sexta-feira, 23 de março de 2012

Found Memories

Ontem tinha de estar às 9 no MoMA para ver o filme "Found Memories - Histórias Que Só Existem Quando Lembradas" da cineasta brasileira Julia Murat que estreava no festival de cinema "New Directors/ New Films".   Fui jantar com o F. ao Meal Plan e ainda tinha que fazer uma leitura de uma placa antes de sair. Claro, conversa mais conversa já eram 8:30.. solução: apanhar um táxi. Pela primeira vez em NYC era uma senhora a conduzir. Comecei a achar que não tinha sido boa ideia... eu disse "MoMa" e toda a gente em NYC reconhece, toda a gente sabe onde é mas ainda tive que dar a morada... Mete-se na West Highway e comecei a achar que ia morrer ali. A senhora não sabia o que era uma recta, estava sempre a mexer com o volante. Quando regressamos ao engarrafamento respirei de alívio. Aí começamos a falar. 

A senhora não entendia quase nada de inglês. Eu pergunta-lhe uma coisa e ela respondia-me outra completamente diferente. Parecia uma conversa de malucos. Ela falava em espanhol e eu respondia em inglês... Mas no meio das conversas sem nexo soube que tinha sido casada com um português do Porto que tinha morrido há 20 anos, aos 44 anos de ataque cardíaco fulminante. E a senhora (que não me lembro o nome, ela disse-me mas tenho este problema grave de não me lembrar dos nomes ou confundi-los) quando eu lhe disse que era de Braga, disse-me que conhecia muito bem, que era tão bonita. E que costumava falar com o marido em português mas que como se tinham passado 20 anos já pouco se lembrava. Dizia ela que era uma língua tão bonita. 

Cheguei às 9 em ponto ao MoMA e a Julia Murat já estava a falar. Coitadinha, nervosa e grávida. E emocionada pelo privilégio do filme ter sido escolhido para o festival. É esta parte que mais gosto aqui. Os realizadores e os actores a falarem sobre os filmes, das histórias que estão por trás deles, de como surgiu a ideia, de como foram seleccionados os actores... Nos primeiros minutos achei o filme um tédio. Um filme quase mudo, pela quase ausência de diálogos, com o silêncio como companhia, escuro, mas com uma fotografia lindíssima. Eu que não percebo nada disso, consegui ser tocada pela qualidade da filmagem. Não demorou muito a ficar completamente rendida. Um filme simples, numa região do interior profundo do Brasil e que me fez ter a certeza que se eu vivesse num lugar assim morreria. Uma dúzia de velhinhos com uma rotina diária quase mecânica, que assiste apenas ao passar do tempo, fazem pão, o café, vão à missa, almoçam juntos. Mas o que mais me tocou, isto tem a ver com as minhas lembranças, foi uma música que eu só conhecia a letra: "quando eu morrer/ não quero choro nem vela/ mas uma fita amarela/ com o nome dela". 

E vou para casa e o que faço? Tento acabar os projectos da FCT... A que horas fui dormir? Quase 8! E a que horas acordei? Às 10 para me mudarem um painel da janela. Penso em ir para o lab e o que acontece? Recebo um email a dizer que o lab está fechado e o acesso aquele corredor, inclusive os elevadores, estão fechados porque alguém entornou 500 ml de mercaptoetanol... eu nem quero imaginar o cheiro. Se os serviços de segurança não permitirem acesso ao lab às 8 da manhã, as minhas células estarão mortas....

Don DeLillo

Ontem de manhã adormeci e acordei atrasada para a reunião de grupo... Não sei porque teimo, quando me atraso, apanhar um táxi de minha casa para o lab. De metro são pouco mais de 10 minutos... mas deve ser psicológico... acho sempre que chego mais rápido de táxi... E para quê? Se as reuniões nunca começam a horas?! Isto sou eu mais a minha consciência... Bem, lá saio eu de casa, atravesso a rua e tento que algum táxi pare. Sempre a mesma aventura. Lá consigo um táxi. Esta semana tem estado bastante quente e o táxi estava com todos os vidros abertos. Eu ia entretida com qualquer coisa (que devia ser um livro) e não estava atenta ao que se passava à minha volta. Sei que o táxi estava parado num dos semáforos e ouço: "É me***, é m****, ca*****!". Levanto a cabeça e olho para a estrada e está um senhor a trabalhar e deveria estar a insultar o colega, que pela cara, não falava a mesma língua. E era do norte, pela pronúncia! Ah, e não tinha dentes! Se não fosse pela idade dele diria que andava metido na heroína...mas neste caso, devia ser mais... copos! 

