sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os 37 anos de casados dos meus pais

Todos os anos os meus pais comemoram este dia. Antigamente jantávamos sempre juntos e eles tiravam uns dias. Mais recentemente passaram a comemorá-lo apenas a dois. Ontem celebraram os 37 anos de casados e é impossível não partilhar esta felicidade tão grande e tão profunda. Tudo o que eu e o meu irmão temos e somos, no sentido mais estruturante e marcante da nossa personalidade, e como pessoas aos nossos pais o devemos. Quem os conhece sabe o quanto são felizes, isso não se disfarça.  Todos os nossos amigos e familiares o comentam. E não é fácil acertar assim no tiro ao alvo! E faço minhas as palavras da Laurinda Alves, cujos pais também comemoraram ontem o seu aniversário de casamento: “Vivo com a consciência do privilégio que é ser filha de pais íntegros, rectos, generosos, alegres, construtivos, bondosos, fiéis aos seus valores e a cada um de nós, e sinto uma gratidão infinita por tê-los tão próximos...”. O meu pai tem 57 anos e a minha mãe 59 e é uma benção te-los ainda juntos.




Domingo em Lisboa

Apesar do tempo atípico para Lisboa, que amanheceu nublada e com um imenso nevoeiro, que nem dava para ver o majestoso Tejo, continuava com aquela luminosidade que só esta cidade tem. Aqui estamos, eu, e Lisboa num reencontro, como se fosse a primeira vez. O que eu não gosto nesta cidade são dos taxistas. Quase sempre parecem mudos e com cara de poucos amigos, conduzem mal e têm carros péssimos. Parecem que estão habituados a corridas de carro. Não poucas vezes discutem com os outros condutores  Na sua maioria fazem sempre o trajecto mais comprido e gostam muito pouco de dar trocos. Foi o que aconteceu, mais uma vez, desta vez entre o Parque das Nações e o Campo Pequeno. Nestas alturas lembro-me tanto do meu querido C. que me salvou tantas vezes de perder o comboio, que me levou a mim e à C. a casa nas muitas noites em que não levávamos carro ou o deixávamos algures pela cidade. Ainda hoje quando não me pode ir buscar manda-me o melhor dos seus amigos e telefona-me a saber se já estou no comboio.

Encontrei-me com as queridas S. e R. na entrada do Campo Pequeno. Fomos almoçar demoradamente ao “Rubro”. Muito bom. Comemos várias tapas, não me lembro quais (se não as fotografar é o que acontece) e bebemos um excelente vinho espanhol “MURUVE”. Estes almoços e jantares são sempre demorados, carregados de risos e sorrisos, de memórias, de histórias, de disparates e sempre regados a excelentes vinhos e com óptima comida. São as nossas maratonas gastronómicas, como disse um dia a S. Bebi demais, como quase sempre, e nada melhor do que deambular por livrarias onde não conseguia ler nada!! Fomos a várias livrarias no centro de Lisboa para comprar um livro que não encontrei. No fim da tarde atravessamos a minha amada Lx para o meu regresso a casa.



1º Encontro PARSUK/ PAPS/ FIIP - Percursos em Ciência: Diversidade contra a Adversidade – Parte II

A Maria Mota, que eu também só conhecia da televisão, pela malária, como o nosso amigalhaço (não é caríssima?!) Miguel Che Soares. A Maria disse que no 5º ano já sabia o que queria ser quando olhou para um esfregaço de sangue. E que antes de entrar para a faculdade foi visitar com a mãe as duas faculdades de medicina do Porto, uma vez, que era de V.N. Gaia. Gostei desta coisa de ela assumir que é de Gaia e não fazer como todas as pessoas que são de Ermesinde, Gondomar, Maia e afins, dizem que são sempre do Porto. Entrou em Biologia no Porto e disse que detestava ecologia e acordar cedo para ver as aves e isso. Mas como vinha de uma família rígida, o que se começava era para acabar. Contou que ela mais uns amigos, naqueles anos de “vacas gordas” candidataram-se a “fundo perdido” de milhares de escudos para desenvolver umas plantas. E aquilo até ia dar certo. Até que um dia, quando passava num dos corredores do ICBAS viu um anúncio de Mestrado que lhe chamou a atenção. Foi para a entrevista, com a Maria de Sousa (pelo que tenho ouvido dizer bastante intimidadora) e a meio da entrevista mudaram para inglês, que ela não dominava. Saiu a achar que tinha corrido muito mal, que não seria aceite e nem sequer contou a ninguém. Mas afinal enganou-se, foi aceite. E para ela foram meses fantásticos, foi muito duro mas maravilhoso. Foi para Londres e o chefe de laboratório era fantástico, inteligentíssimo mas só esteve com ele de Jan de 1995 a 8 Set de 1995. Reformou-se depois disso. Teve toda a liberdade do mundo. O doutoramento foi “o prazer da descoberta”. Muda-se depois para NYC para fazer o post-doc, aí, foi “o amadurecimento e o entusiasmo extrovertido”. Voltou para Portugal, para o IGC, onde continuou a ter “completa liberdade”. Três anos mais tarde mudou-se para o IMM com muitos investigadores muito jovens, todos têm o prazer pela descoberta. Não falou do regresso a NYC... Reparei, como todos os investigadores tem um vício, o de roer as unhas.

