Lisboa/ou na minha cama?...”.

As confissões continuam com Motivos reais banais: “ Essa é uma das minhas parcerias com o Wally Salomão. Quando ele estava vivo nós trabalhavamos da seguinte forma: ele mandava o poema e eu começava a musicar e aí ele ia fazendo uma modificações. Modificações no vocabulário do Wally eram  apenas acréscimos, ele não fazia ideia o que eram cortes. Ele acrescentava versos, mais 2 veros, mais 3 versos, mais 8 versos, mais estrofes... e não havia como musicar e eu aí dizia “Parou aqui, tudo o mais que você acrescentar você publica no seu livro. Este trecho, de um poema muito extenso dele, eu fiz uma canção pequena que se chama Motivos reais banais.

A próxima canção foi um  poema do Augusto de Campos “que é um poema interactivo, para ser lido na tela do computador. E o Cid Campos, filho do Augusto, musicou esse poema. O que ele diz nesse poema é que após 50 anos de poesia concreta, ele está respondendo na verdade,  aos detractores  que disseram que ele com a poesia concreta ia levar a poesia para um lugar sem saída, ia se encurralar, q a poesia ia se pôr num beco sem saída. E ele fez esse poema lindo para dizer: “É isso mesmo”.

Por esta altura, alguém do lado oposto da plateia gritou, também com o sotaque do outro lado do Atlântico, “Adriana, você é a melhor!”, ao que ela respondeu envergonhada “Agora você me desconcentrou”.

Seguiu-se Tua popularizada por Maria Bethânia e Maldito rádio que contou com um colaborador, que ia mudando de estação de rádio e respectivas interferências. Leva-nos à questão: O que é ou não música? O que é arte? O que é apenas barulho que só polui?...

Devolva-me, não podia faltar mas faltou em Lisboa...

Cantou uma desconhecida, que me apetecia ter tido coragem no fim do concerto, perguntar qual o nome da canção com “você desperdiçou sexo do bom”.

Você não quis
Não deu valor
Que sendo amor de verdade
Desperdiçou sexo do bom
Meu próprio som, silêncio e outras raridades
Que faço eu?
Aonde vou?
Uma dor que me reparte
Aonde for
Para quem eu dou
A flor que em flor se  debate?
....

Para terminar deixou as que toda a gente estava à espera de ouvir:  Esquadros, Mais feliz, Cantada e Vambora.

O primeiro encore foi com Fico assim sem você do seu alter-ego Partimpim e terminou com Maresia, trocou  "um amor em cada porto” por “um amor aqui no Porto” e onde soltou o cabelo e ventoinhas simulavam o vento vindo do mar.

Depois de alguma insistência, La Calcanhotto voltou, não devia estar à espera. O segundo encore parece não ter sido pensado. Ela surge novamente no palco, um tanto ou quanto perdida, ao estilo de discos pedidos: “O que vocês querem ouvir?” E terminou com Ela é carioca e Mentiras.










Olhos de onda @ Culturgest


No livrinho que nos deram à entrada tinha um texto da Adriana:
Adoro o palco da Culturgest. Nunca vou esquecer do meu primeiro concerto em Lisboa, sozinha com minha guitarra e uma audiência mágica, em Outubro de 2000. Na primeira noite caí de amores pela cidade, e por Portugal, dentro dela. Naquela noite fiz amigos queridos e é tudo nítido e intocado na minha memória, em geral bem turva. Naquela noite entrei em Portugal, ou Portugal entrou em mim, vá lá, para sempre, a porta de entrada sendo o convite da Culturgest, por António Pinto Ribeiro. Lembro que no camarim, em um carrinho, haviam garrafas de guaraná do Brasil sem que ninguém houvesse pedido e aquilo me comoveu logo antes de entrar em cena. Lembro também de sentir mais frio do que imaginava. Lembro sobretudo do frio na barriga antes de entrar no palco, que de algum jeito dura até hoje.

