Mostrar mensagens com a etiqueta sobrinhos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta sobrinhos. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Onze de outubro de dois mil e dezasseis

Passaram-se quatro anos. O meu afilhado tinha 3 anos, usava chupeta e uma fralda na mão para dormir. O meu sobrinho mais velho tinha 4 anos, ainda não tinha mudado os dentes. Já usavam óculos. Não quero voltar a esse dia. Não consigo voltar a esse dia. É demasiado mau. Nestes 4 anos, a minha avó morreu. Passaram-se Natais, e novos anos e dias de anos e dias do pai. Muito medo, muitas lágrimas, muitas tristezas, muitas saudades, muita dor. Muitas lágrimas secaram e muitas lágrimas deixaram de brotar por não haver mais para chorar. Expectativas defraudadas. Muitas provas, muitas folhas, muita tinta, muitas palavras. Tempo, muito tempo, demasiado tempo. Tempo, que se pensava, irrecuperável. Depois de tantas desilusões chegava-se ao dia da decisão final. À estrada percorrida, comprida, sem saída. Uma única e justa solução. Não seria possível outra decisão que não fosse a justa. Que a justiça fosse justa, o verdadeiro pleonasmo. A decisão que defendesse o superior interesse das crianças. Uma justiça que fosse cega, como é a imagem que a representa, sem pender para nenhum lado das balanças. Ninguém entende, ninguém consegue perceber-nos, ninguém consegue colocar-se no nosso lugar. A tão bela frase que fica ainda melhor em inglês: "put yourself in my shoes". 

E chega o grande dia. Um entusiasmo calado, um optimismo que sentia estar certo. Mas conhecia as frases: "Quem disse que a vida é justa?", "A justiça não funciona", "Mãe é mãe", "Ninguém tira os filhos a uma mãe". Depois de tanto tempo, tantos factos, tantas provas, tantas evidências, só poderíamos estar confiantes. Mas o tempo perdido, decisões erradas e falta de coragem de muitos dos envolvidos, levam-me a ter (sobretudo) medo. Foi isto que mais aprendi nestes últimos 4 anos: a ter medo. E eu que só tinha medo que os meus morressem...

Acordei optimista, depois de não ter conseguido adormecer antes das 4 da manhã. Adormeci com dor de cabeça, como quase sempre nos últimos dias, e acordei como se não tivesse dormido. Mas acordei sem medo e sem angústia. Confiante, no fundo. Pela primeira vez, não conseguia não ser optimista. Quando no aeroporto, vi que iria viajar numa avioneta que mais parecia um avião de papel, pensei no quão injusto seria morrer antes de ver a alegria estampada no rosto dos meus sobrinhos. Aterrei sem problemas de maior. Fui trabalhar, como de costume. Não disse a ninguém o quão mal estava, por dentro. Acreditava, com a fé que tenho, que seria um grande dia e que tudo ia acabar em bem!

E assim foi. O grande sonho cumpriu-se. O dia da liberdade chegou! A justiça foi feita! Muita gente nunca desanimou. Muito obrigada a todas as pessoas que sempre acreditaram. Uma vida nova começa. Os meus sobrinhos ganharam! Palmas, principalmente, para a advogada do meu irmão que nunca perdeu a esperança e sabia, desde o inicío de que lado estava a razão!

Não quero mais olhar para trás. Só para a frente e pensar que os meus sobrinhos vão agora poder viver a vida na sua plenitude. Vão poder falar sem terem medo do que vão dizer, sem medo que lhes digam mal das pessoas que gostam, que vão ter aquilo que há quatro anos lhes tiraram: a liberdade de serem o que são.


“It was a long, long, long road”!

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O dia da liberdade chegará

Ainda hoje, passados 4 anos, não consigo lembrar-me daquele dia. Ainda hoje, depois de muita ajuda, de muitas palavras, de muitos conselhos, de muitos químicos legais, de muitos comprimidos, de muitas insónias, de noites e noites sem dormir, de muitas lágrimas vertidas, de muitas lágrimas que secaram, continuo a ter medo daquele dia. E fechei-o em qualquer lugar dentro de mim para nunca mais lá voltar. Não há nenhum dia que ao lembrar-me de pequenas partes  (que aparecem sem avisar), a que imediatamente fujo, consigo não chorar. A maior injustiça de todas. O maior mal que se fez a algumas pessoas com o objectivo de se atingir apenas uma. O maior mal, o maior de todos, foi causado a duas crianças. E uns pais que criaram filhas inaptas para enfrentarem como adultas a sociedade apoiaram a birra e a maldade de uma filha contra o supremo interesse dos netos. O tempo e a memória permanecerão. E essa verdade imutável será a que sempre terão que se confrontar na vida. O peso do mal que fizeram. E eu só espero e peço que estes (inúteis) quatro anos não tenham interferência (negativa) na personalidade e carácter dos meus sobrinhos. Que sejam homens bons. Que a maldade nunca lhes afecte o juízo. Que sejam sérios e honestos. Que nunca precisem (mais) de mentir e de esconder o que sentem. Que se guiem sempre pela frase “A verdade liberta”. Que parem de me pedir “eu quero ficar com o pai” quando eu não tenho poder nenhum e quando eu nada nada posso fazer a não ser lutar para que seja feita justiça. É com essa fé, com que nasci, e profunda convicção e optimismo, nos homens, que espero que na terça seja feita justiça. Sem represálias, sem vinganças, sem acertos de contas. Só pelo bem de duas crianças que sabem (desde sempre o que querem) mas que sempre tiveram medo de falar a verdade. Para que nunca mais na vida tenham medo daquilo que sentem e que a partir de terça sejam seres humanos livres. “Não há mal que dure sempre, nem bem que sempre acabe”.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Quando os sobrinhos acham que têm a cadela mais bonita do mundo

Chego ao carro. Entro para o banco de trás, onde seguem os meus sobrinhos, e eu espremida entre ele no lugar do meio. Beijinho num e beijinho no outro, reparo que o mais velho está triste. Pergunto-lhe o que se passa.Responde-me, todo fungoso, que a Bu não ganhou o prémio (fiquei sem entender se era prémio de habilidades ou beleza...). Durante a tarde tinham ido a uma "Cãominhada", uma caminhada solidária com cães que visava recolher ração para uma associação. Uma das actividades seria um concurso, que não cheguei a perceber o tipo. Choroso, o mais velho, continuou a explicar detalhadamente que a Bu não fez nada do que ele lhe pediu (mas que faz sempre). Não deu a patinha, não lambeu, não deitou, não sentou e não deu a barriguinha. Nada. Niente. Zero. E eu tentei explicar-lhe que a Bu não é uma cadela de circo. Que a função dela não é exibir os seus dotes artísticos mas ser feliz. Na linguagem mais simples tentei dizer-lhe que os cães, tal como nós, têm vontades e que, muitas vezes, só fazem o que lhes apetece. Provavelmente, viu muita gente e ficou inibida. Petrificou. E por mais que o dono pequeno (que ela adora) lhe pedisse e lhe implorasse, ela não se mexeu. Disse-me também que não ganhou o prémio de mais bonita. Perguntava-me ele como é que isso era possível? O que para ele não existe qualquer dúvida, mas apenas, uma certeza. O amor dos pequenos por ela é tão grande que lhes tolhe o juízo!