À noite fui à New School University assistir à entrega do prémio "Story Prize" para pequenas histórias. Os nomeados eram dois escritores que eu não conhecia: Steven Millhauser (que ganhou o prémio), Edith Pearlman, e Don DeLillo. Foi só por causa deste último que fui. E valeu muito a pena.


Winner of The Story Prize Steven Millhauser
[Photo by Beowulf Sheehan]

Finalist Don DeLillo [Photo by Beowulf Sheehan] 

Finalist Edith Pearlman [Photo by Beowulf Sheehan] 

domingo, 18 de março de 2012

Domingo em Astor Place

Quase recuperada da gripe saí de casa em direcção a Astor Place. Acho os edifícios desta zona diferentes dos que são característicos de NYC. Mas o meu objectivo final era uma loja que me tinham aconselhado que se chama Astor Wines & Spirits e eu chamo de "Paraíso dos vinhos". Nunca estive numa loja tão grande de vinhos, com tão bons vinhos e com gente que percebesse tanto de vinhos. Segue o resultado das minhas compras de hoje.






quinta-feira, 15 de março de 2012

Exploring the Creative Process – A Conversation with Siddhartha Mukherjee and Sarah Sze


(Top) Sarah Sze; (Bottom) Siddhartha Mukherjee.

MacArthur Fellow Sarah Sze and Pulitzer-prize-winner Siddhartha Mukherjee are an exceptional couple who have both pursued their professional and creative passions to the top of their respective fields in Art and Science. This evening they are joined by Vishakha N. Desai, President, Asia Society for a wide-ranging and insightful discussion on the creative process.
Sarah Sze was born in Boston, Massachusetts, to Chinese and American parents. She was awarded a bachelor’s degree from Yale University and later a Master of Fine Arts from the School of Visual Arts in New York. Since the late 1990s she has shown her work in numerous international exhibitions in Kanazawa, Lyon, Venice, Melbourne, and Turin. Her notable solo exhibitions and projects include installations at the Whitney Museum of American Art in 2003, Museum of Fine Arts, Boston in 2002, and Museum of Contemporary Art, Chicago in 1999. She is a 2003 MacArthur Fellow.  It was recently announced that Sze has been chosen to represent the USA at the 2013 Venice Biennale. 
Siddhartha Mukherjee is a physician and researcher. His book The Emperor of All Maladies: A Biography of Cancer won the 2011 Pulitzer Prize in general non-fiction. Mukherjee is an assistant professor of medicine at Columbia University and a staff cancer physician at Columbia University Medical Center. A Rhodes Scholar, he graduated from Stanford University, University of Oxford, and Harvard Medical School. He has published articles inNatureThe New England Journal of MedicineThe New York Times, and The New Republic.
Source: Asia Society  New York



terça-feira, 13 de março de 2012

Detachment


É um filme de Tony Kaye, cujo protagonista é  Adrien Brody (“The pianist”). Este filme tem como narrador o próprio Adrien (Henry Barnes) no papel de um professor substituto numa escola pública de NY, com todos os problemas sociais associados. Percebe-se desde o inicio que Henry evita a todo o custo alguma ligação emocional com as pessoas que o rodeiam. No começo, as suas ligações emocionais resumem-se apenas ao avô demente e às memórias que o atormentam. É um filme tocante, comovente, profundo, muito bem filmado e cheio de pormenores. Num determinado momento do filme dá-se a explosão do aparente controlo das diversas pessoas... Henry destrói uma sala de aula quando uma colega insinua comportamentos inapropriados quando está apenas a tentar ajudar uma aluna... a psicóloga que não resiste à apatia, à inércia e à falta de ambição de uma aluna pseudoiludida tem um ataque psicótico... Num tempo em que os males do mundo são sempre destacados, é de uma sensibilidade comovente o personagem de Adrien Brody que parece viver com toda a infelicidade dele e do que os rodeiam às costas. “Todos temos o caos dentro de nós”. No debate após o filme deu para perceber pela reacção dos muitos espectadores que muitos eram professores e que a realidade retratada no filme era semelhante ao que de facto existe nas escolas públicas americanas.

