segunda-feira, 28 de abril de 2014

Caetano é foda!

Caetano subiu ao palco com apenas 15 minutos de atraso. Cabelo curtíssimo. Camisa branca. Na estreia da tournée europeia, Coliseu cheio para o ouvir. Público ecléctico: muita gente muito nova, adolescentes, gente da minha idade, gente mais velha, gente de todas as idades. Cantou quase todas as canções do Abraçaço. Do alinhamento constaram as mais antigas Coração vagabundo e Eclipse oculto. Parco em palavras mas com gestos de muito carinho e interacção com o público. Perguntou se alguém festejava o aniversário e dedicou  Parabéns (“Tudo mega bom/ giga bom/ tera bom”), “a todos os que não falaram verdade mas principalmente aqueles que falaram verdade”. Desceu duas vezes do palco e o público correu para mais perto. As palavras são desnecessárias quando os gestos, as acções e teatralidade são tudo. Deitou-se no chão e ainda em Homem ousou dizer, o que todos pensam mas têm medo de falar: “Não tenho inveja da adiposidade/nem da menstruação/ só tenho inveja da longevidade/ e dos orgasmos múltiplos”. Caetano mostrou, também, que tem swing e que dança bem. De noite na cama foi quando Caetano desapertou a camisa e ameaçou tirá-la. Um dos momentos mais bonitos da noite, que deixou muita gente com o queixo na mão foi Estou triste: “Eu me sinto vazio e ainda assim farto/Estou triste, tão triste/ E o lugar mais frio do Rio é o meu quarto (...) Por que será que existe o que quer que seja/ O meu lábio não diz/ O meu gesto não faz”. Esta música tão difícil em termos vocais, mostra que a idade para Caetano é apenas um bálsamo. E para os que falam mal da Coca-Cola e dos seus malefícios aqui têm um bom exemplo: Caetano é viciado nesta bebida! De salientar que a idade só o beneficia, está cada vez mais grisalho e charmoso.  Terminou com Reconvexo, a minha preferida. Escrita propositadamente para Maria Bethânia e que cita Andy Warhol e Dona Canô, muito aplaudida nesta parte. No primeiro encore as músicas foram: Nine out of ten, o tão esperado Leãozinho, e Luz de Tieta. As luzes acenderam e muitos sairam mas os mais insistentes e resistentes ficaram e Caetano voltou. De braços abertos repetiu a dose. Já com quase todo o público, o mais próximo possível do palco, Caetano terminou com Força estranha em uníssono. Caetano, aos 71, mostra que antiguidade é posto e que teve Lisboa aos pés.

















domingo, 27 de abril de 2014

Solar dos Presuntos

16 de Abril, quarta-feira à noite. Dia de Porto-Benfica para a Taça de Portugal. A entrada do “Solar dos Presuntos” está repleta de pessoas. Algumas têm mesa marcada, outras não. A espera é de meia-hora. Muito amavelmente, Pedro Cardoso é quem recebe as pessoas. Já vi muita gente simpática, mas tanta simpatia por metro quadrado e um serviço assim, foi a primeira vez. À entrada está, também, um grande aquário com lagostas. As paredes do restaurante estão cobertas por fotografias de gente conhecida. Gente das artes, do espectáculo, futebol, música, política, portugueses e estrangeiros. Gente da ciência não vi, mas é provável que por lá também estejam.

Esperei cinco minutos e levaram-me à mesa, no terceiro piso. O José Luís foi a pessoa responsável pela minha mesa. Mesa posta, um prato com queijo de S. Jorge, presunto e paio. Um cesto de pão chega com diferentes tipos. A minha atenção vai para a baguete acabada de sair do forno. Acho que nem em Paris comi nenhuma tão boa. Como direcciono o meu apetite para a baguete barrada com manteiga, não toco no presunto, queijo e paio. Tinha que fazer escolhas pois o estômago não chega para tudo. Depois de uma vista rápida pela ementa pergunto o que me sugerem. Carne ou peixe é a pergunta. Peixe, é a resposta. Posta de cherne, peixe galo... mas estava inclinada para uma das especialidades da casa: açorda de lavagante. O vinho que me trazem é “Carvalhos” do Douro, também sugerido. Eu que não sou muito apreciadora dos vinhos do Douro, fiquei rendida à combinação. Foi o vinho ideal para acompanhar o prato.

