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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A minha lista de 10 (sobre cultura geral)

Medicina era o objectivo desde sempre. Mas não tive o comprometimento e dedicação exclusiva que as notas necessárias para a entrada no curso, à época, exigiam. Então, no secundário, percebi, muito cedo, que não seria uma candidata à altura. E em vez de me tornar uma sonhadora frustrada, desisti à partida e não à chegada. Fiquei sem segundo plano. E tornei-me uma aluna universitária medíocre. Com a permanente ideia de desistir. Entrei no que deu. E ao contrário de muitos, apesar das constantes ideias de desistência, consegui terminar o curso. Deve ser algo genético a capacidade de não ter desistido. Não atribuo a qualquer mérito meu, que dependesse da minha acção voluntária. Então, entre ser médica, ou qualquer outra profissão que incluísse os meus gostos pessoais, sobravam coisas que não davam para viver nem ter qualquer profissão que os pais sonham para os filhos. Esses gostos incluíam muita coisa, de temáticas muito diferentes umas das outras, muitas vezes até indefiníveis e até pouco coincidentes entre si. Então como isso não dava dinheiro, tornei-me cientista (que é uma profissão que inclui segurança, emprego para a vida e total realização pessoal... Not). Tornei-me cientista por obra total do acaso. Por causa apenas de um professor, do seu entusiasmo, da sua juventude e do seu grupo de investigação, e a uma das poucas aulas teóricas a que fui assistir numa tarde de sexta feira (manhãs não eram para mim). Descobri no decorrer destes anos que em vez de me ter tornado numa pessoa frustrada, aprendi o lado bom da investigação. Permitiu-me viajar, conhecer pessoas incríveis, mundos novos, pessoas que tratam de pessoas, doentes que são curados, outros que morrem mas não em vão, museus, restaurantes, arquitectura, paisagens, livros, escritores, cientistas, comidas, artistas, prémios Nobel, malucos, nerds, e as melhores universidades do mundo. Baseado no supra referido, segue-se a minha lista (por ordem cronológica):

1- Lisboa, a cidade mais bonita do mundo. Apaixonei-me por esta cidade quando a visitei pela primeira vez aos 3 anos. Nunca mais me esqueci de como tudo era alto e grande. Foi o impacto da diferença entre Lisboa e Braga (cidade onde nasci) à época. O sol não brilha em nenhuma cidade do mundo como aqui. A luz e as cores de Lisboa dos telhados e janelas dos quadros de Maluda. O clima perfeito. O Tejo, com dimensão de mar. As colinas. A baixa pombalina. As avenidas novas. A Gulbenkian. A cidade do meu querido António Lobo Antunes. Dos caracóis. Da bica. Do Lux. Das intermináveis e loucas noites do Bairro Alto. De Belém, de onde os portugueses saíram à descoberta do novo mundo.

2 - Na adolescência li a obra completa do Eça de Queirós, à qual volto repetidamente de tempos a tempos, e que continua a ser um dos escritores da minha vida.

3 - Amália intérprete/letrista/poeta dos seus poemas e dos grandes poetas de língua portuguesa (Camões, O’Neill, Homem de Melo, Mourão Ferreira, Régio). Amália é talvez a pessoa que mais lamento não ter conhecido pessoalmente. Talvez a mais importante figura da cultura pop  portuguesa do séc XX e mais conhecida no mundo (esta sim, verdadeiramente, em todos os lugares por onde passei). Sou fascinada pela vida dela. Uma menina que nasceu pobre, que não passou da 3ª classe, que tinha um dom “que Deus lhe deu”, que se alimentava das palmas do público, que se instruiu, que ousou cantar grandes poetas, apreciadora de arte, que escolheu um dia morrer em NY (como uma diva, e bem ao jeito da catarse da tragédia grega, felizmente arrependeu-se a tempo), que amava flores (como a minha mãe). Verdadeira autodidacta.

4 - Clara Ferreira Alves que leio desde 95 no Expresso. Com ela tive verdadeiras aulas de cultura geral. Descobri e apaixonei-me por Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Susan Sontag, Graham Green. Fascinei-me pelo Médio Oriente e por desertos. Interessei-me por política e por muitas outras coisas que não cabem nestas linhas. Faz-me sentir que nunca conseguirei ler à velocidade do que (ainda) gostaria de ler e reler. Mas faz-me ter essa meta e, sobretudo, não desistir.

5 - Maria de Sousa, talvez das poucas pessoas que não conheço pessoalmente, mas que mudou a minha vida. Ela que é uma médica que se tornou bióloga e eu que sou uma bióloga que queria ser médica (mas a vida não é tão fácil assim e não deu, lamento). Com ela aprendi que é possível ser-se cientista e gostar de coisas que não têm nada que ver com ciência. Senti-me muito menos só no mundo quando soube que ela gostava de poesia, de tocar piano, de escrever na parte de trás das folhas em que só um lado estava usado. Através dela cheguei a Garcia de Orta, Abel Salazar, António Damásio, Espinoza, Auden, Cummings e por aí vai.