O Nelson Lopes, o outro orador, é médico, farmacêutico e é o responsável pela divisão de ensaios clínicos na BIAL. Começou por dizer que a ideia que as pessoas têm da indústria: “uma investigação de terceira, com trabalho de segunda e ordenado de primeira”. Disse que a indústria recruta cientistas de alto calibre. A carreira dela não foi um percurso convencional para um médico. Entrou em Farmácia, que não gostou. E tal como a Maria Mota, também é de V.N. Gaia e de uma família rígida. Andava numa fase romântica com as leituras do Camilo Castelo Branco. E nessa altura teve uma conversa com um grande amigo, Dr. Jorge Ferreira, grande pneumologista português que lhe disse que ele tinha duas opções: doutoramento ou Medicina. O que ele queria era investigação, algo mais aliciante. Entrou em Medicina na Universidade de Lisboa com o objectivo de seguir investigação clínica.

O Nuno Arantes de Oliveira que eu conheci há muitos anos numa conferência de células estaminais no IST, disse nunca ter sido um aluno brilhante, ao contrários dos oradores anteriores. Apesar de ter feito Biologia, nunca se considerou biólogo, mas a mãe ainda hoje diz que ele é biólogo. Foi a uma entrevista no IGC com o Prof. Coutinho para doutoramento em Biologia e Medicina e foi aceite. Mas ainda sem saber o que queria ser. Escolheu a UCSF em San Francisco. A escolha teve a ver  com a cidade (olha outro como eu!!!)  porque laboratórios fantásticos conheceu ele pelo mundo fora. A cidade para ele era fantástica. O seu doutoramento foi feito na área do envelhecimento e a pergunta a que queria responder era “Porque é que as pessoas morrem?”. Fez um Post-doc na área de inovação. Formou a ATGC/Alfama, empresa de desenvolvimento de fármacos.

Depois ainda houve outros oradores, menos interessantes, na sua forma de cativar a plateia e de contar a sua história.

Gostei de ouvir falar o Carlos Caldas que é oncologista e tem um laboratório no Cambridge Research Institute. Nunca teve fama em Portugal. Primeiro foi para Dallas, depois para Baltimore, Londres e ficou em Cambridge, onde conseguiu a cátedra. Segundo ele “subiu à procura da excelência”. Citou várias vezes poemas, a que não me esqueci foi tirada do “Livro do desassossego” de Fernando Pessoa: “ Saber não ter ilusões” e ainda parafraseou o “Comboio descendente”:

No comboio descendente.
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não

Fernando Pessoa

Um investigador que gosta de poesia, só pode ser bom! E ainda apareceram por lá o Carlhos Fiolhais e o Mariano Gago.

Do segundo da esquerda para a direita: Nelson Lopes, Nuno Arantes Oliveira, Diana Marques, Irene Fonseca e Maria Mota 


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

1º Encontro PARSUK/ PAPS/ FIIP - Percursos em Ciência: Diversidade contra a Adversidade – Parte I

Este primeiro encontro, com lotação esgotada, em Lisboa, no Pavilhão do Conhecimento realizou-se no sábado dia 22. Estavam lá os que mandam na Ciência em Portugal: o Ministro da Educação e Ciência (Nuno Crato), a Secretária de Estado da Ciência (Leonor Parreira) e o Presidente da FCT (Miguel Seabra). Foi surpreendente ver estas pessoas, qque deveriam ter muito mais o que fazer em véspera de Natal, estar presente neste evento. Acho que não está tudo perdido! Falaram que aumentaram ligeiramente as bolsas de pós-doutoramento e diminuíram as bolsas de doutoramento. Querem saber a minha opinião? Acho muito bem.

Começar um doutoramento está a tornar-se a única saída para muitos, mas uma saída ilusória e temporária. É como aqueles candidatos a programas de música que cantam muito mal e que perante um juri percebem que nunca ninguém lhes disse o quão mal cantavam.  Isto dava pano para mangas. Mas com uma população envelhecida, com a falta de incentivos à natalidade, é de perceber que cada vez menos alunos entram nas universidades  e que o número de professores funcionários públicos não diminui, e por isso há que criar novos Mestrados e Programas Doutorais para manter  o sistema. Não sei como isso se resolve. Não tenho uma solução, mas também não acho, como muitos, que existe uma solução a muito curto prazo. As mudanças são dolorosas, envolvem lobbies, e situações estabelecidas intocáveis.