Restaurante completamente cheio. As três salas cheias. À minha frente, um casal de japoneses não trocam uma palavra durante todo o jantar. Devem estar a jogar “ao sério”. À minha volta vários casais e muitos brasileiros. Os brasileiros são a população maior deste restaurante, pelo menos nesta noite. Todas as pessoas responsáveis pelo serviço de mesa dominam vários idiomas, são muito simpáticos e têm conhecimento de vinhos. As paredes deste terceiro andar, fotos grandes de Amália e Rui de Carvalho, entre outros, e muitas caricaturas.

O José Luís traz uma pequena panela com a açorda de aspecto divinal, com um ovo cru e muitos coentros. Mistura tudo muito bem e serve-me. O cheiro perfumado dos coentros é indescritível. O vinho mostra-se perfeito para acompanhar este prato. O José Luís vem frequentemente perguntar se a açorda está boa.  Chega a hora da sobremesa. É-me sugerido o “melhor do mundo”. Recuso amavelmente porque já conheço. Quero outra coisa. O José Luís faz-me uma surpresa e traz-me pão de Ló de Monção com doce de ovos e canela. Foi a catarse. Terminei com um descafeinado. Serviço exemplar. Comida muito bem feita. Carta de vinhos muito completa. Tenho a certeza que ninguém se vai arrepender.



segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Sentinela

A sentinela é o último livro de Richard Zimler. Como eu disse ao autor, este e o anterior, “A ilha Teresa”, são diferentes de todos os outros. A actualidade é que os distingue. O livro centra-se no personagem principal, Henrique Monroe, inspector-chefe da PJ que é chamado para investigar o homicídio de um importante construtor civil. Podemos classificar este livro de policial porque há um crime e o autor é desconhecido, a dúvida e as pistas persistem quase até ao final do livro. No entanto, este livro é muito mais que um policial. Aborda várias questões como a violência e os problemas psiquiátricos que daí advêm.

Henrique Monroe é um americano que sofreu de maus-tratos por parte do pai, juntamente com a mãe e o irmão. Viviam os três aterrorizados. Passavam o dia a esconder-se do pai para evitar as suas agressões. A mãe sofria de depressão profunda e passava os dias sem se vestir. Monroe sofre de um distúrbio psiquiátrico, transtorno dissociativo de personalidade, que toda a gente desconhece, com a excepção do irmão, e que se manifesta no seu alter-ego, Gabriel. Henrique e o irmão vivem com o medo permanente de o pai os descobrir noutro país, após tantos anos. O que o medo faz. E aborda outra questão importante, como o trauma na infância influencia os agredidos, mas estes abominam a violência e a agressão. Há uma frase do personagem principal que manifesta isso mesmo: “Não há dia em que não me preocupe com a possibilidade de os meus filhos terem herdado de mim algum problema genético”.

Depois há a história da filha do homem assassinado, Sandi, uma adolescente com problemas e que esconde um grande segredo. Juntamente com o autor do homicídio, este é outro dos segredos para desvendar no decorrer do livro. Quase até ao final do livro a dúvida e os segredos persistem.  E o desenrolar do enredo é catártico.

A acção passa-se entre o Colorado e as ruas de Lisboa, sempre magnificamente bem descritas.

Um livro duro de se ler e que nos faz revoltar muita vezes. Mas tem de tudo, desde a descrição de como uma família rodeada de amor e unida ultrapassa tudo. E mostra-nos como, apesar de infâncias terríveis que nos podiam transformar em delinquentes ou até fazer com que não chegássemos à idade adulta, podemos ser seres humanos que não querem replicar o mal que nos foi feito. Uma luz no fundo do túnel é o que parece termos todos em comum quando nascemos.

Um livro mais do que interessante e que merece muito ser lido. 





