Eu
acompanhei e estive na campanha para as eleições americanas em 2008 que
elegeram Barack Obama como o primeiro presidente afroamericano
(afrodescendente, preto, negro, como lhe queiram chamar). Vi o concerto com a
G. que Bruce Springsteen fez de surpresa em Philly de apoio a Obama. Fez há
pouco exactamente 8 anos. Nesse ano os democratas escolheram Obama em vez de
Hillary por uma unha negra.
Adriana
Calcanhotto, que é nora de Vinícius de Moraes, conta a história que Obama
descreve na sua autobiografia sobre quando a sua mãe viu o filme “Orfeu” de
Marcel Camus baseado no Orfeu da Conceição de Vinícius. Nos anos 50, a mãe de
Obama, uma caucasiana da classe média americana percebeu as possibilidades
daquele filme. E, também influenciada pelo filme, ela, uma mulher branca,
apaixonou-se por um homem negro do Quénia (muito parecidos com o actor que vive
o protagonista no filme). E desse amor improvável, na América conservadora e
racista dos anos 50, em que os negros não tinham os mesmos direitos que os brancos,
nasceu aquele que viria a ser o primeiro presidente americano mulato da
História.
Eu desde
sempre sou uma apoiante de Hillary. Li todas as biografias dela. Sei a força
daquela mulher. A vida académica dela desde o famoso Wellesley College até Yale.
Foi uma bem sucedida jurista em Washington na comissão do impeachment do Nixon. Soube o sabor da derrota
quando reprovou no exame à ordem para exercer advocacia em NY. Mudou-se para o
cu de Judas do Arkansas, a América profunda para ser o suporte do marido como
governador desse estado. Foi uma das mais bem sucedidas advogadas da sua
geração. Todas as biografias são unânimes em considerá-la uma grande
profissional e todas destacam que era muito mais bem sucedida economicamente do
que o marido. O resto, já toda a gente sabe. Tornou-se Primeira-Dama. Passou o
inferno que se conhece pelo marido. Foi secretária de Estado de Obama e
ultimamente Senadora pelo estado de NY.
Podia
escrever imenso sobre o que me leva a apoiá-la. Mas neste momento, estou mesmo
preocupada e apreensiva sobre a possibilidade de Trump ganhar. Ainda não estou
refeita da surpresa do BREXIT.
E a possibilidade de Trump ganhar inquieta-me. Manter os Estados Unidos como a
terra de todas as possibilidades, da liberdade é crucial para a paz no mundo.
Uma mulher presidente que não descrimine nenhuma raça, a comunidade LGBT e
especialmente as mulheres, como ela. Uma mulher que não quer nem apoia a
construção de um muro. Uma mulher que não é uma palhaça nem diz barbaridades do
nível do seu opositor. Só não percebo como Donald Trump chegou até aqui. Essa
sim, deveria ser a maior das reflexões a partir de amanhã.
Tenho um
autocolante no meu computador “I’m ready for Hillary” que me deram no
Pride de NY. E outro que me deram umas meninas que vendiam laranjada à porta do
meu prédio de NY em apoio a Hillary.
Daqui a
uma horas só quero ler: “Hillary won. Hillary is the next President of United States”.
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