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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Escrevo com um dia de atraso. Sempre o mar. Ontem foi o dia de Portugal. O dia da morte de Camões. Não o dia de um estadista, de um general, de um rei nem de um ditador. Em que outro país é assim? Que orgulho. Especialmente comemorado nos Açores. Aqui fica um dos poemas que mais gosto dele que foi para sempre imortalizado na voz da nossa Amália.

Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Os carros e eu

Não nasci para conduzir. Nunca percebi nada de carros nem nunca me interessaram. Há 10 anos, exactamente, tirei a carta de condução quando já não tinha motivos para adiar mais. Nos primeiros meses  depois de tirar a carta ia todos os dias para a universidade antes das 8 para não apanhar trânsito. Depois disso continuei a ser uma péssima condutora. Mas apesar disso nunca tive nenhum acidente.

Agora passados dez anos chegou a hora de trocar de carro. E o que deveria ser uma coisa boa está a tornar-se num pesadelo. Primeiro comprou-se o carro e só depois o experimentei! O mostrador da velocidade é digital, tem GPS, tudo é automático, não tem chave e tem um cartão. Para se ligar e desligar o carro é um botão. E para piorar é enorme... Excesso de tecnologia nunca foi uma boa coisa para mim. Eu que preferi sempre livros e o cheiro deles a livros digitais, escrever à mão em vez de escrever no computador... agora quando entro no carro tudo se liga sem eu querer... é o rádio, quando chove aquilo é automático, o A/C, as luzes... Quando tenho de conduzir é um stress. Eu acho que até emagreci! Mas agora que está feito é andar para a frente e já não posso voltar atrás. O meu sonho de consumo era ter um motorista, sempre disse isso.

Um destes dias estava a dizer ao Poeta (o toxicodependente, sem-abrigo e arrumador de carros que está em frente ao meu prédio) que tinha um carro novo para ele vigiar e ele pede-me uma moeda. A mim ele nunca me pede nada, sou eu sempre que ofereço sempre. Mas naquele dia ele devia estar a precisar da droga e perdeu a vergonha: “Eu nunca lhe peço nada mas hoje queria mesmo era uma moedinha em vez de comer”. Eu levava a Bu pela trela a passear e não tinha moedas mas disse-lhe que ia levantar dinheiro. Ele foi comigo levantar dinheiro e eu para trocar por moedas fui comprar pão. O Poeta, amavelmente, ofereceu-se para ficar com a Bu fora da pastelaria. A Bu que nunca pode estar longe da dona, era ouvi-la a uivar. Até que as senhoras da pastelaria me disseram: “Deixe entrar a bichinha. A menina há-de ter o céu... ficar com uma cadelinha que estava abandonada... deixe entrar a bichinha que ela não faz mal nenhum!”. Com esse problema solucionado, virei-me para o poeta e disse-lhe para escolher qualquer coisa para comer: “Nem pensar! Se me vai dar uma moeda não quero comer. Eu não abuso, nem pensar”. Lá o convenci a levar os bolos, na compra de um deram-me o outro. Ainda tive tempo de lhe perguntar se acreditava em Deus porque tinha um enorme terço ao pescoço: Vai-me desculpar mas eu acredito apenas no Homem e no dinheiro que é isso que faz girar o mundo. Isto tenho ao pescoço porque me deram e acho bonito”.  Dei-lhe as moedas que sobraram do troco do pão e dos bolos e só lhe perguntei: “quanto é que gasta por dia em droga?”.  Ao que ele me respondeu: “Nem queira saber, não lhe vou dizer que até tenho vergonha e você vai achar um absurdo”. Ele seguiu pela noite, a agradecer como sempre a bater com a mão no coração, de gratidão. Provavelmente dei-lhe o que ele precisava para completar o que lhe faltava para pagar mais uma dose.