Pois bem, vou fazer a analogia com a história da coruja que ouço desde criança contada pela minha mãe. Era uma vez uma mãe coruja que precisava de ir arranjar comida para os filhos e pediu/avisou os predadores que não os comessem. Nas palavras da mãe-coruja "eram muito bonitos" quando questionada sobre a aparência deles. Quando os predadores chegaram, viram criaturas tão feias que não hesitaram em come-las de tão feios que eram. Moral da história: "Quem feio ama,bonito lhe parece".


quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Retalhos da vida de uma tia babada

Fim de dia. Cansaço. Leve dor de cabeça. Paciência quase nenhuma. Sono, muito. Há muitos dias que durmo mal. Tenho sono quando não devo. E quando devia dormir, leio. Só imagino uma cama, ao longe. Dia de jantar com os sobrinhos. Toco a campainha e ouço a voz que quero ouvir: “Quem é?- a pergunta de sempre. Com a resposta previsível e sem engano: “Sou eu”. Quando querem brincar ainda acrescentam: “ Eu, quem?”. Subo de elevador e antes da porta se abrir já ouço o ladrar da Bu. Quem me abre a porta é o meu afilhado. E dá-me um abraço com toda a força que tem. Segue-se o abraço e os beijos do sobrinho mais velho. Este, como sempre, nas suas actividades criativas que envolvem pintura, desenhos e criações. Agora, sobretudo, bandeiras de Portugal, dinossauros, baleias e tubarões. O afilhado está fechado num quarto cuja porta está forrada de recados, desde horários de atendimento, conselhos e profissões. Hoje a ordem é para que ninguém entre. O sinal proibido. Depois seguem-se as instruções. Ao mesmo tempo que as leio a minha mãe diz-me ao longe que só se pode entrar com autorização dele seguindo as instruções. São elas: bater 3 vezes e tocar o sino. Estou demasiado cansada para desempenhar um papel. Mas o que eu não faço por eles?. Procuro o sino. Está ao lado da porta [é um sino pequenino, comprado pelos meus pais em Washington no tempo em que os pequenos tinham paranóia por sinos. Quando me lembro não consigo não rir. O mais pequeno ainda não falava nem andava e por influência do mais velho dizia: “Tão, Tão, Tão, Ti, Tão”. Existem vídeos de morrer a rir]. Faço o que os meus olhos lêem. Bato à porta, toco o sino e espero. O mais velho vem a correr e diz que aquele é o sino dele. E eu, já preocupada com o tempo que a demonstração teatral vai demorar, peço-lhe que me empreste o sino, que é só para entrar. Depois de alguma negociação, consigo que seja ele próprio a tocar o sino (enquanto o leva) mas a tempo do mais novo ouvir. O afilhado abre a porta e pergunta “O que deseja?” e eu “Entregar-lhe o presente que trouxe de Lisboa, espero que goste”. Saio e fecho a porta. Vou à sala e entrego ao mais velho o que ele me tinha pedido: uma miniatura da Torre de Belém. Abriu e felizmente disse: “Titi, era mesmo isto que eu que queria, acertaste”, entre beijos e abraços. Ao longe ouço o afilhado dizer à avó que não gostou nada do que eu lhe dei. Vou em direcção à conversa e diz-me: “Não gostei nada! Não era nada disto que eu queria (uma caneca de Lisboa com eléctricos, Torre de Belém, guitarras,...). Ao que respondo: “Desculpa afilhado mas é o que acontece quando não se diz o que se quer. E vais dar-lhe uso para beberes o leite.” Não convencido com a explicação argumenta: “O que eu queria mesmo era o equipamento do Benfica!”. Todos os que nos rodeiam sabem que isso será o presente do Natal... Este episódio faz-me lembrar outro, protagonizado pelo pai deles que quando era pequeno respondeu à madrinha dele: “Não gostei nada! Livros não são prendas!”. Quem sai aos seus não degenera  (é de Genebra)...

terça-feira, 21 de abril de 2015

Os 6 anos do afilhado

Braga, 18 de Abril de 2015

Há 6 anos nascia o afilhado. A um sábado, precisamente. Ainda tem os dentes todos de leite. Só um abana e ameaça cair. Madrugou, como sempre. E veio para a minha cama, como quase sempre. Dou-lhe os parabéns e cubro-o de beijos. Ficamos deitados. Explica-me porque não foi ontem buscar-me ao aeroporto. Beijos e muitos abraços.  Primeiro pedido do dia: pequeno-almoço. O costume. Copo de leite com o desenho de uma guitarra de blues de Beale Street trazida directamente de Memphis. Duas colheres de chocolate medidas por ele. Apesar do cuidado, a mão atraiçoa-o sempre, e parte do pó de chocolate suja a mesa. Como sempre, avisa-me e eu como sempre passo-lhe um papel. Vamos abrir o presente. Exactamente o que ele me pediu: um jipe da policia com um barco num reboque da Playmobil. Ainda não entendi as escolhas do meu afilhado. Visivelmente, tal como eu, não tem jeito para coisas de montar e desmontar. Não tem jeito para legos, nem para Playmobil, nem para puzzles, nem para nada que se relacione com isso. Por qualquer motivo que eu desconheço, continua a fazer as mesmas escolhas ao longo dos anos. O que ele gosta é de carros e de motas e de camiões do lixo e de máquinas escavadoras. E de jogos de futebol. E de tablets. Como ele sabe que eu não aprovo jogos no tablet nem na tv, talvez me queira agradar. Está notoriamente contente mas não é por montar nada nem com os pormenores tão pequenos da Playmobil. Está fascinado sim com o jipe e com o barco que são razoavelmente grandes. O seu passatempo preferido nos últimos tempos é escrever. E é vê-lo a preencher cadernos e cadernos com as escritas dele. Coisas que só ele percebe e  algumas que percebemos todos. Anda sempre com um caderno e com uma esferográfica debaixo do braço. Para onde quer que vá. O outro passatempo é escrever e desenhar nas paredes da cozinha! Já quase não há espaço livre tal o tamanho da sua obra. Aquilo já não são paredes. Mais parecem murais. O meu afilhado não gosta de quase nada. Há pouca coisa que goste de comer. Tem mau feitio. O que ele mais gosta é Coca-cola, apesar de lhe ser praticamente proibida. Gosta muito da Bu. Ao contrário do irmão que a trata com muito cuidado, e é o símbolo da meiguice, o afilhado trata-a como companheira das brincadeiras. Carrega-a para todo o lado mesmo que isso seja um processo quase impossível. Tem um fascínio pelo Homem-aranha. E vive na ilusão que eu o conheço e que é real. Quando era mais pequeno adorava que lhe lesse histórias. Agora gosta menos, só quando vai para a cama. Adora cantar. E adora hinos de futebol, principalmente os do Benfica. Adora bolas e jogar futebol. Já assina o nome e depois coloca por baixo “afilhado”. Tem um riso lindo. E uns abraços fortes. Insiste que um dia é ele que pega em mim. Teve a festa que quis. Com os amigos que escolheu. A festa acabou no dia seguinte e excepcionalmente deitou-se no mesmo dia que acordou. 