De modo que quando recebi o convite para me apresentar no mesmo formato solo, nas comemorações de vinte anos da casa, disse sim na mesma hora. Não tinha um concerto preparado, não tocava há muito, não saberia se conseguiria e até aqui, sinceramente, não sei, mas por isso mesmo. Andava doida para retomar a guitarra, portanto para inventar um roteiro pensado para Portugal, para pegar a estrada, pela janela do quarto, pela janela do carro, trancafiada em quartos de hotel enquanto Portugal está lá fora, tocando compulsivamente para que o concerto seja lindo e inesquecível como só em Portugal pode ser, enfim, o novo convite da Culturgest era tudo o que mais eu podia querer no momento em que ele chegou. Depois pegar a estrada seca, com Diogo ao volante, comer doces de ovos em Aveiro, partir atrás de baleias açoreanas, ir ao Fado e acordar inchada na manhã seguinte para dar entrevistas sem parar, me emocionar cantando meus poetas amados para as pessoas, pensando bem, o que mais alguém poderia querer?(...) Fiz turnês solo, pela Europa, toquei na África, no jardim das esculturas do MoMA, no complexo do Alemão no Rio, em salas antigas, em salas míticas, em ginásios, em espeluncas. Foi sempre assim, tomando e retomando, que convivemos, o instrumento fora de moda no Brasil, e eu.

A retomada desta vez deve-se ao fato de que precisei parar de tocar, o abandono desta vez foi obrigatório, por conta de uma lesão chatinha na mão direita. Exatos um ano e seis meses sem poder tocar sendo que no justo momento em que deveria sair em turnê com O micróbio do samba, punhado de canções que compus e gravei, adivinhem, na guitarra. O óbvio, que seria então não fazer os concertos do álbum, acabei não conseguindo, já que não tive coragem de cancelar os três concertos portugueses agendados e eles acabaram gerando o Micróbio vivo e o resto é lenda.

No mais, como sempre digo, no meu ofício quem comanda são as canções, e não me debato com isso. Gosto, aliás, de ser levada por elas. Então nunca tenho a menor pretensão de ser coerente com um alinhamento adiantado, adiantando que ando tocando aquelas das quais estava com muitas saudades, algumas das quais havia até esquecido, algumas do micróbio do samba, algumas das quais tenho inveja porque gostava de as ter escrito, algumas que escrevi mas foram gravadas por outros artistas, poemas que musiquei, e alguma coisa nova que ninguém é de ferro. Olhos de onda, por exemplo, que batiza o alinhamento, qualquer que ele seja, fiz enquanto ensaiava. Além de inaugurar nova safra, o que sempre é motivo de alegria, a canção ajudou a dar o norte do recital. Constatei quando essa canção nasceu que as outras já estavam também falando do que ela fala e da língua portuguesa e do mar da língua e por aí vai.

De tudo um pouquinho, como a receita da felicidade, deixando sempre aberto o espaço para poetas que me apareçam e para novas canções que podem sempre me arrebatar mais perto da hora ou que podem ser escritas no camarim, sacrificando para isso certezas absolutas no repertório, tudo é possível, graças aos deuses.
Aqui estamos, eu, a guitarra e algumas canções que adoro, nos reencontrando, como se fosse a primeira vez, nos encontrando pela primeira vez quando é o caso, desejando viver mais uma noite "daquelas", no palco querido da Culturgest, antes de por o pé na estrada, enfim. Importante é que aquele frio na barriga antes de entrar no palco sozinha com minha guitarra, permanece, se não aumentou e foi para isso que vim”.

Quem escreve assim, como não esperar o melhor?