6 – Adriana Calcanhotto – Quase não oiço música porque não consigo fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo. Mas tal como Vinícius e Caetano, Adriana, é muito mais do que uma intérprete. Preferi dá-la como exemplo por ser uma mulher e a mais nova dos três, mais perto, portanto, da minha geração. O que não quer dizer que me interesse menos pelos outros dois. A autobiografia de Caetano é um livro que já li 4 vezes. Aprendi muito sobre o Brasil, sobre a cultura brasileira e sobre o tropicalismo. Quem mais do que Caetano teria a bagagem cultural, o dom e a capacidade para escrever uma canção como Alexandre?”. Uma autêntica lição sobre o Rei da Grécia Antiga.
Adriana, reúne muitos talentos. É uma autodidacta, curiosa, conhecedora, intelectual, moderna e sofisticada. É uma artista multifacetada que desenha e pinta bem, escreve, fala e canta melhor, e dizem que toca bem mais do que melhor. Depois, partilha o mesmo interesse que eu por livros e livrarias.Tal como outros antes, incluíndo Amália, pegou em grandes nomes da poesia brasileira e portuguesa, musicou os seus poemas e deu-os a conhecer através da música (Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Bandeira, António Cicero, Mário de Sá-Carneiro, entre outros). Musicou até uma resposta de Joaquim Pedro de Andrade ao Liberation à pergunta Pourquoi filmez-vous? Há uns anos fiz-lhe a seguinte pergunta: “Apesar das sucessivas comparações a que tem sido sujeita, principalmente com Elis Regina, eu diria que a sua trajectória como excelente compositora assemelha-se muito mais a Vinícius de Moraes pela erudição do vocabulário, pela forma extraordinária como escreve poesia em língua portuguesa e pelo veículo das palavras ser a música. Será que daqui a alguns anos a Adriana será definida como uma grande poeta que fez canções maravilhosas? Era assim que gostaria de ser definida?” Ao que ela respondeu: “Ana, eu detesto comparações (como qualquer artista).  Mas considero um grande elogio a analogia que você faz com Vinícius, a quem amo muito. Na verdade, eu gostaria de ser indefinível, inclassificável, hoje ou daqui a alguns anos”. Interessa-me muito mais o que ela tem a dizer e o que o que escreve do que a melodia das canções, que quase nada entendo. Talvez por achar que a música seja o tipo de arte que menos me interessa.

7 - Houston, a cidade onde fiz quase toda a minha investigação de doutoramento. A cidade improvável. No sul dos Estados Unidos. Perto do México, recheada de mexicanos ilegais, republicana convicta, conservadora, perto da praia mais feia do mundo (Galveston), do centro espacial da NASA onde nasceu a frase "Houston, we have a problem", do maior centro médico do mundo, do mais importante hospital para o tratamento de cancro do mundo (MD Anderson Cancer Center), onde tudo é gigante (principalmente as distâncias e as doses de comida) e onde é impossível andar a pé. No entanto, foi a maior e mais feliz surpresa da minha vida. Andei kms de bicicleta que era o meu meio de transporte, apesar de ter arriscado a vida muitas vezes. E foi lá pela primeira vez que descobri o verdadeiro significado de saudade. Percebi e dei valor a coisas que até aí relativizava: que gostar de flores e apreciar comida bem feita são também formas de arte. Estas duas aprendi com a minha mãe e só à distância é que as compreendi. Descobri a Rothko Chapel e o The crab do Calder. Para atirar mais lenha para a fogueira, descobri o bairro de Montrose, o denominado bairro estranho, um verdadeiro oásis naquela cidade, onde tudo é possível e onde tudo pode acontecer. Durante quase estes 2 anos, a música do ipod e a bicicleta foram as minhas mais presentes companhias. O grande exemplo de como é possível ser-se muito feliz numa cidade feia e com um calor infernal.