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sexta-feira

Sexta-feira. Acordo à hora do costume mas deixo-me estar na cama. Tenho por companhia, em cima das minhas pernas, um gato preto que mais parece um leão. Enorme e pesado. Ronrona. A luz de Lisboa entra pela janela. Mesmo com nuvens, Lisboa é sempre clara. Acho que não há luz como esta. Pequeno almoço tardio. Desço a pé a Estados Unidos da América até Entrecampos. Pouso a mala. Almoço tardio no Entre Copos. Escolhemos ovas de peixe grelhadas. Não me lembro da última vez que as comi. Como são 3 da tarde dizem-nos que as brasas estão fracas e que é melhor escolher outra coisa. Dourada escalada. Não me lembro de comer um peixe tão bem grelhado na brasa. No ponto. Nem no Algarve. Para acompanhar dispenso as batatas cozidas. Só brócolos cozidos e tomate com sal. Nada de álcool nem sobremesas. Os excessos restringiram-se ao dia anterior. Vamos buscar o ZM à creche. Pequenina. Familiar. Desenhos nas paredes. Alegria. Simpatia. Beijos e abraços. Despedidas. Vamos até ao parque. Crianças de um colégio são fotografadas. Reparo no número de crianças com óculos. Temperatura amena em Lisboa. Sol radiante. O ZM já consegue pronunciar o meu nome com um tom anasalado no final. Hora do lanche. O meu, o de sempre. Galão claro morno e pão com manteiga. O ZM reparte-se entre o pau com manteiga e uma língua de gato. Quer dar de comer aos piu-pius. Sobe para casa. Descubro que o Frozen não é só paranóia das meninas. Toda a gente está viciada. Brincamos com uma bola e com umas peças de madeira. O tempo não pára. Seguimos de carro para o aeroporto onde a S. me deixa no Terminal 2. Continuo sempre a aprender. Afinal podemos ir directamente para o terminal 2 sem passar pelo 1. O check in parece uma feira e as salas de embarque também. Mais gente que bancos. Como ainda falta algum tempo decido-me pelo único bar que lá tem. Guiness parece-me uma boa escolha. Leio. Os estrangeiros são os principais clientes. Sandes de tudo e mais alguma coisa e litros de imperiais Sagres. Chamada para o avião. O dia acaba. Fim de dia ameno. Chegada o Porto 45 minutos de pois. Noite escura. Chuva torrencial. Dilúvio. Arca de Noé.Como é possível um mudança tão drástica de cenário com tão poucos kms que separam estas duas cidades. Toda a gente corre. Malas arrastam-se. Outras voam, tal é a velocidade. Fatos molhados. Ninguém preparado para esta chuva. Ninguém é elegante a correr debaixo deste temporal. Eu deixo-me ir, lentamente. Parece que saí do chuveiro mas isso não me faz acelerar o passo. Quando apanho a mala, tiro o casaco de malha, desaperto a camisa, fico em t-shirt, seco o cabelo com a camisa, visto uma camisa divinamente embrulhada na mala, visto outro casaco. Como é hora de jantar, espero uns 30 minutos pelo meu irmão naquele café que é uma imitação barata do Starbucks mas com preços igualmente pornográficos para um país pobre como o nosso. O meu irmão chega sozinho sem os meus sobrinhos. Aguardam-me em casa dos avós porque não quiseram enfrentar a chuva. Chegada a casa dos pais é a festa da miudagem, como se não me vissem há muitos. Colos, beijos e abraços e elogios aos penteados novos.  

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Quarta-feira

Quarta-feira, dia de jantar com os sobrinhos. Como o meu irmão ficou de me levar ao aeroporto, fomos jantar ao McDonals. Isto só acontece muito raramente. Então, para eles, é a alegria. O meu afilhado, que faz 6 anos no próximo sábado, anda sempre com um caderno é uma esferográfica. Diz ele que é para escrever. Como o irmão já anda na primária deve querer imitá-lo. Então é ver páginas e folhas completas de letras que só ele entende e outras que entendemos todos. No carro contam entusiasticamente a semana na escola. O que aprenderam. O que comeram. A peça de teatro que viram hoje. As histórias com os amigos. Quando saímos do carro a necessidade de serem abraçados e visível. Passamos o tempo abraçados e a trocar de par. O pai abraça um e eu abraço outro e depois trocamos. E passamos o jantar a encostar cabeças e ombros. E a tocar nas mãos. E a fazer festinhas na cabeça uns dos outros. Gargalhamos e rimos muito. Brincamos mesmo que o tempo seja curto. Falamos dos desenhos que os meus sobrinhos me prometem, mais uns, para escorar a minha secretária. Falamos das cartolinas que os esperam para fazerem o alfabeto dos animais e das profissões. Falamos do jantar de sábado que terão com os amiguinhos de Braga, R. e J. Vamos a caminho to aeroporto. O dilúvio da Arca de Noé abrandou. O céu cinzento escuro tornou-se mais claro. O dia está a terminar. O sol está a começar a pôr-se. Vê-se o arco-íris ao longe. O sol laranja, lindo, ao fundo da estrada. Falamos de ir a Serralves quando estiver bom tempo. O afilhado adormece. O K. bebe o resto da minha Coca-Cola. Aproveita porque quase nunca o pode fazer. É a bebida quase proibida. Estamos quase a chegar só aeroporto. O K. quer ir à torre de controle. Rimos da inocência dele. Prometo-lhe, que por hoje não haver tempo, na sexta entrará no aeroporto. Ele fiz- me que já conhece, claro. Mas quer ver outra vez.

