Eu sabia que queria viver em NY. Não sabia como isso
aconteceria. Queria, não sabia se um dia isso iria concretizar-se. Era como uma
imagem distante e nublada, quase inatíngível que povoava o meu consciente. Achava que não
passaria de um sonho ou desejo irrealizável. Aquele tipo de pensamento que só
acontece nos filmes. Tal como desde sempre achei que não me formaria, quanto
mais acabar um doutoramento... Ainda hoje, quase toda a gente sabe, acordo a
pensar que ainda não consegui acabar o curso.
A minha primeira impressão da cidade não foi aquela
coisa turística de desmaiar porque a cidade era linda. É isso para mim, agora,
e muito mais. Quando fui pela primeira vez a NY, como turista, quando pisei
pela primeira vez Times Square foi qualquer coisa transcendente. E só não foi
mais porque já havia estado em Shanghai e o impacto desvanesceu-se.
Joan Didion
escreveu que NY é uma cidade “for only the very rich and the very poor”. Concordo.
E NY é uma cidade para quando se é jovem, livre e sem falta de dinheiro. Se não
houver a conjugação destas 3 permissas, NY perderá a graça, com toda a certeza.
NY antes de Giuliani era uma cidade com uma elevada taxa
de homicídios, o que obrigava a saber gerir o risco e o medo, sobretudo quando
se viajava no metro. Bem diferente dos dias de hoje. Nunca me senti insegura em
NY, nem mesmo quando saía do lab de madrugada. O barulho que nunca pára, é
agravado muitas vezes, demasiadas vezes,
pelo alarme estridente de ambulâncias e carros de polícia da cidade que
nunca dorme.
Outra coisa que
se aprende em NY é: “If you live in New York, even if you’re catholic you’re
Jewish”.
Nunca vi cidade no mundo com gente tão bizarra que
grita e fala alto para si própria e que muita gente nos adverte para evitar o
contacto visual.
Sabem aquelas cidades, vilas, aldeias, com aquelas
pracinhas? Eu sou o contrário disso. Aquilo que a maioria das pessoas bucólicas
acha uma paz, uma calma, um sonho. Eu
até posso achar bonito, mas se tivesse nascido num lugar assim, teria ido
embora no máximo com 3 anos de idade...
Joan Didion escreveu também que em NY “Nobody watches,
everyone performs”. NY fica-nos para sempre. Como tantos outros, eu viverei
para sempre em NY.
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