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domingo, 4 de novembro de 2018

O que aí vem

Passou-se uma semana e ainda não estou refeita da escolha feita pelos brasileiros. Aprendi muito nesse mês de campanha eleitoral no Brasil. Mais até no segundo turno. Li muito, vi muito, ouvi muito, discuti muito, zanguei-me muito. E apaguei muitas pessoas. Não quero ter pessoas que frequentam os meus dias que sejam racistas, ignorantes, violentas, xenófobas, misóginas, classistas, que tenham "ódio no coração", que não respeitem e que não sejam democratas. Repetiram-me muito, apoiantes de Bolsonaro, que eu não sei nada, que não sei do que falo, que sou uma privilegiada portuguesa de um país seguro e pacífico que sempre viveu protegida pela academia. E a minha resposta, hoje, já que não consegui mudar um voto, é: "vão-se foder porque quem não entende nada são vocês que vivem num país que fez o 25 de Abril, e quer eu goste ou não, mas respeito a decisão democrática permitida pela constituição, é governado por partidos de esquerda.

Como é que alguém no seu perfeito juízo acredita nesta solução simplista de "matar os maus" e dessa forma acabar com a violência? Ou armar melhor "os bons" em vez dos "maus". Esta gente já parou para pensar que para mudar alguma coisa só educação. Estas pessoas já pensaram em que mundo nascem os pobres no Brasil? Que numa mesma casa vive uma mãe jovem com muitos filhos e muitos netos e ainda não chegou aos 50 anos? Acham que laqueação forçada é a solução? Não entenderam nada. Vejam o filme "A que horas ela chega?" E perceberão alguma coisa. 

Infelizmente, fenómenos como Bolsonaro estão a surgir em todo o mundo. A extrema-direita ou neo-fascista está a aparecer ou a sair da toca em todo o lado. Quando eu achava que nada podia ser pior do que Trump, ou que não se podia descer mais, eis que surge Bolsonaro. As suas ideias tão básicas e tanta ignorância fazem parecer o seu discurso uma piada. É mau e mal preparado demais para ser verdade. Junta a ignorância, com o exagero, com a palhaçada. Nunca achei possível que fosse eleito. Tive esperança até à última hora. Um homem com um discurso de ódio e que resolve tudo com a maior das simplicidades. Elimina-se, executa-se, mata-se, faz-se desaparecer, nega a ditadura militar é problema resolvido. Infelizmente, nada disto é novo. Já todos vimos e foi-nos explicado, nas aulas de História, como Hitler subiu ao poder. Nunca nos esqueçámos que Hitler foi eleito democraticamente quando a Alemanha atravessava uma grande crise pós-guerra. Hitler, bem menos ignorante e mais bem falante do que Bolsonaro, com os seus discursos nacionalistas e populistas conseguiu que votassem nele. Não neguemos que os alemães não tiveram culpa é não sabiam ao que iam. Bolsonaro nem português sabe falar. E eu que não oiça nunca que os brasileiros foram enganados ou que não apoiavam o discurso dele. Se há coisa que Bolsonaro nunca escondeu foi ao que vinha.

Tive muita pena que Haddad não tenha sido eleito Presidente. Confesso que me conquistou. Acho-o um homem bom. Mas ele e o PT cometeram o erro de não aceitar a prisão de Lula e para além de uma ideia quiseram transformá-lo num mártir. Nunca gostei do Lula mas acho, depois de tudo o que tenho visto, que ele não foi o pior que o Brasil produziu. Tenho muita pena que, como os apóstolos, o PT e Haddad tenham largado tudo e seguido o mestre (neste caso, Lula). A história encarregar-se-á dos julgamentos mas o grande erro do PT, ou de Haddad, ou de ambos, ou de todos feijão terem abdicado de Lula. Haddad seria muito melhor Presidente do que Lula seria hoje. Lula, que como os grandes egos, em vez de se deixar descrever pelos erros, descreve-se a si próprio, já não é um homem é uma ideia. Pode até ser. Mas já era tempo de ter deixado a luta para os outros. O tempo de Lula acabou e ele devia ter percebido. Haddad foi a segunda escolha. Sempre colado à péssima imagem que a maioria dos brasileiros tinha de Lula. Tarde e mal assumiu e desculpou-se pelos erros do PT. Haddad, um homem bem formado, democrata, ponderado, com ideias. Acima de tudo um professor. Que oportunidade desperdiçada, Brasil.