Hora de embarcar. Fila enorme. Muitas pessoas. Muitas malas. Ninguém é parado. Só eu. Nestas horas percebo porque não gosto de low costs. A pessoa que controla os bilhetes diz-me que se a mala não cabe nas medidas deles é porque a mala não tem aquelas medidas. Não falo. Não discuto. Não argumento. Não digo nada. Só abano com a cabeça e lembro-me da razão pela qual só viajei duas vezes com a Ryanair. A minha cara deve dizer tudo. Poupo num lado mas gasto no mais elementar, a mala. Depois penso naquele vídeo dos apanhados da TVI: "Eles poupam 5, elas fo*** 10? De quem é a culpa, cara***? E sorrio. Afinal o que é isto comparado com tanta desgraça no mundo. Relativizo. Não dou importância. Não fico chateada por mais de10 segundos. Até que a senhora me pede licença para retirar a etiqueta da minha querida TAP e colocar a da Ryanair. E como se não bastasse diz-me que tenho que levar a mala para a pista e entregá-la para ir no porão. Como? Não basta ter que pagar por uma mala que deve ter 2 cm a mais, porque a régua que tenho em casa deve estar em polegadas em vez de estar em centímetros, e ainda tenho que ser eu a levá-la? Arrasto-me com a minha impotência para discutir e reparo que o selo que tenho no bilhete e a etiqueta que tenho na mala diz "free bag". Os meus passos ganham mais ritmo e a minha cabeça baixa levanta-se. E percebo, mais uma vez, porque é " melhor ser alegre do que ser triste". Não aproveito a vista da janela e não vi sequer a minha amada Lisboa do ar porque estava a escrever este texto. 



terça-feira, 24 de março de 2015

Ver crescer os sobrinhos

Há umas semanas os meus sobrinhos tiveram a emoção da vida deles, tendo em conta a tenra idade. Entraram em campo de mãos dadas com os jogadores do Porto e do Braga. O mais velho foi de mãos dadas com o guarda-redes do Braga (que eu não sabia quem era, e continuo a não saber) cujo nome é Mateus. O afilhado, segundo o meu irmão, entrou amuado porque na sorte calhou-lhe um jogador do Porto. E como o rapaz é do Benfica, a coisa não correu bem. Lá entrou de mãos dadas com o Hernani, que também não sei quem seja. Quando cheguei a casa, nessa noite,  já dormiam e só no dia seguinte contaram a aventura. O afilhado mal acordou veio enfiar-se na minha cama para contar os pormenores. Não me falou do amuo. E disse-me que o jogador que lhe deu a mão lhe perguntou o nome. A aventura para ele foi mesmo pisar a relva. O mais velho disse-me que a maior emoção tinha sido entrar no campo e ver uns meninos nus ( o que ele deve ter visto foram os membros da claque em tronco-nu) com umas bandeira gigantes e fogo vermelho. O que eu me ri com esta descrição. E ainda me disse que cantou o hino do Braga enquanto esperava no túnel de mão dada com o seu jogador.

No dia do pai achávamos todos que jantassem com o pai e connosco. Como os meus sobrinhos dependem da vontade da mãe deles, esta não autorizou que jantassem com o pai. Por essa razão, o meu irmão esteve apenas com eles pouco mais de uma hora. Eu, já tinha chegado a Braga, quando recebo um telefonema do meu irmão a dizer que o meu afilhado não parava de chorar porque queria estar comigo. Sem olhar nem para trás, fiz-me á estrada para estar com os meus sobrinhos não mais do que 30 minutos. Mas a alegria de os ver com o pai e os abraços apertados que me deram, salvaram-me o dia.


No sábado passado fomos a uma sessão de um género de yoga  que envolvia adultos e crianças. A ideia é que os miúdos imitassem os adultos ou os adultos imitassem os adultos. Os meus sobrinhos não gostaram do que eles apelidaram de ginástica. Mas eu achei que foi uma coisa divertida. Imitámos animais, fizemos túneis, relaxamos. O que o meu afilhado mais gostou foi das massagens e o mais velhos gostou de imitar o leão.

quinta-feira, 19 de março de 2015

O dia do pai

Hoje de manhã cheguei ao meu trabalho e um dos meus amigos mostrou-me o presente da filha que está quase a fazer um ano: a mão da filha marcada no papel com tinta cor de rosa. A alegria dele de ser o primeiro ano que comemora, como pai, este dia. Outro dos meus amigos vai à festinha do colégio da filha, embora a filha o avisasse que nem todos os pais podiam ir. Mas este pai podia e foi.

De há uns anos para cá, tudo o que seja festejos, festas, comemorações, dias evocativos, celebrações, são mais de tristeza e medo do que alegria. Sempre de coração na mão. Sempre à espera da última decisão. Do poder que alguém humano decida de acordo com a sua vontade. Os crentes na humanidade, pessoas normais que nunca passaram (felizmente) por uma situação destas poderão perguntar: a justiça não funciona? Não. A justiça é lenta e lenta como é perde dias, meses e anos de situações que são irreparáveis. No Natal, Passagem de ano, dia de anos do pai, dia do pai, dias de aniversário... são sempre de expectativa e de prece silenciosa para que tudo corra bem.

Quando há uma separação, o interesse maior deveria ser salvaguardar os filhos. Pois bem, na maioria dos casos, infelizmente, os filhos são usados para causar as piores dores de todas: distância, saudade e ausência. Privar um dos progenitores de estar com os filhos. Eu pergunto-me o que terá na cabeça uma pessoa que faz tudo para evitar que os filhos estejam com o pai, nestes dias particularmente, que um pai tem direito a estar  com os filhos? Que ódio gigantesco é este que permite afastar um pai dos filhos? O que leva uma pessoa a não informar a escola e as informações escolares de um filho? Que troca a escola dos filhos todos os anos sem informar o pai? Que maldade é esta que permite que se não atenda os telefonemas do pai e da família do pai? Que avassaladoras atitudes são estas que permitem que os filhos sejam considerados propriedade de uma pessoa? Que amor é este? Que palavra se pode dar a isto? Que magnânime poder é este que alguns humanos têm de provocar um frio na barriga e um aperto no coração que deve ser semelhante aqueles que percorrem o corredor da morte?

Como me dizia uma amiga há dias, estou descreste nesta humanidade. Que vida tiveram alguns para ter este tipo de atitudes? Acho que nem a medicina nem a justiça os pode salvar...

Este texto não tem a ambição de encontrar respostas nem para ter explicações. É apenas de desabafo de quem nunca falou em público sobre esta dor que presencia diariamente e a partilha.