O presidente da FCT disse que o financiamento dos projectos aumentou de 70 para 90 milhões. Eu de números não percebo nada, mas como ninguém na sala contestou, eu acredito.  Ele disse também que a FCT antigamente era um multibanco e  é agora muito mais gestão. Falaram na habitual meritocracia e de um sistema de boas práticas de avaliação. Propôs uma coisa que eu já há muito pensei. E o Ministro falou para aquela sala de investigadores que era um luxo podermos fazer ciência em Portugal, porque não estávamos no 3º mundo. No Uganda não deve haver dinheiro para comer, quanto mais para ciência. Claro, e eu por mim falo, que ninguém imagina o quanto um doutoramento feito, em parte no estrangeiro, nos enriquece. A questão é que um país como o nosso, não se pode dar ao luxo de patrocinar na totalidade bolsas, ajudas de custo, propinas e afins. O mais justo seria um sistema de co-financiamento, mecenatos ou projectos. Eu, com muito desgosto meu, não fiz o doutoramento à custa da FCT, que a única coisa q me pagou no meu doutoramento foi a impressão das teses. Mas fiz o doutoramento porque alguém acreditou em mim e me deu uma bolsa equivalente à da FCT e que arranjou um acordo com um laboratório estrangeiro (que é comum no meu grupo) para o qual vamos pro bono mas as experiências são sustentadas pelo lab de acolhimento.


Da esquerda para a direita: João Íncio, Leonor Parreira. Nuno Crato, Miguel Seabra e Tiago Fleming Outeiro

O orador seguinte foi o António Coutinho, ex-director do Instituto Gulbenkian de Ciência. Acho que nunca o tinha ouvido falar pessoalmente. Pelo sotaque notei ali qualquer coisa do norte, achei que fosse do Porto, confirmo agora na wikipedia que é de Aveiro. Começou por dizer a piada que um colega indiano lhe dissera que o presidente e o primeiro-ministro indiano sabem calcular uma derivada. Formou-se em Medicina e o internato complementar na FMUP e queriam que fosse para a tropa, e como ele não queria foi para fora. Esteve 30 anos fora. Como ele disse, não percebia nadinha de investigação e o primeiro orientador dele disse-lhe: “You go around and talk to the people, I´m not here to teach technitians”. “You need to know what you want to do”. Segundo ele, os estudantes têm que saber fazer e convencer o orientador sobre a sua ideia. Claro que ele criticou esta nova forma de fazer doutoramento em 3 anos que é totalmente não-inovadora. Os alunos não desenvolvem a sua ideia, desenvolvem a ideia dos seus orientadores, que é a coisa pior que se pode fazer, proibir os jovens de pensar por eles próprios. O Prof. Coutinho disse que em 1972 trabalhou dia e noite e não fez nada que se visse, nada de jeito, isto no Karoliska Institute. Mas depois de resolver o problema, as coisas acabam sempre por acontecer.
Depois, mudou-se para Basileia para fazer o Post-Doc e as questões mudaram e já eram 3:
What you want to know? Then, is just to think about it all the time and to find the most acute continuation;

Uns anos mais tarde foi nomeado catedrático de Medicina- Head of Department.Não havia ninguém lá dentro.  Nunca tinha feito administração nenhuma na vida a não ser dos seus ratos. Mas afirmou que lá foram passados os melhores anos da vida dele. Arrisquem, foi o que disse.

Na sua opinião é uma excelente altura para se voltar para Portugal. O dinheiro está a diminuir mas a execução está a aumentar, as farpas lançadas. As posições da FCT são livres, por mérito.

O IGC por muitas críticas que se façam, tem n laboratórios individuais, com n PIs, tem uma média de publicação incrível em termos de Factor de Impacto, as ERC atribuídas a iniciantes são imensas. E ele diz uma coisa, claro que é mais importante e tem mais valor um Science ou um Nature ser conseguido aqui do que em qualquer outro lab do mundo. Quando falou de publicações, referiu sempre que era o factor de impacto que contava e não o número.
Fez uma crítica directa aos painéis de avaliação da FCT, que não compreendia, como é que as pessoas que estão nos conselhos científicos são as mesmas que estão a concorrer para essas mesmas grants.

E terminou a dizer “Deus nos livre ou o Menino Jesus de pormos a nacionalidade à frente da qualidade científica”. E eu termino a dizer que quem me dera que o CV dos estrangeiros fosse avaliado como o nosso e não pelo facto de ser estrangeiro já ser bom! Mas eu sei do que é que ele está a falar, daquelas “cabeças” estrangeiras que estão no IGC e que o seu CV fala por eles.
António Coutinho

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

As memórias das férias de Natal

Há muitos muitos anos, era eu uma criança, e depois adolescente e até depois, quando andava na universidade tínhamos duas semanas de férias de Natal. 

Hoje em dia, tudo parece fácil e toda a gente tem acesso a tudo, e em Portugal, de uma maneira geral todas as cidades são similares no que respeita às ofertas e ao desenvolvimento. Pois bem, as minhas memórias de infância e pré-adolescência eram as trocas de postais de Natal manuscritos. Enviava muitos e recebia-os na mesma proporção. a outra memória das férias de Natal era a ida ao Porto com a minha madrinha. Normalmente ia eu, o meu irmão, a K., e a M. e íamos de autocarro até à Filipa de Lencastre, no Porto, onde a minha madrinha nos ia buscar. Uma das vezes deixou um "moedinhas" à nossa espera e quando chegamos dizia: "A menina está na leitaria". Depois íamos tomar o pequeno-almoço no Majestik, íamos andar na pista de gelo do Bom Sucesso, na Boavista. O almoço era no McDonald's quando este era ainda uma novidade há 20 anos atrás. Lembro-me que fomos aos primeiros dias de abertura do Gaiashopping, onde fomos ao cinema e onde a minha madrinha nos comprava um enorme copo de coca-cola mais um pacote enorme de pipocas para cada um. Íamos também para os salões de jogos onde ela nos pagava todas as máquinas que queríamos jogar. Lembro-me até hoje que a minha madrinha conduzia muito mal e com muita velocidade. Ahahahaha. Esta era essencialmente a época da ida ao Circo e ao cinema. Hoje em dia, as coisas são bem mais fáceis, há muita mais oferta, os miúdos quase não ligam a nada, a estas pequenas coisas, que para mim me ficaram como lembranças para a a vida. 