8 - Nova Iorque, a cidade que eu escolhi para viver. A cidade onde se pode fazer tudo. A cidade onde tudo é possível. A melhor cidade do mundo para se andar a pé. Onde realizei os sonhos inimagináveis de ver Black Swan pela New York City Ballet, de ver Placido Domingo como maestro de Madama Butterfly no Metropolitan Opera e os vitrais de Chagall. Onde vi a exposição inesquecível Savage Beauty de Alexander Mcqueen  e o quadro The great wave de Hokusai no The Met Museum of Art, onde morei a poucos metros da primeira casa de Susan Sontag e frequentei os lugares que ela frequentou, onde fui ao lançamento de Just Kids e Banga de Patti Smith, onde eu li muito no metro, do maior numero de livrarias por metro quadrado, das inúmeras galerias em Chelsea. Dos fabulosos estúdios do Soho. Ia a Times Square quando me sentia sozinha. Onde vi quase todos os quadros que tinha visto nos livros, onde me apaixonei mais ainda por Hopper. Onde vi as fotos de Annie Leibovitz. E onde assisti duas vezes a Wit, o monólogo magnificamente interpretado por Cinthia Nixon sobre uma professora de literatura inglesa, especialista em Donne, que está com um cancro terminal. Aqui também li quase todas as biografias que encontrei de Marie Curie, a cientista que ganhou dois prémios Nobel de Física (pela descoberta da radiação) e Química (pela descoberta dos elementos químicos radio e polónio) e que se apaixonou por um discípulo que era casado e foi um escândalo. Da tardia descoberta de Brooklyn.

9 - Um eléctrico chamado desejo no Teatro Nacional D. Maria II, encenado por Diogo Infante com a brilhante interpretação de Alexandra Lencastre (de volta ao teatro tantos anos depois) no papel de Blanche DuBois (a mais bela representação desta personagem, de todas as que vi) e Albano Jerónimo no papel de Stanley.

10 – Fundação de Serralves – Não sou grande admiradora do Porto como cidade. Não gosto da cor (permanente) cinza nem da temperatura. Não gosto do interminável síndrome de inferioridade, do bairrismo da cidade pequena e/ou das sucessivas comparações com a capital. No entanto, acho que uma cidade que tem um museu como Serralves e viu nascer Sophia, não precisa de mais nada. Já valeria a pena só por isto.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O significado de Cristiano Ronaldo

Há alguns anos quando fui a primeira vez para Houston coincidiu com um Europeu de futebol. Foi em 2006. O único português que conheci fazia também o doutoramento em Rice University. O único contacto que tinha com a pátria era através telemóvel e do skype. Quando me perguntavam a nacionalidade achavam sempre que Portugal ficava no Brasil ou em Espanha. Apesar de Houston ser muito conhecida pela diversidade de restaurantes de várias nacionalidades, não havia restaurantes portugueses. Descobri um, já lá estava há algum tempo, que se chamava Oporto Café que era de um filho de um madeirense e nem português falava. Mas tinha um imenso orgulho da sua portugalidade. Todos os apartamentos que tive em Houston ficavam num condomínio que se chamava Maryland Manor e ficava numa das ruas com mais kms que conheci na vida. Chamava-se Bissonnet Street e atravessava Houston. A loja de conveniência mais perto de minha casa ficava a uns 5 mns de bicicleta. Era num posto de gasolina cujas pessoas que lá trabalhavam, ao contrário da maior parte dos locais em Houston, não eram mexicanos mas indianos. Quando me começaram a perguntar de onde era, a empatia foi imediata e nunca mais falavam de outra coisa a não ser Cristiano Ronaldo. Foi em 2006, longe de Portugal, num lugar improvável, no sul dos Estados Unidos que começou a minha simpatia pelo Cristiano Ronaldo! Esses indianos tinham até uma camisola da selecção portuguesa do CR7! Com o passar dos anos a minha admiração por ele só aumentou. A principal razão deve-se ao apego e respeito pela família. Não renega as origens, mostra-as. Dá à família aquilo que nunca poderiam ter se não fosse o sucesso dele. E eu admiro a união daquela família e a sua vida cigana. Andam juntos para todo o lado, vivem juntos, viajam juntos, passam férias juntos. E quando chega à altura de Ronaldo receber os prémios maiores de todos, não renega a sua origem e apesar de dominar pelo menos mais de 3 línguas, fala sempre em português. Nos agradecimentos, as maiores palavras vão sempre para a família. Já fui muito admiradora de futebol, há uns anos que não ligo muito. Quando me perguntam qual o melhor jogador do mundo digo sempre que é o Cristiano Ronaldo. Sou suspeita, eu sei. Mas para além de um excelente profissional, com características espectaculares, é um grande ser humano. E se é muito importante sermos grandes no nosso ofício, muito mais valor se acrescenta quando se é ainda uma grande pessoa. Cristiano, és um grande orgulho!


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O sistema nacional de saúde (SNS)

Juro que a próxima vez que ouvir falar mal do SNS português: vou insultar ou segurar-me para não bater na pessoa que o estiver a fazer. Há umas semanas, a Clara Ferreira Alves falou na sua crónica no Expresso, a propósito de um artigo do "The New York Times”  que falava da exorbitância do que se paga no sistema americano por um simples corte na cabeça que nem de sutura de linhas precisou.