Adrien Broady na discussão após a projecção do filme @ 92Y Tribeca

sábado, 10 de março de 2012

A Midsummer Night's Dream

Ontem à noite fui ver a peça "A Midsummer night's dream" de Shakeaspeare cujo elenco era constituído por alunos de Columbia. Fui pricipalmente porque o F. entrava e queria vê-lo a fazer de leão. Não ia com grandes expectativas porque pensava que ia ser do nível da maioria das peças interpretadas por actores amadores. Enganei-me completamente. Achei as interpretações de grande nível mas vim a saber depois da peça que a maioria deles já tinha feito teatro e alguns deles eram actores profissionais, para além, de serem "grad students" em Columbia. Noite bem passada, muitas gargalhadas e sorriso na cara ao regressar a casa. 




quinta-feira, 8 de março de 2012

Madame Butterfly

Hoje fui ver a ópera "Madame Butterfly" ao The Metropolitan Opera no Lincoln Center. Esta foi a terceira que vi. Já tinha visto "La Traviatta" e "Tosca". Nunca morri de amores por ópera, pelo tempo que demoram, mas gosto da música. E hoje, achei a primeira parte do 2º acto a mais fantástica juntamente com o final que é catártico. Butterfly escolhe morrer com dignidade e honra do que viver envergonhada. O lugar onde fiquei tinha uma vista priveligiadíssima sobre a orquestra cujo maestro era o Placido Domingo. Adorei ver o entusiasmo com que ele dirigiu a orquestra. Foram três horas nada penosas e com lotação esgotada. Depois de um dia corrido e extremamente ocupado, em que quase já não acreditava que iria chegar a tempo, terminou da melhor forma! Ah, e a Primavera parece ter chegado a NY! Não experimentei a temperatura exterior no pico da temperatura (20ºC), mas pela noite agradável, imagino como teria sido bom o dia!

Columbus Circle

Columbus Circle

The Metropolitan Opera

The Metropolitan Opera

The Metropolitan Opera

 Placido Domingo

 Butterfly e Placido Domingo

 The Metropolitan Opera

quarta-feira, 7 de março de 2012

As meias brancas

Antes de viver em NY achava que a moda das meias brancas limitava-se aos estados menos preocupados com as tendências. Verifico agora que as meias brancas devem ser uma espécie de símbolo americano. Nunca tive coragem de perguntar a ninguém como é possível calçar meias brancas... Até podia ser um problema de não haver nas lojas meias de outra cor....mas eu nunca tive problemas em encontrar meias que não fossem brancas. Pior, as pessoas aqui usam daquelas meias que quando eu era miúda chamava "meias de ginástica". 

Olhando para os pés no metro distingo imediatamente quem não é americano(a). A outra moda espectacular é andar diariamente com ténis de correr. Quanto mais feios melhor! Eu sei que os ténis da Mizuno são feios como a morte, e por essa razão ainda não me senti convencida a comprar uns, mas desde que seja o mais confortável para correr serei facilmente convencida. Agora andar com ténis de correr e ainda por cima feios?! Quando vejo alguém com ténis sem ser de correr deduzo imediatamente que não é americano (a) ou tem um sentido de moda muito sofisticado. 

Outra coisa muito comum nos americanos é o número de camisas/ fatos e t-shirts ser muito acima do tamanho... talvez coubesse além da pessoa o pai ou o avô. Não sei se as pessoas compram a roupa sem experimentarem ou não têm noção do ridículo. O outro atentado aos olhos são as gravatas!!!! Nunca vi tanta gravata horrorosa por metro quadrado. Tanta gravata bonita que vejo nas lojas e estas pessoas usam gravatas a parecer o Jardim de Sta Bárbara ou os quadros do Polock. 

A última característica dos americanos no que diz respeito à roupa é não saberem o que é um ferro de engomar. É verdade que no meu prédio vejo muitas entregas de camisas da lavandaria ao lado... mas em Columbia Medical Center e no Main Campus é um susto. As pessoas parece que dormiram assim vestidas! É como se a roupa tivesse sido empacotada em sacos até não caber mais nada. É esse o aspecto. Diferenças culturais não se discutem. Vou deixar para um próximo post a falta de maneiras à mesa... de comerem apenas com uma mão como se tivessem sofrido um AVC e a outra não funcionasse.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Os significados


Tenho há muitos anos o hábito de usar dicionários. Há muitos anos, andava eu no 5º ano (nem sei se se diz assim), tive uma professora de português que me marcou para sempre. Nessa altura ela criou o "Clube de leitura" que era uma espécie de biblioteca. Cada pessoa levava alguns livros e depois eram trocados. O objectivo era ler, sumarizar a história e apontar as palavras que não sabíamos os significados. Para isso, tínhamos um caderninho especial (nem sei onde anda nem onde se comprava) mas consigo imaginá-lo claramente. Havia um prémio para quem apontasse mais palavras e o respectivo significado. Nesse "Clube de leitura" fomos incentivados também a criar a nossa própria história em grupo. 