domingo, 23 de dezembro de 2012

O meu avô (1919-2010)

Hoje faz exactamente dois anos que o meu avô nos deixou. Nada mais foi igual depois disso. O meu avô nunca esteve doente nem nunca foi internado durante toda a vida até ao dia que teve um enfarte. E esse enfarte foi de tal forma forte que o atirou para uma cama e ele nunca mais pode ser autónomo. Ficou consciente e sóbrio até ao fim. Poucas horas antes de morrer, depois de ter sido internado com uma pneumonia, quando os médicos autorizaram as visitas da família, ele virou-se para uma das filhas e disse: “Podes ligar aos teus irmãos que eu já posso receber visitas”. O meu avô era assim. Adorava visitas. Isto foi ao fim da tarde. De manhã às 8 horas, a minha mãe vem acordar-me porque uma das minhas tias me tinha ligado e a minha mãe achou que tinha sido alguma coisa com o filho dela. Mal chego ao telefone percebi imediatamente. E depois ainda tive que dizer à minha mãe. Fiquei em choque. Só me consegui sentar.

A parte que queria falar, e a melhor era o quanto este António José Martins foi o melhor avô do mundo. O avô que toda a gente queria ter. Tinha um jeito extraordinário para os miúdos. Quando éramos crianças nós tocávamos cavaquinho, violas de plástico e bombo e ele cantava. Sabia muitas canções de assobio. Adorava música. Adorava ler jornais. Era esquerdino para tudo mas aprendera a escrever com a direita. Contava imensas histórias e muitas anedotas. Jogava imenso “às orelhas” com os netos mais novos. E jogava imenso “à sueca” com os adultos. Via imensa televisão, principalmente os programas da manhã e  as notícias. Era um fã acérrimo da RTP. Nunca queria a televisão noutro canal. Era adepto do Vitória de Guimarães e tinha uma queda para o Benfica. Fazia-nos cabanas e quando a minha avó não estava fazia-nos o pequeno-almoço e deixava sempre o leite ferver com medo que estivesse estragado e fizesse mal aos meninos. E para além disso deitava pouco nesquik no leite. Adorava tudo com feijão e tomate. Adorava melancia e meloa no verão. Durante a vida toda sempre comeu maçã à sobremesa. Já o conheci calvo. Saía sempre de fato, gravata e chapéu.  Ficou sem cabelo pouco depois dos vinte, como contava, mas nenhum filho saiu a ele. Ao contrário da minha avó tinha cabelo e olhos escuros. Só a minha mãe e um dos meus tios têm os olhos escuros como ele. Tinha um humor incrível. Um dia o meu avô ia fazer um exame e disseram-lhe para retirar os dentes (placa), caso a tivesse, e ele disse: “Não tiro, isso eu não tiro”. E quando me contou isto a gargalhar nem me lembrei que os dentes eram todos dele. Chamava-me sempre “minha neta”. Elogiava os netos e os filhos como ninguém. Era vê-lo na vila a falar da família. Dava gosto. Adorava surpresas. Era muito alegre e tinha um sorriso lindo. Tinha uma mãos lindas. Era um óptimo conversador. nunca lhe ouvi uma queixa.

Quando éramos miúdos e estávamos sempre a mexer na lareira dizia “vais fazer xixi na cama”. E no Natal perguntava sempre “Quem é que hoje fez xixi na cama?” e aquilo era um monte de mãos no ar. Mas como todas as pessoas extraordinárias, tinha um feitio difícil que lhe durava pouco tempo mas tinha uma frase que mandava como uma bala: “Pensa que é aquilo que nunca chega a ser”.
No dia do funeral, um padre grande amigo dele fez-lhe um elogio fúnebre dos mais bonitos que ouvi: “Um homem sério, bom pai de família, um bom marido, grande amigo”.


Amour, de Michael Haneke


Sabemos previamente que Anne morreu, a primeira sequência do filme mostra o arrombamento do apartamento, onde  encontram o corpo de uma mulher morta na cama rodeada de pétalas.“Amor” é um filme surpreendente. As expectativas eram grandes pelas críticas que tinha lido e pela sinopse. Os octagenários actores franceses interpretam em  um casal de músicos cheio de amor e cumplicidades, que quase não precisa de palavras para se entender. Percebe-se a vida cosmopolita deles numa ida a um concerto de um antigo aluno. Mas um dia, como o livro da Joan Didion, toda essa vida desaba, quando ela adoece. O dramático efeito de um acidente vascular cerebral tem numa pessoa que apesar da idade, tinha uma vida normalíssima e que dividiam tudo entre os dois. O corpo entra em declínio e o casal, isolado num apartamento, vive o inferno da própria dor.

