sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O dia que a Bu fugiu

Nunca imaginei um dia assim. Vivo por antecipação muitos dos dias da minha vida. Imagino cenários, antecipo situações, sofro por antecipação, sonho alegria e tristezas, imagino conversas, tento o simples tão difícil. Mas nunca imaginei que a Bu um dia fugisse. Era uma sexta à tarde e ligaram-me. Fiquei parada sem reacção. Não sabia o que fazer. Não sabia por onde começar. Liguei primeiro para uma amiga e para o meu irmão. Ficaram os dois como a noite. Liguei para um vizinho meu que tem duas cadelas para me aconselhar. A Bu fugiu porque é uma medricas. Estava a passear sem trela e ouviu um barulho grande e fugiu com o medo. Desorientou-se. A bem da verdade, ela nunca é orientada. O tempo que demorou a chegar a Braga foi uma eternidade. Preparei-me psicologicamente para que o pior tivesse acontecido ou fosse acontecer. O meu medo não era que a roubassem ou que se perdesse porque ela tem chip e uma placa com o nome dela é com o meu telemóvel. O meu receio é que fosse atropelada. Com uma rua cheia de trânsito à frente de casa nunca imaginei um bom cenário. Quando cheguei a casa comecei por procurar o Poeta e pedir-lhe que a procurasse e espalhar a notícia. Depois fui à pastelaria. Estava tudo em alerta. Depois fui procurá-la a pé a chamar pelo nome dela. Quando achei que a vi, avistei- a ao longe. Uma coisa pequena a andar junto ao rio. Comecei a gritar o nome dela. E ela imediatamente parou. Não correu, não andou, simplesmente parou. Rodava a cabeça sem sair do lugar. E quando cheguei ao pé dela ela não reagiu com a euforia e o barulho de sempre. A excitação era muita mas não se ouvia apenas se via. Desde esse dia que reparo que está muito mais atenta e que não foge. Desde esse dia que não mais a passeei sem trela.



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