Este é um dos assuntos do dia há algumas semanas. Toda a
gente em Portugal, mesmo que não tenha frequentado uma universidade sabe o que
elas são. Todos os anos, por altura da entrada de caloiros em todas as
universidades é vê-los em manada atrás dos ditos “doutores” trajados.
Reconhecem-se facilmente porque estão sempre todos pintados, com indumentária
ridícula, atados ou com mais alguma coisa como chupetas. Dizem que agora as
praxes são melhores, ou seja, mais brandas. Quando entrei na universidade há 15
anos fui uma caloira rebelde. Lembro-me de as inscrições terem sido em final de
setembro e as praxes diárias duraram até ao baptismo. Os primeiros dias ainda
fui, muito a custo. Depois decidi dar o grito de ipiranga e dizer que bastava.
Lembro-me que a praxe foi tudo aquilo que dizem que não é praxe: muito
exercício físico, insultos aos calóiros, canções insultuosas, andar de quatro,
comer sem talheres... Mas de uma coisa lembro-me perfeitamente, quando quis
sair saí e ninguém me ameaçou. E lembro-me que tinham cuidado comigo por causa
da minha asma e que perguntavam sempre se tínhamos algum problema de saúde. Ao
longo dos anos fui sempre assistindo às praxes dentro da universidade, os
gritos grotescos, as corridas, os insultos... Há alguns anos a minha universidade
proibiu as praxes dentro dos edifícios. As aulas teóricas começaram a ser
obrigatórias. Os alunos passaram a ter que assinar, desconfio eu, também para
evitar as faltas em massa.
Corro o risco de ser injusta, mas a maioria das pessoas que
praxa, os ditos “doutores” (que muitos deles nunca virão a sê-lo de facto), são
os piores alunos, os mais faltosos, os que mais reprovam. E isto porquê? Quando
muita gente se queixa do ensino público em Portugal deveriam pesquisar em
quantas universidades do mundo: i) a propina anual para uma licenciatura não
ultrapassa os 1000 euros anuais, independentemente do número de anos que se
reprova; ii) onde as universidades públicas são as melhores comparativamente
com as privadas!
Sou contra proibirem-se as praxes. Normalmente este tipo de
proibições fazem-se em regimes totalitários e ditatoriais. Mas claro que sou a
favor da condenação social do que conhecemos por praxe. As figuras ridículas e
atitudes subalternas não são dignas de pessoas adultas que frequentam o ensino
universitário. Resta a quem é praxado dar-se ao respeito. E daqui a uns anos
falaremos... estas práticas menores passarão de moda e à história!
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