O filme, passa-se quase inteiramente num apartamento parisiense,retrata a deterioração lenta, gradual e penosa da velhice, mostrando com compaixão a dor de assistir à doença de um ente querido, de observar sua lenta passagem em direcção à morte, ao fim, sem que nada o consiga evitar.

Este filme mostra acima de tudo o que o amor é capaz de suportar mesmo quando as pessoas nos deixam de reconhecer. A humanidade, compaixão e amor com que aquele marido tratou a mulher até quase ao fim.  O percurso do casal é mostrado em detalhes, na vida quotidiana de um doente, desde o dar de comer, o banho, mudar fraldas... . No limite, ele agride-a, quando tenta que ela beba água e não morra à sede, e ela já sem consciência do que é e do que faz, a cospe. Uma cena particularmente bem filmada.

A minha avó, felizmente, apenas na sua última semana de vida é que se recusou a beber e a comer. E eu revi tanto a minha avó nestas cenas. E este filme mostra e vem dar razão ao que sempre defendi, que as pessoas, apesar das diminuições graduais das suas capacidades, não devem morrer fora de casa e devem ser cuidadas pelos seus familiares próximos. É aquela frase “there is no place like home”.



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

E o mundo não se acabou

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso, minha gente lá de casa, começou a rezar 
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada 
Por causa disso nessa noite. lá no morro, não se fez batucada 

Acreditei nessa conversa mole 
Pensei que o mundo ia se acabar 
E fui tratando de me despedir 
E sem demora fui tratando de aproveitar 
Beijei a boca de quem não devia 
Peguei na mão de quem não conhecia 
Dancei um samba em traje de maiout 
E o tal do mundo não se acabou 

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso, minha gente lá de casa, começou a rezar 
Ainda disseram que o sol ia nascer antes da madrugada 
Por causa disso nessa noite. lá no morro, não se fez batucada 

Chamei um gajo com quem não me dava 
E perdoei a sua ingratidão 
E festejando o acontecimento 
Gastei com ele mais de um quinhentão 
Agora eu soube, que o gajo anda 
Dizendo coisa que não se passou 
E, vai ter barulho, e vai ter confusão 
Porque o mundo não se acabou 

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disso, minha gente lá de casa, começou a rezar 
E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada 
Por causa disso nessa noite. lá no morro, não se fez batucada 

Acreditei nessa conversa mole 
Pensei que o mundo ia se acabar 
E fui tratando de me despedir 
E sem demora fui tratando de aproveitar 
Beijei a boca de quem não devia 
Peguei na mão de quem não conhecia 
Dancei um samba em traje de maiout 
E o tal do mundo não se acabou 


Assis Valente



quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Inverno


No dia em que fui mais feliz
eu vi um avião
se espelhar no seu olhar até sumir
de lá pra cá não sei
caminho ao longo do canal
faço longas cartas pra ninguém
e o inverno no Leblon é quase glacial.
Há algo que jamais se esclareceu:
onde foi exatamente que larguei
naquele dia mesmo o leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
que o destino
sempre me quis só
no deserto sem saudades, sem remorsos, só
sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
só quer me lembrar
que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar

António Cicero

A imperdível rota dos escritores em NYC


Uma das perguntas que se coloca é qual a razão de Manhattan não ter a vida e a boémia literária de outros tempos? Um dos possíveis diagnósticos é o da proibição de fumar nesses locais boémios. Outro dos diagnósticos, embora eu discorde, parece ser a internet. Acho que se vê  muitos escritores nas mesas dos cafés a trabalhar e a procurar a inspiração de uma massa. Há quem diga que a paixão que uma determinada geração nutria pela poesia e ficção foi canalizada para a comida, fazer pickles, chocolate ou cerveja. Hoje os interesses são outros.

Outra das coisas que foi dita, e com a qual concordo, é que hoje os escritores não estão nos bares a beber até morrer, como Dylan Thomas, mas em cafés. Muitos explicam também que a cena literária mudou-se para Brooklyn porque as rendas são bem mais baratas. Por mais que me expliquem e me apresentem razões que morar em Brooklyn é que é, e que ser hipster é que é, e que aquele lado do rio é que está na moda, não me convence. Para mim, Manhattan é Manhattan e ponto.

No "Café Loup" ainda se encontram muitos editores, académicos e escritores. Nos finais dos anos 90, Susan Sontag e Paul Auster eram dos frequentadores habituais.

Muitas das livrarias de Manhattan têm fechado, mas muitos hotéis inspirados em livros têm aberto. Um deles é o “The library Hotel" na Madison, não muito longe da New York Punlic Library na 5ª Avenida e Bryant Park. Este hotel tem almofadas com a seguinte frase: “Book Lovers Never Go to Bed Alone.” Aquelas etiquetas que se colocam nas portas dos quartos para que sejam arrumados ou não se ser incomodado têm a frase: “Please dust off my books.” Uma das razões para se passar algumas horas na "New York Public Library": a loja da biblioteca tem dos melhores presentes relacionados com leitura e livros. Porque é que eu nunca entrei na loja???