Depois, ciro Gomes, que se eu fosse brasileira e votasse, teria sido a minha opção no primeiro turno.que desilusão. Que decepção é o engano. Ciro Gomes mostrou que o ego é uma merda. Como as pessoas normais, e não como os grandes estadistas devem ser, Ciro Gomes não soube aceitar os resultados que lhe deram o terceiro lugar e amuou. Abdicando da sua privilegiada posição e de milhões que acreditaram e votaram nele, viajou para a velha Europa, o exterior, como gostam de dizer. Ciro Gomes assinou a sua morte política com esta decisão. Nunca se vira as costas aos eleitores e ao país quando tanto está em causa. Embora ele ache que tenha jogado certo e apostado na futura candidatura em 2022. Só que Ciro Gomes jogou mal é errado. Se houver eleições democráticas em 2022, que desconfio que possa acontecer, os seus eleitores se tiverem memória, não voltarão a confiar num candidato que só quer é aceita ganhar. Para mim, Ciro Gomes morreu politicamente. Como escreveu Drummond: "Nunca me esquecerei desse acontecimento/ na vida das minhas retinas fatigadas". Ciro Gomes perdeu a oportunidade de ficar do lado bom é certo da história. Que triste que foi.

O acesso à educação dos mais pobres e a ascensão social que a educação permite, intimida os privilegiados. Salazar, esse "pai" dos pobres e pregador das vantagens de se ser pobrezinho mas limpinho dizia: "um lugar para cada pessoa é cada pessoa no seu lugar". Não foi por acaso que Portugal em 74 tinha uma taxa de analfabetismo gigantesca e as pessoas não concorriam às universidades, inscreviam-se. Quem é que lá chegava? Os ricos, privilegiados, educados ou um pobre que com um rasgo de muita sorte é uma série de coisas que correram bem conseguia chegar ao topo. A verdade, por mais que digamos mal de Portugal é que conseguimos de 74 até hoje democratizar o ensino. Só não houve necessidade de cotas porque somos uma maioria branca. Ainda estes dias discutia isso com um amigo aqui em Itália. Somos uns privilegiados porque somos brancos. De boca fechada ninguém sabe que não somos italianos. Sim, é assim que está Itália, a transformar-se rapidamente num ninho de apoiantes da extrema-direita. E Salvini ainda há pouco chegou à Ministro. esperem para ver.

E depois, quando todas as previsões e sondagens insistiam em dar a vitória a Bolsonaro, eu insistia em não acreditar. Eu tive esperança até ao fim tal era o clima de mudança é manifestações tão bonitas. A esperança é teimosa. Achei possível uma viragem. A democracia vencer contra o ódio e contra a violência.

Flores e livros. Que melhores símbolos podiam representar um candidato? Apesar de nunca ter gostado do Lula, num ter sido sua apoiante, e nunca ter votado num partido com a ideologia é tão à esquerda como o PT, teria votado em Haddad de olhos e coração bem abertos.

E na hora da derrota, o discurso de conforto e sem confronto.um discurso de abraço e de comunhão. Um discurso tão bonito, de improviso, emocionante, sentido. "Não tenham medo". E como li há pouco, no livro do João Guimarães Rosa "Grande sertão veredas", que tanto queria e me foi dado sem eu esperar e pelo qual me tinha apaixonado por causa de Diadorim na voz de Maria Bethânia: "o correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem".

Hoje, sábado, já depois de saber que Sergio Moro aceitou ser Ministro da Justiça e da Segurança Pública torna tudo mais triste. Afinal, Sergio Moro acaba de desmentir tudo o que disse de nunca aceitar nenhum cargo político. De facto, o ego é uma merda. E Sergio Moro acaba de transformar Lula num mártir e de legitimar a tese do PT de perseguição política. Mais, se houvesse algum resto de respeito por Moro acabaria quando aceita o convite de uma pessoa tão anti-estado de direito. O eleito governador do Rio de Janeiro, um magistrado associado com seitas religiosas defende a "matança d bandidos" com tiros certeiros na cabeça por snipers. É nesta guerra que o Brasil se transformou. 