Eu, que tenho o melhor pai do mundo, hoje, como sempre que quero, vou estar com ele. As minhas palavras são de conforto e de esperança para todos os filhos que têm os pais vivos e que não podem estar com eles. Dicas de leitura: os livros da Maria Saldanha Pinto Ribeiro e o último do Daniel Sampaio “O Tribunal é o réu”.

domingo, 10 de agosto de 2014

Férias

Têm sido dias de amor. Colocar as saudades em dia. Sem horas. Sem fim. Muita felicidade. Muitas gargalhadas. Muitos pulos. Tem sido uma troca de camas nunca vista. Deito-me com um, acordo com outro. Deito-me numa cama, acordo noutra. Deito-me com um, acordo com dois. Tenho ouvido as maiores declarações de amor dos últimos tempo. Sinceras. Honestas. Definitivas. Sem pedir nada em troca. E depois termina: “Titi, era isto que eu queria para sempre”. O que podemos fazer, a não ser, lutar com as armas da justiça?

terça-feira, 10 de junho de 2014

Serra da Estrela

No primeiro fim de semana de Maio levamos os meus sobrinhos à Serra da Estrela para ver a neve. Já a tinham visto via skype da janela a cair cadentemente em NY. Os floquinhos, como eles diziam. A subida longa da serra é lindíssima. Faz-se devagar. A natureza intocável no seu explendor. O tempo é de praia e nós procuramos neve! Avista-se o pico da Serra. Neve nem vê-la. Mas chegados ao topo, a neve está lá! Branca e brilhante à nossa espera. A neve resiste à temperatura alta, estamos vestidos de verão, mas os meus sobrinhos estão equipados como se fosse o pico do inverno. A Serra da Estrela continua selvagem, deserta e imutável, como há anos atrás. Nada mudou, para o bem e para o mal. As crianças transbordam de felicidade e reagem à surpresa de tocar na neve pela primeira vez. Apresentações feitas, brincadeiras de trenó, bonecos de neve, o dia acaba.Tempo de ir para o hotel onde um buffet nos espera. Os meus sobrinhos deliram por poder escolher in vivo o que comer.Hoje não há discussões, nem negociações, nem cedências para comer. O meu sobrinho mais novo, sempre com a paranoia das chaves, delicia-se com a chave do quarto. Hoje o seu objecto de adoração, deixa por um fim de semana de ser a chave do carro, para ser a chave do quarto. Segundo ele, agora quer ser “fechadeiro” quando for grande. Explico-lhe que esssa palavra não existe, que no máximo poderá ser porteiro. Poderia começar com divagações que não existe quem passe somente o dia a fechar e abrir portas de quartos... deixo vivê-lo a sua ilusão de criança, aquilo que os anos nos encarregará de fazer perder... outras conversas. Entre o abrir e fechar da porta mecânicamente, alterna-se entre o nosso quarto e o dos avós. Segundo o meu sobrinho mais velhos, “está muito feliz” e os “fins de semana do pai são sempre novos”. Um dia explicarei o que tanto ele quer dizer com tão pucas e sentidas palavras. Dia da mãe passado em Manteigas. Dia em família. Dia de 3 gerações juntas e felizes. A Natureza cativa-nos. Jogos de futebol e passeios ocupam-nos o dia. Tempo para regressar à realidade. A vida é feita de pequenos momentos de felicidade. Sorte para quem tem oportunidade de os viver.





segunda-feira, 7 de abril de 2014

A paranóia do meu sobrinho mais novo

O meu sobrinho mais novo (aka afilhado) tem uma paranóia que são as chaves dos carros. Quando conhece alguém ou quando alguém conhecido chega ao pé dele a primeira coisa que ele faz, depois de cumprimentar as pessoas, é perguntar a marca do carro para logo a seguir perguntar se lhe podem emprestar as chaves. Pois bem, a chave preferida dele antes de eu trocar de carro era a do meu velhinho Fiat Punto, que ele também considerava dele. Quando troquei de carro, ficou muito desgostoso porque ao contrário do primeiro, este em vez de ter uma chave tem um cartão. Tentei solucionar o problema colocando um porta-chaves de NY que pertencia ao meu velhinho carro. Parece que resultou. A primeira coisa que ele faz quando me vê, depois de um demorado abraço e de um beijo, é pedir as chaves (cartão) e moedas. Então ele torna-se um armazém ambulante. É ve-lo munido da sua fralda, chupeta, chaves e moedas. Desde os 2 anos que sabe todas as marcas de carros. Foi assim que aprendeu os números (através das matrículas) e as letras.

domingo, 12 de janeiro de 2014

O amor maior

- Pai, telefona à titi para vir para aqui que eu estou cheio de saudades dela.

domingo, 15 de dezembro de 2013

O fim de semana ideal

Fui buscar os meus sobrinhos a casa da mãe na sexta. Estava com a S. Os meus sobrinhos adoram o meu carro. E toda a conversa a caminho de Braga foi à volta disso. A S. conheceu-os nesse dia. Fartou-se de rir com eles principalmente quando o meu afilhado lhe disse:
-Gosto de tudo de carros, de chaves de carros e de lavar carros!

Quando chegamos a casa dos meus pais, o meu irmão já tinha ido buscar a Bu. Os meus sobrinhos deliram com a Bu. E o mundo para a Bu pára quando vê os meus sobrinhos. Pediram para ficar com ela. E eu não tive como não deixar porque ela é uma vendida e troca-me, sem nenhuma dificuldade, por eles.

Ontem, os meus sobrinhos foram passear com o meu irmão pelo centro e encontraram muitos amigos. Quando chegou a vez de andarem no comboio de Natal, o motorista não queria deixar a Bu entrar. Ao que o meu irmão lhe disse:
-Ou entramos todos ou não entra ninguém.
Perante este cenário, o motorista não teve outro remédio a não ser autorizar a Bu entrar...
Quando chegou a hora do conto na Centésima Página, o meu irmão teve que levar-me a Bu a casa porque, aí sim, não tinha hipótese de entrar. O meu afilhado, perante este cenário, já não queria ir à hora do conto. Queria ficar em casa comigo e com a Bu. Lá tive que entrar no carro e ir com eles. O meu irmão ficou com a Bu a passear nos jardins da Avenida Central e eu fui com os meus sobrinhos à livraria. Chegamos atrasados, como quase sempre, e o conto tinha terminado. Mas ainda chegamos a tempo de uma actividade. As crianças todas sentadas num tapete a construir uma colagem de um anjo de Natal.

