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sábado, 28 de junho de 2014

S. Miguel - Açores

Meados de Junho. Palestra nos Açores. Descanso e trabalho para o projecto Investigador FCT nos restantes dias. Há muito queria conhecer o arquipélago. Sempre me senti fascinada, nem sei bem qual a razão. Sempre achei que estava muito preservada da mão humana. Não me enganei. Primeiro de tudo, o mar está sempre presente. A maresia, também. O clima é do melhor que há. Nem quente nem frio, ameno. Chove e no momento a seguir está sol. A imagem que tinha dos Açores com vaquinhas e um verde imenso correspondeu. Depois, tem óptimas estradas. Eu que não sou muito de natureza fiquei rendida. Até trilhos fiz. Andei minutos seguidos para ver imagens de cortar a respiração. Comi a melhor carne do mundo. E o melhor peixe, também. Queijos, perdi a conta. Ilha, S. Jorge, S. Miguel. Todos, muitos. Os micaelenses são simpáticos. O tempo deles e a velocidade é diferente. Tudo devagarinho. Mas a simpatia e a disponibilidade superam tudo. Conheci muita coisa. Tenho fraca memória. Mas nunca vou esquecer as escarpas e o mar sem fim. A cor escura do Atlântico. As praias rochosas, vulcânicas e escuras. A areia escura. O clima ameno. O cozido das Furnas com sabor à morcela com canela e pimenta da terra. A kima maracujá. A Especial da Melo Abreu. O queijo fresco com pimenta da terra. A carne de vaca dos Açores. O chá verda da Gorreana. Os tremoços com alho e pimenta da terra. Os chicharrinhos fritos a saber a mar. As plantações de chá a perderem de vista. A flora. Os fetos gigantes. As baleisas. Os golfinhos. As gaivotas. A marina. As praias. As termas. A lagoa das Sete Cidades. Os jacarandás. A lagoa do Fogo. A Ferraria. As praias tão desconhecidas e tão inesperadas. As cores. Os ossos de baleia. O Parque Terra Nostra e o seu magnífico jardim botânico. E como o melhor guarda-se para o fim, nunca esquecerei da sensação de entrar na piscina natural de água termal a 40ºC naquele fim de tarde. A temperatura de fim de tarde a contrastar com a temperatura da água, superior à do corpo. Não há palavras para descrever a sensação. A lagoa das Furnas. As fumarolas. O bolo lêvedo. O atum fresco. As bolachas moçor. Tudo ficou para sempre na minha memória e quero lá voltar. A ilha de S. Miguel ficou empreguenada em mim sem que eu contasse. Sabia que ia ser bom, não imaginava que seria tanto. 