Dizem que não há concerto como o primeiro. Começo a acreditar que é verdade.  A primeira vez que vi a Adriana foi há muitos anos, em 2000 ou 2001 no dia 1 de Portugal (24 de Junho), em Guimarães. Estava um dia de calor que tudo parecia derreter. Eu não conhecia o trabalho dela e fiquei a gostar nessa tarde e nessa noite.  Tocou com o António Chaínho e mais um violoncelista e um percurssionista. O concerto foi na Praça de Santiago e enche para vê-la.
Hoje passados mais de 10 anos, a receita voltou a ser quase a mesma. Entra elegantemente vestida de vestido azul petróleo a cobrir-lhe os pés e cabelo preso. Achei o concerto melancólico ou eu é que estou “tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar”.  Apeteceu-me chorar várias vezes. Mas tinha um gajo a ressonar ao meu lado, com a cabeça tombada quase a tocar-me no ombro. Eu, a um metro de distância do palco, passei o tempo envergonhada porque achei que a Adriana ouvisse e visse aquelas figuras.
O alinhamento do concerto, segundo a própria, foi escolhido propositadamente para a estreia em Lisboa. Os dois poemas de Sá-Carneiro “O outro” e “Vislumbre”, não podiam ser esquecidos. Cantou a novíssima “Olhos de onda” que dá o nome ao espectáculo. Canta outra quase desconhecida “Maldito rádio” com um “ajudante” a mudar de estação enquanto ela toca. Não se esqueceu das mais conhecidas "Inverno", “Esquadros”, “Mais feliz”, “Vambora”. O encore terminou triunfalmente ao som de “Fico assim sem você “ e “Maresia” (na qual ela solta o cabelo e um ventilador simula o vento vindo do mar). A Adriana, com quase 48 anos mostra que é como o vinho do Porto.  Eu cortaria o cabelo....mas ela é quem sabe!


Copyright: Hiromi Konishi
Copyright: Hiromi Konishi

domingo, 14 de abril de 2013

Os sobrinhos


Desde que sou tia que tento explicar às pessoas que não o são, a transformação que elas nos fazem.  Eu sou uma tia babada, não o escondo.  E os meus sobrinhos verdadeiros são dois rapazes. Muito diferentes um do outro mas que têm a meiguice como uma das suas qualidades. Agora o mais novo anda com um mealheiro “ambulante” (daqueles frascos de laboratório que nos dão quando fazemos análises à urina). Segundo ele,  anda a ajudar-me a juntar dinheiro para comprar um carro novo de rodas grandes!!! Depois, é sempre o mais entusiasta no que se refere a música. Anda sempre com o tambor atrás e eu sou a cantora oficial. Quando quer dormir vem munido de chupeta e de fralda e diz: “Titi, canta o cuco para toda a gente”.  A canção do cuco era uma canção que a minha mãe nos cantava antes de dormirmos : “Vai-te cuco/ vai-te cuco/ para cima daquele telhado/deixa dormir o (a) menino (a)/ um soninho descansado. Quando o meu sobrinho mais novo pede para cantar o cuco para toda a gente é para substituir “o menino” por todos os nomes que ele conhece. Obviamente que quando acabo de cantar as dezenas de nomes já ele vai no 5º sono...
O mais velho é viciado em ver “Mcqueen” de legos no youtube. Se o deixassem não fazia mais nada. Mas sabe que só pode ver x minutos.  Depois tem um peixe que ele escolheu que é feio que dói. Escolheu-o para o avô e chamou-lhe F. O peixinho coitadinho é mesmo feio. Tem uns olhos que parecem sair-lhe das órbitas. O meu sobrinho mais velho tem 5 anos e já começou a ficar desdentado. Para já foi apenas um. Mas não tardará, será o outro do lado.
Duas das minhas melhores amigas são mães ou serão este ano. Fiquei felicíssima. Filhos (as) tão desejados (as) é uma maravilha! E a transformação delas só pode ser para melhor. Porque as crianças fazem-nos milagres! Venham elas!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Filadélfia


Já aqui falei de várias pessoas que me salvaram a vida. A melhor homenagem que lhes podemos prestar é nunca esquece-las em qualquer circunstância. Hoje chegou a vez de falar de mais uma. No meu último regresso a Houston, onde voltei para terminar experiências, passados uns dias foi “varrido” pelo Ike. Mas antes disso, eu já tinha planeado há muito a minha ida a Filadélfia e conhecer a cidade que eu sempre quis conhecer e que iria finalmente concretizar o desejo. Em Outubro de 2008, a minha estadia nos Estados Unidos terminou entre Filadélfia e NYC. Estes últimos dias salvaram-me a vida. Eu que tinha passado 6  semanas em Houston sem luz, a dormir alternadamente entre o lab, casa de amigos e hotéis, cheguei a Filadélfia outra pessoa. Eu queria tanto regressar a casa que cheguei até a equacionar não ficar em Filadélfia e regressar directa. Mas esta minha amiga convenceu-me que eu ia cometer o erro da minha vida se não aproveitasse para conhecer Filadélfia e NY. Eu como raramente desisto de alguma coisa, “paguei para ver”.  Estes dias foram tudo e muito mais. Mudaram a minha vida e fizeram-me olhar para o futuro  com optimismo. Gostei muito da cidade. Totalmente diferente do que eu conhecia até aí. Nunca mais comi um “black cod” tão bom como lá e nunca fui a um coreano com tanta qualidade! Para não falar da ausência de impostos e dos outlets! Ah, e dos zipcars que a G. alugava! Para mim Philly não é a música do Springsteen mas a do Neil Young:

