Já conhecia há anos A
vida Portuguesa da Rua Anchieta, no Chiado. A primeira vez que lá
entrei adorei o conceito e a forma como o a loja foi renovada. Tudo nela era
bom gosto. Nos mais pequenos detalhes. Os embrulhos eram de não os querer
rasgar. Tudo ao pormenor. Adorei os aventais das pessoas que lá trabalhavam.
Emocionei-me por, pela primeira vez ver após a destruição da belíssima fábrica
em Braga, os sabonetes Confiança. As lágrimas quase me vieram aos
olhos quando vi um motoqueiro com a sua mota de plástico e alumínio e o táxi
verde e preto. Comprei ambos para os sobrinhos. Os dois preferiram a mota...
eu, até hoje, como conseguiram não destrui-lo, prefiro o táxi.
Alguns anos depois, abriu A vida
Portuguesa no Intendente. Voltar aquela zona depois de muitos anos foi
uma surpresa. Falo disso com mais detalhe aqui. Nesta loja tudo é mais! Mais
coisas, mais cor, mais escolha, “mais grande” (como dizem as crianças quando
estão a aprender a falar), mais bonita... e por aí fora. Logo à entrada queria
comprar tudo. Não fosse eu ter apenas 2 braços, estar sozinha e a mais 300 kms
de casa... Apaixonei-me logo pelas cadeiras de jardim. Imaginei-me
imediatamente na varanda a ler. À
entrada, um móvel até ao tecto com tudo o que se possa imaginar do Bordalo Pinheiro. Passa-se à parte dos
sabonetes de várias marcas, cheiros, cores da Confiança à Ach Brito. O
que se segue é todos os utensílios de cozinha em madeira e alumínio (?). E os
azulejos e louças Viúva de Lamego. As
louças, copos, bebidas de marcas tradicionais, os chocolates Arcádia e Regina, não podiam faltar. O
recanto dos brinquedos foi o que mais memórias me trouxe. O pião, a corda, as
cartas, as sebentas, tambores, os fogões em miniatura, tanta coisa. A loja continua no
andar de cima. Tapetes, carpetes, atoalhados, cobertores de lã. Botas. Mochilas,
malas e pastas da Ideal &Co.
Não conheço loja mais bonita e surpreendente. Assim como, não lhe
consigo encontrar comparações. Nada se compara a esta loja. Poderia dizer que a
Antropologie tem qualquer coisa de A vida portuguesa. Mas não. Esta loja é
única. Tradição, portugalidade, detalhe, bom gosto e memórias são o que fazem, em partes diferentes, esta loja. Mais do que para turistas, esta loja é para
portugueses. Só os portugueses a conseguirão compreender. E como se não
bastasse, as pessoas que nos atendem são para lá de simpáticas. Lojas assim (já)
não se fazem!
E pensar que esta loja nasceu de uma single mind. A Catarina (Portas) nasceu com vários dons. Tanto
talento numa pessoa só. Ousou arriscar em plena crise. Venceu o cinzentismo e o
pessimismo geral e remou contra a maré. Bom gosto, empreendedorismo, tradição e
memória. Quatro palavras que parecem ser o segredo. Ainda por cima partilhamos
uma querida amiga: chef Luísa Fernandes (Robert
–NYC).
E como se não bastasse, a Catarina escreve bem que dói! Eu ainda
andava no secundário e os artigos dela já me prendiam. Há uns anos tinha o
projecto do António Variações em mãos... Não sei o que lhe aconteceu. Mas para
nosso mal, nós é que perdemos. A única coisa que lamento do sucesso d’A vida portuguesa e dos quiosques de
refresco é ter-se “perdido” uma brilhante escritora e jornalista. De resto,
desejo-lhe muito futuro! Go, Catarina go!
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