sexta-feira, 13 de junho de 2014

As baleias

Nove de Junho. Acordamos às quinze para as oito. Tomamos o meu pequeno-almoço preferido desde que estou em Ponta Delgada: bolo lêvedo torrado com queijo e meia de leite clara. Às oito e meia saímos de casa rumo à marina, ansiosa, receosa, medrosa e todos os adjectivos possíveis de quem tem medo e respeito pelo mar. A promessa era de ver vários tipos de baleias, aves e golfinhos. A garantia é que se não avistássemos nem baleias nem golfinhos faríamos outra viagem for free. Eu que nunca fui de natureza, nem de animais, nem de plantas, nem de flores ia com a ténue esperança de ver pelo menos uma ponta de rabo de cachalote. Não sei qual o motivo mas esta viagem mar adentro fazia-me lembrar em tudo Moby Dick e a Ode Marítima. O Juan Pe, no dia anterior com as suas fotos maravilhosas, havia-me maravilhado com as imagens impressionantes daquela cauda vertical da baleia a mergulhar. Uma parte de mim estava cheia de curiosidade, de ver essa imagem, outra parte de mim era só temor. Desde que li há anos a descrição da Adriana Calcanhotto no seu Saga Lusa que ao mesmo tempo que a invejava, outra repelia-a. Eis a descrição dela, quando o capitão do bote saía para o mar: “Não, não temos a certeza se estaremos de volta às três, nem se há baleias e nem mesmo se voltaremos, se é que algum viajante retorna, isto aqui é o mar, ó pá, não temos a certeza de nada.” Perante esta descrição, como poderia ir eu qualquer coisa que se assemelhasse a terror. Ainda para mais enjoo com tudo. Umas simples meia dúzia de curvas fazem-me vomita. Eu enjoo a conduzir, coisa rara entre os humanos... Equipámo-nos a rigor. Parka e calças impermeáveis e colete. O barco era um semi-rígido com doze pessoas, o capitão e o guia que era biólogo. Com a atrapalhação do momento nem me lembrei se o Juan Pe havia dito que o melhor para mim era ir na parte da frente ou na parte de trás do barco. Como fomos as últimas a entrar, sobrou-nos dois lugares no meio. Quando o barco arrancou oceano dentro, a toda a velocidade, pensei para mim: “vai ser agora que vou morrer”. Fechei os olhos e a brisa marítima a bater-me na cara, entreguei-me. Convenci-me que se morresse morria como as árvores, de pé e com estilo. Nada de os outros notarem que estava aterrorizada. O barco seguiu no imenso oceano, para mim, sem fim, e aquele azul escuro tão bonito, de tirar a respiração. Um azul escuro tão incrível, tão imenso, tão brilhante que nunca irei esquecer. E nunca estive tanto em alto mar. Estamos atrás de baleias que são previamente avistadas por um vigia estrategicamente colocado em terra. Depois de meia hora a ir oceano dentro, avistamos duas baleias: baleia comum (fin whale). Grandes, enormes, a segunda maior espécie do mundo! Que emoção. Eu que nunca me comovi com estas coisas. Não sabia se fotografava, se olhava, se filmava...A maresia na cara, o vento, aquela imagem clara na água, submersa e muito azul. Ou o cinzento. Estiveram muito tempo a menos de um metro de nós. Avistamos estas primeiras duas baleias. Nada é certo, tivemos sorte. O mar, tal como a vida, não se tem certeza nenhuma. Depois de mais de uma hora, partimos à procura do cachalote. A água bate-nos na cara e já não distingo se é água, baba ou ranho porque ardem-se os olhos do sal. Depois de outros tantos minutos em direcção ao tão esperado cachalote, eis que são dois. São os mais difíceis de avistar porque só os conseguimos ver quando mergulham e isso só fazem uma vez durante o tempo da viagem. A esperança é que pelo menos um deles não tivesse mergulhado. E, ó sorte das sortes, passados alguns minutos, essa imagem acontece, avistamos a cauda do cachalote magnificamente vertical. Terão que acreditar na minha descrição porque não existem provas. Aqui estou eu, mais treze pessoas, rodeadas de mar sem fim e eu não sei se chore ou ria de alegria. Regressamos a terra, o mar repicado, nas palavras do capitão, continua a bater-me na cara, sem dar tréguas. A temperatura do mar, segundo o capitão não ultrapassa os dezoito graus. Eu teimo que tem de certeza mais de vinte e dois, mais quente que todas as águas do mar que conheço. Pode ser da emoção, confesso. Mas esta água para mim é quente e de um azul magnífico. Voltamos, sem antes avistar, seis golfinhos que saltam felizes à nossa volta. Para uma reticente como eu como não ter amado esta experiência? Em alto mar relativizamos tudo. A viagem acaba, segura, inteira e para sempre ser recordada.






P.S. As fotos são do meu mais novo amigo Juan Pe, que para além de ser biólogo e perceber de todo o tipo de animais e plantas, é um excelente fotógrafo. É também guia dos semi-rígidos que fazem estas visitas ao largo de Ponta Delgada.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Escrevo com um dia de atraso. Sempre o mar. Ontem foi o dia de Portugal. O dia da morte de Camões. Não o dia de um estadista, de um general, de um rei nem de um ditador. Em que outro país é assim? Que orgulho. Especialmente comemorado nos Açores. Aqui fica um dos poemas que mais gosto dele que foi para sempre imortalizado na voz da nossa Amália.

Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Porto - Ponta Delgada

5 de Junho. Mais uma vez acordo atrasada e mais uma vez consigo não perder o avião. Vamos ver até quando... Viajo pela primeira vez, em muitos anos, à janela.Disseram-me que a aterragem em S. Miguel era uma vista maravilhosa e imperdível. Arrisquei! De facto, quem me disse isso, não mentiu. Sair das nuvens brancas com o céu azul e o oceano Atlântico imenso, e ver aproximar a ilhade um verde incrível no meio do oceano... A formação da ilha é lindíssima, diferente de tudo o que vi até hoje. Ver  o mar agitado, uma luz incrível no meio do Atlântico é indescritível. Ou aproveitava o momento ou tirava fotos. Optei pelo primeiro. Por um segundo mais feliz. Do lado de cá o oceano, do lado de lá Portugal. Apenas S. Miguel no meio do mar. Que vista incrível: Na estrada do aeroporto para o centro de Ponta Delgada avista-se sempre o mar. O verde e o mar são sempre a paisagem. Tudo ainda muito selvagem. O sotaque das pessoas é lindo. Tudo ao seu ritmo, lento e demorado. Não há trânsito. Estou rendida. Aqui não há pressa, só o momento.





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