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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Festa do Livro no Palácio de Belém

23 de Setembro de 2017

A Festa do livro de Belém, organizada pela Presidência da República, regressou pela segunda vez aos jardins do Palácio de Belém. Programa diversificado que incluiu debates, muitas editoras representadas em pequenos stands, música, concertos, sessões de autógrafos e comidas.

No dia em que fui, a meio da tarde, estava indecisa entre os petiscos portugueses que iam do camarão da costa aos percebes, de tostas com sapateira aos pregos no pão. Havia opções vegan e piadinas, gelados e sumos naturais. De tudo um pouco. Fiquei-me pelo prego no pão, da espessura de uma fatia grossa de fiambre, acho que nem de vaca era e até sal faltava. Pouco depois, um burburinho à volta, e vejo o PR rodeado de marceletes a treinar selfies. Parece uma romaria. Abraça-se. Abraçam-no. Pega em bebés ao colo.  Baixa-se à altura dos carrinhos de bebés. Baixa-se à altura das crianças. Distribui beijos e sorrisos. Ouve-se: “É o presidente do povo”. Segue para ver as bancas dos livros, compra alguns.

Copyright: PR

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Ás 5 da tarde começou a conversa sobre o futuro do jornalismo, na cascata. Moderado pelo Carlos Vaz Marques, a discussão teve a participação da Clara Ferreira Alves, Isabel Lucas e Paulo Moura.  A Clara Ferreira Alves (sempre) no seu tom irónico/sarcástico começou por dizer que a resposta a essa pergunta seria: “Não tem futuro e vamos todos embora para casa”. Falou dos tempos de redacção, de como era importante o contacto humano. Mas que as coisas mudaram e está tudo à mão de um e-mail ou de um smartphone. É do tempo do telelex e do satélite. Falou de como os actuais jornalistas das redacções são mal pagos e trabalhadores indiferenciados. Falou do mês que passou nas últimas férias na Birmânia para escrever o próximo livro que será sobre o sudoeste asiático. Falou da culpa da Fox News de termos um Presidente americano anedótico como Donald Trump. E falou que o futuro da literatura e dos livros não está em causa. Caso contrário, não teriam sobrevivido a esta era tecnológica, e já teriam acabado.

A Isabel Lucas falou especialmente da sua experiência pessoal na América da campanha eleitoral. Das terras no meio do nada. E da tecnologia que via nos seus colegas de grandes orgão de comunicação social americanos. E que dependia de wifi grátis do Starbucks para enviar os seus textos.

O Paulo Moura falou da sua experiência como repórter de guerra e freelance. Da quase impossibilidade de se ser reporter de guerra por conta própria sem suporte de uma grande cadeia. Dos custos diários que nunca saõ menos do que 500 euros.

Todos falaram, com um certo toque de nostalgia, do tempo que não regressará.

No meio de nós estava o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, tendo preferido o meio por oposição à primeira fila.

Ainda tive tempo de ouvir os ensaios da Lisbon Poetry Orchestra – Poetas Portugueses de Agora – e Orquestra Académica da Universidade de Lisboa 


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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Presente no Futuro

Seguiu-se a brilhante conversa entre um dos maiores pensadores contemrâneos, Eduardo Lourenço, e uma das vozes mais bonitas de Portugal e um grande condutor de conversas, Carlos Vaz Marques.



A penúltima sessão do dia foi “Música e liberdade”. Aline Frazão, Amélia Muge, Mitó e Lura moderadas por José Carlos Araújo. Não percebo muito de música e tão pouco estou actualizada com as novas tendências. De todas estas pessoas só reconheci a Amélia Muge mas nem sequer conheço o trabalho dela. De todas, foi a que melhor falou.
Aline Frazão veio de Angola para estudar jornalismo e acabou na música. Falou de outro tipo de realidade: ter comida na mesa”. Falou da falta de democracia em Angola (esta, real). Falou de míninos necessários numa sociedade, finalmente já ultrapassados em Portugal: “comida na mesa, escola e assistência médica”.

Lura disse que para ela “a liberdade é posta ao serviço de Cabo Verde e que serve para ultrapassar a timidez e a dizer aquilo que sente em palco”.

