Passava pouco das 9 da
manhã quando ouvi na Antena 1 a notícia da morte de Paulo Cunha e Silva. Morreu,
subitamente, aos 53 anos de enfarte agudo do miocárdio. Saiu inesperadamente de
cena. Uma árvore que morreu de pé. Uma grande pena. Deixa um enorme vazio. A
perplexidade de todas as pessoas pelo desaparecimento de quem parte tão jovem.
Um choque profundo. Angústia e dor. A vida, sempre imprevisível. Tão breve,
neste caso. Mas com certeza que viveu cada segundo como nunca mais e a uma
velocidade impressionante e difícil de acompanhar.
Médico (que nunca
exerceu), Doutor pela Universidade do Porto, professor universitário, adido
cultural, crítico de arte, programador cultural, Vereador da Câmara do Porto,
amigo, irmão, tio, inesquecível. Passou a vida a cruzar as artes com todas as
ciências. Sabia fazer ligações, sabia unir as pessoas em torno das causas em
que se envolvia. Tinha uma grande capacidade de gerar consensos.
A unanimidade da
descrição, de quem e como era, é reveladora: “um génio bom e generoso”, orgulhoso,
lutador, criativo, empenhado, caustico, humano, conhecedor, profundo, interior, sábio, feliz, confiante. Amigo,
simpático, optimista. Único, genial,
ímpar, provocador, entusiasta, vibrante, insubstituível.
Tal como na vida, na
morte, a estética não foi esquecida. O velório no Teatro Rivoli que ele
devolveu à cidade e ao povo. Com a urna no centro do palco, iluminada apenas
por uma luz ténue, e um piano. Ao fundo, uma fotografia gigante, recente de há
duas semanas quando acabara de ser condecorado pelo governo francês.
Milhares de pessoas participaram nas cerimónias fúnebres. O funeral de
Paulo Cunha e Silva reuniu uma massa impressionante de pessoas, que acompanhou
o cortejo fúnebre entre o Teatro Municipal Rivoli e a igreja da Lapa.
Uma dose extra de emoção, ao ser ovacionado longamente, em frente à Câmara
Municipal. Os elogios fúnebres
foram feitos por Rui Moreira, pelos sobrinhos e pelo companheiro Miguel.
Muitos recordam o muito
que fez mas sobretudo têm pena daquilo que não teve tempo de fazer. É uma perda
irreparável para o Porto e para o país. A cultura da cidade do Porto perde uma
peça fundamental. Deixou uma cidade completamente diferente daquela que
encontrou quando assumiu a Vereação da Cultura, com uma dinâmica incontrolável,
esperemos que impossível de parar. As suas flores plantadas permanecerão. Como o próprio disse: “A
maior forma de homenagearmos os autores e os artistas é mostrarmos a obra”.
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