O "The Plaza" no Central Park foi onde Truman Capote fez a sua festa “Black and White Ball” em 1966 e onde F. Scott Fittgerald colocou partes no “The Great Gatsby”. Tennessee Williams viveu no último andar do Hotel Elysée em Midtown. Há ainda o mítico Chelsea Hotel onde toda a gente desde Charles Bukowski, Leonard Cohen até Patti Smith por lá ficaram.Arthur C. Clarke escreveu “2001: A Space Odyssey” no Chelsea Hotel.

Em Chelsea, “192 Books”, uma das livrarias que mais frequentei até já  escrevi um post. Fazem muitas leituras com escritores consagrados.  Não é muito grande e tem uma pequena mas brilhante selecção de ficção e não-ficção Para mim esta livraria é adorável.

Há tantas e tão boas livrarias em Manhattan: “Book Book”, também conhecida por ser a antiga livraria das biografias, uma livraria muito pequenina na Bleecker St. repleta de bons livros e alguns em saldo.

A “Book Culture” em Morningside Heights na 112 st com a Broadway. Uma livraria que me faz lembrar a Centésima Página. Cheia de fotos de escritores. Com dois andares, onde as pessoas percebem de livros e sabem aconselhar, onde há cadeirões para nos sentarmos a ler. Passei horas e horas no inverno de NYC nesta livraria por ser muito perto das casas onde morei

Imperdível também a “McNally Jackson" no Soho ou NoLiTa também espectacular. Tem um café e uma loja. Mais do que livros, tem clubes de leitura, apresentações de livros, leituras e muitos eventos.

A St. Marks Bookshop” é uma livraria independente  no Lower East Side, logo, uma zona da cidade que não frequentava muito, só mesmo à noite. Aqui a selecção de livros é excelente, é um edifício renovado, moderno, espaçoso. Tem uma selecção óptima de de revistas literárias e jornais estrangeiros . Vale a pena a visita.

A “Strand” em Union Square, pela localização, pelas pessoas que a frequentam, pelo ambiente da zona , não sei explicar...para mim é um achado. É gigantesca, a sua frase mais conhecida é: “18 Miles of Books.” Na parte exterior tem dezenas de carrinhos com livros de $1 a $5. Encontrei grandes livros no meio destes milhares. Depois, no interior vende-se de tudo dos mais pop, aos tops, a usados, a revistas de especialidade, todos os souvenirs da strand. Tem também no andar superior uma secção de livros antigos, de verdadeiras preciosidades e onde se fazem as leituras e apresentações de livros. Mas o andar inferior é o que mais gosto. Tem sempre imensos livros e CDs a bons preços. Nunca vim de lá a não ser carregada
Há também um novo restaurante e cocktail lounge, Dalloway, na Broome Street- SoHo, ao qual nunca fui. Diz-se que está impregnado com o Espírito de Virginia Woolf. Dizem que é um espaço adorável, com grandes velas, com uma clientela “girl bar scene” (as donas são lésbicas assumidas). Se assim é o restauranet só pode ser bom e de bom gosto.

"The White Horse Tavern", em West Village, também já escrevi um post específico, é uma instituição. Foi onde Dylan Thomas bebeu até morrer, Anaïs Nin e Seymour Krim conversavam e onde alguém um dia rabiscou na parede da casa de banho: “Go home, Kerouac!” durante os anos em que o escritor da geração Beat bebia lá. Vale a pena a visita mas o atendimento é péssimo. Na esplanada pode apreciar-se as vistas e ver por ex a Julianne Moore ou a Natalie Portman.

Acho que já estive no “McSorley’s Old Ale House” em East Village com a C. no St Patrick’s Day. É o mais antigo bar irlandês de Manhattan, meados do séc. XIX. Nos seus frequentadores incluem-se visitors Abraham Lincoln.

Texto inspirado no artigo “A Critic’s Tour of Literary Manhattan” do do crítico literário DWIGHT GARNER.

Credits“The New York Times” 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Taberna do Félix


É o meu restaurantes preferido em Braga, onde vou regularmente, e onde levo sempre os meus amigos que não são daqui. Na decoração sobressai um toque de requinte, a criar um ambiente algo sofisticado, com mobília do tempo das nossas avós. Dizem que a música é boa, geralmente um jazz soft, já ouvi falar que passa Billie Holiday, mas nunca dei conta. As paredes têm quadros, fotos, panfletos,  postais, flamulas e cartazes, o que torna o ambiente mais característico. Excelente serviço assegurado pela Dª Mina e mais uma colaboradora. Eficiente e sempre simpático. Comida caseira, muito bem confeccionada, bons vinhos e sempre boas sugestões. Todas as ementas são pequenas, mas o que importa é a qualidade e nunca a quantidade. Nunca levei ninguém ao Félix que não tenha gostado. É sempre uma aposta certa. No sábado fizemos lá um jantar com 10 pessoas, maioritariamente amigos que se conhecem há mais de 25 anos, mais as respectivas mulheres/maridos/namoradas. Um jantar com desfiar de memórias para mostrar que na essência continuamos os mesmos! O que jantamos segue em algumas fotos mas que não fotografei tudo. De entrada comemos pataniscas e setas. Os vinhos foram "Farizoa" tinto e "Dom Diogo" verde branco. Como pratos principais: arroz de pato e pataniscas com arroz e feijão frade. Sobremesas: tarte de limão, tarte de queijo no forno e não me lembro se mais alguém escolheu outra coisa...