O K. é uma simpatia. Mal chegou, entrou no meio da roda de meninos, sem qualquer receio. Sem ninguém lhe perguntar nada disse, em voz alta, o nome dele, que tinha uma cadela que se chamava Bu, e ainda apontou para trás para mostrar a titi e o irmão. O meu afilhado é o oposto. Não se quis sentar junto aos meninos se eu não estivesse com ele. É um anti-social como a madrinha. Para ele uma dezena de meninos é uma multidão. Passamos o resto do tempo a colar o anjo de Natal e o meu afilhado ainda desenhou a cara. Quando os meninos todos sairam fiquei eu, o K., o afilhado e ainda um pai com um filho com uns 9 meses. Os meus sobrinhos adoram bebés. E o introvertido do meu afilhado perdeu a vergonha com o pai do menino que se chamava Vasco.
- o meu avô chama-se Vasco - disse o afilhado
- E tenho uma cadela que se chama Bu e que faz muitas asneiras. Fez cocó no sofá da avó e roeu o tlm da titi, até comeu a tampa!
O pai do Vasco só se ria e o Vasco saltava enquanto o pai o segurava debaixo dos braços. O meu afilhado ainda teve coragem para mais uma coisa:
- Posso pegar no Vasquinho?
E o Vasquinho lá andou, com a ajuda do pai, entre os colos o K. e afilhado.

Depois de jantarmos na casa dos avós fomos para casa. Queriam ver o aviões mas por problemas técnicos acabaram a ver montagem de legos no tablet. Eu no meio, e os dois homens da minha vida, um de cada lado. Eu, que costumo ser uma friorenta, parecia estar nos trópicos, tal era o calor! Quando o afilhado adormeceu, o pai veio buscá-lo para a cama dele. A Bu, ignorando quem é a dona e quem a salvou de um futuro que não parecia muito risonho, trocou-me facilmente para ir dormir no quarto do afilhado. Ainda fui chamar por ela mas ignorou-me completamente. Acabei a dormir com o K. que é um verdadeiro aquecedor mas que, felizmente, não ressona. Adormeci tarde, como sempre, depois de muito ler.

Sei que o toque de alvorada foi pouco depois das 7 porque tenho uma vaga memória de ter ouvido, ao longe, o meu afilhado e o meu irmão a tomarem o pequeno-almoço. Eu continuei a dormir acompanhada pelo mais velho que dormia ocupando quase a cama toda.... e eu sem reclamar. Por volta das 11 acordamos com a Bu a saltar para cima de nós.

Fomos almoçar com os avós e à tarde os meus sobrinhos foram ao cinema com o pai ver "Frozen". Nem preciso descrever a cena da Bu de cada vez que os meninos se vão embora. Dá dó! Chora, soluça, uiva, raspa as patas na porta... nunca vi devoção maior.

copyright: Centésima Página

copyright: Centésima Página

copyright: Centésima Página

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O espírito natalício

Chego a casa de madrugada e tenho na minha cama 3 homens e a Bu. Os dois pequenos, um de cada lado, com o pai no meio. A Bu acordou comigo a abrir a porta e espreguiça-se. A tv está acesa no Disney Channel. O pai muda-se com o mais velho para o quarto deles e deixa-me com o mais novo. A Bu, essa ingrata, segue-os e instala-se confortavelmente no fundo da cama do meu sobrinho mais velho. E eu, qual dona rejeitada, ainda me ponho feita parva a chamar por ela... A Bu, muito bem instalada, o único gesto que faz é levantar a cabeça e ignorar-me... Volto cabisbaixa para a cama e contento-me em dormir com o homem que nunca me abandona. Para este “piqueno” tudo o que eu faço é que está bem feito e tudo o que eu tenho é que é bom! Depois é capaz das questões mais espantosas. Como ele vê uma pilha de dezenas livros na mesa ao lado da minha cama, que mais parece a torre de Pisa, tal o equilíbrio que parece lutar contra a gravidade e não desabarem como um baralho de cartas: “Para que servem estes livros todos quase a cair?”.
- Para eu ler.
-Mas não os lês todos ao mesmo tempo... podiam estar onde estão os outros (quer ele dizer nas estantes.

E eu dou comigo a pensar que ele tem razão mas não sei como lhe explicar que o meu interesse momentâneo por aqueles livros não é directamente proporcional à velocidade que os consigo ler... E daí, aquela pilha que se amontua com o passar dos dias...
De manhã fui dar com ele, mais a sua inseparável chupeta e fralda, a olhar para o pinheiro que o pai e o irmão tinham feito no dia anterior.
-Afilhado, a árvore está bonita.
- Está mas não fui eu que a fiz. Foi o K. e o pai. (Lá sinceridade não lhe falta). Eu gosto é de olhar.

O artista da casa levanta-se e vai contemplar a árvore. Ao contrário do irmão não se limita a olhar. Arranja as bolas, os pais Natal, as fitas, como se alguém lhes tivesse mexido. E depois, com um grande sorriso, continua a contemplação.

São 7:45 da manhã e dois dos homens da casa estão acordados. E eu que não adormeci antes das 4...


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Últimos dias de férias

Saímos do Algarve rumo a Lisboa. Livros de colorir, conversas e cochilos fez a viagem ser rápida. Como o tempo era extremamente curto, almoçamos rapidamente no McDonald’s, que é o sonho dos mais pequenos e que o pai só acede muito poucas vezes. Debaixo de um sol abrasador, percorremos a pequena distância entre o Vasco da Gama e o Oceanário. Os meus sobrinhos já queriam nadar no Tejo e andar de teleférico. Mantive-lhes a ilusão que um dia nadariam lá (para quê destruir essa possibilidade?) e que em breve voltariam para andar de teleférico. Apaixonaram-se, ainda de entrar no Oceanário, pelo Vasco (a mascote). Há dias que andávamos a preparar a visita, a explicar-lhes que iríamos ver animais marinhos. Eu que sou especialista (not!) a identificar espécies atrevi-me a lançar nomes daquilo que iríamos ver: leões marinhos, focas, tubarões, baleias... Tinha a esperança que os meus sobrinhos não prestassem muita atenção e nem se lembrassem dos nomes... O Oceanário, para quem gostar deste tipo de coisas, deve ser fabuloso. É fisicamente um edifício muito bonito.  O que eu mais gostei foram os poemas e trechos do “Mar” de Sophia de Mello Breyner: “Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar”, “Mar, metade da minha alma é feita de maresia”. De resto, achei tudo muito bem organizado, peixes de várias espécies, tubarões, cavalos marinhos, raias, pinguins, aves, ... Percebi que o Eusébio já devia ter “batido a bota” e que agora só restam a Amália, Micas e Maré. Estes animais que eu achava que eram leões marinhos, eram afinal, lontras!!! As baleias, provavelmente pelas suas dimensões, nem vê-las! Eu e o meu afilhado partilhamos um desinteresse semelhante. Está visto que ele também não é grande fã destas coisas. O que ele mais gostou foi o Vasco e eu dos poemas de Sophia! O sobrinho mais velho e o pai deliraram! Gostaram tanto que ficariam a tarde toda.  O tempo não pára e tivemos que seguir para apanhar o comboio rumo a Braga. Estávamos tão estafados que eu e o meu irmão deitamo-nos nos bancos, eu com o mais velho e o meu irmão com o mais novo. Dormimos até Braga! Que viagem tão rápida desta vez!