Em 2006, quando estive a primeira vez em Houston, a fazer parte do meu doutoramento, fui parar ao hospital com um enxaqueca dilacerante. Depois de ter acordado às 5 da manhã, num domingo, para começar uma experiência às 6 porque tinha almoço marcado com amigos em “Indian Town”. Almocei comida indiana quase nativa, que para o comum dos mortais, deve ser prejudicial, imaginem para mim que (dizem que)sofro da vesícula. E à noite, como se não bastasse, comi pasta italiana caseira. Cheguei a casa com uma dor de cabeça latejante... Não sei se foi de ter madrugado e ter dormido pouco, se foi da comida indiana, se foi do vinho italiano. Até hoje não sei a razão do “se”. O que sei dizer é que como a dor só aumentou, não tive como n telefonar a umas amigas, sendo uma delas na altura estudante de medicina. Levou-me para o E.R. de um hospital que me lembro que se chamava de St Luke’s. Tenho que realçar que Houston é mundialmente conhecida pelo MD Anderson Center, um dos mais prestigiados hospitais de tratamento de cancro e também pelo seu Medical Center. Eu estava com uma enxaqueca tão grande que antes dessa, só uma fora tão má, que me obrigou a estar uma noite inteira no hospital porque suspeitavam de um problema neurológico. Quando cheguei ao hospital, não o achei nada como aqueles que se via nos filmes, nem em número de médicos, nem na assistência, nem na azáfama e nem no tamanho.  A sala de espera parecia de um pequeno centro de saúde. A única coisa que estranhei foi não ver doentes nem médicos. E por isso,  estranhei a demora a atenderem-me. Fui chamada para a triagem, que foi feita por um enfermeiro, na qual me fez um interrogatório sem fim e me mandou preencher papéis, que eu naquele estado, não sabia preencher. Pedi uma cama. Colocaram-me às escuras num quarto, como pedi. Num hospital, que parecia vazio, a médica demorou uma eternidade a assistir-me. Não tenho noção de quanto tempo esperei, mas não foi pouco. A médica, que até era simpática, antes do exame neurológico, fez-me um interrogatório. Começou pelas óbvias questões das drogas ilegais e foi por aí adiante. Eu repeti-lhe várias vezes que estava a morrer de dores de cabeça. E ela, quando finalmente terminou, disse que me iria prescrever codeína + tramadol. E aí eu comecei a ver outra luz! E prescreveu-me vicodin (sim, essa droga na qual o Dr. House é viciado) para SOS. Quase que me abracei a ela de tanta alegria! Deram-me a injecção intramuscular e obederam ao protocolo da vigilância. Quando saí do hospital já não articulava bem as palavras. Dormi quase 48 hrs seguidas, e quando finalmente acordei, tinha os lábios rebentados. Nunca cheguei a perceber se por causa das drogas legais ou por causa da vesícula/ fígado... Os meus amigos médicos que me perdoem, mas não sou expert... A parte pior chegou umas semanas depois, quando me apareceu a conta do hospital... Pelo que percebi, o seguro pagou uma parte, e a parte que eu teria de liquidar ultrapassava os 400 dólares (isto em 2006)... Podem imaginar o meu desespero, de um “tombo” destes no meu parco orçamento de aluna de doutoramento!!

Anos depois, já em NY, tinha uma amiga em minha casa. Fomos jantar a um restaurante grego, e entre sangrias, peixe e pão, terminamos a noite a beber vinho do Porto num bar em Hell’s Kitchen. Posso garantir, que apesar de parecer que enfrascamos muito, isso não aconteceu. No dia seguinte a minha amiga teve uma dor de barriga. Uma dor localizada que depois se começou a espalhar. De tarde, por conselho de outro amigo, estudante de medicina fomos ao Presbyterian Hospital/ Columbia Medical Center. Podia ser uma apendicite. As urgências deste hospital, por onde eu passava quase sempre, quando saía a horas tardias do lab pareciam verdadeiramente os E.R.s que vemos na tv. Desde baleados, drogados, grávidas, quedas de crianças... de tudo vi ali. E sim, este serviço parecia sempre activo. A minha amiga foi colucada numa maca a soro. Começaram por lhe dar qualquer coisa para beber para fazer um CT.  Não tinham certeza de nada. Podia ser apendicite, mas também podia ser uma pancreatite, ou nenhuma das duas. E as horas foram passando. Eu e o meu amigo quase médico, enquanto ela esperava deitada pelo diagnóstico, fomos as nossos labs, e ainda tivemos tempo de jantar. Quando voltamos tinha mudado de sítio. Estava agora próximo das secretárias dos médicos. A médica que a estava a assistir ia acabar o turno. Era interna de anestesiologia e morava no prédio do meu amigo quase médico. Desde esse dia passou a perguntar-me como estava a minha amiga e a dizer-me “olá” nos corredores. Até hoje, não me esqueço que se chama Emily. Durante a madrugada, entre TACs, injecções para as dores... fomos passando o tempo. Ainda nos ofereceram de comer, sandes e sumos, e ainda umas cadeiras. Eu e o meu amigo ainda tivemos tempo de ir a um café em frente ao hospital, Jou Jou. E ainda tivemos tempo de ver a chefe de turno a “flirtar” um dos especialistas de serviço no café.  Tive ainda tempo de adormecer com a cabeça pousada em cima da cama da minha amiga. E de ser acordada pela médica para me dizer que como a minha amiga tinha um excelente seguro de saúde, iria ficar internada. Disse-me que iria dar-lhe morfina e que seria transferida de serviço. Quando lhe estravam a administrar a morfina, o médico disse-lhe para avisar quando ela começasse a sentir o efeito. A seguir a isto, mandaram-me para casa passava pouco das 6 da manhã.  Umas horas depois regressei ao hospital e a C. estava internada mas estava quase a ter alta. Os quartos eram individuais, pareciam quartos de hotel, a cama era toda automática, inclusive dava para pesar. Tinha casa de banho privativa. E mais uma vez, sumos e sanduíches não faltavam. A conta, vim a saber depois, foi astronómica. A C. tinha um excelente seguro de saúde pago pela Harvard University. Mas sabem por quanto ficou estas pouco mais de 24 hrs? Mais de 5000 dólares.