Benfica campeão

Sem poder deixar passar este feito em claro, escrevo um dia atrasada. Ao contrário do ano passado, em que a euforia foi mais imprudente do que os factos, este ano a vivência do título foi menor. Ontem não acreditava até ao final do jogo que seríamos campeões. Os meus sobrinhos festejaram mais do que eu. Não entrei em festejos citadinos. Na semana passada havia passado pelo Marquês de Pombal e já tinha visto gente a reservar o lugar. Este título foi doloroso após o ano horribilis em que podíamos ter ganho tudo, mas tudo perdemos em pouco mais de uma semana. Já que o país anda triste por causa da crise, haja estes pequenos momentos em que podemos explodir a nossa alegria, nem que seja por uns instantes. Passados esses momentos, o país é o mesmo e a realidade continua. 


quinta-feira, 17 de abril de 2014

A cool Vereadora de Lisboa: da investigação à política

Graça Fonseca. 42 anos. Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa para a Economia, Inovação, Modernização Administrativa e Descentralização. Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi assistente de investigação do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, integrada no Observatório Permanente da Justiça Portuguesa na área de direito de menores e família, tendo aí concluído o mestrado em Sociologia do Direito. Trabalhou aí com José Manuel Pureza, Boaventura Sousa Santos, João Pedroso e Maria Ioannis Baganha. Passou pelo Brasil, Washington D.C. (Georgetown University), Coimbra e Cabo Verde. Infelizmente, a orientadora Maria Ioannis Baganha, não viveu para vê-la defender a tese de doutoramento. Doutorou-se em Sociologia pelo ISCTE-IUL em 2010. Dá um semestre de aulas, que é o que consegue. Falou de acreditar no projecto de António Costa, que acompanha desde o Ministério Justiça. Low profile. Pontalidade britânica, tão pouco portuguesa. Sem gravação nem notas. Somente a cábula das perguntas estritamente programada para uma hora, que por princípio cumpriria à regra. Como não sou jornalista nem para lá caminho, a atrapalhação levou-me a começar pelo fim. Não posso ainda falar daquilo que deu início à conversa, mas ao contrário daquilo que esperava, aquela mentirinha piedosa tão portuguesa “vamos ver o que se pode fazer” ou “talvez”. Não, nada disso, a resposta foi um sincero não. E eu aprecio isso nas pessoas. Sinceridade. Um não é um não e passa-se à frente. Ninguém corta os pulsos por isso. Os meus óculos  haviam ficado no táxi, valeu-me o tamanho da letra. Está cansada. Confidencia-me que o dia começara cedo, às 8 da manhã. Passa pouco das 7 da tarde. Olhos muito verdes. Aspecto de quem já aproveitou o sol de Lisboa ou a praia na tímida Primavera. O cansaço só se nota nos bocejos. iPhone em cima da mesa mas pouco ou nada olhou para ele, ou se o fez, não notei. Também me pareceu nunca ter olhado para o relógio. Um caderno A5 da Emílio Bragaportuguês, fechado, garrido, em tons de vermelho. Lá fora o céu de Lisboa, sem vista para o Tejo. Mas a sala onde falamos já valeu a pena. Elogiei a sala. Pouco funcional, nas palavras da própria. Enorme, como o rio, diria eu. A um canto, pendurada, uma portuguesíssima mala da Ideal&Co. Conversa informal. Uma hora au point. Quando questionada sobre a razão pela qual mudou da academia para a política respondeu que “quer marcar a diferença” e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Abraçar projectos e desafios. É isso que a move. Nunca se importou com cargos. Isso não importa. Apetece fazer a analogia com o escritor que é a imagem de Lisboa (ou será Lisboa a imagem do escritor?): “Não sou nada/ Nunca serei nada/ Não posso querer nada/ À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. As palavras são sempre de optimismo, mesmo quando provocada. Diz que existem pessoas extraordinárias na política portuguesa. E que há muitos “Miguel Relvas” em todos os quadrantes da sociedade. Não insulta, não injuria, não há uma palavra amarga. Só boas palavras e optimismo. Hoje é melhor que antes. Salienta que há coisas muito boas mas que os portugueses gostam de exagerar o lado negativo. Fala claro e detalhadamente. Quando lhe falo de cargos de nomeação e de confiança política, insurge-se (pacificamente) e relembra-me que foi eleita. Não acredita que não haja meritocracia, na maioria dos casos. Defende Portugal fervorosamente. Percebe-se que é uma optimista, apesar das minhas provocações. É daquelas pessoas para as quais o copo está sempre meio cheio e não meio vazio. Fala-me que quando era criança havia racionamento de comida em Lisboa. Havia muito analfabetismo e a maioria tinha a 4ª classe. Temos apenas 40 anos de democracia. As mudanças demoram décadas a notarem-se. E de repente, estamos no séc XXI, somos da mesma geração e temos ambas doutoramento. Fala com conhecimento de causa de todos os projectos. Percebe-se o orgulho daquilo que ajudou e ajudará a construir. Refere que há duas ou três start up que muito em breve vão dar que falar na área das ciências. Falamos de mecenato e filantropia, coisa pouco comum em Portugal. Quando, mais uma vez provocada, diz achar legítimo que as empresas queiram algo em troca quando financiam projectos. São empresas. Nunca critica. Levanta a questão de como podem as PMEs contratar doutorados quando a média da escolaridade dos superiores é o 9º ano. Falamos do rio por onde partimos para descobrir novos mundos. Da luz, do clima, dos museus, dos preços e das condições únicas de Lisboa. Nunca há uma só resposta. As respostas são demoradas e argumentativas. Soube há pouco tempo através da FLAD que Lisboa ficava lugares abaixo do Azerbeijão1 no que respeita a estudantes americanos escolherem cidades para estudar. Tentou inverter isso. Terminamos às 8, como combinado. Um jantar oficial esperava-a. Acompanhou-me à majestosa escadaria com o “Coração Independente” da Joana Vasconcelos. Eis o retrato de uma política que já foi investigadora. Sabe do que se fala quando se pronuncia a sigla FCT e afins. É a antítese da opinião que a maioria dos portugueses têm (infelizmente) em relação aos políticos. É também uma política que não se põe fora dos políticos e tem orgulho disso. Hajam muitas Graça Fonseca que só dignificam a nobre causa política. Este é um texto sobre o que retive, o que esqueci era acessório. O simples tão difícil.