António Lobo Antunes em Braga


Tenho uma amiga, a C., que adora música e os grandes compositores da geração beat e afins, e o que alguns escrevem, mas não tem a mínima curiosidade sobre as pessoas, sobre o que elas são, ou o que elas pensam. Ou seja, deve detestar biografias. Interessa-se apenas pela obra. Isto é o que pensa António Lobo Antunes.

Na sexta-feira, às 7 da tarde, bem atrasado, entrou na Centésima Página, com aquele ar distraído, desta vez a olhar os livros, com a cara fechada e com aspecto alienado. Começou por falar de como Braga era uma cidade importante para ele. As origens da família paterna eram de perto da Póvoa de Lanhoso. Uma família muito humilde e que o trisavô partiu para o Brasil e fez lá a sua vida mas que no fim veio aqui morrer. Falou mais uma vez do avô, António Lobo Antunes, a pessoa que mais gostou, a ele lhe deve a ternura e o carinho que lhe deu, ao contrário dos pais que nunca lhe deram, por questões de educação.

Depois falou que detesta a arrogância francesa e de como acham que somos apenas um país de porteiras e de mulheres a dias. No entanto, referiu que foi lá que recebeu dos mais importantes prémios literários.

Falou da morte da primeira mulher em 1999 e das cartas que nunca releu e que lhe escreveu de África. E de como as filhas o convenceram a publicá-las antes da sua morte: “Para que essas putas com quem o pai anda saibam de quem o pai gostava era da mãe”.

Não se esqueceu de referir os amigos, principalmente o Eugénio de Andrade, que era tão bonito, e que a doença modificou tanto. Que tinha sempre tanta delicadeza com ele, tão terno, e que quando o visitava tinha sempre uns miminhos como uns biscoitos e vinho fino. António Lobo Antunes disse estar arrependido até hoje de não o ter visitado nos últimos dias porque soube tempos depois que ele o esperava. A senhora que cuidava dele disse-lhe:
-Sr. Dr., O Sr Eugénio dizia-me sempre : “Ponha aí o fatinho que o meu amigo vem ver-me”. Falou também do Miguel Veiga e da colecção enorme de livros que tem, que não sabe como “parecem estar a reproduzir-se entre eles”.

Lamentou também que a crise limita os bons leitores e que quem lê é a burguesia, pequena e média. Os ricos segundo ele leêm revistas de golfe e revistas de economia e as mulheres deles lêem revista de moda francesas.
Falou também do quanto adora Caminha.

Como já tinha referido, acho-o muito menos distante, muito mais bem-disposto, como se a sua presença neste tipo de sessões não fosse um frete. Está muito mais confessional e acho que até mais interessado com os seus leitores. Como se necessitasse de lhes dar uma palavra e ser agradável com eles.

Quando me assinou os livros eu era a última pessoa. Perguntou-me o que fazia e essas coisas que nos levaram a NYC e falou de como gostava da cidade, e da editora na 5ª Avenida, que passou uma temporada lá a escrever na casa do irmão João numa cidade em New Jersey (que ele me perguntou se eu conhecia e que eu nem sequer nunca ouvi falar). Falou de Columbia e de quando o irmão João voltou de lá. Eu disse-lhe que o João Lobo Antunes tinha uma cadeira no Instituto de Neurociências, ele desconhecia...Agradeceu-me por ser uma leitora tão interessada e lá seguimos para o jantar. A idade aos homens ou lhes faz muito bem ou muito mal. A Lobo Antunes, a idade, está a torná-lo mais doce, mais grato. Aquele ar tão característico dele de zangado, irónico, desinteressado, enfadado, já não se lhe reconhece.







À Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva chegou mais de uma hora atrasado. Quem conversou com ele foi o Sérgio Guimarães de Sousa. Falou que a escrita para ele é um  ofício, que precisava de mais 12 anos para fazer tudo aquilo que precisa fazer, que tem muitos problemas em falar dos seus livros. “Porque é que os dias quando somos pequenos são tão lentos e quando somos adultos são tão rápidos?”.
Um dos maiores prazeres da vida foi o encontro extraordinário com o George Steiner em Cambridge, que considera um homem inteligente, com os afectos dentro da inteligência, que tem um piano de Bach em casa e cartas de Freud ao seu pai. “Sabem que ele é judeu, não sabem?”. “E sabem porque é que os judeus nõ se suicidam?”.  “Porque não podem ler o jornal de amanhã”.