"Sometimes I think that I know
What love's all about

And when I see the light

I know I'll be all right.

….
City of brotherly love
Place I call home

Don't turn your back on me

I don't want to be alone

Love lasts forever"


E quando conheci Filadélfia, achei que foi melhor ter apenas conhecido depois de ter estado em Houston. Até aí só tinha estado em Atlanta, Memphis, Austin, Houston e Pittsburgh.














Foi também a primeira vez que conheci NY. Não sei explicar. Não foi aquela coisa de desmaiar porque a cidade é linda... Mas teve a ver com energia, não sei explicar... mas de facto, impactou-me à primeira. E eu soube ali que regressaria para ficar. Em poucos dias conheci tudo. Central Park, 5ª Avenida, Times Square, Rockfeller Center, Soho, Chinatown, Little Italy, Grand central, Nações Unidas, Ferry para Staten Island... Impressionou-me o conhecimento profundo da G. pela cidade. O trocar de metro, sabia os sítios de cor. Eu limitava-me a segui-la. O Joe’s Shanghai ficou como lugar mítico. 

Nunca me vou esquecer da minha primeira visita a NY. Logo no primeiro dia caí de amores pela cidade. É tudo nítido na minha memória, em geral bem esquecida. Naquele dia eu entrei em NYC ou NYC entrou em mim, vá lá, para sempre.




















terça-feira, 9 de abril de 2013

Público vs privado


Os meus amigos e os meus familiares mais chegados que trabalham na função pública não vão gostar de ler isto. Mas a verdade é a verdade e factos são factos. Comecemos:
1. Quantos dias de férias existe no público? 25 a 30 dias. E no privado? 22.
2. Quantas horas semanais se trabalha no público? 35 hrs. E no privado? 40.
3. As pessoas podem ser despedidas no público? Não.  E no privado? Sim.
4. A ADSE é outro dos escândalos na diferença de tratamento e de acesso à saúde entre público e privado. Se os serviços são prestados nos mesmos locais porque é que os funcionários públicos têm um sub-sistema específico.
Já pensaram nas diferenças entre os subsídios de reforma dos funcionários públicos e do privado?
Sabem com que idade pode um juíz do TC pode reformar-se após apenas 10 anos de trabalho? 40 anos.
Não percebo como o TC considerou constitucional a taxa de solidariedade aplicada a reformas superiores a 1350 euros...
É curioso como quase ninguém fala disto... Reflictam! [e já agora, se vos apetecer, comentem].

