quinta-feira, 25 de junho de 2015

A primeira impressão de São Paulo

Sempre quis conhecer o Brasil. Há muitos anos, pelos livros de Jorge Amado, uma cidade de Salvador da Bahia que já não deve existir. Mas os cheiros descritos nos livros dele, as paisagens, o calor, a humanidade dos personagens, a realidade, tudo me fazia querer conhecer essa cidade. O Lobo Antunes dizia que o Jorge Amado era muito melhor pessoa do que escritor. Como eu não conheci a pessoa só o posso avaliar como escritor. Pode não ser isso que a maioria e os cânones acham mas eu adoro-o. Acho que é o Hemingway da América Latina. Há anos que adio a viagem à cidade que eu mais quero conhecer: Rio de Janeiro.

Ontem, depois de dez horas de viagem e pela primeira vez ter dormido num avião, cheguei fresca como uma alface a São Paulo. Chegamos depois das 9 da noite. Sem filas e com a mala a chegar rapidamente. A primeira impressão do aeroporto foi a melhor. Um aeroporto de um país de primeiro mundo. Ao passar a alfândega entramos numa gigantesca loja que faz- nos lembrar o piso térreo da Macy's. Luzes, muitas luzes, perfumes, marcas, maquilhagem e muitas pessoas a dizerem-nós que podemos guardar as malas para ir às compras. Pois, sim! Mal saímos temos uma senhora com um cartaz "COLATEL". Depois aparece outra. Verifico em poucos minutos que muitas mulheres não caucasianas têm cabelos loiros oxigenados. Parecem a Nicky Minaj. Saímos do aeroporto e esperamos pela van que nos levaria ao hotel. Surpreendentemente, o caminho do aeroporto para o hotel é-nos familiar. Nada feio, favelas, estradas em más condições nem trânsito infernal. A surpresa é no número de vias na autoestrada. Em alguns trajectos tem duas em cada faixa, o máximo que vamos ver são cinco. Depois a surpresa de ver o número de camiões. Imensos. E depois o rio Pinheiros que nos acompanha do lado esquerdo. Sujo, feio, escuro. Não parece um rio, parece um canal. Um esgoto a céu aberto. E o mau cheiro acompanha o rio. Quando chegamos a Berrini/ Itaim/ Morumbi os prédios são bonitos, altos, muito altos, modernos, luminosos e com uma arquitectura bonita. Mas as paragens de autocarro e de comboio que se cruzam são assustadoras. Percebo que não há ninguém a andar a pé depois das 10 da noite. Os prédios são rodeados de altos gradeamentos e têm arame farpado. Chegamos ao hotel e o número de seguranças à entrada e de concierge é ridículo. Somos menos do que eles! Tudo é em número surpreendente. No balcão da recepção são uns dez. O hotel tem umas escadas rolantes que parece um shopping. Como sou a única que tenho duas malas (quase vazias para regressarem cheias de livros) um dos concierge acompanha-me. Espera pacientemente por mim enquanto faço o check in, entregar-me o livro que a Marina Lima teve a amabilidade de enviar, e faço todas as perguntas. Quando finalmente termino acompanha-me ao quarto e pergunta-nos como correu a viagem. Eu só penso na gorjeta que terei que lhe dar mas não tenho reais e tenho a esperança de ter cinco euros na carteira. Chegados ao quarto coloca a mala num banco que vai buscar propositadamente para aquilo. Mostra-me o quarto que tem vários compartimentos. E eu penso que é maior que a minha casa. Abro a carteira e percebo que a nota mais baixa é de 10 euros. Entre a vergonha de dizer-lhe que não tenho reais e não lhe dar nada, estendo-lhe os 10 euros. O senhor ficou radiante e até me disse: " pode me pedir tudo, menos dinheiro". E eu aproveito: "Então, isto é tão perigoso como dizem?". E ele: "Se forem os quatro durante o dia ali ao Shopping Morumbi não há problema. Mas só de dia. E se fizerem compras regressam de táxi". Pronto, percebi! Todos no hotel são de uma amabilidade que não vi em muitos lugares do mundo. Muito agradavelmente surpreendida. To be continued.



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