Chegar a casa depois de 15 dias fora. É tempo de organizar tudo porque o trabalho começa depois do fim de semana. Dia mais fresco, poucas pessoas, poucos carros na cidade.  Saio para fazer compras. Depois de 15 dias sem ver televisão, faço zapping e paro numa imagem. A Judite de Sousa a entrevistar um rapaz completamente tatuado. Tudo o que é pele, com excepção da cara, está coberto de tatuagens. Esta imagem fez lembrar-me da desilusão de ver a Margarida Marante a entrevistar o Ronaldo (o jogador brasileiro que foi várias vezes considerado o melhor do mundo)... Mas afinal quem era este personagem tão interessante que teve direito a minutos de fama em horário nobre? Pelo que percebi é um milionário que nem sequer estudou ou trabalhou para o ser mas que se considera muito feliz porque viaja pelo mundo “que é a melhor escola do mundo”. Pois claro, melhor escola do mundo, porque universidade ele nem sabe o que é... Pouco depois percebi que o “piqueno” nem conjugar os verbos sabe. Tem um discurso fútil e vazio, para além de muito mau gosto. Ok, acredito que possa ter tudo o que o dinheiro possa comprar... mas não deve passar de um mimado. Verdade seja dita, pelo menos, os jogadores de futebol são remunerados pelo seu talento, pelo brilho de um desporto que muitos consideram “rei”... Mas este fulaninho vive da fortuna que não consegui perceber de onde vem... mas pelos indícios nem vale a pena investigar. Numa época de crise, que não assola apenas o nosso país, é quase “pornográfico” ouvir o que este fedelho falou. Pérolas como: “Ninguém é obrigado a ajudar ninguém”. Mas pior ainda é perceber como é que alguém o convida para falar na tv quando há tanto bom exemplo para dar. Pagar a exorbitância de milhares de euros para levar para a festa de aniversário, outra fútil, só mostra os valores deste miúdo. A TVI só mostrou o nível da sua programação e eu senti-me envergonhada por usarem exemplos destes em horário nobre... sem mais palavras...

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

As férias com crianças

Eu, que estou habituada a viver sozinha e que estou habituada a horários pouco ortodoxos e a ter o meu silêncio diário para ler, vejo-me rodeada do barulho, risos, gargalhadas e brincadeiras de duas crianças de 4 e 5 anos. Com crianças tudo muda. Tudo é feito em função delas.
O toque de alvorada começa a partir das 6:30, mais coisa menos coisa, quando o meu afilhado (sobrinho mais novo) acorda. Geralmente, munido da sua fralda e chupeta, vai enfiar-se na cama de quem ele decide naquela manhã. Eu, que não sou uma matutina, a única altura do ano que acordo espontâneamente e sem esforço, é nas férias na praia. Da cama, o meu afilhado segue para a cozinha, onde normalmente encontra a avó. Segue para o terraço, onde se senta à mesa, como um príncipe, à espera do pequeno-almoço. O irmão, sobrinho mais velho, é o oposto. Para acordar é um castigo!  Não há (quase) nada que o demova do sono dos justos! Comem uns cereais que são espectaculares mas que eu evito, a muito custo comer! O mais velho, seguindo as minhas instruções senta-se bem longe de mim para eu não lhe "roubar" os cereais. O mais novo, apesar das advertências, tem pena de mim, e é o tentador: "Ó titi, pega, eu dou-te". O que posso eu fazer?

Vamos para a praia entre as 9:30 e as 10. Eu passo quase todo o tempo a ler, os avós intercalam entre as caminhadas e a vigia dos netos na água. O pai deles é o principal "vigia". Ao meio-dia regressamos a casa onde almoçamos e dorme a sesta quem quer. Eu, que todo o resto do ano não durmo mais do que 6 hrs por noite, na praia dou-me ao luxo de até dormir a sesta. É a única altura do ano que durmo muito e bem, como a maioria dos mortais. O meu sobrinho mais velho não dorme a sesta porque detesta dormir e se dormisse de tarde não dormia de noite. O meu afilhado dorme o sono dos justos de tarde e à noite.

Os camiões do lixo e da reciclagem são as perdições deles. E as vassouras e apanhadores do lixo. Um diz que quando for grande quer ser bombeiro e o outro diz que quer ser condutor de camiões do lixo. O meu afilhado tem como sua companheira preferida, a chupeta, parece a Maggie dos Simpsons. Já o meu sobrinho mais velho tem como companhia as dezenas de lápis de cor e os livros de colorir. À tarde voltamos à praia depois das 5 e só são tirados da água após ultimato. Adoram as bolas de berlim da praia e os pregões: "bolinhas, há com creme e sem creme".
Outra das coisas que os faz delirar é pedir ao avô que imite gatos, leões, pavão e pavoa. Não é para me gabar mas o meu pai é óptimo nisso!

Depois vem a saga dos banhos pós-praia. Levam tudo e mais alguma coisa para tomar banho junto com eles. Habitualmente, dezenas de carros do Cars 2. A seguir vem a saga da sopa diária, antes de se juntarem aos adultos na mesa. É preciso recorrer a todo o tipo de esquemas! Depois do jantar é a hora de irem para a cama, a que muito resistem. A hora de irem dormir implica a leitura de histórias. São eles que escolhem os livros, muitos deles trazidos de casa, e outros tantos comprados aqui na feira do livro. O meu afilhado, no fim da primeira história já dorme profundamente. O mais velho, é bem mais difícil. Várias histórias lidas e nada de dormir. A resistência ao sono tem que ser nossa porque os olhos quase se fecham depois de muitos minutos.

Pela primeira vez em muitos anos não trouxe o computador. Não vejo tv, só leio, como, durmo e descanso!