Quando ouço alguém a queixar-se do nosso sistema de saúde apetece-me dizer-lhe a sorte é que não têm acesso à factura detalhada... e alguém paga essa conta sem os próprios nunca saberem o valor real das coisas...

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A importância da eleição de Obama

Em 2008, quando estava em Houston, acompanhei muito de perto a escolha dos democratas entre Barack Obama e Hillary Clinton. Naquela altura eu fui uma defensora acérrima da Hillary. Nunca gostei muito de rótulos, nem de classificações, nem de definições, nada que pudesse ser redutor. Afinal, há coisas na vida que são inclassificáveis e indefiníveis por palavras. Por tudo isto, o que eu gostava na Hillary não era o facto de ela ser mulher, ou de ser uma minoria, ou ter chegado onde muitos homens queriam ter chegado. Eu gostava da determinação dela, dos discursos que não eram tão cativantes como os do Obama mas que falavam de coisas mais profundas, parecia  que não se importava em dizer apenas o que as pessoas queriam ouvir. Por ex, Obama só apoiou o casamento entre pessoas do mesmo sexo este ano, Hillary já o apoiava em 2008. A Hillary parecia não se importar com o que a maioria queria que ela dissesse, ela tinha ideias e causas próprias e defendeu-as. Mas acima de tudo, o que de mais impressionante há nesta mulher, é que sendo uma mulher de um ex-presidente como foi Clinton, que passou pela humilhação pública do caso Lewinsky, pela chacota mundial, e que mesmo assim não se escondeu e não se deixou humilhar. Muitos apostavam na morte política anunciada dela. A história veio mostrar-se outra. Este é o exemplo de que por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. E eu tenho tanta pena que a Hillary não tenha sido a candidata dos democratas nas eleições de 2008. Continuo a achar que a Hillary é muito melhor que Obama.   E Obama veio a adoptar algumas das coisas que Hillary defendia. Acho que a governação dele ficou muito aquém do que prometeu. Aliás, eu lembro-me que na altura os americanos achavam que ele iria ser o salvador da pátria, um milagreiro. Os anos mostraram que Obama é apenas um humano, apesar de ser uma das pessoas mais poderosas do mundo. Acho que é um tipo bem intencionado, arrasta multidões, inteligente, andou nas melhores universidades do país e é um exemplo de uma criança que foi educado pela mãe e pelos avós maternos, que chegou onde as elites chegam. Esse é o sonho americano. Mas prometer a reforma do sistema de saúde, "nacionalizando" o que é privado...foi muito... Alguém que conhecesse bem o sistema de saúde americano acreditava que ele era capaz de combater o lobby das seguradoras e dar assistência médica para todos? Isto era quase a utopia do sistema comunista leninista. Mas nunca ninguém poderá dizer que Obama não teve uma excelente prestação internacional. Basta ouvir as críticas de Romney sobre a relação actual EUA-Rússia. Ou por ex. a retirada do Iraque, a forma como tem lidado com o Irão, não ter intervido na Síria (não se achando o maior do mundo à Bush). A paz no mundo ficou melhor na era Obama. Mas depois de Bush, qualquer um faria melhor. No entanto, com esta ameaça Romney para presidente dos EUA ia ser a desgraçada. Aquele discurso pró-americano de que a América é a melhor e soberana de todos os países, pró-guerra a lembrar a malograda era Bush, anti-Russia a fazer avivar a nostálgica guerra-fria... e muitos outros exemplos. À boa maneira americana, o povo é de extremos. Felizmente, para o mundo, os americanos decidiram-se pelo seguro. E eu quero acreditar que o mundo com Obama é um mundo mais seguro.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O furacão Ike


Hoje que “a Sandy” está a provocar estragos na costa leste dos EUA revivo uma das mais assustadoras experiências da minha vida. Ao contrário do que os meus amigos em NYC fizeram hoje, e bem, ao cumprir as instruções dadas pelas autoridades, naquela altura, eu menosprezei  a grandeza “da coisa”. 