Pensando bem, eu não deveria dar-lhe o dinheiro. Mas ele é tão delicado, tão educado, passa tão mal a viver na rua, é ostomizado mas eu não lhe posso mudar o mundo. Eu não sou nem posso ser o Deus de toda a gente. Mas não nego nada a quem tem fome. E apesar de acharmos que estas pessoas que se drogam, perdem todos os valores, não é verdade. Ele não rouba e está sempre a gabar-se disso e ainda acrescenta: “Aquela magrinha é malcriada, eu sei, mas tem uma coisa muito boa, não vende o corpo. E isso é uma grande coisa”.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O Poeta

Estaciono o carro em frente ao meu prédio. Passam das 7 da tarde e já não preciso de colocar moedas. Saio do carro e vejo o “Poeta”(arrumador, mendigo, vive na rua, boa pessoa, toxicodependente) correr em minha direcção. Lembro-me que a única moeda que tenho é de 2 euros. Nem hesito, lanço a mão ao bolso e estendo-lhe a moeda, ao mesmo tempo que chega ao pé de mim e cumprimenta-me:
- Então? Está boazinha? Esta semana ainda não teve nenhuma multa! [Obrigada poeta por me relembrares das dezenas de multas de 10 euros que apanhei nos últimos tempos!].
Ao mesmo tempo que diz isso, olha para a moeda que lhe dei e atira:
- Olhe, vou ser sincero, de todas as pessoas da sua família você é a mais generosa! Olhe que eu também sou generoso, eu também dou esmolas. Quando fiz anos dei 5 euros aquele magrinho que está em frente ao Pingo Doce. E ainda dei mais dinheiro ao Adriano, aquele borrachão, que tinha saído nessa semana do hospital”.
O “Poeta” lá me agradeceu mais uma vez e saiu a correr em direcção a uma senhora para a ajudar com as compras.

Na semana passada ia ao Pingo Doce e encontrei o meu pai. Seguimos juntos e aparece o “Poeta”, que adora o meu pai desde que o viu na bomba de gasolina a enganar-se e trocar o gasóleo pela gasolina. Desde esse dia o “Poeta” nunca mais esqueceu o meu pai e sempre q o vê fala nisso
- Olá! Olha quem está aqui! O seu paizinho e a troca da gasolina.... – e dá-nos um aperto de mão a cada um com as mãos que pareciam da cor do chão.
- Sabem que eu hoje faço anos?
Eu, como sempre, dei-lhe uma moedas. Neste dia, especialmente, fui mais generosa. O meu pai pergunta-lhe quantos anos faz. Eu dou-lhe uns 50 anos, talvez mais, mas imagino que não ande nem lá perto. Fazia 41! E vira-se para mim e diz-me que devo ter uns 26. Eu não falo mas penso: «Ó “Poeta”, se eu já simpatizava contigo, a partir de hoje, estás cá dentro! Dás-me quase menos 10 anos! Obrigadinha, pá!». Vou começar a ficar insuportável! Estou cheia de cabelos brancos, e mesmo assim, não me dão nunca a idade que tenho! E lá seguimos, felizes, cada um pelo seu motivo.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Dia cinzento e frio, a fazer lembrar um dia de inverno, apesar de estarmos a dias do verão... Depois das obras de instalação do gás canalizado na semana passada, hoje foi o dia de terminar as arrumações e limpezas. Eis os despojos das obras!

Passei o dia em casa, vi esporadicamente as comemorações do dia de Portugal. Hoje e sempre, neste dia, tenho orgulho em ser portuguesa. Apesar da crise, do desânimo, do desemprego, do mau momento, Portugal tem como o seu dia, o dia de um poeta. O dia em que morreu Camões é o dia de Camões, dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas no dia todo. Isso não é fantástico? Ao contrário de muitos países, o dia de Portugal, não é o dia de um rei, de um descobridor, de um presidente, de um ditador, ou de um cantor... É o dia de um poeta! Dez de Junho. É fascinante.



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