Mas depois oiço a música de Caetano Veloso, que considero adequada para este momento, e que ganhou a melhor versão que ouvi até hoje acompanhada apenas pelo piano e cantada pela Adriana Calcanhotto (que infelizmente retirou do repertório de "a mulher do pau Brasil" mas que eu tenho a esperança infinita que seja reposta), talvez de resistência em democracia, sem violência e sem ódio: "Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar/ Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar/ onde a gente é a natureza feliz vivam sempre em comunhão/ E a tigresa possa mais do que o leão".

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

"Eu vejo o futuro repetir o passado"


Ressacada do resultado das eleições democráticas no Brasil com Bolsonaro quase a não precisar de uma segunda volta, sinto-me como os versos de Caetano: "Estou triste, tão triste/ Por que será que existe o que quer que seja... sinto o meu prato vazio e ainda assim farto". E para piorar, Bolsonaro teve 59% dos votos dos brasileiros em Portugal. Apetece dizer, no calor da coisa, mudem-se para esse país que vocês idealizam porque vocês devem merecer. Depois recupero alguma lucidez e penso que o Brasil perdeu uma tão boa oportunidade de eleger um homem bem preparado tecnicamente, com ideias, com um programa bem explicado, que fez uma campanha informada e que já foi ministro e governador do Ceará, Ciro Gomes. Mas pelos visto, desta vez, parece que o que os brasileiros queriam era uma guerra ou um combate à dois. Avaliação de forças.  Como se justifica esta dicotomia Bolsonaro vs Haddad? 


Nunca simpatizei com Lula da Silva. Já escrevi muito sobre isso. Mas não há como negar que o primeiro governo de Lula tirou muita gente da miséria. E muitos, pela primeira vez na vida, puderam sonhar. No entanto, quando em 2015 estive em São Paulo, pude constatar que era uma cidade de extremos. Uma cidade com a maior favela da América Latina com restaurantes com preços mais altos que NY. Hotéis 5 estrelas que tinham tantos empregados como hóspedes, pessoas cujo trabalho era abrir a porta e dizer: "cuidado com o degrau". Apartamentos em pleno século XXI ainda construídos com separação entre patrões e funcionários. Mulheres mestiças e negras a quererem parecer brancas e alisar os cabelos e a pintá-los de loiro. Médicos  e cientistas que não dominavam a língua inglesa. Brasileiros de classe média a invadir as lojas em Miami e NY.



O maior erro do PT foi manter-se refém de Lula da Silva. E não ter querido ouvir os protestos de um país. Concordo que Haddad é um bom candidato. Bem preparado. Foi um grande Prefeito da cidade Pde São Paulo com ideias progressistas como diminuição da velocidade e fecho de ruas ao trânsito e implementação de outros meios de transporte como a bicicleta. É unânime que foi também um bom Ministro da Educação. Tinha tudo para ter um bom resultado. No entanto, o PT preferiu não fazer o mea culpa e achar que tudo no Lava Jato foi uma "armação". E como todos os mártires, Lula decidiu ir até ao fim e medir forças com a justiça. Acabaram a perder todos. Haddad que foi a segunda escolha e quase não fez campanha como principal candidato. Perdeu o PT porque quando se assume culpas ganha-se o respeito dos seus eleitores e perdeu o Brasil que poderia não estar agora a um passo do abismo. Poderemos sim, para sempre, culpar o PT por este erro estratégico.



Obviamente que Bolsonaro,um péssimo candidato, péssimo político que viveu os últimos 27 anos na e da política e tão pouco contribuiu para ela, sendo ignorante, racista, sem ideias, sem planos, sem projecto de governo, homofónico, xenófobo, misógino, defensor da violência, primário na resolução dos problemas, só podemos concluir que o resultado obtido é um voto de protesto. Os brasileiros estão fartos.
Pobreza, desemprego, desigualdade, violência, falta de oportunidades. É disto que os brasileiros mais se queixam.



Foi assim que Hitler chegou ao poder. E é assim que chegam ao poder (quase) todos os ditadores. Como alguém disse os democratas deviam ter-se unido na primeira volta para derrotar o fascista Bolsonaro. Infelizmente, o meu optimismo não abunda, e acredito que milagres só Deus e os santos. 



