Ego em demasia deve ser
dos piores defeitos que se pode ter. Tal como, paciência, é uma das melhores
virtudes que se deve ter. Os egocêntricos não sabem que o são, na sua maioria. E tendem a achar que até são
modestos. Mas, o auto-elogio fica mal. É feio. É saloio. Há coisa (muito)
melhor do que ser elogiado pelos outros? Os egocêntricos são muito vaidosos, superiormente vaidosos. No fundo,
são uns deslumbrados. Nunca pedem
desculpa porque nunca erram. Ou se erram, não admitem. São
incapazes de admitir erros, a coisa mais humana de todas. Pessoas que se acham.
Homens que até são bonitos mas na sua crença acham-se a última coca-cola do
deserto. Pessoas que são banais mas acham-se Deus. Pessoas medianas mas que
acham que são o Einstein. Pessoas que até lêem mas... Pedro Chagas Freitas e
Margarida Rebelo Pinto. Pessoas que acham que a literatura brasileira é Paulo
Coelho. Pessoas que não conhecem Clarice Lispector, nem Annie Leibovitz.
Pessoas que se acham mas não sabem quem foi João XXI nem que António Gedeão era
um pseudónimo. Que não sabem que Torga era médico nem que José Afonso morreu de
esclerose lateral amiotrófica. Cientistas que não sabem as razões pelas quais Marie
Curie recebeu os prémios Nobel de Química e Física. Nem que a angiografia não
foi o motivo de Egas Moniz ser galardoado com o Nobel de Medicina. Como dizia
Abel Salazar: “um médico que só sabe de Medicina nem de Medicina sabe”.
Cientistas que nunca leram a biografia de Henrietta Lacks, nem a origem do nome
HeLa, com as quais trabalham todos os dias. Psiquiatras que não sabem que quem
descobriu o lítio foi um português. Doutorados que não sabem escrever, sem dar
erros, na sua língua nativa. Com o passar dos anos fico boquiaberta com a
quantidade de exponencial de pessoas desinteressantes que conheço. Nunca
conheci tanta gente limitada cultural e intelectualmente. O Cruzeiro Seixas, um
grande artista plástico surrealista, de 95 anos, vivo, dizia estes dias que
tinha ido a um jantar “em que estavam
pessoas muito simpáticas, imensa gente, a comida era muito boa, tudo muito bom,
e não havia ninguém que falasse de um livro, de um quadro, do futuro a um nível
superior. As pessoas contam as suas histórias pequeninas, do dia-a-dia, e nisso
se completam, não tem mais ânsia do que essa”. Gente com quem não é possível conversar sobre nada.
Gente que não se sabe rir de si própria. Gente sem humor. E quando não é possível rir, o que resta? Respirar?
Claro que existe o outro lado. Tendemos, nesta sociedade de parecer mais do
que ser, a sobrevalorizar em demasia a inteligência (desculpem-me o
pleonasmo). Existem tantas pessoas (superiormente) inteligentes mas
profundamente estúpidas e incapazes de compreender coisas tão
(insignificantemente) elementares, com uma falta de talento inato para as
emoções, para a vida, para a bondade, entre outras.
Como acredito no humor (quase acima) de todas as coisas e
tento a cada dia, mais e mais não levar-me a sério, fica a reflexão. Cada um de
nós, mais ou menos importantes, com mais ou menos pessoas dependentes no mundo,
somos uma peça da engrenagem, não a máquina. Não somos autosuficientes nem
podemos viver isolados. Se não houver os outros, nós não existimos.
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