domingo, 7 de abril de 2013

Relvas vs Sócrates


Numa altura em que a turbulência abunda no nosso país, o caso Relvas acaba por ser o mal menor, mas aquilo que toda a gente esperava há muito tempo. Para mal e vergonha dele, não saiu por vontade própria, mas quando já não mais se podia aguentar. Para quem tem telhados de vidro, a atitude mais sensata, e que lhe ficaria muito bem, teria sido demitir-se quando o escândalo rebentou. Imaginemos que eu até acreditava que ele não tinha tido qualquer culpa na obtenção da forma vergonhosa a sua licenciatura. O problema é que o passado académico deste senhor não indicava nada de bom. Foi sempre um aluno que passou à rasca e que as suas médias nunca ultrapassaram os 10 e os 11 valores... Pois bem, ele poder-se-ia ter matriculado normalmente numa universidade privada e ter obtido de forma normal o diploma. Acontece que existe, o que para mim veio assassinar a qualidade e o prestígio das antigas licenciaturas, que passaram para mestrados sem se ter acrescentado matéria ou carga horária. Mas isso são outra conversas. Bolonha permite que um medíocre aluno, sem passado académico brilhante requisite a obtenção de equivalências baseado no seu pseudo CV. Imaginemos que eu até acredito que o coitadinho do Relvas, na sua boa fé, requisitou as equivalências, sem pedir qualquer favorecimento nem atenção particular. Surgem as questões: Não seria mais prudente Relvas ter-se dirigido a uma universidade pública para pedir equivalências? Qual a razão de serem sempre as universidades privadas postas em causa e de estes casos passarem-se exclusivamente nelas? Isto leva-nos para outra questão. As universidades privadas em Portugal, salvo raras excepções, serviram apenas para “acolher” alunos que pelos mais diversos motivos não entraram nas candidaturas normais nas universidades públicas. Para além disso, podemos ver a lista vastíssima de políticos e ex-políticos, deputados e ex-deputados que engrossam a lista de alunos e ex-alunos e docentes e ex-docentes destas universidades. Muitas destas universidades serviram para atribuir graus a estas pessoas. No governo anterior o caso da licenciatura do Sócrates foi muito semelhante a este caso do Relvas. A única diferença é que de facto o Sócrates, antes de se matricular na Independente, já tinha um bacharelato em Engenharia Civil pelo ISEC. Embora, já se achasse engenheiro à época. Adiante, outros tostões. O Sócrates, já com um passado académico, apresentou as disciplinas efectuadas, e pediu as respectivas equivalências. Nada de mal. O problema começa nas disciplinas às quais não lhe deram equivalência e a forma como ele as terminou com sucesso. Ok, partindo do princípio que eu acredito na boa fé de todas as pessoas e o Sócrates fez apenas aquilo que lhe foi pedido. Não é estranho para o comum dos alunos que frequentou uma universidade e terminou uma licenciatura com mais ou menos dificuldades, se questione como é possível efectuar uma prova escrita fora das instalações da universidade e enviá-la por fax? Seria menos questionável se lhe tivesse sido pedido por exemplo uma monografia. Mas não, foi um exame escrito que depois foi enviado porque fax para o regente da disciplina. Isto é espectacular. Andamos nós, qual patetas, a acabar licenciaturas com um júri de pelo menos 3 pessoas doutoradas, mestrados com painéis de no mínimo 3 pessoas doutoradas e júris de doutoramento com pelo menos 5 pessoas doutoradas, para estas pessoas acabarem os cursos com exames escritos feitos fora das universidades. Ok, continuando a achar que não tem mal nenhum, que é apenas um pormenor, vem o diploma. O diploma de Sócrates, como é público, está datado de um domingo... As coisas quando começam mal nunca acabam bem. Quem começa com uma mentira nunca a consegue manter sempre ou para sempre. A licenciatura do Sócrates foi passada a “pente fino” pelo Ministério Público que não encontrou matéria duvidosa. Pois bem, aqui começa a minha admiração pelo Prof. Crato. O Prof. Gago, ministro da tutela à época, lavou as mãos qual Pilates e não considerou questionável este assunto. O Prof. Crato, independentemente de fazer parte do governo e de Relvas ser seu colega ministro, não o tratou de forma diferente. Avisou como deveria o Primeiro-Ministro do resultado da investigação e enviou-a para o Ministério Público. A ver vamos se o Ministério Público, ao contrário de Sócrates, vai encontrar alguma coisa nesta licenciatura. Como estava escrito no “Expresso” Relvas entrou Doutor (devia ter sido escrito Dr. porque Doutor é o grau dos doutorados) e sai Senhor. Que estes episódios ensinem às pessoas que, como dizia a nossa Amália “quem tem telhados de vidro não deve andar à pedrada”. Grande Crato, obrigada!