Mitó é vocalista da A naifa. Tem uma voz poderosa mesmo sem cantar. Um corpo tão franzino e uma voz tão forte. Não a conhecia. De todas foi, talvez, a que apresentou um discurso mais radical: “nunca deixem de de pensar pela vossa cabeça nem de lutar pelos vossos direitos”. Falou da música Tourada que foi reinterpretada por ela e que descreve o ambiente político e social de 1973 que é muito semelhante ao de 2014”. Exagerada, no mínimo. A Mitó em 2014 pode fazer estas afirmações sem que nada lhe aconteça e em 1973 nem nascida devia ser, e com mais certeza ainda, não poderia fazer estas afirmações, de facto. Mas tenho a certeza que deve ser muito melhor intérprete do que comentadora política.


A última sessão do dia foi do Governo Sombra. Começaram por falar da vitória de António Costa, o Gandhi de Lisboa, como o apelidou um jornal indiano. E da sua primeira atitude enquanto líder do PS: “abster-se violentamente de citar Seguro”. Imaginaram o futuro de António José Seguro como Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Criticaram a “maneira de ser muito plástica” de Seguro, “como se tivesse uma vassoura num sítio que os pombos são analisados na China”.

João Miguel Tavares foi indicado para Ministro do perímetro (orçamental), Pedro Mexia para Ministro da estupidez e Ricardo Araújo Pereira para Ministro das condições.
A parte que mais gostei foi quando falaram de um artista de Braga (na verdade, de Barcelos) que fez os bustos comemorativos do centenário da República. Pelo vistos, este artista, já tinha apresentado uma obra Padres, Prostitutas e Paneleiros (aka 3P’s) que mostrava “o padre a colocar as mãos nas nádegas das duas restantes entidades”.

Mesmo no final, o João Miguel Tavares, mostrou o livro com a obra completa de Machado de Assis editado pela Glaciar com a Academia Brasileira das Letras e que estará disponível em todas as bibliotecas públicas nacionais.




quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Portugal europeu. E agora?

A primeira sessão a que assisti foi: "Que europeu sou eu?". O debate foi moderado pelo Carlos Vaz Marques e participaram D. Manuel Clemente, João Proença e Gonçalo M. Tavares.

O Gonçalo M. Tavares falou que na Europa há claramente uma separação, uma ordem, uma organização. Marca claramente europeia. Deu como exemplo que em Marraquexe não existe a diferença entre rua e passeio...Referiu que muitas vezes as cidades mais estimulantes do mundo estão ligadas à pobreza. 'Na Alemanha quando se vê duas pessoas a correr consegue-se distinguir quem é o polícia e quem é o ladrão. Mas não conseguimos distinguir isso no México". Falou também do "saque das macieiras" que é quando chega alguém com 5 maçãs e o pobre tem uma macieira com duas maçãs e o pobre vende...Leu, também, um texto ficcional que deu o nome de "Europa". Este texto envolveu sapatos, atacadores, nós e gravatas, descrevendo de forma metafórica e optimista, a Europa.

O João Proença sente-se sempre um beirão mas é um europeísta convicto. Admira muito outras culturas, e principalmente, os outros países de língua portuguesa. Diz que há uma clara distinção de tratamento e de opinião de europeus do norte e dos europeus do sul. A Europa é considerada como tendo uma população envelhecida. Mas por ex. a emigração dos cidadãos do norte de África para França, com os seus costumes e religiões, está a inverter essa tendência com o elevado número de filhos.

D. Manuel Clemente defendeu que os europeus são muito difíceis de se definir, principalmente, no que se refere à religião. "A Europa não é uma realidade estática, é uma realidade dinâmica. 20 a 25% dos europeus são muçulmanos. A Alemanha tem 5 milhões de turcos, metade da população portuguesa. Quem são, afinal, os alemães hoje?".

Carlos Vaz Marques tem, na minha opinião, a melhor voz da rádio portuguesa. E para além disso, considero-o um dos melhores entrevistadores portugueses, a par com a Anabela Mota Ribeiro. Publicou há anos um conjunto das melhores entrevistas do programa "Pessoal e intransmissível", o qual guardo religiosamente e ao qual volto muitas vezes.