Hoje, com a devida distância, consigo perceber o quão revolucionárias foram estas horas extra-curriculares. Na pré-adolescência já tinha lido quase todos os livros do Eça de Queiroz e um livrinho de significados acompanhou-me sempre.  Desde essa altura que leio sempre com um lápis na mão e sublinho os livros (li que a Susan Sontag fazia o mesmo). E nunca este “Clube de leitura” esteve tão actual para mim agora que vivo em NYC. As diferentes livrarias, universidades, associações estão repletas de “Book clubs”. Pessoas que gostam de ler, que querem ler, e que gostam de perder tempo a discutir o que leram. 

Aqui em NYC fico sempre muito comovida com a quantidade de pessoas que  lê no metro.  Ok, há dois tipos de pessoas: os que passam o tempo a ler e os adeptos da electrónica (inclui BBs, Iphones, ipods, leitores de música em geral). Nunca reparei se em Lisboa as pessoas têm este hábito de leitura. E outra coisa que reparo é que as pessoas lêem boa literatura. E como agora quase só leio em inglês para além de ter os livros todos rabiscados, contorno as palavras que não sei o significado. Eu, ao contrário de muita gente, tenho uma ligação sentimental com os meus livros, conheço-os pelas capas, sei as anotações que faço, quando os li, o lugar onde estão, colecciono marcadores de livros dentro deles...é por esta razão que ler os meus livros pode não ser agradável à vista. 

Que me desculpem os defensores das novas tecnologias mas o toque e o cheiro dos livros ninguém os substitui. Com tantas discordâncias culturais e a vários níveis com os nativos, é uma felicidade viver no país que viu nascer os melhores escritores do mundo (para mim): Ernest Hemingway, F. Scott Fitgerald, Irving Wallace, Dylan Thomas, Don Delillo, Tennessee Williams,  Gertrude Stein, Elizabeth Bishop, Susan Sontag, Michael Cunningham.

O "4"

Há uns anos, tinha idade para já ter juízo, foi a primeira vez que a minha mãe me flagrou "ligeiramente alta" (como dizem os brasileiros). E só reparou porque eu falava sem parar e cheguei a casa dos meus pais às 10 da manhã do dia 1 de Janeiro. Era suposto ter ido para minha casa mas tinha fechado a porta com a chave dentro...

E tudo isto para dizer que a minha mãe desconfiou que eu tinha bebido demais porque para além de falar sem parar teimava em fazer o 4. Por razões óbvias, não conseguia fazer e esta história é demasiadas vezes ressuscitada para o meu gosto. Pois bem, no sábado estava com a C. e o F. a jantar no Zigolinis entre cocktails, vinho, pizzas, tiramisu e muitas gargalhadas e falo da minha incapacidade para fazer o 4 de olhos fechados nas aulas de yoga. Com os olhos abertos faço bem, o problema é quando os fecho. Posso a partir de agora demonstrar à minha mãe a minha incapacidade para me equilibrar numa perna só de olhos fechados. Diagnóstico feito, problema resolvido... ou quase...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Depois da reunião de ontem...

"In God we trust. All others [must] have data" - In "The emperor of all maladies- A biography of cancer", Siddhartha Mukherjee.

Dianinha Ross

Há um personagem em Washington Heigths que estava sempre na esquina da 168 com a Broadway. Sempre que me encontrava com o L. em frente às urgências do Presbyterian era tentar segurar ao máximo que podia o riso. Mas nunca aguentava... e eu e ele criamos uma empatia. Ele seguia-me sempre até à entrada do hospital com as suas "macacadas". 

Pois bem, a "Dianinha Ross" (foi assim que o L. o batizou) anda sempre com uns phones que devem transmitir a música que ele canta (muito mal), depois tem sempre uma coreografia (sempre muito desajeitada) e anda na maioria das vezes com um microfone. Sabemos que é fã da Diana Ross e da Madonna e do Webster Hall (não sei se é frequentador habitual mas está sempre a gritar "Webster Hall, Webster Hall"... ou deve ganhar pela publicidade. No princípio, quando mal o conhecia, achei que fazia isto para ganhar dinheiro... mas não, é por pura recreação. A C. e o F. dizem que ele é exibicionista e já o viram a comportar-se normalmente. Eu tenho uma simpatia enorme por ele. E hoje vou a atravessar a rua na 168 em direcção ao P&S e quem encontro??!! A "Dianinha Ross" e reconheceu-me!!! Lá me acompanhou até à entrada, sempre a cantar e com as suas coreografias e eu chorava a rir!!! Sempre quisemos gravar a sua performance... Não sei porquê nunca se proporcionou. Hoje encontrei estes vídeos no youtube mas que estão muito aquém do espectáculo real. Vejam aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=1vkTfqC41po&feature=fvsr

http://www.youtube.com/watch?v=vyuFlEoxDgU&feature=related.

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