quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Retalhos da vida de uma tia babada

Fim de dia. Cansaço. Leve dor de cabeça. Paciência quase nenhuma. Sono, muito. Há muitos dias que durmo mal. Tenho sono quando não devo. E quando devia dormir, leio. Só imagino uma cama, ao longe. Dia de jantar com os sobrinhos. Toco a campainha e ouço a voz que quero ouvir: “Quem é?- a pergunta de sempre. Com a resposta previsível e sem engano: “Sou eu”. Quando querem brincar ainda acrescentam: “ Eu, quem?”. Subo de elevador e antes da porta se abrir já ouço o ladrar da Bu. Quem me abre a porta é o meu afilhado. E dá-me um abraço com toda a força que tem. Segue-se o abraço e os beijos do sobrinho mais velho. Este, como sempre, nas suas actividades criativas que envolvem pintura, desenhos e criações. Agora, sobretudo, bandeiras de Portugal, dinossauros, baleias e tubarões. O afilhado está fechado num quarto cuja porta está forrada de recados, desde horários de atendimento, conselhos e profissões. Hoje a ordem é para que ninguém entre. O sinal proibido. Depois seguem-se as instruções. Ao mesmo tempo que as leio a minha mãe diz-me ao longe que só se pode entrar com autorização dele seguindo as instruções. São elas: bater 3 vezes e tocar o sino. Estou demasiado cansada para desempenhar um papel. Mas o que eu não faço por eles?. Procuro o sino. Está ao lado da porta [é um sino pequenino, comprado pelos meus pais em Washington no tempo em que os pequenos tinham paranóia por sinos. Quando me lembro não consigo não rir. O mais pequeno ainda não falava nem andava e por influência do mais velho dizia: “Tão, Tão, Tão, Ti, Tão”. Existem vídeos de morrer a rir]. Faço o que os meus olhos lêem. Bato à porta, toco o sino e espero. O mais velho vem a correr e diz que aquele é o sino dele. E eu, já preocupada com o tempo que a demonstração teatral vai demorar, peço-lhe que me empreste o sino, que é só para entrar. Depois de alguma negociação, consigo que seja ele próprio a tocar o sino (enquanto o leva) mas a tempo do mais novo ouvir. O afilhado abre a porta e pergunta “O que deseja?” e eu “Entregar-lhe o presente que trouxe de Lisboa, espero que goste”. Saio e fecho a porta. Vou à sala e entrego ao mais velho o que ele me tinha pedido: uma miniatura da Torre de Belém. Abriu e felizmente disse: “Titi, era mesmo isto que eu que queria, acertaste”, entre beijos e abraços. Ao longe ouço o afilhado dizer à avó que não gostou nada do que eu lhe dei. Vou em direcção à conversa e diz-me: “Não gostei nada! Não era nada disto que eu queria (uma caneca de Lisboa com eléctricos, Torre de Belém, guitarras,...). Ao que respondo: “Desculpa afilhado mas é o que acontece quando não se diz o que se quer. E vais dar-lhe uso para beberes o leite.” Não convencido com a explicação argumenta: “O que eu queria mesmo era o equipamento do Benfica!”. Todos os que nos rodeiam sabem que isso será o presente do Natal... Este episódio faz-me lembrar outro, protagonizado pelo pai deles que quando era pequeno respondeu à madrinha dele: “Não gostei nada! Livros não são prendas!”. Quem sai aos seus não degenera  (é de Genebra)...

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