Florença, 9 de Dezembro 2018
Venho pela primeira vez a Florença para
ver a exposição da Marina Abramovic "The cleaner". Para além disso,
apesar de todas as maravilhas que me disseram sobre a cidade, dos monumentos,
da história, da paisagem, da atmosfera, da comida, dos vinhos, da arte,
Florença nunca esteve entre as cidades italianas que tinha mais interesse em conhecer. Como já disse alguém, vim (apenas) para ver e andar por aí. (Mas)
ledo engano! E fiquei fascinada pela cidade, pelo ritmo, pelas decorações de Natal, pela proibição de carros em muitas ruas do centro histórico, pelo vinho, pela comida, pela quantidade de pessoas que andam de bicicleta, pela conservação dos edifícios, pela limpeza (comparativamente com outras cidades italianas).
Saí de Genova
às 18:52 no comboio Frecciabianca. Os bilhetes, comprados com a devida
antecedência, numa modalidade Super economy (que não permite mudanças nem
reembolsos), vale muito a pena, principalmente , em primeira classe. A viagem
foi directa de Genova à estação de Campo de Marte em Florenca. Teria, depois
que mudar para um comboio regional que me levasse à estação de Santa Maria
Novella, mais no centro da cidade e onde o meu hotel ficava. A viagem correu
muito bem. A carruagem quase vazia, que é o que se pretende quando se escolhe a
primeira classe. Dormi parte do caminho, o que é uma raridade. O comboio saiu a
horas, em direcção a Roma. Tudo a parecer perfeito. Já estávamos na primeira estação de Florenca quando percebemos que algo se passava. Uma avaria qualquer numa das
linhas que nos deixou parados mais de 50 minutos. O que fazer a não ser
esperar? Após quase uma hora, o comboio lá retomou o trajecto e cheguei à
estação de Campo de Marte. Quase ninguém. Passava das 11 da noite. Todos
os comboios atrasados. Saí em direcção à entrada da estação e nenhum táxi
disponível. Chamei um táxi com uma aplicação que uso em Genova e em
aproximadamente 5 minutos tinha um táxi. Chovia. Cheguei ao hotel rapidamente,
já que a distância não chegava aos 5 km. Paguei 20 euros. Fiquei no hotel
Diplomat da cadeia C-hotels. Escolhi este hotel pela localização, mesmo ao lado
da estação de S. Maria Novella, e porque gostei do preço, do estilo minimalista
do hotel e dos comentários. Só não vou dar 5 estrelas porque o funcionário da
recepção não foi a simpatia em pessoa. De resto, o hotel foi aquilo que prometia.
O quarto não era muito grande mas tinha uma cama de casal, uma vista agradável,
com um chuveiro bom. Nada a reclamar.
Acordei antes
das 7 da manhã, ainda vi o o sol nascer. Voltei para a cama porque
ninguém merece madrugar ao fim de semana, mesmo quando Florença nos chama lá
fora. Acordei a tempo de tomar o pequeno-almoço e voltei para a cama. Por
volta das 11 saí e não quis saber dos conselhos, das dicas, do Lonely planet,
dos mapas... Saí para ver, apenas. Fui em direcção ao rio Arno, sem saber. Exactamente
na Ponte antes da Ponte Vecchio. Estava um dia lindo. Céu azul. Temperatura
amena. Caminhei ao longo do Arno, passei junto ao Museu Galileo, mas não
entrei. Tirei a foto da praxe com a Ponte Vecchio ao fundo. Não passei pela
ponte. Demasiada gente, demasiada confusão. No Uffizi está patente uma
exposição do Leonardo da Vinci sobre um dos códigos. Debaixo
dos claustros, os emigrantes de leste fingem que são pintores. Deixei-me enganar em Roma, não serei enganada mais. Vi as estátuas dos grandes: Dante, Leonardo,
Michelangelo. [Aprendi com o meu colega de gabinete, de nome Pietro, nascido em
Florença, a quem também chamam Ulisses, com cabelo e um longa barba ruiva, que
em Florença referem-se a Leonardo Da Vinci como Leonardo e não Da Vinci]. Foi
aqui que comecei a achar Florença mais do que esperava. Na Piazza della Signoria é de
ficar de boca aberta com as reproduções de David, Hércules, Porseus e Neptuno
(que está a ser reconstruído). Sento-me no chão apenas a olhar. E reconheço que
preciso rapidamente de um dicionário de personagens mitológicas gregas.
Esqueço-me do tempo. Daqui sigo para a casa de Dante. E depois sigo as ruas até
ao Duomo. Não porque queria ver o Duomo mas porque queria ver a famosa cúpula. E especificamente queria ver a cúpula desde a Caffetaria delle Oblate situada na Bilioteca com o mesmo nome. Quando
chego perto do Duomo e vejo aquela maravilha e o tamanho daquela obra de arte,
rendo-me. Que obra explêndida. Não consigo fechar a boca tal é a minha
surpresa. Não houve nenhum livro, foto, descrição, publicidade que descrevessem
o que o Duomo é na realidade. Só vendo ali. Não há como a duas dimensões reproduzir
a magnitude e a beleza de tão maravilhoso monumento. Ainda continuo em choque.
Foi das coisas mais bonitas que vi na vida. Mesmo. E daqui sigo para a tal cafetaria
que tem uma das vistas mais bonitas do Duomo, ou pelo menos, da mundialmente
conhecida cúpula do Duomo de Florença. Não são mais do que 5 minutos a pé. Mas
o que descubro? Dia 8 de Dezembro, feriado. Não só está fechado nos feriados
como aos domingos. Voltarei. Mas como a desilusão é grande, não como desde o
pequeno almoço e já passa das 4 da tarde, entro no primeiro restaurante que
vejo. Espreito pela janela. Tem umas bonitas toalhas de pano aos quadrados
brancos e vermelhos e umas peças de carne que darão origem ao famoso bistecca alla fiorentina. São 200 a 400
g de carne. Teria que estar faminta para conseguir comer essa quantidade, e
mesmo assim, duvido. Não sei o que me fez entrar. Mas pareceu-me agradável,
aconchegante, com uma luz discreta (como a Blanche Dubois gostaria). A essa
hora ainda havia gente a almoçar e quem me atendeu foi muito simpático e
prestável. Vi várias garrafas em cima do balcão e pedi opinião sobre qual
deveria optar. Decidi-me por um Chianti, seguindo a sugestão. Depois pedi
uma bruschetta que estava maravilhosa de tão simples. Não estava esfomeada, o
que melhora a qualidade da apreciação. Eram três fatias de pão (com uns 3 cm)
sem sal (como é típico em Florença), com quadrados pequenos de tomate com sal e
azeite. Só isto, simplesmente. Acho que o segredo era a qualidade dos produtos.
E pedi, também, uma tábua de queijos que veio acompanhada de uma compota de
alperce e mel. Na maioria das cidades turísticas, entrar num restaurante assim
às cegas, sem uma recomendação, pode revelar-se uma péssima experiência. Não
foi o caso. Este restaurante de nome “Lo scudo”, mesmo junto ao Duomo, foi uma
escolha muito acertada.
Depois, andei
pelas ruas a ver e a entrar nas lojas. As ruas estavam repletas de gente e
muito bem decoradas com enfeites e luzes de Natal. Gostei especialmente de uma
loja Legami (www.legami.it) que é semelhante à Tiger mas ainda melhor, para pessoas
viciadas como eu em esferográficas, cadernos, lápis, borrachas... No fim do dia
fui tomar um aperitivo ao Eataly.