1Exemplo ilustrativo

Copyright: Graça Fonseca

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Uma conversa com Richard Zimler

Richard Zimler chegou ligeiramente atrasado. Revelou que já tinha estado em Braga mas nunca na Centésima Página. Sala cheia para o ouvir. Prefere uma pequena introdução e pede perguntas. Eu comecei. Este último livro “A sentinela”, tal como o anterior “Ilha Teresa” são bastante diferentes dos outros porque são actuais. “A sentinela” mantém traços marcantes do autor: tem um personagem que é americano e judeu e tem um personagem homossexual. Pergunto-lhe pelo pai violento de Henry, que apesar de ser violento, extremamente violento, não é um abusador sexual, tema tão actual. Eu não sabia que o Richard Zimler teve um pai violento e que também maltratava a mãe verbalmente. Falou longamente sobre isso. Como o pai queria que os filhos o respeitassem e que não sabia a diferença entre respeito e medo. Falou de como a mãe foi depressiva e se manteve em casa longe do mundo e que não se vestia. Questionei-o também sobre o facto do cenário do livro ser em Lisboa. Porque não no Porto que ele conhece tão bem? Como é que le descreve tão bem Lisboa, o Chiado e afins não vivendo em Lisboa? Lisboa foi usado por ser uma cidade apelativa. Começou por me dizerque não gosta dessa “guerra” entre Porto e Lisboa. Mas que isso acontece entre San Francisco e L.A., por exemplo. Conhece muito bem Lisboa e gosta muito da cidade. Passou algum tempo em casa de um amigo na Rua do Vale, “daquelas ruas que têm roupa a secar e gatos” e que também foi a cidade para onde o sogro se mudou. Lembra-se dos almoços e da casa em Campo de Ourique.

A crise moral foi também longamente discutida. Deu o exemplo do caso Madoff que foi julgado e condenado em 6 meses. Que em Portugal tudo prescreve e que as pessoas não acreditam na justiça. Deu um exemplo de quando acompanha “a minha cara-metade” a jantares de cientistas, onde a maioria não o conhece e se limitam a ignorá-lo. E que já aconteceu pessoas posteriormente reconhecê-lo como Richard Zimler, o escritor e lhe pedirem muitas desculpas por não o terem tratado como tal.

Discutiu-se e foram muito elogiados os romances “A sétima porta” e “Meia noite e o princípio do mundo”. Muitas pessoas muito familiarizadas com a extensa obra do Richard. Foi muito emocionante ouvi-las falar demoradamente de pequenos pormenores e de personagens que as tocaram. Pessoas a citar frases, e mais do que isso, a considerarem que aquele livro é um grande apoio. Não me lembro da última vez que ouvi coisas tão bonitas em tão reduzido tempo.

Uma leitora que tinha lido todos os seus livros comentou que quando leu “O último cabalista de Lisboa” se interrogou “O que faz um americano judeu em Portugal?”.