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Clarice Lispector - A hora da Estrela

Hoje abre a exposição "A hora da Estrela" na Fundação Calouste Gulbenkian sobre a obra e vida de Clarice Lispector, no ano que passam 35 anos desde a sua morte. Deixo aqui um vídeo de «uma canção que Caetano Veloso escreveu baseado num livro de Clarice Lispector "A hora da Estrela. Essa canção fala da chegada da Macabé que é a personagem central do livro. O impacto que ela sofre chegando npo Rio de Janeiro e olhando os contrastes e enfim...Quando eu cheguei no Rio de Janeiro tive mais ou menos a mesma sensação da Macabé, achei isso interessante, engraçado porque a Macabé é alguém que chega no Rio de Janeiro vinda do norte. E eu cheguei do sul e era muito parecida à chegada. A canção se chama "Nome da cidade"...».

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A demissão do Relvas


Um dia depois da nomeação do embaixador do impulso jovem, o ministro da tutela demite-se. Fica a questão: este também vai demitir-se? 

terça-feira, 2 de abril de 2013

O "embaixador" nomeado pelo Relvas


Leio no “Dinheiro vivo” que o Relvas acaba de nomear para embaixador do programa “Impulso jovem” o “vendedor de banha da cobra” Miguel Gonçalves "que conheceu no you tube". Para quem ainda não chegou lá é aquele que fala como quer para quem quer em programas de tv e toda a gente bate palmas às suas palhaçadas. Esta é a versão universitária do Tino de Rans, que na sua humildade e simplicidade protagonizou um inflamado discurso num congresso do PS e cumpriu o seu sonho ao “tascar” um abraço ao seu camarada Guterres. Estes exemplos são comuns em todas as aldeias, vilas, cidades pequenas e afins. O problema é estes casos serem usados como casos de sucesso, quando na verdade, são o motivo da risota popular de que o nosso caro Eça falava no seu tempo, mas que se mostra mais actual do que nunca. Podem acusar-me de inveja deste Miguel Gonçalves (não confundir com o Miguel Gonçalves Mendes realizador do "José e Pilar"). Mas um bocadinho de aprumo no seu discurso não lhe ficaria mal: “eu queria falar cumbosco”; “a berdadeira rebuluçon”; “eu andei sempre de mangas arregaçadas” e com sound bites baratos e de qualidade duvidosa (“uns choram outros vendem lenços”, “pimenta no cú dos outros é refresco”). Para acrescentar, claro que nem tudo o que este senhor diz é verdade... Neste video (11:27 até 11:58) este senhor diz assim: “Um dos melhores exemplos que conheço é a minha cara-metade, Tânia. Tinha um sonho maior que era ser professora universitária. Trabalhou a licenciatura inteira para acabar o curso com uma média galáctica. Aos 22 foi professora de Economia na Universidade do Minho. Esteve lá 6 meses. Detestou. Não era a paixão dela, afinal de contas. Mas ela começou tudo de novo. E foi aquela experiência que lhe permitiu perceber que ela gostava muito daquele ambiente da academia. E foi uma das primeiras pessoas na Europa a criar um instituto europeu de excelência...”.  Este senhor que faz discursos públicos, e não entre quatro paredes para alguns amigos, tem que ter mais atenção com o que diz. Mesmo que queira vender irrealidades. Claro que sabemos que a realidade não é tão bonita como a ficção. Há uma figura de estilo que se chama hipérbole. E eu prefiro usar esta palavra para definir esta parte do discurso. De facto, a cara-metade dele, não criou nenhuma rede de excelência nem a ajudou a criar. Mas foi, de facto contratada para trabalhar nesta rede de excelência europeia, tal como eu e outras dezenas de pessoas. Os louros devem ser atribuídos, de facto, a quem idealizou e concebeu esta rede de excelência que foi antes de eu entrar para o grupo. Eu lembro-me do dia em que se soube. Eu era um “bebé de fraldas”, uma estagiária naquele tempo. Lembro-me das comemorações no lab, mas de facto, a cara-metade deste senhor ainda não estava no grupo e como tal, não criou nenhuma rede de excelência. Miguel Gonçalves,  na conferência de imprensa quando questionado sobre as políticas do governo e sobre austeridade, responde: “Estais a tentar apanhar-me de um lado e do outro. Eu não sei. Faz perguntas importantes.... “Faz uma pergunta que consiga responder...”.Este senhor que cita Platão e Pessoa não sabe opinar sobre o governo que o contrata? 


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