Copyright: Álvaro Isidoro/Global imagens




quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

António Lobo Antunes no Festival LER

No Domingo ao fim da tarde ainda corri para conseguir assistir ao encerramento da 1ª edição do Festival Ler no Cinema São Jorge. Por volta das 5, quando cheguei ainda me cruzei com Gonçalo M. Tavares e consegui comprar uma 1ª edição do livro do António Lobo Antunes “Não é meia noite quem quer”. Enquanto esperava e as pessoas iam aglomerando-se à espera que a sala abrisse, passou por nós um distante, carrancudo, distraído, antipático, ou quem sabe, somente tímido, Lobo Antunes.

A primeira vez que conheci pessoalmente António Lobo Antunes foi em Braga na Centésima Página e apesar de adorá-lo como escritor achei-o irónico, distante, antipático, revoltado, desinteressado, gozão... e na altura, a conversa foi tediosa, desinteressante, queixosa, pessimista...Aliás, achei que estava a ouvir um louco saído do Miguel Bombarda... e se não fosse as dezenas de livros que carregava comigo teria saído antes de acabar.

Anos depois, no domingo, ia com essa falta de expectativa mas quando começo a ver o início da conversa com a simpatia e sorrisos do Carlos Vaz Marques comecei a pensar que o Lobo Antunes ficasse cativado. E foi o que aconteceu. Eu acho o Carlos Vaz Marques o melhor entrevistador/ conversador deste país depois da ausência da Margarida Marante (noutro estilo). [Fazendo um parêntesis, foi depois de uma entrevista do António Lobo Antunes à Margarida Marante sobre o “Esplendor de Portugal” que comecei a ser uma fiel leitora dele]. Nesta conversa falou-se de tudo. Elogiou a voz do Carlos Vaz Marques dizendo “é a voz mais bonita que conheço”. Falou de tudo, de sentimentos, da família, de escritores, de livros, de escrita, da doença... Um incomum Lobo Antunes mais descontraído, confessional e que conseguia para além do seu humor característico, contar piadas e rir-se. Cada vez mais nota-se uma abertura nas suas conversas, fala cada vez mais da família e do pai. Nota-se que apaziguou de um período de afecto conturbado. Disse ter sido muito injusto com muita gente, principalmente com a família. E disse também que pediu desculpa a Vasco Graça Moura “um grande poeta”. Elogiou Scott Fitzgerald mas disse que achava grandes escritores chatos como Thomas Mann e Kafka. Mencionou que Garrett e Herculano eram escritores que escreveram maravilhosamente bem. O filme que mais viu na vida foi “Joselito, o pequeno cantor”. Adora filmes piegas.Assumiu para ele o maior defeito é a ingratidão. Afirmou também que viveu sempre aterrorizado com o tempo desde menino, que sempre sentiu que tinha muito pouco tempo e viveu e vive com esse medo.“as mentiras que os outros exigem que nós digamos”. Citou frases mal feitas de vários livros: “Quando acordou estava morta”; “Era uma praia perto do mar”.

No plano auto-confessional disse aos 14 anos disse aos pais que queria deixar de estudar  e ser escritor. “Teria ficado um Prado Coelho se fosse para letras. Já que não foi para letras foi para medicina. Escolheu medicina por pertencer a uma família de médicos. Sempre estudou jogadas de xadrez, estudava tudo menos Medicina. Falou da guerra e de como os generais sempre foram para com ele muito generosos, leais e honestos. Confessou que a pessoa que mais gostou foi do avô materno, a pessoa mais tolerante que conheceu. Fazia-lhe carinhos, ao contrário dos pais que nunca o fizeram. Os seus amigos eram sempre mais velhos e os melhores foram Cardoso Pires, Eugénio de Andrade e Ernesto Melo Antunes. “Quando um amigo morre fica um vazio”.

Quando esteve doente há 6 anos, o cirurgião pegou-lhe na mão e ele, dessa forma, achava que não ia morrer. O quanto esse gesto foi importante para ele.



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