Em Setembro de 2008, depois de ter estado em Portugal a tratar-me de um problema de estômago, voltei para Houston para terminar as minhas experiências. Passados alguns dias o Ike surgiria. Lembro-me que na altura as autoridades foram bastante convincentes a antecipar os estragos que o Ike faria. Eu nunca acreditei, achei sempre que era o exagero americano.  Em Rice University seria um dos locais de Houston que não faltaria água nem luz. Foram preparados nos diferentes edifícios autênticos abrigos para milhares de estudantes. Quem quisesse poderia levar o seu colchão e/ou saco-cama e mantimentos seriam fornecidos. Lembro-me perfeitamente de ver supermercados com prateleiras vazias e filas intermináveis de pessoas a comprar mantimentos. O meu orientador na altura mandou os filhos e a mulher para um local seguro fora do Texas. E eu continuei a achar que o exagero cinematográfico americano continuava. Os meus amigos e colegas convidaram-me para ir para suas casas. E eu recusei sempre, amavelmente. 

No dia da chegada do Ike com o aproximar da hora, avistavam-se cada vez menos pessoas. O dia amanheceu lindo, como quase sempre em Houston. Calor abafado, como quase sempre. Mas com o passar das horas começou a ficar nublado e a escurecer. As autoridades avisavam que as pessoas deviam recolher-se em lugares seguros à tarde. Essa foi a única instrução que cumpri. Fui de manhã para a universidade e no final de almoço regressei a casa munida, podem não acredita, de um autêntico laboratório ambulante. Tinha um procedimento de desidratação histológico que não podia abandonar... Montei o meu arsenal na casa de banho, coloquei  uma mesa com o tampo a fazer de parede na minha secretária (seria debaixo dela que passaria a noite)... De repente, não mais do que de repente, do dia fez-se noite. Quando a noite chegou parecia que não passaria de vento e alguma chuva e eu continuava no meu quarto de tv ligada e internet. Tinha falado com os meus pais, com os meus amigos que tudo não passava de um exagero mas estava muito optimista e comportar-me demasiado como uma pessoa inconsequente para o gosto deles. Às 10 da noite o terror começou. Quando o vento começou a piorar a luz foi-se imediatamente, e o barulho começou a tornar-se medonho. A chuva era tanta que eu já não conseguia distinguir a chuva do vento. A coragem foi-se imediatamente à vida. Coloquei o meu capacete de andar de bicicleta e fui imediatamente para debaixo da secretária. Achei que aquilo demorasse tipo uma hora, no máximo duas.... Mas o terror não passava. E eu só pensava: “Que tristeza morrer em posição fetal debaixo de uma secretária, ridícula com um capacete, e sozinha”. Ainda tive coragem de me levantar e espreitar à janela e ver, que apesar de não haver luz, e o céu estar escuro como breu, o vento tinha cor. Nunca consegui explicar isto e nunca vi nada assim na vida. Bem á mariquinhas, regressei a correr ao meu bunker.