sábado, 3 de agosto de 2013

A primeira viagem de comboio dos meus sobrinhos

Dia tão esperado: 1 de Agosto! Fomos buscar os meus sobrinhos a casa da mãe, como combinado, às 11. Ainda não lhes tínhamos comunicado a surpresa: iríamos de comboio para o Algarve (que eles há tanto ambicionavam mas só conheciam de me levar à estação quando ia para Lisboa). Inicialmente, para conforto dos mais pequenos pensamos ir de avião mas tivemos que afastar essa hipótese porque a mãe considera-os imaturos para uma viagem de 45 minutos de avião. Como no ano passado já tivemos a experiência penosa de fazer a viagem de carro, não a quisemos repetir. No ano passado demorou-nos quase 12 horas. Conhecemos todas as estações de serviço, todas as casas de banho, todos os parques, todos os estacionamentos de auto.estrada, do norte ao sul.
Apenas com duas mochilas, duas crianças e 2 adultos começamos a aventura. Há uma da tarde em ponto, o nosso querido taxista Carlos (que eu e a C. tão bem conhecemos das nossas aventuras nocturnas), esperava-nos à porta de casa dos meus pais. Os olhos dos meus sobrinhos começaram logo a brilhar: primeira vez que andavam de táxi! Chegados à estação fomos para o Porto nos inter-regionais ("os amarelos que andam devagarinho e param em todo o lado"). Já no Porto, para esperar as quase duas horas que faltavam, omos para uma esplanada. Entre gelados, coca-colas "para os grandes"' livros de colori, lápis de cor e livros, o tempo passou rápido. Já no Alfa pendular ficamos naqueles lugares para 4 pessoas com mesa. Ao passar numa das pontes que separa o Porto de V.N. de Gaia, o meu sobrinho mais velho grita: "Ei, olha ali tantos sinos em NY!!!". Toda a gente à nossa volta riu! A esta altura jáultrapassava as 8 vezes que perguntavam se faltava muito para chegar à praia. Entre pinturas, auscultadores, conversas, perguntas, idas ao bar e à casa de banho e sestas, o tempo passou rápido. Com o entusiasmo próprio das crianças ainda acharam que chegaríamos a tempo de ir fazer castelos de areia na praia... Mas quase às 9 da noite, não nos pareceu viável. A essa hora tínhamos o meu pai à espera em Tunes. Os meus sobrinhos todos eufóricos correram para os braços do avô a contar-lhe as aventuras da primeira vez que andaram de comboio.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Os meus sobrinhos comem a pasta de dentes

Quem me conhece bem sabe que eu tenho um problema grave de ver alguém a lavar os dentes, incluindo eu própria. Quando vejo alguém a lavar os dentes, dá-me imediatamente vontade de vomitar. E isso acompanha-me desde que me lembro de ser gente. Não mudou- Posso ver alguém a vomitar que fico ali, pacientemente à espera, a segurar-lhes a testa, para que na maioria das vezes se consigam aguentar-se nessa posição. O resultado pode até salpicar-me as calças, que a única coisa que penso é: “será que este vinho tinto vai sair destas calças claras?”. Continuo ali, sem qualquer problema, qual gesto caridoso, a ser a mão amiga que os (as) acompanha naquele momento de agonia. Não tenho qualquer tipo de repulsa. Mas ver alguém lavar os dentes, não! Em quantos quartos de hotel, quando as pessoas que ficavam comigo saiam da casa de banho a escovar os dentes... eu só tinha tempo de ter o instinto de sobrevivência de virar-me de costas, fugir e ainda tapar os olhos com as mãos!!! Quem me conhecia bem percebia imediatamente e fugia para o lugar de onde saiu e não devia...repetindo a palavra “desculpa” vezes sem conta. As que me conheciam menos bem não percebiam e continuavam em direcção a mim a achar que me tinha dado um ataque de asma...

Os meus sobrinhos sabem que me podem pedir tudo menos que vá com eles lavar os dentes! Eles bem me mostram que as escovas são iguais às minhas, que têm uma pasta de dentes muito gira... mas basta falarem-me em lavar os dentes que eu entro logo no sistema de manter o perímetro de segurança. Então, principalmente o mais novo, está sempre a querer lavar os dentes mas não pode fazê-lo sozinho porque o mais provável é que sairia da casa de banho a parecer que tomou um duche. Este é daqueles que lava os dentes e quer imediatamente comer, apesar de saber que lavar os dentes é a última coisa que se faz depois de comer e não antes! Eu, o mais afastada possível da cena, ouço o pai dele, a avó ou o avô (sim, porque ele é quem escolhe) “deita a água fora”, “a água não é para engolir”... e outras preciosidades. Tenho sempre de tentar abstrair-me porque a simples imagem dá cabo de mim.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Fim de semana

O fim de semana começa com todos a comermos dieta por causa do meu sobrinho mais velho que estava com uma gastroentrite. Quando a comida é igual para todos torna-se mais difícil dizer que não se quer comer. Já medicado não manifestou qualquer dos sintomas durante o dia o que parecia indicar que estava a melhorar. À tarde fui às compras com o meu afilhado (sobrinho mais novo). Passados 5 minutos de chegarmos ao supermercado já estava a dizer que estava cansado... tempo de despachar e sair. Mal sai fora do supermercado faz logo a observação que estão estacionados 2 carros iguais aos do avô V. Aliás, teve a esperança que um deles lhe pertencesse. Sabia que só veria os avós V. e A. Porque tinham ido a um casamento. À hora de jantar estava sempre a perguntar quantas pessoas eram, e se levavam carros (ele adora pedir as chaves do carro a toda a gente). Chegado o padrinho do K., “cravou-o logo, para jogar a umas cartas improvisadas enquanto o K. dava uma lição de “Cars 2” à G. Esteve a ensinar-lhe os nomes de todos os carros!!!! Quando chegou o L., para além dos chocolates que lhes dá sempre, mas que desta vez não puderam comer, ainda foi “cravado” para uma observação médica aos dois pimpolhos. Aparentemente estavam os dois bem. Felizmente, quando foram para a cama, por volta das 10, o jantar ainda não tinha chegado à sobremesa e por isso não viram os bolos. Noite muito bem passada, com muita conversa, muitas histórias, muitos risos, muitos ditados e muitas gargalhadas. No dia seguinte às às 8 da manhã ouvi ao longe a criançada a tomar o pequeno-almoço com o pai. Mais tarde, pouco passava das 10, ouço o telefone a tocar e o mestre dos atendimentos do telefone, o meu afilhado foi desempenhar a sua função. Era o avô V. a perguntar-lhe se queria ir a VV e ele disse que sim mas que antes queria falar com a avó A. Depois do almoço foi dormir a sesta e quis que fosse com ele para lhe cantar a canção do “Cuco” “para toda a gente”. À noite soube que os dois tinham escarlatina, típico das crianças, e que eu só conhecia a palavra da “Ciranda de bailarina” do Chico Buarque. Pouco depois opiniões médicas asseguravam-me que não era nada de grave.

Ciranda de bailarina
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem (...)

Chico Buarque


No domingo à noite comecei a sentir-me esquisita. De noite tive febre, acordei com febre. Não podia ser escarlatina porque infecta principalmente crianças e não tinha nenhum dos sintomas. Fui ao médico e diagnosticou-me infecção vírica... que é um nome para quase tudo. Assegurou-me que hoje estaria melhor com a medicação que me deu... Mas não... as dores de garganta com que hoje acordei eram muito piores e a febre não tinha desaparecido... como se não bastasse, caiu-me um dente... felizmente não é nenhum da frente! E só consegui consulta para quinta. 

facebook