segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nova Iorque como escolha

Ao contrário do Lobo Antunes, que escreveu um dia sobre a sua ida para NY foi convidado pelo seu mestre Melvin D. Yahr que lhe disse: “Come with me to New York” e João Lobo Antunes, “tal como os apóstolos, quando ouviram o chamamento, deixou tudo e segui-o”. Eu não fui para NY com um convite. Eu sempre quis viver em NY, ter essa experiência de viver noutro mundo. Na cidade em que tudo é possível. Ao contrário da maioria das pessoas, que escolhem a cidade para onde vão trabalhar baseado na qualidade do laboratório/orientador, eu escolhi a cidade. Obviamente, que conhecia a tão afamada Columbia University mas não foi isso que me moveu. Esse foi apenas o caminho mais fácil para viver em NY. Sempre quis provar para mim mesma a tal da lenda da música: “ If I can make it there, I'll make it anywhere”.

Eu sabia que queria viver em NY. Não sabia como isso aconteceria. Queria, não sabia se um dia isso iria concretizar-se. Era como uma imagem distante e nublada, quase inatíngível que  povoava o meu consciente. Achava que não passaria de um sonho ou desejo irrealizável. Aquele tipo de pensamento que só acontece nos filmes. Tal como desde sempre achei que não me formaria, quanto mais acabar um doutoramento... Ainda hoje, quase toda a gente sabe, acordo a pensar que ainda não consegui acabar o curso.

A minha primeira impressão da cidade não foi aquela coisa turística de desmaiar porque a cidade era linda. É isso para mim, agora, e muito mais. Quando fui pela primeira vez a NY, como turista, quando pisei pela primeira vez Times Square foi qualquer coisa transcendente. E só não foi mais porque já havia estado em Shanghai e o impacto desvanesceu-se.

Joan Didion escreveu que NY é uma cidade “for only the very rich and the very poor”. Concordo. E NY é uma cidade para quando se é jovem, livre e sem falta de dinheiro. Se não houver a conjugação destas 3 permissas, NY perderá a graça, com toda a certeza.

NY antes de Giuliani era uma cidade com uma elevada taxa de homicídios, o que obrigava a saber gerir o risco e o medo, sobretudo quando se viajava no metro. Bem diferente dos dias de hoje. Nunca me senti insegura em NY, nem mesmo quando saía do lab de madrugada. O barulho que nunca pára, é agravado muitas vezes, demasiadas vezes,  pelo alarme estridente de ambulâncias e carros de polícia da cidade que nunca dorme.

Outra coisa que se aprende em NY é: “If you live in New York, even if you’re catholic you’re Jewish”.
Nunca vi cidade no mundo com gente tão bizarra que grita e fala alto para si própria e que muita gente nos adverte para evitar o contacto visual.

Sabem aquelas cidades, vilas, aldeias, com aquelas pracinhas? Eu sou o contrário disso. Aquilo que a maioria das pessoas bucólicas acha uma paz, uma calma, um sonho.  Eu até posso achar bonito, mas se tivesse nascido num lugar assim, teria ido embora no máximo com 3 anos de idade...

Joan Didion escreveu também que em NY “Nobody watches, everyone performs”. NY fica-nos para sempre. Como tantos outros, eu viverei para sempre em NY.











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