Lembro-me que estive acordada madrugada dentro mas que depois das 4 adormeci de exaustão. Quando acordei de manhã, o barulho tinha cessado e percebi que não tinha morrido e que nada no meu apartamento estava destruído. A luz continuava sem existir e a água também.  Um calor infernal (afinal não havia AC...). Abro a porta e tudo à minha frente é destruição. A piscina parecia uma sopa de ramos e de tudo o que era lixo. Dou um passo e “puf” fiquei com água acima do joelho. Dou uma volta ao meu condomínio e percebo que não há ninguém. E só pensava: “Como vou sair daqui, com as ruas inundadas, fios de electricidade rebentados, árvores caídas, casas sem telhado...?”. Vi um dos meus vizinhos que conhecia de vista (era um americano que era casado com uma espanhola e tinha um filho bebé; ele tinha ficado em Houston e a mulher e o filho tinham ido  para Espanha). Nestas alturas, a vergonha desaparece, e eu com a maior das latas, ou talvez instinto de sobrevivência, perguntei-lhe se tinha carro e se me podia levar ao Hilton doMedical Center (era o hotel que costumava ficar no dia anterior das viagens para Portugal. Ele com a maior das boas vontades e devia ter tido pena de mim, lá me levou ao hotel. Quando cheguei ao hotel havia muita gente no hall de entrada e junto à recepção, onde tinham colocado uma tv que ia dando a conhecer a real situação. Pedi um quarto e disseram-me que teria que ficar em lista de espera porque não havia luz e não podiam aceitar reservas. No entanto, disseram-me que poderia aguardar e estaria em lista de espera. Como as horas que ali passamos foram muitas, havia as horas das refeições, que foram todas servidas e eu fui sempre aconselhada a ir. Lembro-me de ter ligado aos meus pais e alguns amigos e da preocupação deles com as notícias que viam na tv. Entretanto, a noite chegou, e a luz não. E no piso da entrada a luz era assegurada apenas pelo gerador. Como eu não tinha para onde ir, e como todos os hotéis estavam lotados, a gerente disse-me que a única possibilidade seria ficar num quarto no hotel mas que não teria água nem luz. Um dos motoristas levou-me de carro ao andar do quarto (pois tinha acesso exterior) e disse-me para me trancar no quarto e não abrir a porta a ninguém. Ele acompanhou-me com uma lanterna até ao quarto e deu-ma. Entrei, fechei a porta e tranquei-a com as duas fechaduras. Não era um quarto, era uma suite presidencial. Era enorme. Mas de nada me valia aquele luxo se não havia água nem luz e o calor era mais do que infernal. Mas pelo menos tinha uma cama. Durante a noite ouvi uns barulhos mas achei que estava a sonhar. Ouvi bater na porta e a tentarem entrar mas não liguei porque achava que era sonho... Quando acordei de manhã e fui confirmar a porta... apenas estava fechada com uma das fechaduras... alguém durante a noite tentara entrar...Não penso muito nisso, mas acho que tive muita sorte. Quando desci, disseram-me que continuavam sem luz e que não havia previsões para que fosse restaurada e que teriam que fechar o hotel. No entanto, disseram-me que poderia tomar o pequeno almoço e me levariam onde quisesse. Não me lembro de caras nem de nomes de todos (as) aqueles (as) que me ajudaram e fizeram tudo por mim nestas horas, sem me conhecerem de lado algum, mas são a quem devo a vida. No final do pequeno-almoço dirigi-me à recepção para acertar contas do quarto e de todas as refeições que tinha feito e a gerente do hotel disse que não era nada e que era tudo por conta do hotel e que só pedia desculpa por não ser o melhor serviço. A sério que nesse momento só me apetecia agarrar-me a ela a chorar e dizer-lhe que achava que não existiam  pessoas assim no mundo. Deu-me o cartão dela e que estava disponível para o que precisasse e que um motorista do hotel ia levar-me onde quisesse. Apesar de Rice University ser a 10 minutos a pé, decidi aceitar. Nem pensei em mais nada, só que tinha que continuar a experiência com os bioreactores...

















Havia luz no laboratório e em toda a universidade. Tudo estava fechado. Tinha dinheiro no bolso mas não servia para comprar nada. A universidade durante esses dias dava água e comida a todos os alunos. Durante vários dias estava em filas para almoçar/jantar e receber garrafas de água. O espírito de solidariedade que senti nestes dias são inesquecíveis. Durante dias dormi no meu gabinete porque não havia recolher obrigatório às 8 da noite, depois passou a ser às 10. A verdade, é que o bairro onde eu morava (a 5 mns da universidade) e onde o meu orientador também morava, ficou sem luz durante 3 semanas. A minha rotina diária era dormir no chão ou na cadeira no meu gabinete,  levantar-me às 6 da manhã, ia a casa dormia uma ou duas horas na minha cama, tomava um banho de água fria e regressava à universidade. Após alguns dias, ligaram-me do Hilton onde tinha uma reserva e colocaram-me num hotel a uns 20 mins de táxi. Nesse dia fui para o hotel às 5 da tarde, tomei um banho de água quente, dormi numa cama, acordei e pedi o jantar no quarto, dormi, acordei e tomei o pequeno-almoço. A brincadeira ficou por 400 dólares... mas nunca achei que tanto dinheiro fosse tão bem empregue!!! 

Alguns dias mais a dormir no lab estavam a deixar-me saturada e aceitei ir para casa de uma colega e amiga que já tinha luz. Passei uma semana na casa dela e nunca lhe consegui agradecer o quão importante isso foi. Como é que eu posso não ter gostado de Houston, da universidade, das pessoas e dos texanos? O que não nos mata, enriquece-nos.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Este texto é para a C. que salvou a minha vida duas vezes-Parte I