Mas o mais revoltante é ver que 59% do emigrantes brasileiros que vivem em Portugal (e não, não são só ricos e milionários) votaram em Bolsonaro! Como é possível os alvos de Bolsonaro votarem a favor dele?! Perceber que São Paulo, a maior cidade do Brasil e mais cosmopolita elegeu novamente o palhaço Tiririca e Alexandre Frota, um ex-actor pornográfico, a quem um dia Bolsonaro disse ser a sua escolha para Ministro da Cultura. Como Cazuza cantou há 30 anos e é tão actual: "eu vejo o presente repetir o passado".Agora, com 20% de vantagem sobre Haddad, Bolsonaro só precisa de continuar igual a si mesmo. E a mim resta-me tentar convencer os meus amigos brasileiros que votaram em Bolsonaro ou Ciro a mudar o voto. Porque apesar dos muitos tiros nos pés de Haddad, como continuar sob a batuta de Lula (o que foi aquela visita a Lula no dia seguinte às eleições? Precisa da autorização do mestre?). Mas mesmo assim, confirmo convictamente que nunca votaria num candidato de extrema-direita, apoiante da ditadura, defensor da tortura e da violência, tecnicamente ignorante, misógino, racista, xenófobo, homofónico. Por isso, a solução é o mal menor. Esqueçam os pecados do PT, votem de olhos fechados, votem no mal menor como um dia Paulo Portas se referiu ao apoio de Cavaco Silva na primeira candidatura à Presidência da República. Não consigo imaginar um Brasil regredir em pleno século XXI.Que país é esse?

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

#elenão


No dia em muitas das cidades do Brasil, e incluíndo outras como Lisboa, vão manifestar-se contra Bolsonaro eu também digo: “ele não”. Bolsonaro é o exemplo de que pode sempre existir pior. Está na hora de a sociedade brasileira perceber que Bolsonaro à frente dos destinos do Brasil será uma desgraça. E não confiemos no absurdo da possibilidade. Arrisco-me a dizer que Bolsonaro é ainda pior do que Trump. Bolsonaro, o homem que fala abertamente e sem vergonha em resolver a violência matando; que deseja a morte de adversários políticos; que tem como ídolo um torturador; que nega a existência de ditadura; que insulta mulheres, que ameaça bater-lhes; que é apologista da tortura, que incita ao uso de armas, que se mostra publicamente a fingir empunhar uma arma; que apesar de viver num país de extremos económicos não aceita como solucão a reformulação dos privilégios dos políticos; que acha que ter uma filha é uma fraqueza, que se vangloria de só ter filhos homens; que não acredita na educação como mudança de uma sociedade; que acha melhor ter um filho drogado do que um filho gay, que acredita na cura gay; que enriqueceu com a política e que todos os filhos vivem da política; e por aí vai.

Um homem sem qualidades. Um político sem ideias, sem plano, sem estratégia. Um político que é o pior que a política pode ter como exemplo: um homem sem preparação alguma, sem qualidade técnica, sem empatia. Um homem que vive da descrença de um povo e de sound bytes. Um homem que nem falar sabe.

Hoje e até ao dia das eleições no Brasil é importantíssimo que os grandes exemplos não fiquem calados e usem a sua importância como “influenciadores” de opiniões e também digam “ele não”!   

Como estou fora de Portugal só  acompanho as notícias pelas redes sociais e o que me contam. Soube há poucos dias, com o sentimento que a humanidade de facto falhou, que juizes do Porto consideraram consentida a violação de uma mulher inconsciente. Para além  de repugnar a decisão destas pessoas supostamente acima de qualquer suspeita e superiormente educadas, o que leva seres humanos, seres bípedes com suposta inteligência violar uma pessoa inconsciente? Que prazer há nesse cenário mórbido? Uma pessoa inconsciente, que não responde a estímulos ser abusada por duas pessoas? Estes pseudo humanos não têm mães, irmãs, filhas, mulheres que respeitam e de quem gostem?  Que sentido faz isto? Isto não se passou no Brasil ou na Índia aconteceu em Portugal em pleno século XXI. Mostremos a nossa indignação. Falemos, ensinemos, gritemos que tudo se baseia em consentimento e respeito. Nem os animais irracionais são capazes de tal aproveitamento.,


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