Falou que gosta do livro “Monte dos Vendavais” que acha um livro histérico e kitch mas que gosta dele. Falou também do casamento, e de como estes são complicados. As mulheres gostam de variar os restaurantes. Os homen não gostam de variar. E as pessoas acabam de estar presas umas às outras numa rede de mentiras:
-Não gosto de ti (mulher)
- Não é que não goste de ti mas preciso de pensar (homem)
-O problema não está em ti, está em mim (homem)
- Então, rua! (mulher)

Mostra-se muito mais animado, muito mais humorado, muito mais risonho, mais aberto. E não larga os cigarros, que os fuma em todos os lugares proibidos.

Há quem refira que os livros do António Lobo Antunes ou se gostam ou se detestam. Os primeiros livros que editou eram sempre considerados os piores livros do ano. O editor de NYC, sem ler nada da sua obra disse: “Você vai conquistar o mundo”. Estátraduzido em mais de sessenta idiomas.

Depois do livro estar pronto, de tantas revisões, de tanta correcções, de passar pelo “detector de merda” nunca mais olha para ele. Nunca leu nenhum dos seus livros porque tem medo.
Confessa-se admirador de Bach e Schubert. Que é um homem  de poucas lágrimas, é como as grutas, chora para dentro. Chorou quando a mãe das filhas morreu, quando o pai morreu. Não seria capaz de voltar a ser médico, não por medo, mas pela enorme sensação de vazio.
Quando esteve doente há 6 anos um dos pintores amigos dele foi o único que lhe pareceu dizer a verdade: “Aguenta-te”. Recebeu mais de 5000 cartas dos seus leitores. Mas a que mais o marcou foi a de um rapaz do Minho que dizia “Não admito que o meu ídolo se vá abaixo das canetas”. “Fiquei muito comovido”.

Falou que as paredes da sua casa são repletas de estantes com livros. E que a sensação que mais gosta é ter as paredes cheias de livros e deixar impregnar-se por eles. Diz-se uma pessoa metódica e com horários. As pessoas pensam que a arte é feita por iluminados, mas não, é muito trabalho.

Contou também que a mãe era um apessoa muito bonita mas que o pai não. E perguntou-lhe:
-Porque é que a mãe casou com o pai que é tão feio?
-Porque tem uma voz que me transtorna.
Disse também que a mãe não tinha ciúmes e que isso chateava o pai. Uma das vezes, a mãe estava a fazer café enquanto fumava um cigarro e o pai a fumar cachimbo:
-A Maluda quer pintar-me o retrato.
-Está bem-disse a mãe.
-Nú.
(Sem resposta da mãe).
-Da parte de baixo
-Da natureza morta? –perguntou a mãe.
Diz ter cada vez mais orgulho de ser português mas que se recusou a estender a mão ao Primeiro-Ministro na Feira do Livro de Lisboa.
No final, quando começava a preparar-se para assinar os livros das pessoas ainda me viu sair e disse-me:
-Ana, já nos conhecemos há 3 horas!







domingo, 16 de dezembro de 2012

A dor de cabeça que uma ida ao cinema provoca...

O meu sobrinho mais novo mais conhecido por "Afilhado" está na idade dos três, não dos porquês, mas acha que já tem quereres. Como já não os via há dois fins de semana porque estive fora, planeei um ida ao circo com ele e o irmão. Mas qual crise? O circo está completamente esgotado aos fins de semana. Plano número 2: cinema. A única coisa que andam vidrados nos últimos tempos, se os deixarmos passar o tempo em frente à tv ou ao computador, é no "Cars 2". Pois bem, eu a achar que estava a fazer a boa acção do dia viro-me para o meu afilhado e digo-lhe: 
-Sabes onde vamos hoje, afilhado? Ao cinema.
E responde-me ele como se fosse a coisa mais natural do mundo:
-Não vou ao cinema porque me dói a cabeça!
E eu digo-lhe:
-Mas eu, o pai e o K vamos. E tu ficas com quem?
-Com a avó em casa, é que também me dói a perna!
Ainda estivemos numa tentativa de o  convencer que se saiu frustrada. O irmão apesar de querer ir, desanimou-se quando percebeu que não era o "Cars 2" que ia ver... e ainda acrescentou:
-Não quero pipocas no cinema que são daquelas que têm umas coisas duras!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Hélio Oiticica – “Museu é o mundo” @ Museu Colecção Berardo




A exposição do Hélio Oiticica tinha uma projecção do Magic Square nº 5 permanente do Museu do Açude no Rio de Janeiro. 




A exposição valeu por ter visto de perto os “Parangolé Pamplona” a capa que “a gente mesmo faz”.



Parangolé Pamplona

O parangolé pamplona você mesmo faz 
O parangolé pamplona a gente mesmo faz 
Com um retângulo de pano de uma cor só
E é só dançar 
E é só deixar a cor tomar conta do ar
Verde Rosa 
Branco no branco 
no peito nu 
Branco no branco no peito nu
O parangolé pamplona 
Faça você mesmo
E quando o couro come 
É só pegar carona 
Laranja Vermelho
Para o espaço estandarte
"Para o êxtase asa-delta"
Para o delírio porta aberta 
Pleno ar 
Puro Hélio
Mas, o parangolé pamplona você mesmo faz

Adriana Calcanhotto


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