Íris, cor de mel,
mostravam muito bem o que ela sabia fazer, fotografar. A verdadeira definição
de amador, aquele que ama o que faz. A câmara parece gigante quando comparada
com o seu corpo franzino e de baixa estatura. O desequilíbrio de tamanhos. Mas
a postura de um gigante. Olhar os outros através da lente. Captar o que os
olhos comuns não vêem. Gosta de conhecer gente interessante. E foi por causa de
uma pessoa, mais do que interessante, que se conheceram. Foi paixão à primeira
vista. Começou por ser um amor vivido em silêncio. A forma como amava não era
explicável por palavras. Talvez para além delas. A razão de muitas insónias. “Eu sou o sol da
sua noite em claro”. E a razão de contar estrelas enquanto o dia nascia. Mas
tinha todo o tempo do mundo. Esperaria o tempo que fosse preciso. Sem pressas. Muitos
sinais. Muito óbvios. Esperava que parasse de fingir que não reparava. Como a canção: “Meu bem, qualquer instante
que eu fico sem te ver aumenta a saudade que eu sinto
de você”.
Passaram algum tempo
a trocar mensagens. Estava numa fase complicada. Frases curtas e sucintas, como
a vida. Respostas por dar, perguntas sem resposta, quase nenhuns pormenores
dela. Como um saca-rolhas a quem é difícil resgatar qualquer informação que não
queria dar. Tudo muito devagar. Tudo com muita calma. O martírio da sedução. A
barreira intransponível dos muros. A carapaça dos bivalves e tartarugas com que
se protege. Difícil. Resolvia tudo com “não quero falar sobre isso”. Tudo eram
longas histórias. Incontáveis. Difíceis de contar. Com algumas insinuações e
sinais contava (tudo) o que viveu. Mas conversar não era o seu forte. Tinha um dedo podre para amizades.
Fazia-lhe falta alguém que a abraçasse sem pedir nada em troca. Estava farta de
parasitismo e que lhe sugassem as energias. Acabava sempre enganada, como
(quase) todas as mulheres, em alguma altura. Não tinha objectivos, alvos ou
metas. Respondia ao momento segundo o que lhe davam. Viver ao sabor do vento,
esse era o seu mote. Contou-me que tem muita mágoa no coração e que tem dado
muito amor. Que teve muito prazer mas também muita dor. E que os momentos de
felicidade se transformaram em sofrimento.
Como se explica? Não
foi um arranjo de família. Não foi interesse. Por isso, a resposta mais
sensata: foi o amor. Com muita perseverança e muita luta, sem perder a
esperança, mesmo quando esta parecia não ser nenhuma. Uma mulher de muita
coragem. A coragem nunca desvaneceu. Espera que a ouçam chorar. Olhar-lhe nos
olhos e sentir reciprocidade é tudo o que mais quer.
Acredita que não corre perigo e que tudo vai mudar. Porque não há mal que
dure sempre nem bem que nunca acabe. “Vem vambora/ Que o que você demora/ É o que o tempo leva”.
E foi assim que eu vi que a vida
Colocou ela pra mim
Ali naquela terça-feira
De setembro
Por isso eu sei de cada luz de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro
Colocou ela pra mim
Ali naquela terça-feira
De setembro
Por isso eu sei de cada luz de cada cor de cor
Pode me perguntar de cada coisa
Que eu me lembro
(...)
Ela me achou muito engraçada
Ela falou, falou e eu fingi que ri
A blusa dela tava do lado errado/ toda amassada
Ela adorou o jeito que eu me vesti
Ela falou, falou e eu fingi que ri
A blusa dela tava do lado errado/ toda amassada
Ela adorou o jeito que eu me vesti
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