Como a Adriana Calcanhotto, acho que escrever ajuda. Coincidentemente,  estive doente na mesma altura que ela escreveu “Saga Lusa”. Ela com um surto psicótico induzido por interacções de drogas legais e eu a “enlouquecer” com um problema de estômago.Ela achava que estava a ficar louca e que não voltaria à realidade e eu achava que ia morrer... ainda para mais... sozinha! Regredindo no tempo, ao verão de 2008, estava eu no "arrozal" na Rice University em Houston, Texas. Estava nas últimas experiências do meu Doutoramento e nos últimos meses em Houston. Adorava a vida que tinha lá. Vivia num complexo com piscina a 3 mns (a alta velocidade) de bicicleta da Universidade. Aquela bicicleta de criança comprada no segundo dia que cheguei a Houston, arrisco dizer, que fez milhares de Kms. Nunca em toda a minha vida estive tão em forma. Ao fim de semana fazia em média 30 kms. O meu orientador de lá dizia sempre que me reconhecia ao longe pela bicicleta e o capacete e que quando encontrava um Malboro caído no chão era meu. Era a melhor e mais fiel consumidora de latte na universidade. Até me ofereceram uma t-shirt “Rice Coffe House” que tenho até hoje.Tinha o meu gabinete espectacular partilhado com mais duas das melhores pessoas que conheci no mundo. Até me ofereceram uma máquina de café, que depois servia para todos. Como (quase) toda a gente sabe nunca precisei de dormir muito. Estava (quase) sempre acordada em todos os fusos horários. Nesse verão, aceitei, talvez fruto de não querer reconhecer que todos os humanos têm um limite, escrever um capítulo de livro a convite do meu orientador. O desafio era irrecusável, pelo menos para mim. Quase que disse que sim de imediato. De dia fazia as experiências no laboratório e de noite escrevia. E foi um ano de muito trabalho porque para além de todas as experiências, tinha os bioreactores que eram 8, todos para mim. Cada um demorava, em condições de esterilidade, uma hora a montar. Para além disso, tinha os estudos in vivo com ratos. Acho que nunca trabalhei tanto. Mas também nunca me senti tão entusiasmada. Adorava aquele clima de Houston, absurdamente quente e húmido. Sempre sol.







Uma noite, como “não há mal que dure sempre nem bem que nunca acabe”, adormeci de cansaço no sofá depois de jantar, enquanto a roupa lavava. Acordei passado pouco tempo muito indisposta, suores frios, muito pálida, uma sensação de fraqueza...Passei a noite a vomitar. Achava que no dia seguinte estaria melhor. Quando acordei na manhã seguinte não consegui comer nada e a sensação de náusea persistia. E isto continuou uns dias, tudo o que comia vomitava e as únicas coisas (em muito pouca quantidade) que o meu estômago aguentava eram bolachas de água e sal e água. Omiti a quase toda a gente o quão mal me estava a sentir. Falei com uma amiga, acho que mais de uma vez, que não estava a sentir-me bem e ela sempre me disse que o mais importante era a saúde, que nada mais importava quando isso estava em causa. E aconselhou-me, se estivesse mal, a voltar para Portugal. Eu aguentei heroicamente até me faltarem as forças todas e até o sinal de alarme soar. Um isolamento de células que demorava uma manhã, nesse dia demorou, quase um dia inteiro. Nesse dia, sentia-me a morrer. Passei o dia a vomitar, não aguentava nada no estômago. Ao fim da tarde percebi que vomitava sangue. O que se pensa numa altura destas? Sozinha, no outro lado do mundo? Eu não tive muitas alternativas. Se lá era fim da tarde, em Portugal era início da madrugada. Primeiro liguei à AR que estava na Turquia (não me atendeu porque já a madrugada ia avançada), liguei para o meu irmão que não me atendeu e depois liguei para a última pessoa que queria ligar aquela hora... Não sei se foi a primeira, mas foi uma das primeiras vezes que não consegui disfarçar ao telefone. Pela primeira vez nessa semana, não omiti o quão mal estava e queria apenas que alguém me dissesse o que eu estava à espera de ouvir, que voltar seria a melhor solução. E ela com uma calma (que mais tarde vim a saber era só disfarce) organizou-me tudo por telefone, deu-me todas as indicações, fez-me todos os planos, preparou-me tudo. Disse-me para ir a casa preparar uma mala com algumas roupas, que logo que amanhecesse em Portugal iria pessoalmente comprar-me um bilhete de avião (disse-me que poderia demorar algum tempo), telefonou aos meus pais, descansou-os. E passadas algumas horas ligou-me (na minha madrugada) a dizer que tinha que estar no aeroporto ao meio-dia e que me tinha arranjado um vôo. Quase ninguém soube deste plano detalhado ao milímetro. Se eu sobrevivi e arranjei forças para uma viagem conseguida tão rápido mas tão longa deve-se a esta pessoa que me garantiu que tudo ia correr bem e que eu ia estar bem para regressar daí a um mês. Como disse Arquimedes: “Dá-me um ponto de apoio e eu moverei o mundo”. Foi essa força que eu senti.

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