Richard falou também que gosta muito de ser judeu e que até brinca com isso mas que discorda totalmente de os judeus se considerarem o “povo eleito” ou o “povo escolhido”. Falou também de grandes escritores judeus como Primo Levi e Philip Roth. Mas também não deixou de criticar a política externa norte-americana  e a sua ignorância que levou à morte de 2 milhões de vietnamitas e a repetição do mesmo erro na invasão do Iraque. Elogiou o seu amigo Barack Obama e que não achava possível um negro ser eleito como presidente dos Estados Unidos e como isso foi um sonho concretizado.

Muitas mais coisas foram faladas, muitas palavras bem ditas, muita sinceridade nos elogios, muita sensibilidade dos leitores, muitas opiniões de fundo da alma, muitos sorrisos, muita partilha. Afinal para que servem os livros?

Muito obrigada, Richard!








segunda-feira, 7 de abril de 2014

A paranóia do meu sobrinho mais novo

O meu sobrinho mais novo (aka afilhado) tem uma paranóia que são as chaves dos carros. Quando conhece alguém ou quando alguém conhecido chega ao pé dele a primeira coisa que ele faz, depois de cumprimentar as pessoas, é perguntar a marca do carro para logo a seguir perguntar se lhe podem emprestar as chaves. Pois bem, a chave preferida dele antes de eu trocar de carro era a do meu velhinho Fiat Punto, que ele também considerava dele. Quando troquei de carro, ficou muito desgostoso porque ao contrário do primeiro, este em vez de ter uma chave tem um cartão. Tentei solucionar o problema colocando um porta-chaves de NY que pertencia ao meu velhinho carro. Parece que resultou. A primeira coisa que ele faz quando me vê, depois de um demorado abraço e de um beijo, é pedir as chaves (cartão) e moedas. Então ele torna-se um armazém ambulante. É ve-lo munido da sua fralda, chupeta, chaves e moedas. Desde os 2 anos que sabe todas as marcas de carros. Foi assim que aprendeu os números (através das matrículas) e as letras.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Os encantos e recantos de Lisboa

Um dos restaurantes que queria experimentar há muito era o UMAI. Paulo Morais, o dono, está referenciado como um dos melhores chefs de cozinha japonesa do país. As especialidades deste restaurante incluem países como Índia, Tailândia, Vietname, Coreia ou China. Sábado à noite numa rua meio Chiado meio Bairro Alto, mais propriamente na Rua da Misericórdia, é para esquecer. A hora avançada não é sinónimo de restaurante vazio mas antes de populoso e barulhento. Pessoas já bem bebidas e a falar como se as outras fossem surdas. Provavelmente fui no dia errado e esqueci o objectivo deste restaurante. A palavra-chave deste restaurante deverá ser: partilha. Experimentar várias coisas, vários pratos, vários sabores porque as doses parecem abundantes para uma pessoa só. Atendimento impecável. Comecei por um cocktail (cujo nome não me lembro) mas era com frutos vermelhos, gin e água com gás. Recomendo. 


A sopa misoshiru foi menos que mediana. De todas as que provei pelo mundo fora, mesmo nos restaurantes menos afamados, superaram esta. Escolhi, depois, 15 peças de sashimi com 3 peixes diferentes. Os nomes dos peixes foram-me ditos, mas eu não os retive. A sobremesa foi aquilo que mais surpreendeu. As palavras não conseguem descrever a surpresa do que chamam de ensaio, o que equivale a dizer a surpresa do chef. Como Hemingway pedira para descrever o sabor de uma pêra no livro “Moveable feast” poderia descrever esta extraordinária sobremesa. Mas como não tenho o dom dos adjectivos como Hemingway, fica a foto: 


Mas concordo com quem uma vez disse que o português é uma língua que usa muitas palavras para se dizer o que noutra língua se poderia dizer com uma.


Há locais difíceis de encontrar para quem não é local. Pois bem, o jardim do Palácio das Galveias é um desses. Um encanto no meio da cidade. Um género de Bryant Park ladeado pelo edifício sede da Caixa Geral de Depósitos. O jardim está muito bem cuidado. Há cadeiras para apanhar sol. Tem um quiosque que serve refeições ligeiras e onde se pode beber (até) vinho. As sanduíches valem a pena e o serviço é muito simpático e impecável.  Encontrem as diferenças:


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